Amo falar de mim: do tempo, das escolhas
que não fiz, das derrapadas a sós, dos desalinhados sentimentos
enquanto buscava pela alegria, das descobertas, das frustrações
de alguns passos dados no escuro, enfim.
Havia uma ladeira ante meus olhos famintos, encobrindo
um céu azul que se estendia la pras bandas do inconsciente.
Cada etapa que se desenhava, logo perdia a coloração, quando
o coração ansiava por novos horizontes.
Um deslumbrar ao deparar com a novidade, motivação
de cada instante, que após, anuviava num desaquecer intenso
de novo ego.
Quantas andanças no despreparo, quanta esperança em sonhos despertos, que
acabava logo ao anoitecer.
Novamente o tempo da candura, do desejo de posse, alienada alegria do nada no
crescimento, mais ilusão que ventura.
O tempo, que igual enxurrada em dias de chuva forte,
carrega em seu lombo, objetos jogados ao léu, para depois encurralar
em uma ponte qualquer, me levou em seu leito, até que restasse
apenas algumas lembranças retidas em algum canto de memoria.
Sigo meio que lenta, depois do desgaste, meio que ofuscada por
uma luz que sequer brotou em mim.
Resta apenas a penumbra, quase que morta, de algumas cicatrizes
no joelho, de alguns rabiscos românticos, de algum amor que passou.
Hertinha Fischer