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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Palavra tem poder Capítulo 7

E a saga continua


Pela manhã. Anita acordou primeiro, Daniel ainda dormia com os braços em torno de seu corpo. Ela tirou-o de mansinho com toda delicadeza. Levantou-se colocando a roupa devagar. Foi para a cozinha preparar o café.
A chuva não parava. Espiando pela janela, ela podia ver a enxurrada deslizando para a estrada já encharcada.   Já ouvira falar desse fenômeno, mas,  não imaginava que seria tão intenso, provocando chuva forte e sem tréguas.
Não sabia onde Maqueda guardava as coisas, precisou abrir quase todas as portas dos armários disponíveis até encontrar tudo que precisava!
Depois de tudo pronto, colocou tudo numa bandeja, se preparando para levar o desjejum para o quarto. Mas, antes de dar um passo, Daniel entrou no aposento com uma cara bem alegre, falando com uma certa disposição na voz: - Oi amor, tudo bem?
- Sim! Anita respondeu com certa decepção, queria mesmo era fazer um agrado, servindo-o no quarto. - E você, dormiu bem?
- Sim, muito bem, obrigado!
Ela colocou a bandeja sobre a mesa, puxando uma cadeira para ele: - Sente-se!
- Não vai tomar café comigo? ele disse num tom quase que carinhoso.
- Bom! ela começou a falar. - Eu queria tomar café com você lá no quarto1
Ele mostrou seu melhor sorriso, e levantando-se, pegou a bandeja numa das mãos, segurando a sua em outra,  dizendo: - Vamos lá, então!
Subiram as escadas quase a correr. Ele na frente e ela atrás.
Ao chegarem no quarto, ele colocou a bandeja sobre o criado mudo, e jogou-á sobre a cama, puxando-á para si, beijando seus lábios rapidamente e com um efeito avassalador.
Ela gemeu de prazer, era tudo que queria!  Pensava:- Não poderia haver uma lua de mel, sem sexo pela manhã.
Depois de estarem plenamente satisfeitos, acomodaram-se diante da suculência dos pães amanteigado, regado á geleia de morango e  queijo fresco.
- Até quando? pensava ela:
Sempre quisera ter um homem só para ela, sem ninguém entre eles, nem meso uma empregada doméstica. Ela á preparar tudo e o amor unindo a cozinha com o quarto., num só prazer: o de comer e amar.
Depois de uma semana, já estava entediada, pensando no quanto perdia. Tudo se resumindo em sexo e prazer. Tinha necessidade de mudança, mesmo que isto lhe custasse algumas lágrimas. A vida não podia ter sentido maior, se as coisas e sensações  não fossem bem dosadas. Sentia saudade do trabalho, das conversas com a mãe, dos amigos, da correria que tornava tudo tão mais prazeroso. Porque os excessos só fazem com que o sabor diminua.
Começou a entender bem o que Daniel lhe falara a algum tempo atrás; As vezes, estamos tão obcecados por satisfações físicas, quando a alma está ansiosa por coisas que o momento não pode dar.
Tinha tudo: amor, alimento, carinho e solidariedade, Mas só podia haver um resumo, um triste resumo, onde o amor só cabe a uma pessoa. não pode avançar nem para a direita, nem para a esquerda. E agora, sentia na carne a necessidade de algo mais.
- Porque está triste? Daniel perguntou:
- Não estou! ela respondeu: -  só estou pensativa!
- Um dólar pelo conteúdo do que pensa! disse ele em tom de brincadeira:
- Nada de especial!  ela respondeu: - Lembrando do que me falou!
- E o que eu te falei?  que tira a alegria em teus olhos?
- Que não ficamos á pensar se valerá a pena caminhar, nem ficamos estáticos diante do caminho. Apenas usamos os pés e vamos em frente.
Que se a gente quer bem e tem essa consciência, a gente o faz por vontade própria, sem precisar ficar reafirmando e/ou declarando, assinando o nome do amado no braço só para se ter a sensação de ser proprietário um do outro.
Que poderíamos usar o telefone e ficar ligando de cinco em cinco minutos, achando, que, com isso, a gente consegue se ter o controle sobre a vida do outro, mas, isso só faz com que sintamos cada vez mais incompletos.
Eu sinto agora, a necessidade de outros. O seu amor me sublinha,; Acentuando, marcando, mas só pode subsistir quando podemos somar com os outros.
- Está reclamando da solidão a dois?
- Reclamando?  não!  è bom demais estar com você a sós. Estou pensando que a vida deve ser povoada com muitas réplicas. Não pode se resumir a um ato á  dois!
E por falar nisso, até quando ficaremos confinados nesse lugar?  Eu não estou presa! Estou?
- Você quer dizer: Sequestrada por mim?
- Sim! Estou?
- Não, não está!
- Então, porque não temos nenhum veículo?
- Só porque chove muito ainda. E Maqueda não pode sair de Kasane, senão já estaria aqui.
Além do mais, não temos sinal para  nos comunicarmos. Está um caos. Nada nesta região funciona enquanto durar esta tormenta!
- Tem razão! - concordou:
É que,  perdi a palestra da semana passada, eu me inscrevi e não compareci!
- Palestra? sobre o quê?  Daniel perguntou:
- Sobre atuação imobiliária local!
- Ah! Que bom! pensa em ficar por aqui?
- Talvez! E você , não?
- Eu! Ele gaguejou  um pouco:- Ainda não me decidi!
Embora estivesse louca para dar uma resposta, resolveu sorrir e dizer com toda a naturalidade do mundo:- Pois deveria!
O mundo vive lá fora, ha encantos a se descobrir, ha ensejos e desejos de crescimento. Nada foge do tempo!
_ Ah! agora é você?
- Eu? o que?
- Você que anseia por algo a mais!
- Sim! Valeu tanto essa nossa estadia aqui. Talvez, se eu não tivesse vivido essa reclusão de amor, eu ainda estaria pensando que amor é algo a se discutir, mas, não é!
Daniel sorriu, tocando de leve as suas mãos.
O dia terminou e como não havia muito o que fazer, foram  cedo para a cama . Anita dormiu profundamente até amanhecer. Quando acordou, notou estar sozinha na cama. Levantou-se  rapidamente, sem saber por que, algo lhe dizia que teria que enfrentar mais algumas pedras pelo caminho.
Entrou na cozinha e como seu íntimo avisara - No lugar de Daniel encontrou a amável Maqueda, tirando um pão fresquinho do forno.
Palavra tem poder!  Ela pensou: aquilo só poderia ser brincadeira.
Quando ela pensava estar tudo bem, lá vinha um balde de água fria.
Maqueda se limitou a saudá-la com um leve aceno de cabeça.
Estava bem vestida, coberta por uma manta de crochê jogada nas costas. E sobre a cabeça um turbante colorido.
Anita sentiu-se incomodada, mas teve que perguntar: - Seu patrão, onde está?
De antemão já sabia a resposta. mas, precisava de confirmação.
- Saiu logo cedo, pediu para não acordá-la.
- E disse quando volta?
- Não! E a conversa parou por ai.
Anita tomou o seu café e foi para o quarto, precisava pensar.
Desde que conhecera Daniel, a sua historia parecia um conto de briga entre gato e rato. Parecia não ter fim. Nada era previsível. Nem mesmo a paz era constante.
- Só que eu. Pensava ela: sou boa aluna, aprendo rápido, e não vai ser um gato que vai me colocar em cheque mate. Um rato esperto, aprende como se safar, usando as armas do próriio inimigo.
Pensando sobre isso, tomou um banho, trocou de roupa, arrumou sua mala, e partiu, sem que Maqueda sequer notasse sua saída.
Se viu a andar pela trilha lamacenta, não se importando com a quantidade de lama a grudar na sola da bota. Andava a passos largos, como se estivesse sonhando, ao invés de vivendo.
Depois de uma hora de caminhada, chegou a uma bifurcação;  um encontro de estradas turísticas. E teve a sorte de ouvir o barulho de um jeep vindo de uma delas.
Era raro encontrar uma mulher andando sozinha por aquelas bandas, mas, ninguém deixaria uma pessoa para trás, mesmo sendo alguém desconhecido. Disso, ela sabia. Não se abalou quando o carro parou e o motorista, abriu a porta, falando alegremente: -  Let's go!
- Thank you!
Ela entrou no carro e o motorista acelerou, nem perguntou para onde ia, pois a estrada os levaria direto para Kasane.
Ao adentar a cidade ela disse ao motorista que a deixasse próximo ao aeroporto, de onde esperava encontrar um voo para Luanda, ou qualquer outra parte que a colocasse o mais distante possível dali.
Parou diante de um hotel, onde turistas se aglomeravam, a chegar e partir.
Por sorte, logo encontrou um grupo que esperava por um avião de frete. Que fazia voos particulares, de Kasane a Luanda, na cidade de Cabo. Teria que pagar um pouco mais caro, mas, para quem estava fugindo, nada parecia tão ameaçador.
Duas horas depois já se dirigiam ao pequeno aeroporto, onde um avião de pequeno porte já os esperava.
Anita sentiu-se aliviada quando o avião saiu do chão.
Chegando na cidade de Cabo em Luanda, ela reservou passagem para São Paulo,   para dali a dois dias, Ficaria num hotel, bem perto do aeroporto. Não queria correr o risco de esbarrar com nenhum conhecido.
Logo que desembarcou no Brasil, sentindo o cheiro de casa, respirou aliviada.
Foi direto para casa da mãe.
Ficou la por dois dias seguidos sem falar nada sobre Daniel. Sua mãe sabia que algo não estava bem, mas, resolveu nada perguntar. apenas acolheu-a com amor.
Naquela semana, Anita optou por não falar nada sobre a viagem, nem sobre tudo que se passara, embora soubesse que nada fora  insuportável, muito pelo contrário, A viagem fora uma delicia, a sua estadia com Daniel, então, fora um tempo dos mais felizes. Tinha medo de contar para a mãe o quanto fora indelicada ao fugir. Com certeza, sua mãe não concordaria com tal atitude.
E o que ela esperava?
Talvez um conto de fadas, com o príncipe correndo atrás dela!

Por Herta Fischer   Palavras tem poder


























Sempre há

Havia um hino
em cada página
como cabeça de menino.
sinceramente plano
como asas plainando
ao vento.
Havia no galho
a esperança
na flor o sustento
no poder o alento
de quem foge
para dentro,
havia.....
Herta Fischer

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Palavra tem poder Capítulo 6

A grande surpresa

Anita acordou cedo, e como o recomendado, colocou uma bermuda sóbria, cor de caramelo, e uma blusinha com decote em v, toda malhadinha com cores verde, preto e palha. Uma bota de salto baixo e cano curto. Sua amiga de quarto fez a mesma coisa, pareciam gêmeas.
-Estou bonita? perguntou a sua amiga, dando uma risadinha irônica:
Sua amiga, prontamente respondeu, com o mesmo toque de ironia:- Até que ficou legal!
E eu?
- Também combinou com você! E ambas caíram na gargalhada.
Depois de prontas desceram até a cozinha para o desjejum. Onde Maqueda servira um pequeno banquete com frutas, pães artesanal e um delicioso café.
Antes mesmo de saírem da mesa. Zola apareceu na porta com um ar de preocupação, falando meio as pressas com um sotaque carregado: - Andem logo com isso, não temos todo o tempo do mundo, o barco não espera. temos que partir!
As duas moças empurraram as cadeiras ao mesmo tempo,  se despediram de Maqueda, agradecendo pelos préstimos, saindo pela porta, rumo ao jeep que estava estacionado em frente, onde o deus Adebume já os esperava, sentado, com as mãos firmes ao volante, como se o veículo pudesse escapar de suas mãos.
Depois de cumprimentar o rapaz, as duas sentaram no banco traseiro, enquanto Zola sentara ao lado de Adebume, conversando entre eles em idioma nativo.
Algumas palavras já era meio que familiar como: - Acelere! Estamos atrasados!
Depois de algum tempo, entre muita poeira, já se podia ver ao longe, o azulado do rio Chobe,  entre uma vegetação um tanto seca e desprovida de verde.
Um calor insuportável e úmido na casa dos quarenta graus as deixava quase em pânico, ainda bem que Maqueda preparou uma mala térmica com água potável misturada com grande quantidade de gelo, Só assim  Anita e Katia podiam respirar um pouco aliviadas.
O jeep cortava as campanas com um balanço suave, passando por pedaços planos, e outros, nem tanto, deixando-as meio enjoadas. Só mesmo a  magnifica paisagem para fazê-las suportar a viagem e o calor.
Duas horas depois já se podia ver os animais de longe. Hipopótamos se deliciavam com o capim a beira do lago. Ainda estava escuro, eles comiam enquanto se dirigiam para a água, antes que o sol despontasse no horizonte.
Foi então que Anita viu o que chamou de espetáculo pleno; As cores no céu se modificou; de  um cinza escuro e vultos, á uma avermelhado mesclado de laranja e amarelo e uma infinidade de animais e aves , elevando-se acima e abaixo, mostrando toda a exuberância de viveres.
Zola  falava sem parar, mas Anita não prestava atenção em uma única palavra, parecia que seus olhos tomavam todo o seu ser, tirando dela o poder de ouvir, apenas concentrada em ver toda aquela esplendorosa beleza.
Ao descerem do jeep, caminharam a passos largos até o barco atracado a beira do lago, pronto para zarpar, os turistas estavam muito excitados, exibindo suas câmeras nas mãos, prontos para registrar qualquer coisa que se movesse na beirada do lago, ou até mesmo ao lado do barco, mas, a maravilha mesmo veio logo após, quando, enfim, chegaram no lugar que chamam de: banheira de elefantes, que por sorte, havia uma família inteira deles, se deliciando no banho matinal.
Depois de tirarem  muitas fotos, chegara a hora de voltar, antes que o sol ficasse mais forte.
Anita estava um tanto apreensiva, sempre pensara na possibilidade de ficar na África, mas, temia aquele calor extremo. No dia seguinte participaria de uma palestra sobre negócios imobiliários, que, surpreendentemente vinha crescendo naquela região.
Conversaram pouco durante a viagem de volta, estavam loucos por um banho frio, para tirar a poeira e o cheiro de suor.
Ao chegarem na aldeia, pouco antes de seguirem o caminho que os levava á cabana, sentiam o cheiro de terra molhada, vindo de longe, Um temporal se aproximava, já dava para ver, uma massa cinzenta cobrindo uma porção de terra ao longe,  alguns pingos atingia o para brisa do carro, misturados com poeira, formando uma espécie de fundo marrom escorrido sobre o vidro do veículo.
Anita se sentiu um tanto aliviada, pois a chuva, ao longe, trazia com ela, uma brisa fresca, afastando um pouco a agonia daquele calor insuportável.
Seguiram adiante, comemorando a mudança do clima, fazendo festa, batendo a palma da mão sobre o aço,  cantando uma canção tribal, cuja letra, soava para Anita, completamente desconhecida. mas, a alegria contagiava.
Tão logo avistaram o pátio da casa. Anita viu um jeep parado em frente, comentando com sua amiga Katia:- Temos visita, quem será?
Katia deu um sorrisinho raso, como se soubesse de algo, mas, que não poderia contar.  Com muito cuidado, respondeu: - Não sei, não!  Pode ser qualquer um. Um turista, talvez!
Desceram do carro, entrando na casa, todos ao mesmo tempo, menos o motorista, que deu ré, manobrando rapidamente o veículo, saindo em disparada, levantando poeira.
Maqueda estava na cozinha, preparando um ensopado, e pouco conversou, quando elas entravam para tomar água.
- Que cheiro delicioso!  ela comentou:  Recebeu, apenas um aceno de cabeça como resposta,.
 Com um misto de tristeza pela falta de comunicação, resolveu seguir para o quarto, enquanto sua amiga  Katia, seguia para outro lado.
Entrou no banheiro, fechou a porta, tirando a roupa devagar. Uma onda de nostalgia se intensificou em seu ser. Sentindo tanta saudade de casa. Abriu o chuveiro, a água quente escorrendo pelo seu corpo despertou nela um certo alivio, e gemendo de satisfação, ficou ali, parada por algum tempo, como se fugisse de seus próprios pensamentos.
Não se deu conta de quanto se demorou no banho, mas, ao sair, notou alguma coisa estranha. Tudo estava extremamente quieto, como se só restasse ela na casa.
Vestiu-se automaticamente, apenas com um vestidinho amarrotado sobre o corpo nu, Desceu as escadas devagar. Estava sentindo medo, sempre soubera que havia dentro de si, um certo poder de sentir as coisas. Agora, aquilo soava bem mais forte.
Teve vontade de criar asas, de poder voar para casa, assim, como toque de mágica, mas sabia ser um sonho em vão.
Assim que desceu a escada,  a sala estava completamente vazia, nem sombra  de zola, ou de Kátia. seguiu para a cozinha, também não encontrou Maqueda.
Puxou um banquinho de madeira até a borda da mesa, sentando-se diante de uma garrafa de café, encheu a xícara com a bebida quente, sorvendo alguns goles. Lá fora uma chuva torrencial se precipitava, com raios e trovões. E Anita se perguntava: - Onde foram todos?
Ouviu um ruido de passos vindo do corredor. sorriu aliviada: seria Maqueda?
Ficou completamente paralisada, quando um rosto bem conhecido apareceu no vão da porta, saudando-á com alegria: -  Olá!!! Até que enfim, te reencontrei!
Anita quase caiu da cadeira. Ela esperava encontrar qualquer pessoa naquele lugar remoto, menos Daniel.
Com um tom de surpresa na voz, perguntou: - O que você faz aqui,  onde estão todos?
- Todos quem? eu vim para te ver, é só o que tenho pensado em todo esse tempo!
- Como assim?  Pensei que tinha tocado a sua vida, pensei mesmo, que já tinha me esquecido!
- Nunca te esquecerei. Você é o amor da minha vida!
- Como soube que eu estaria aqui?
- Eu planejei tudo isso!
- Planejou, como assim?
- Fiz tudo de comum acordo com seus amigos, que também se tornaram meus, a partir de um acordo que fiz. Os contratei para aliar-se a mim.
- Aliar-se? Katia também?
- Principalmente! falou: agora com uma certa pena na voz!
- E onde está ela agora?
- Foi embora, junto com Zola!
- E Maqueda, também se foi?
- Maqueda foi á vila. Eu a instrui a sair daqui por algumas horas, logo, logo ela estará de volta!
Anita se debruçou sobre a mesa, colocando as mãos sobre a cabeça, desnorteada com os acontecimentos, Tinha tantas perguntas a fazer, que, naquele momento, a única saída seria chorar, para aliviar um pouco a tensão que a comprimia.
Sentiu a mão de Daniel deslizar em suas mãos frias. Sentindo-se cada vez mais vulnerável, desatou a soluçar.
Daniel ficou sem ação. Já duvidava que fizera a coisa certa.
Afagando as mãos delas, começou a balbuciar:- Desculpe! pensei que ficaria feliz, mas vejo que não!
Anita levantou a cabeça, empurrando as mãos de Daniel com uma certa violência; falando com voz embargada pelas lágrimas: - Ficar feliz? Como ousa! Só vi traição nesse ato.
Não seria mais fácil, simplesmente me procurar, telefonar, quem sabe? Ah! mas, o rei não sabe fazer isso. O rei acha que todos tem que ajoelhar-se diante de seus desejos.
- Não é isso, querida!
 - Não me chame de querida. Não sou sua, nunca fui e nunca serei! Ainda mais agora, que descobri do que é capaz!
- Eu te amo!  Daniel disse baixinho: - Este é o meu pecado!
- Se realmente me amasse, jamais teria me deixado partir!
- Eu não deixei! Você é que partiu por que quis! Aliás, refrescando a sua memória. Eu te ofereci o meu amor, a minha cumplicidade, mas, você preferiu ignorar, não tem nem ideia do que sofri ao vê-la partir!
- E sobre o proprietário deste lugar?
- O proprietário sou eu. faz tempo que comprei este lugar, quando ainda era casado, este sempre foi o meu refugio.
- Então, Zola e Katia sabiam de tudo, foram seus cúmplices desde quando?
- Desde que você veio para cá!
- Eu sabia que havia algo diferente, sempre achei que palavras tem poder. agora, vejo que não só a palavra tem poder, mas, atitudes também! Estava bem desconfiada desde o inicio, mas, pensei que tudo não passava de invenção de minha mente!
- Não!  Não era invenção de sua mente. Eu estava por trás de tudo desde o inicio: A sua vinda, a passagem, a estadia, a viagem para cá, o tour.
- E em nenhum momento você pensou em mim?
- Mas, eu fiz tudo isso pensando em você! disse que precisava de um tempo, longe de tudo, então, eu fiz com que isso acontecesse, e é assim que você me agradece?
Ah! devo te agradecer, então? - Muito obrigado por ter me enganado!
- Digamos que não foi um engano, propriamente, tanto, que estou aqui te revelando, timtim por timtim, toda a verdade dos fatos!
Anita se desesperou e saiu correndo da sala, indo se refugiar em seu quarto, onde deu vazão á sua dor.
Como pudera ser tão ingênua?
Chorou até não poder mais, e devido ao cansaço físico e emocional acabou por dormir profundamente.
Enquanto isso Daniel também se desassossegava em seu íntimo. Fizera tudo errado, agora não sabia mais se fora a melhor escolha.
A chuva só aumentava, Lá fora estava um caos. Daniel tinha certeza de que Maqueda não voltaria naquele dia. Agora tinha a batata quente em suas mãos e nem sabia como se livrar dela!
Andou de la para cá, a chuva não dava trégua, queria caminhar um pouco para aliviar a tensão, mas, como conhecia quela região, sabia que era tempo das monções, e que a chuva podia cair por dias seguidos, tornando inviável qualquer possibilidade de saída ou chegada. Ainda mais quando tinha permitido que levassem os dois veículos disponíveis.
Resolveu descansar um pouco, mas, não sem antes dar uma passadinha no quarto de Anita, para ver se ela estava bem, Ao constatar que dormia profundamente, jogou um agasalho sobre o corpo dela, cobrindo-á delicadamente para que não despertasse. Depois seguiu para o quarto ao lado, onde se esparramou sobre a cama,  cobrindo-se. Embora sua cabeça estivesse a mil, acabou por ser vencido pelo cansaço da viagem , e também dormiu.
- La pelas tantas da madrugada Anita despertou, ainda meio sonolenta lembrou-se do que aconteceu. Desceu a escada a procura de um copo de água, estava faminta, precisava urgentemente de algo para comer. Abriu a porta da geladeira e dentro dela encontrou vários potinhos contendo guloseimas de vários tipos, Optou por algo salgado. tirou um pouco de sopa num recipiente, colocou sobre o fogão, acendeu o fogo, esperando esquentar.
Ouviu passos descendo a escada, seu coração parou. Arrependida por ter descido, quase saiu correndo pela porta do fundo, mas, antes mesmo que desse um passo, Daniel apareceu na porta.
Ela se voltou rapidamente, e uma voz dentro dela a fez parar. A voz intima lhe dizia:- Pare de fugir!
Daniel nada falou. Ainda parado na porta,  apenas a olhava como se a visse pela primeira vez. Anita o observou meio lacônica. Ele vestia um pijama surrado, de cor azulada, com a barba por fazer, parecia tão vulnerável e tão perdido quanto ela.
Ela fechou o robe, não tinha nada por baixo. A não ser uma pele, agora,  arrepiada pelo frio que vinha não se sabe de onde. Até a sua alma estava gelada.
Daniel percebeu a sua excitação, e começou a falar:- Está com medo de mim? Não precisa!  Já me arrependi o suficiente. Nem pense em sair lá fora!
- Não vou sair, Anita falou meio desconsertada. Já não lhe parecia tão terrível tê-lo por perto.
Convidou-o a sentar, fazendo um gesto com as mãos, puxando uma cadeira.
Terminou de aquecer a sopa, colocou em dois pratos, empurrando um para Daniel e outro para ela, do outro lado da mesa.
- Come!  ela disse: - Você precisa se alimentar, está com uma cara de cansaço!
Daniel olhou-á com ternura , pegou o talher e começou a comer em silêncio.
Ela também fez o mesmo.
Tão logo, ambos sentiram uma certa acomodação por dentro, como se o alimento tivesse feito um milagre sobre as emoções. Olharam-se em silêncio, por várias vezes, e quanto mais se olhavam, mais o desejo reprimido os aliciava. De repente se viram lado a lado, subindo as escadas. E sem dizerem uma única palavra, foram se despindo. A boca de um se achou tocando a boca do outro, e vorazmente se deliciaram com a onda de prazer que assumiu poder naquele preludio. Ficaram abraçados por longo tempo, acariciados por aquele sentimento tão renovador. Até o momento final, quando chegaram ao clímax, eles se perderam no mesmo mundo de emoções. Quando emfim, dormiram um nos braços do outro. derrubando todo resquícios de saudade, que, por um tempo, os deixaram, quase que, anestesiados.


Palavra tem poder -   Capítulo 6   - Por Hertinha Fischer