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Ciranda noturna

  E as formosas tardes, roubando o encanto da manhã, A sorrir sol entre as árvores Meu recanto, colorindo a relva com giz amarelo. E a luz s...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Em memória da Tica

Eu sempre busco no fundo da memória alguma
história vivida quando ainda era criança.
E uma delas é a história da Tica.
Numa tarde de verão, meu cavalo havia ganho algumas espigas
de milho para degustar, e enquanto ele comia, uma galinha
e seus três pintinhos vieram comer as migalhas do
chão, se colocaram a frente dele. Meu cavalo era
muito amável, e não se importava em dividir o milho
com as galinhas. No entanto, aquele costume, naquela tarde
se transformaria em tragédia.
O lebuno foi espantar as moscas que insistentemente teimavam
em picar-lhe as pernas, e sem querer levantou as patas, batendo
com os cascos na cabeça da galinha. E a galinha morreu.
Minha mãe escutou de longe os pintinhos piando insistentemente,
enquanto o Lebuno terminava a sua refeição.
Foi ver o que se passava, e, para sua tristeza, viu a galinha sem vida
aos pés do cavalo.
Pegou os pintinhos nas mãos e os levou para casa, eram tão pequenos e
indefesos, então, minha mãe enrolou-os num pedaço de pano e os
colocou em uma caixa. Piaram quase que a noite inteira, sentindo a falta
da mãe.
Todos os dias nós os alimentávamos, moendo milho com a ajuda de um martelo, e
milho enrolado num saco, para fazer quirera.
Dois deles morreram, só ficou um, que após crescer um pouquinho, ao
percebermos que era uma franga, demos-lhe o nome de Tica.
A tica era formosa, tinha as penas amarelo ocre,
Nós a criamos dentro de casa como um animal de estimação,
 quando  sentávamos á mesa para as refeições, ela ficava rodeando
 e comia das migalhas que caiam ao chão.
Todas as manhãs, saíamos para ir para a lavoura, e a Tica ia conosco,
 e enquanto fazíamos as tarefas, ela ficava catando os bichinhos
que se levantavam do mato.
Sempre esperta e faceira, logo que colocávamos a enxada nas costas, ela já ia
se preparando para ir para casa. E todos os dias eram assim.
Dormia em sua caixinha, assim como aprendera desde pequena, e
quando começou a botar, fazia seu ninho na cama, arrumando os cobertores
com os pés.
Era tão bonito de se ver, perdera a mãe e nos adotou como sua família.
Porém, como tudo que é bom dura pouco. Numa tarde quando
vinhamos embora da roça, a tica nos seguia. E quando fomos atravessar
 a estrada, ela demorou um pouco, talvez por estar
atrás de algum alimento, quando pulou do barranco entre a vegetação,
 um carro ia passando, e sem perceber, o motorista passou por
cima dela.
Morreu esmagada, como um besourinho, não emitiu nenhum som,
e quando chamamos por ela, e ela não nos atendeu,
é que fomos perceber a trágica morte da nossa galinha.
Naquele dia não teve quem não chorou pela morte da Tica.
Me lembro daquele dia como se fosse hoje, não me esqueço
da galinha que mais parecia um cão amestrado, que nos seguia para
todo lugar, e que nós amávamos como um membro da família.

Herta Fischer







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