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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Redoma de fé

 Vivo dentro desse mundo invisível, que me abraça todo tempo.

Alegrias passadas que já nem me lembro. Quando foi que me perdi, quando foi que decidi?
Tudo passou num relance, como quem mata a fome e volta a lamber as bordas do prato, só para relembrar o que já foi degustado. E as ondas do tempo, que, de mansinho, vai roendo as margens. Tão sutil e tão fugaz, que nem se percebe.
Sempre as estradinhas jogadas a esmo, passos apressados, despercebidos, de beleza.
A construção na mocidade, a doce morada da juventude, o aconchego revelado na velhice. E as ondas do tempo a sacudir as rochas, a ricochetear a causa, a desmoronar as certezas.
O hoje traz saudade do vivido sem volta. O amanhã leva a saudade para outro tempo que não é nosso. Como é bom cercar-se numa redoma de fé, livre dos sintomas de gente, saudável e puro como diamante entre pedras.
Hertinha Fischer.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Bom condutor

 O silêncio sempre fala melhor das coisas, por isso é que não devemos ficar borbulhando como água a 100C*, como chaleira no fogo. Deus em sua magnitude ouve em silencio, e em silencio reanima. Não é preciso convencê-lo de nada, nem repetir mensagens como se fosse surdo. Aja de coração aberto, viva na constância do que é - refreando a língua, o corpo - em obediência ame, em obediência dirija, em obediência segue, regue e construa, sem, no entanto, tomar o caminho só para si...

Hertinha Fischer.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Universo físico

 Quando e onde me despertei desse sonho que não sonhei?

Havia uma luz lá em cima, coisa de lua cheia - iluminando as ramadas dispersas sobre uma árvore. Desciam até o chão sem se quebrarem. Braços e abraços de cordéis se entrelaçavam em orgias de folhas azuis.

Eu, mera espectadora de tudo. De tudo que era visão.

Charlataria pensar que sabia, quando olhava e percebia, sem entender o que o mundo anunciava sobre a escuridão. Uma escuridão redonda, sombria e espalhafatosa - amando sua noite pelas frestas, enquanto a madrinha da festa, se embrulhava entre nuvens e imagens. Que imagem mais atraente, quando, em seresta, os grilos e sapos cantavam alegremente em seus vestidos de junco. O olhar de lua cheia, clareando as densas e povoadas claraboias que se abriam acima dos Thypha domingensis que atuavam as margens dos rios doces.

Uma dança frenética de seres alados, com suas finas e sofisticadas roupagem de gala, a desfilar para a lua, enquanto despejavam- se em desejos de se acasalar. Abaixo, depois do amor, serviam-se em banquetes para os peixinhos que também aproveitavam da festa de lua cheia. O mundo ali se manifestava entre os magníficos pontos de luz e sombra, 

Havia  aquela lambança, entre lágrimas e esperança, no linguajar da floresta, que destacava, orquídeas entre cascas, soltas e acabadas, de uma árvore qualquer. Na ribanceira, sem teto, a despencar em saudade, do que já ia morrendo - ante resquícios de vento, a uivar seu desalento. Até, que a lua fugia, ao sentir que era hora do sol despertar seus amores, Tudo ficava quietinho, a dormir suas dores, em uma cova qualquer.

 Outra luz , já surgia, lá detrás de um morro, como se nascesse do pé de um gigante, o sol se levantava.

Tomava seu caminho, lambendo o azul do céu, numa paixão de raiar. As águas desciam a pé e em silêncio, saudosa e matreira, entre barrancos escorria. E os peixinhos, satisfeitos, pelo banquete da noite, em ziguezague se cumprimentavam. As corredeiras, em transe, a espumar pelas ventas, as pressas passavam, se jogando pelo precipício sonhado, até se regalarem do outro lado.

Assim, a vida ia surgindo, entre  margens  -  as marcelas floridas, que de sol não se cansavam, doavam-se ao terreno, amarelando  o derredor de prazer. Lá se vinham os tatus, com seus focinhos pontudos, duro como facão afiado,  a esburacar suas casas. Eu, que nem fazia parte, fui crescendo em fé, ante aquele anfiteatro natural. Havia palco pras garças de um pé só, a sondar as águas, como se lhe pertencesse. Olhos grandes e parados, parecia uma estatua nascida das margens. Havia lugar na arquibancada para os ratos, que do banhado surgiam, a procurar por petiscos, que caia do banco de areia. O sol, transitando, como guardião da floresta, de olho em tudo que acontecia, nunca perdia uma parada, nem se escondia de nada.

E o dia vingava e crescia depressa

 Conforme crescia, o sol crescia com ele, e se davam - como o menino apaixonado oferece uma flor pra amada. Se acomodam um no outro, versando luzes e cores - inspirando amores, O pequeno caracol a levar sua casa nas costas, lambuzando a terra com sua saliva gosmenta. As hortênsias, casadas com duas cores, que as completam, ditosamente, com olhares de rosa e tons de azul celeste, oferecidos ao céus. A begônia, tão viçosa, pronta para casar, toda vestida de branco - como uma noiva á esperar pelo seu noivo na entrada da igreja. E o grilo, após uma noite de cantoria e orgia, descansava, sobre um colchão de bambu.  

E a fé vai na frente, empurrando a esperança, do dia e da noite que nunca se cansa.

Herta Fischer









segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Favorecimento impio



A gente se esconde dentro de um pano de prato,
Uma customização passageira, bordadas as avessas.
Presa numa gaveta que não se abre, e se amarela
diante da passagem temporária.
Embolada entre finíssimos bordados a mão,
que se embota também o que o traz.
Assim como um chão feito de cera se desfaz ao calor.
Desfazemos nós entre os nós.
Hospedagem ao relento, tão macio
o chão, que empedra o coração.
Somos o que vamos perdendo entre saudade
e passado, que o futuro engole de dia em dia.
Querendo transpor a ordem, ordenado e ordeiro
são os tropeços.
Um cão faria melhor,
se falasse por nós.
A insensatez da revolta, a revolta que dá volta
e volta ao lugar da insolência que o destrata.
Melhor seria uma pedra no pescoço, do
que muitas jóias sem valor.
Hertinha Fischer

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Frase

"Não ocupamos nenhum lugar na vida dos outros,

 mesmo por que, um corpo, não pode ocupar o mesmo espaço,

 a menos, que, se tome posse de sua alma"

Hertinha


Burlando a si mesmo


Eu tenho tanto para falar, mas, por cuidado,
resolvi me calar.
Chuva que molha, demais, encharca,
pimenta crua, mata paladar.
E vamos retendo o melhor de nós,
nas curvas, acentuadas, do mal estar
Verdades cruas, despe o outro,
toda nudez vem destacar
Enchendo a alma de vergonha e fúria,
por ver o ego em seu altar
Da maneira pura, em clara luz, toda feiura
a declarar.
Melhor seria, engolir a verdade, e da mentira
aproveitar.
Viver melhor na estupidez, do que, o que se é,
se revelar.
Hertinha Fischer.








quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

O segredo do vento

 E o vento a lhe contar segredos

soprando, sensivelmente, seus casos de
amor.
Os cabelos á dançarem, freneticamente, na calma
desenfreada da extravagante história.
E o enredo da viagem norte, e as corredeiras do
ar que emergia, apaixonante e explosivo.
Empurrava suas doces nuvens com um sopro
quente, que dilatava suas pupilas, marejando
seus olhos de algodão.
O vazio aplaudia, com um pincel enlameado de
tintas azuis. A saudar o evento do vento, em suas andanças
e esperanças.
Subia-se, de graça, novas gotas, enquanto outras desciam,
sobre a perturbação oscilante de um rio.
A frenética força dos raios, a soltar suas faíscas brilhantes,
ante um temporal de frescor.
As medrosas folhas á suar pelas faces, sofrendo o momento que antecede a dor,
da lambição do caramujo sonhador.
Hertinha Fischer.