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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

ciclo - A roda que o tempo gira

 Se fosse para pensar que só a mim, recorre as bençãos, seria como se a luz do sol se apagasse. Penso em Deus como se pensa numa grandeza e espetáculo contínuo, assim como toda a natureza em si O recebe e recebe d''Ele toda riqueza de bençãos.

Aquele caule arrebentado pelo vento forte que se transformou em lenha.
Aquela pétala que com o tempo se desprendeu da rosa e foi para o chão.
Aquele rosto bonito que se transformou em pó, se recolhendo para descansar.
Aquele sapato tão apreciado, comprado e amado, que foi parar num córrego.
Aquele córrego que, orgulhoso passava sobre a mata e que, na falta de chuva, secou.
Aquela bela paineira, que pela ação do tempo, apodreceu e caiu.
Aquele fogo aceso com tanto esmero, que deixado sem combustível, se apagou,
Aqueles momentos, nos quais não fizemos parte, por ainda nem termos nascido, que também se alegrou.
Aqueles entes queridos, tão responsáveis pela vida que nos trouxe até aqui, que o tempo desgastou.
Aquele banquete tão gostoso, em mesas postas com carinho, que também se acabou.
Aquelas chuvas que também molharam plantas que já não existe, outros no lugar agasalhou.
Quantas bençãos derramadas, quanto sonhos concretos que sobre ele alguém realizou.
Quantas mudanças, e tantas alianças compradas, usadas e
jogadas fora em outra coisa se transformou.
Quantas juras e perjuros, juntos andaram, em governos que já passou.
Quantos casamentos, ora por uma coisa, ora por outra, se desintegrou.
Quantas promessas, quantas bençãos, quantas dores, quantos reveses, o mundo já cuidou.
E a continuidade ainda parece novidade, para aquele que ainda não se fartou.
Veja que o tempo, de tempos e tempos, cria outro tempo igual ao tempo que continua o mesmo tempo que nunca deixa de ser tempo inteiro!
Hertinha Fischer.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

O erro que se torna certo

 Se todos estão errados,

sempre estiveram,então,

todos errados somos.

Que mania cega de ver

como se só agora

descobrissem  que sobre olhos

longínquos tudo se fez.

Será a tecnologia que mostra

o certo das coisas, ou o certo

se tornou  errado de repente?

De onde viemos, como aprendemos

a escrever e expressar,

se o passado não fosse presente?

As falhas humanas do repente vem de mentes frias,

 desatentas e corroboradas pela ingratidão.

Que liberdade é essa, quando não se pode andar

pelas ruas sem ser atacado?

Que miséria de liberdade é essa, sem senzala

e sem chicote, mas cheia de violência?

Quando os pais são desqualificados e

os desqualificados, tidos como amigo?

Quando tudo se torna licito, e os maus costumes

convenientes.

Sem lei, sem vergonha e sem moral. Tudo o

que, antes, sem perfeição foi benéfico, hoje na perfeição

"mentes brilhantes" se torna o próprio caos.

Amam o diamante  bruto, desprezando o fogo,

 pois, acham que o fogo pode

destruir o diamante ao invés de lapidá-lo.

Hertinha Fischer



quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Sagrado chão

 Era eu e o roçado negro,

preparado com fogo e fumaça.

Era o cavalo e o roçado vermelho,

preparado com cascos e aiveca.

Era a terra em sulco, revolvida e esmiuçada,

 preparado para a semeadura.

Era o homem de coragem a rezar pela colheita,

nas cordilheiras dos sonhos, subia no pico

da fé.

Era nós, os filhos, que surgiam, a esperar

pelos sagrados grãos, confiando naquele

roçado, no cavalo e aiveca, na doce e mágica

terra, e no homem em acensão.


Hertinha Fischer

Saudade de Deus

 Havia um homem sereneando pela boca, destilando mel de simples palavras. E falava assim bem de mansinho para que os surdos também ouvissem: O HOMEM TEM SAUDADES DE DEUS E NÃO SABE. Fica a remoer seus infortúnios, buscando do que já tem posse, e desprezando a porta que já se abriu, para bater, na incerteza, outras portas duvidosas.

Come, come e nunca se sacia. bebe, bebe e sempre está com sede. Pula a rocha sagrada para sentar em pedras aleatórias. Despreza ou dá pouco valor a água que cura, para buscar remédios feitos de alucinógenos. Anda, anda e fica a vagar na mesma giratória. Sobe montanhas e joga lixo nela, cobra da vida o que ela já cansou de dar. Chama o que não é de bonança, e o que é de precisão.
A irmã Dá-Da faz a sua cama, e não cabe nela.
O cobertor de desejos mal os cobrem. E quando chega ao final, dá-se conta de que poderia ter sido mais feliz e não foi. Por que gastou mais do que ganhou, comeu mais do que coube no estômago, e gastou muito menos energia do que consumiu.
Hertinha Fischer.

Fado melancia

 Mela, mela, melancia, mela

mela, melancia.

Mela o nariz, mela a boca,

mela a mão.

Mela o cabelo, mela os pés,

 mela o chão.

Mela, mela melancia,

Mela o paladar, mela olfato,

 mela coração.

Mela eu, mela o vizinho,

mela pai, mela mãe

e mela irmão.

Hertinha Fischer


sábado, 11 de dezembro de 2021

Versos e versões

 Nunca mudei minha versão:

Sou a  mesma versão num corpo velho, 

sem mudança em seu desafio.

Segue o ritmo dos mimosos roçados

entre os campos esverdeados

no silencio do amor que trabalha

insistência e camaradagem

olhos vivos e roseados

Alma suspira na entranha da vida

cordões viventes de sangue e fé

desenvolvendo real esperança,

do cume até o sopé.

Enfileirados na engrenagem

bem juntados e atarefados

no insistente rodar e transmitir.

o que já vem entrelaçados

Esperança que é esperança, nunca

se perde no nada,

Segue junto e em conjunto

fincando os pés na estrada

Esparramando certezas, com a máxima

delicadeza, de quem confia

na fada.

A cisterna virada de encontro a boca da água

Sempre á encarar a época da chuvarada

Que chega sem avisar

em noites enluaradas.

Não me abandone a certeza 

de que tudo de tudo não

se pode provar.

Ainda busco na dúvida

um motivo para esperar.

Hertinha Fischer




sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Virilidade

 Para aqueles que só sabem esperar,

vivem sentados nas guias das esquinas,
com o colo voltado pro céu e a boca
que só mel.
Vai ao encontro do nítido poder
das mãos, que se pregam os benefícios
do querer se curar
com remédios do fazer.
Não banque o esperto,
asfalto não chega a mesa, a terra é que tudo dá.
É preciso desenterrar as minhocas, antes
de se abrir os biquinhos,
pássaros não botam antes de fazer seus ninhos.
Todo mundo nasce pobre, nu e desamparado,
se não tiver um bom sujeito do lado, cresce
tolo e minguado.
Ninguém que não cuide de si mesmo há de cuidar dos outros, quem não tem para si, não pode servir de mosto.
Pobre é aquele que não tem coragem.
Hertinha Fischer.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Sonhos nascem para viver

 A maioria das pessoas pensam em realizar grandes sonhos, achando, que, para realizar seus sonhos, precisam desenvolver grandes projetos.

Tudo que é realizado faz parte de um sonho: Antes da realização, já existe um sonho se desenvolvendo.
Um prédio não aparece da noite para o dia. Antes foi sonhado, planejado, desenhado e executado. Da mesma forma as plantinhas; Nada nasce por acaso.
A sorte dos acasos as fez, mas, não sem antes do projeto sonho. Alguém comeu do fruto com as sementes, e a injetou na terra. Pode até ter caído em lugares que não lhe pertencia, que não queria, mas, mesmo assim, o sonho vida lhe deu oportunidade de ser.
Com a escrita é a mesma coisa. Quando comecei a escrever, me lembro bem, Estava sentada dentro de um carro, esperando meus filhos saírem da escola. Comecei a descrever o ambiente ao derredor. Via e sentia tudo com a magia do sonho. Podendo viajar, subir em montes, até alcançar os céus através do pensar. E pensar é sonhar.
Descrever sonhos é poetizar sobre as coisas e momentos. Lá estava eu com o caderno e caneta nas mãos. Será que era tudo que eu tinha? Não, eu tinha um grande sentimento além das coisas que me rodeavam, e esse sentimento era sonho.
Podia e devia ver com os olhos da alma. Fechei os olhos para as definições obvias e comecei a descrever com o coração. O coração, embora o vejamos como um órgão importante, não damos a devida importância ao significado que ele desperta. Aquilo que traz sensações maiores do que, simplesmente, existir. Não me importei em escrever de forma culta, mas, tentei colocar luz nas letras. De nada adianta escrever palavras bonitas que não dizem nada. Palavras que não trazem luz, também não desperta sonhos. E os sonhos precisam tocar para que possam despertar vontade de realidade.
Hertinha Fischer.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

A dança da lua cheia

 Não fiquei a contar os passos,mas,acredito serem incontáveis.

A boca da noite engolindo a luz do dia,  bocejando de prazer numa entrada triunfante,

 os olhos da lua cheia de orgulho a lhe saudar com paixão.

 Grilos e sapos, sentados a beira dos lagos, iluminados pela magia

da noite, cantavam suas histórias.

Árvores imponentes lançavam sombras gigante, escondendo resquícios do dia que

a lua ainda sofria.

Olhos brilhavam no escuro, atentos a qualquer movimento, coração indomado e medroso

a coaxar e saltar.

O macho a procura da fêmea, na dança que vida  prospera, sem dever nem devedor.

O roupão almiscarado, dos ratões do banhado, tomando um banho de luz, entre juncos e folhas mortas, esmiuçando capins entre dentes afiados.

A coruja a espreita, não se cansa e nem se deita até o esparramar do dia.

A escuridão pertencendo a noite, amante dos seres noturnos, que se enredam por sobre a margem,

 acasalamento dos acasos.

Os pirilampos, se acendem, nas lamparinas do tempo, para ver a lua, de perto, enamorando-se de luz.

O enlevo da morte e da vida, a magia que a vida tem, um trocadilho sem fim...

Hertinha Fischer













sábado, 20 de novembro de 2021

Chamando pelo amor

 

Toc toc toc.. Abra a porta, por favor, quero encontrar-te amor.
Preciso, desesperadamente, entrar, para me sossegar.
Andei sobre nuvens, falei com as estrelas, espiei os aguaceiros e não te encontrei.
Ouvi falar que estava aqui ou acolá, e nas minhas andanças, só me decepcionei. Procurei-te no mar, no ar, na terra e muitas vezes, no abismo, mas, também não estava lá.
Havia seu cheiro no ar, até te procurei nos jardins, entre as flores mais perfumadas e belas e... nada!
Frequentei baladas, praças, eventos, na esperança de sentir sua presença, mas, foi em vão.
Não estava na musica, nem na dança, nem na bebida forte. Nem nos sorrisos, nem na barulheira, não te encontrei em nenhuma sensação.
Busquei-te entre pedras e espinheiros, no sertão, na cidade, até mesmo na felicidade e só encontrei desejo de te ver.
Tentei nas madrugadas, entre orvalhos e brisa, vento forte e desgosto, ainda era só duvida e esperança.
Fui ainda mais além: cisquei palavras, entrei no mundo dos livros, te cacei nos romances, e só encontrei pegadas.
Disseram-me que estava em casa. Então, construí uma para morar. Arrumei um companheiro e te busquei na cama, na mesa, no vale do prazer, no aconchego do corpo, na promessa, no carinho trocado e nada..Por onde anda você?
Parece um fantasminha esperto, vive na boca, na esperança, no ensino, nas palavras e só nos mostra uma metade.
Foi, então, que encontrei uma porta, escondida, entre as nevoas da solidão. Lá pras bandas da certeza de ter que renascer, batendo na porta mais uma vez...
Hertinha Fischer.

Poeira negra

 O problema é a cidade,

o asfalto nada oferece,
nada nasce, nada... só os
carros se fiam entre os fios
e poeira negra.
Quanto mais cresce a cidade, mais suja
se mostra, mais pulmão se busca.
Nem a invernada onde o gado pisoteia, se torna
mais nocivo que a cidade.
Se constrói de tudo, menos esperança verde;
Argamassa e concreto se dão as mãos, mas não se come tijolos.
Gente que anda de lá para cá, gira gira e não sai do lugar, olhos vazios de beleza, mente vazia de lições.
Frutos disputados, nas beiradas que só comem pó de petróleo, gente a procura de restos, dos restos que ninguém mais quer.
Barulho de motos e carros, de gente barulhenta e ranzinza, de credos que não se pleiteia.
Minha roça era mais viçosa, nela se via de tudo, menos fome de alegria. Colhia do melhor fruto, nada faltava por lá. Hoje até la se passa fome, porque o homem trocou o prazer de plantar pelo prazer de só comer.
Hertinha Fischer

Coragem de ser



Quem tivesse a coragem de ir sem temer
ao encontro doutro tempo.
Quem, realmente, tivesse a coragem de ser mar ao
invés de lugar,
de ser tempo ao invés de limitar
Quem amasse de tal maneira que não precisasse
ser pedinte, antes de falar, ser ouvinte.
Ser mais do que pede, ar limpo que se aspira.
Quem tivesse um coração de carne em lugar, de apenas, algo
que bate, compreensão-dignidade de estação.
Quem pudesse ser pingos de orvalho ao amanhecer, escancarando
o amor de Deus em si.
Quem pudesse, a tal ponto, frutificar sem mendigar flores alheias ,
sendo e realizando, em seus favos, o mel.
Mas, quem?
Mas, quando?
Hertinha Fischer


sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Importância do passado

 Belo mesmo foi teus olhos

colorindo minha íris.
Pouco importa se foi só por um segundo,
num segundo ganhei o mundo.
Feliz é o sonhador, que guarda
seus sonhos, com amor, mesmo
que já esteja acordado.
Nunca despreze um passado.
Seja escada do tempo, lembrancinhas
nos degraus.
Nunca senti ciumes do que não tive, também
nunca me esqueci do que foi meu, mesmo daquele que
o tempo apagou, que também me esqueceu.
Não se faz corrente sem elo, sem milho não ha farelo,
sem lembranças também não ha tempo, que seria do verde
se não existisse amarelo.
Hertinha Fischer.

Bondade e amor

 O seu amor não é ele(a). Ele(a) é só o objeto que você escolheu para satisfazer uma necessidade humana. Assim, como escolhemos um par de sapato. Admira-se pela cor, pelo formato, pelo desaine e finalmente, adquire-se para que o ego esteja completamente satisfeito e assim, possa causar sensações físicas. O sentimento em relação a qualquer coisa, vai de encontro ao desejo, que, sem perceber, são alimentados dentro da gente. E ai o desejo se confunde com amor. e o objeto passa a ser o sentimento e não mais visto como simples objeto. Embora continue sendo apenas o objeto que supre a necessidade corporal e até mesmo uma necessidade espiritual, quando aspiramos por algo maior que nós mesmos, acreditando que não estamos no mesmo plano, onde tanto um objeto quanto outro objeto pode a qualquer hora deixar de ser atrativo e fatalmente direcionar o olhar para outra direção, refazendo o mesmo trajeto de antes, com as mesmas possibilidades do acerto ou erro.

Se alguém começa a sentir necessidade de jogar bola, por exemplo: a atenção do corpo e da mente segue essa direção, e o "amor" pelo
objeto bola, passa a ser alimentado por sensações boas, que o levam a achar que não vive bem se não esta no campo. Qualquer coisa que nos traga satisfação física pode ser considerado amor, se vermos o amor como objeto de prazer. No entanto, o amor não é objeto, o amor é a dedicação, que, por causa da necessidade de um objeto, se torna sentimento bom em relação ao que nos faz bem. Amor é bondade, por isso é certo falar que esta relacionado mais com o que se faz do que com o que se sente... ( Se o sentimento em relação ao objeto não for de paciência nem de bondade, pode ser tudo, menos amor,por isso vem junto com as obras, isto é: com ações)
Hertinha Fischer.


Iniciante

 E sozinha no meio de tudo, e tudo meio que vazio.

Cebolas e terra entre milharais, mangas maduras entre quintais.
Inspiração vem de canções alheias, mais que ouvido de letras.
A solidão é solicitude de poesia, prosa entre órgãos, conversa
entre rins e figados.
Um despreparo para uma fuga, uma fuga a se desenvolver, ludibriada pelo tempo escasso.
A ruína faz bem aos olhos, quando dentro dela já não se vê mais ninguém, mesmo sabendo que o ninguém já foi alguém.
A lua balança no espaço, a prata carrega nos braços, e no peito,
da rima é só cansaço.
A plantinha viçosa na praça, outra espremida na guia, o cão latindo lá dentro e o gato no telhado mia. É assim, como não quer nada, o poeta se inicia...
Hertinha Fischer

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

O invisível

 Nascemos para agradar Deus e não homens.

Só poderemos sentir as coisas com sentido próprio. Isto é:

A emoção com que meus olhos veem, não será a mesma, olhada por

outros olhos.

A beleza, de todas as coisas, só farão algum sentido, quando a gratidão se faz presente.

A glorificação não será útil, quando dito da boca para fora, mas, quando entra no coração e

a alegria se faz presente.

Não são as coisas que nos satisfazem, embora, as coisas se mostrem atrativas, por nos compensar

de alguma forma, mas, coisas perecem.

Quando sentimos o vento soprar, sabemos bem, que caminho toma: se norte, se sul: No entanto, isso pode mudar sem que percebamos. O invisível não pode ser tocado.

O que não pode ser tocado e o que não é visto é que tem real importância, senão, não teríamos tanta tara por paixão.

O que nos move é sentimento verso, inverso ou reverso, sem o sentimento. não podemos. sequer, existir,  pois, somos a magia do sentimento de Deus, que nos fez com um simples sopro e vontade.

O mesmo acontecerá na hora da despedida: a tomada do sopro e a vontade do criador, embora, nunca tivesse vontade de nos tomarmos em morte. Nós escolhemos a morte, não individualmente, mas, a natureza humana escolheu por nós. Ainda, agora, se usássemos a consciência, sem medo, ela. nos revelaria, que, embora, tenhamos aflições só em pensar na morte. A morte entrou no mundo, pelo conhecimento dela, senão seríamos como qualquer animal irracional, Nasceríamos, viveríamos, e morreríamos sem a consciência e dor que a razão traz.

Hertinha Fischer





Verdade fiel

 Repentinamente, o tempo nos mostra suas raízes mais profundas saindo pelas têmporas, sulcando a camada mais fina do maior órgão do corpo. São marcas de vida, de desassossego, de renúncias, mas, também de alegrias vividas.

Ao lado do barracão de saudade, renasce uma esperança gigantesca, fincada na terra prometida, a flor destila o mel.
A terra gira, virando a mesa, e vai nos distanciando, aos poucos, enquanto, em outro tempo, cria outros lugares aproximados para outros sentarem.
A sensação de vazio paira no ar, boceja soberbamente sua boca inerte, no entanto, não se sustenta. A razão, tão inibida, repentinamente se adverte, e destro transpõe seu caminho.
É quando a mentira chega e quer derrubar a verdade. É quando a morte, perturba, querendo vencer a vida. Mas, a vida é vida, portanto, não se deixa intimidar, enganando a morte só por um momento, embaçando a realidade com fumaças ilusionistas, para depois, novamente, reaver o seu lugar.
Um pântano pode esconder tantos perigos, mas, nunca corrompe toda a terra. Sempre haverá esperança a submergir em suas margens. O engano destrói a visão dos olhos carnais, mas, as lentes do bem, corrige os olhos da alma. A mentira, pode correr a solta, porém, os laços da verdade, por certo, a pegara´.
Hertinha Fischer.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

O temido

 Já tentei de tudo para driblar o tempo,

até gotas de orvalho já fabriquei nos olhos.

E o tempo, assim como o vento, me leva.

Ainda existe uma pequena margem á que

me redesenho, na insistência e resiliência

dos absurdos.

Dou marcha a ré, toda vez que chego bem perto do porto,

atracar é muito cruel.

Mas, mesmo patinando, o impulso me leva mais para perto

do limite do fim.

Penso que não quero ali chegar, mas o ali chega em mim.

E o silêncio de quem não mais precisa de nada já me acolhe

e acolhendo já não me resta tantos sonhos.

Porque o que tinha de ser plantado, já foi colhido, e o

colhido já foi degustado, e o degustado perdeu o sabor.

Tudo fica para trás, inclusive a lembrança de nós mesmos.


quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Vidas engarrafadas

 Componho meus dias com versos reversos, quase canção de exílio.

Letras garrafais e tudo mais, melodia como sinais.
Aurora boreal por dentro, por fora, o entardecer a tecer.
Sentimento e ressentimento, tocando como tambor, cordas arrebentadas, som do sonar.
Lutas e lutos, flores e frutos, a desembocar na emboscada.
Triste alegria em riste, sorriso largo no lagar.
Vanglorias sem gloria, eu e o mar, a se destacar no nada
que corrói e se decanta no mais lindo cantar.
Nessa crescente onda de acontecer.

terça-feira, 29 de junho de 2021

laços de amizade

 O rincão, da criancice, que traz saudade de outrora, 

quando, o piso, de terra batida, tinha  gosto de amora.

O meu cavalo no pasto, a relinchar de paixão,

por gosto de trabalhar, andava a riscar o chão.

O fogareiro no canto, a cantar sobre as brasas

esquentando a chaleira e a água,

a fumaça a bater suas asas.

A maçã a desejar minha boca,

suspensa ali se encontrava

de tão doce e suculenta, quase, 

em minhas mãos, se jogava.

As gotas, de orvalho, que nos saudava,

de prata,  pintava  a relva suave,

o vento, a deslizar, suavemente,

com a alegria, fazendo conchaves.

A semente, a deslizar, dentro da terra

a terra á cobrir-lhe a nudez,

Depois de amadurecer-lhe,

começava tudo outra vez.

Eu, com meus olhinhos curiosos,

a contemplar  tudo com amor,

a vida e sua vitória,

sem lamento ou temor.

Hertinha fischer














segunda-feira, 26 de abril de 2021

Presumindo

 Aquele jardim que se perdeu no tempo, faz tempo!

Aquele sorriso terno e tranquilo que se apagou, sério?
Aquela estrada, que, por tempo guardou suas pegadas,
dando risada!
Aquele abraço que só ficou na imaginação, Triste!
Aquele pedaço de pão tão desejado, que pecado!
Aquela obra inacabada, que piada!
Aquela solução que esperava, que danada!
Aquela "vidinha" sem presunção, descarada!
Aquela piada sem graça, desgraçada!
Aquele sonho sem recheio, que meio!
Aquela hora bendita, que sensatez!
Aquele momento único, maluco!
Aquele beijo roubado, negado!
Aquele passeio a cavalo, novidade!
Aquele encontro fatal, saudade!
Aquele, talvez, nem me lembro, mentira!
Aquele intervalo infeliz, revolta!
Aquele dia de outrora, feliz,
Aquele bem quis, não volta!
Aquele cheguei, nem se nota.
aquele adeus nos sufoca!

sábado, 17 de abril de 2021

Preso na presa da fome


Só se perseguem as presas,

presa  que preza a prosa.

prosa que preza a fome.

Fome que come a carne, carne que

serve a presa.

Não se persegue quem não

conduz perigo,

não conduz perigo quem

não é presa,

A força que o dente da presa  não tem,

sobra nas pernas para correr,

Depois vai para a boca, para contar

suas vantagens, antes

de se tornar presa outra vez.

A presa ta presa no medo

e o perseguidor preso na fome..

Só persegue sem fome, 

aquele bicho chamado

homem.

Hertinha Fischer





sábado, 10 de abril de 2021

Atravessando fases

Estamos atravessando uma fase minguante.
A época de cheia, esvazia-se
Embora, seja crescente, a boa e velha vontade
de continuar.
A boa nova, é que, apesar dos pesares frequentes,
não nos acabamos de todo.
Nunca o sol esteve tão perto da lua, nunca a lua
esteve tão longe da terra.
Incrível como o ciclo não se rompe, a corda continua
apertada - nós, jamais serão desfeitos.
Atravessei três mares: O primeiro, misterioso.
o segundo, nebuloso. Mas, o terceiro, é como se todas
as ondas me saudassem, com suas ondas moderadas
e quentes.
A praia ainda está um tanto distante, talvez!
Só a musica do nova e se renova, continua  em sua crença.
Queria muito, encontrar o caminho que cruza oceanos, onde
as águas se misturam, são águas, mas, parece diferente.
Foram estabelecidas e criadas, na mesma forma e componente,
Estavam todas aprumadas em um só grupo, numa só demarcação.
No entanto, foram tomadas de seus lugares, separadas e submetidas
a exclusões.
Vários oceanos se formaram; Antártico, Ártico, Atlântico,Pacifico e Indico.
E até o sal foi distribuído igualmente entre todos.
E eu ainda não entendi todos os idiomas.
Não compreendi o sentido da desigualdade: das crenças, dos pensamentos, da
força, da verdade.
Éramos todos unidos, não como siameses, mas, como sobreviventes.
Foi, justamente, por não nos entendermos, que passamos a dialetos diferentes.
Então começo a surpreender minha imaginação: Foi preciso separar para
diversificar, senão, não passaríamos de pontinhos brilhantes, assim como
uma estrela qualquer a vagar no espaço.
Hertinha Fischer







sábado, 3 de abril de 2021

Peroração de cada um


Ainda me encontro na vaidade da vida,

sobre escombros me deito.

Gostaria de pensar diferente,

sem essa sensação que me define.

Vago na imensidão estranha e azul

de um céu que me parece sem fim,

e que de fim se alimenta.

Encontrei na escrita um modo de sobreviver,

de encarar minhas próprias futilidades.

Alcançando o que o visível não alcança.

Se me olham, não me veem, o corpo

não sou eu, O eu subsiste, o corpo definha.

O corpo nada mais é do que a vaidade dos homens,

para que o brilho, de fora, ofusque a negritude de dentro,

e não vejam o óbvio, do pecado, que cada um carrega.

Nunca seremos completos em nós mesmos, nunca

nos satisfaremos com o que possuímos, buscaremos

sempre, a perfeição aos olhos alheios.

Me encontro, neste momento, tão diferente,

é como, se, de repente, pudesse absorver a verdade

absoluta de cada existência. 

Não mais como o que se encontra as ocultas, mas, explicito

nos eirados.

Escritos em cada rosto, pregados em cada sentimento, como pregos

que atravessam madeiras.

Somos, apenas isto!

Cada um em cada um, já definido e certificado,

já feito e concluído. Moldado e equipado para

viver ou morrer.

Hertinha Fischer







sexta-feira, 2 de abril de 2021

Passagem estreita

 Oh, Deus meu.. 

Que resposta me dá quando lhe pergunto.

Silêncio povoado de silêncio.

Não se cansa de se esconder, quando me dará o prazer

de ver a tua face?

Em que parte do céu estendeu o teu trono?

Ouço a tua voz, na palavra. Entre pergaminhos conta-me tua grandeza.

E de pretensão enche minha alma esperançosa.

A pretender teu amor, a continuar presa em promessa, a almejar, pra ontem, teu 

favorecimento.

Invejo aqueles que estiveram sobre teu conforto, invejo aqueles que obtiveram teu conselho.

Vivo a vagar, sem estrada para seguir. vivo a semear, sem campo para florir.

Como um servo solitário, busco pela ramagem, entre os campos ressecados pela seca, ha fontes que me parecem frescas, mas, é só miragem.

Onde estás?

Porque me deixa com tantas perguntas sem respostas?

Tira-me dessas paragens que só me causam aflições, despeja em mim a tua presença, para que me encha de alegria.

Para poder contar a todos os seus santos desígnios, escondidos nessa passagem tão estreita que me moem os ossos.

Hertinha Fischer




O infinito do mesmo

 Hoje, sexta feira de um dia qualquer, de uma semana

qualquer, sobre um ano qualquer.. Números!

Números, números, números!

Um, dois, três, Tudo recomeça outra vez. Qual a novidade?

Um céu azul, mesclado de nuvens negras, numa qualquer janela á despertar

ante olhos orgulhosos.

Que mãos os alcançará?

Vozes se ouvem ao longe, ainda tenho a capacidade de ouvir, mas, não

sei de que falam.

Já experimentou o silêncio barulhento:  Um pássaro a cantar, feliz, em um galho qualquer?

Um fala, outro responde!

A palavra do canto é repetitiva, amanhã estará a cantar as mesmas musicas, com a memória da mesma letra.

Deita-se, a noite, no mesmo ninho, descobre-se á esquentar os mesmos ovos, eclode-se os mesmos pintainhos. Da mesma forma dá-os de comer sem se cansar.

E no momento seguinte, já são outros a fazer as mesmas coisas.

Começo a desejar outros lugares, a ousar outros pensamentos, a inventar outros sentimentos.

Cansei de ver todos os dias passarem por mim, deixando mais dias a me espreitar, até se findar e se transformar em outro dia qualquer...

Hertinha Fischer


 



segunda-feira, 29 de março de 2021

Fora do ar

 Estou sendo vista como rebelde, alguém que não quer mais fazer parte do processo.

Somos obrigados a fazer e obter as mesmas coisas, senão, não conseguimos viver como todo mundo.

Tudo fica vinculado a uma unica alternativa, ou dançamos conforme a musica, ou somos expulsos do baile.

Não ha mais liberdade, nem de pensamento. 

Só posso falar de coisas pelas quais todos concordam. A politica de privacidade nos arremessa as favas.

Temos que nos transformar em raposas. Andar de mansinho sem que nos descubram, senão, os tiros serão certeiros.

Não estou confortável, nem um pouco, por isso, me afasto de tudo, como se não mais existisse. 

Hertinha Fischer

leis e armas

 O que podemos mudar, senão nós mesmos?

Sai do ventre de minha mãe, plantada á beira de uma estrada.

Tentando sobreviver, embora, as condições fossem precárias. Não

sabíamos se a primavera traria flores, ou se o inverno intenso sugasse toda a

energia e tudo acabasse num repente.

Gravo dentro de mim a maior das certezas, que de certeza nada tenho.

Não sou uma pessoa triste, nem desfocada, nem tão pouco, desmotivada,

embora pareça que sim.

Só não acomodo o pensar numa gaiola, como se as coisas que conhecemos, de repente, pudesse

vir a ser outra coisa que não é.

A convivência entre os seres deveria ser respeitosa, afinal, nos gabamos de nossa consciência.

E ainda, como meninos, precisamos de leis para nos corrigir.

Colocamos limites em nossa propriedade como se pudéssemos ser donos da terra, No entanto, não somos donos nem de nós mesmos. Mas, se acaso, não houvesse necessidade de demarcação, seríamos expulsos de nossa própria casa. O homem não tem limite próprio, por isso é tão importante os limites que a vida impõe.

As leis substituem as armas. Sem lei, armas seriam necessárias, pois, não ha só um homem capaz de se ordenar sem guia, ou se proteger sem  o uso da força.

Em meus devaneios utópico, sinto que para mudar seria necessário recomeçar. Mas os interesses individuais, jamais  permitiria tal mudança, pois compromete a salubridade do egoísmo.

E sendo assim, a continuidade da derrocada da humanidade, como conhecemos, está viajando a jato. 

E eu, continuo a beira da estrada, plantada num matagal, sem nenhuma possibilidade de ver o bonito das flores...

Hertinha Fischer








sábado, 27 de março de 2021

Factual

 Encaro-me, as vezes, de frente,

e só vejo rastros de mim

á vaguear na incerteza.

Construo e desconstruo-me, incessantemente,

para que possa ainda ser novidade.

Olho para a objetividade, e nada mais é do

que aquilo que esta constantemente de passagem.

Já estive com vontade de voar, e descobri que não tenho

asas.

Já tentei me iludir com as alegrias, mas, era

só uma criança brincalhona a brincar comigo de

esconde-esconde.

Já tentei mudar de direção, e me encontrei nos mesmos

caminhos.

Já mudei o enredo da historia, e nada saiu do mesmo.

Já acreditei em contos de fadas, e me dei conta da realidade nua e crua.

Já tentei sair de mim, e só vi sofrimento.

Já tentei domar a memória, e quem foi domada foi eu.

Já tentei voltar ao passado, e não encontrei mais nada lá.

Já tentei ver com outros olhos, me deparei com outras ilusões de

percurso.

Já tentei, inutilmente, forçar a positividade, nada muda uma situação

de negatividade.

Já tentei acreditar em milagres, E descobri que de nada adianta querer.

Então, com todas essas certezas, sigo em frente, pois, não fomos

feitos para retroceder.

Uma folha, depois que se desprende do caule, mesmo

sendo colada novamente, não passará de uma folha morta.

Hertinha Fischer




quinta-feira, 25 de março de 2021

A validade da vida

 Estou aprendendo, ainda, depois de sessenta anos de passos.

Leio minha história, através dos anos, a mesma de tantas outras.

Falo muito em renuncia, porque o lema da vida é essa.

Renunciar a criancice, a inocência irracional, para encarar

a verdadeira face do raciocinar.

Até que, em algum momento, a renuncia é que nos alcança.

E vamos perdendo, cada vez mais, a capacidade de frear as emoções.

Ser criança é a proximidade com a aceitação, das coisas, como elas são.

Depois que crescemos, vamos entendendo o feio dos mal feitos dos outros,

e acabamos nos enfeitando das mesmas fitas.

Olhando mais para as deficiências do que para as eficiências.

Prefiro encarar a realidade, do que cruzar a linha da lucidez em busca de algo

que que não existe, só para satisfazer-me na mentira.

Porque a mentira nos torna fracos, impossibilitado de reconhecer a potência que a verdade 

nos favorece.

Embora, muitas vezes, a verdade, pode significar dor. Mas, não agride tanto, quanto a mentira.

Se tenho, na memória, um caminho já definido e conhecido, difícil seria me perder. Mas, se, construo, dentro de mim, um caminho desejado, não visto, nem conhecido, apenas sonhado as avessas, nunca chegarei a lugar nenhum.

Já sabia, de antemão, que, de alguma forma, vivo e luto pela sobrevivência, como qualquer animal irracional, mesmo, na racionalidade, a forma é a mesma. A única diferença, é que posso escolher o melhor caminho, as melhores condições e até o melhor momento, embora, também não possa esperar que tudo se realize conforme planejei.

E em algum ponto da historia, sem que perceba, os afins encontrará com seu fim, e....tudo terá seu certificado de validade.

Hertinha Fischer










O outro lado do sonho

Desperta estou, ainda que pareça que não dormi.

Quantas águas já se beberam e quanta sede ainda haverá?

Mundo que se deseja, mundo que nada é.

Ainda bem que não nos lembramos de olhar adiante,

O adiante que é viajante, numa estrada anuviada, onde a colina

esconde o fim.

De fato, nada sabemos, só o que realmente queremos,

Um querer que nada tem, cercados de novos empenhos,

que acaba por ser o quê?

Nuvens sem água, árvores sem frutos, pernas sem pé.

O que será depois que partimos?

O que haverá por trás das cortinas que encobrem

o verdadeiro palco?

Será mesmo, essa a derradeira fonte, ou haverá

um manancial escondido entre nossos devaneios?

Os gravetos da impotência encobrem a nascente verdade.

Ocorre que, somente alguns, descobrem por meios próprios,

que a verdadeira consciência, da vida, ainda está em

construção, do outro lado da ilusão!

Hertinha Fischer





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domingo, 21 de março de 2021

O porvir

 Porvir, uma palavra bem definida e, sem sentido algum,

quando se trata de viver,

Estamos focados no porvir, quando a unica coisa que nos espera é a morte.

Estamos sempre em expectativa de viver a eternidade aqui e agora, Nem pensamos em

quantos sofrimentos experimentamos no decorrer da vida passageira á qual sabemos e conhecemos.

Por isso é que devemos nos focar no invisível das promessas de Deus, A invisibilidade após a derrocada do corpo mortal que nos reveste.

O núcleo da semente é que desperta, a casca é a casa do espirito, casa esta, que morre, quando a vida desejada precisa eclodir.

Somos iguais a tantas outras espécies, que espera a eclosão da essência, escondida em Cristo, que nada mais é do que a nossa consciência.

Aquilo que aguardamos sem ver, embora,  estejamos despertos para um mundo que nos matará.

Ou, pelo menos, acreditamos que assim seja. No entanto, esquecemos, da polpa, que guarda a realeza da propriedade. Aquela propriedade que nunca morrerá, embora pareça que sim.

Quando olho para as coisas que me rodeiam, vejo tudo que meus olhos podem alcançar, embora, sinta somente as ilusões que pulsam em mim.

Uma ilusão de comodidade, esquecida de que tudo pode mudar a qualquer instante, e não possa mais fazer parte, dessa maneira que ainda persiste no agora.

Só então, consigo olhar para o tempo passado, quando os que já se foram, deixaram suas marcas, que ainda, por um tempo, serão lembradas, mas, tão logo, esquecidas.

Damos tanta honra ao tempo, mas é, justamente, o tempo que nos apagará, quer seja em corpo, quer seja, em memória.

Dizer que tudo acaba no tumulo é meio que, nebuloso. Dizer que permanecemos com consciência depois da morte do corpo é meio que sem sentido.

Dormiremos, diz o Senhor:  Porque dormindo não temos consciência de nada, por isso, esse termo é usado. Significando que toda memória estará apagada por algum tempo. E só Deus poderá resgatá-la em tempo determinado - Ele dá, ele tira e ele restitui.

Assim, como em gerações, a nossa marca passa de um para o outro, geneticamente, Assim, também despertaremos, na mesma patente em que fomos definidos.

Não mais como quem morre, mas como quem já passou da morte para a vida.

Embora seja difícil acreditar que precisemos morrer para viver. É isso mesmo. Despregar da casca para que a divina semente esteja pronta para se transformar em muitas.

Um só pé de feijão produz centenas. Não sem antes morrer por fora.

Então, não devemos temer a morte do corpo, porque o corpo nada é. Devemos temer a morte da semente, E isso, só Deus pode decidir!

Hertinha Fischer











quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Desconforme

 Dessas trocas, me abstenho.

não quero dar nem receber.

enfraqueci sobremodo,

já nem quero perceber.

Havia navio nestas águas
com leme e bom timoneiro
o que antes era lento,
agora, passa ligeiro.
De uns tempos, já sem tempo
que o tempo se demorou
ruínas e galhos quebrados
em tempos que já passou
Um brilho quase apagado,
nuances de tristeza e dor
O que ainda resta
é amar o próprio amor.
Ainda há uma janela aberta,
canções entrando por frestas
um pouco de esperança e crença
alegria fazendo serestas.
Ha de ser apenas um dia
uma noite, talvez duas ou três
a me embalar em sonhos
de novo,
fazendo-me viva outra vez.
Hertinha Fischer

sábado, 9 de janeiro de 2021

Etimologia


Estava eu á passear sobre as instancias da vida,
como sempre, meio esquecida de tudo.
Nunca fui muito de dar importância para as coisas,
coisas só compõe o lugar.
Sou como uma andorinha, que se aproveita da corrente de ar
para fortalecer suas asas.
Assim, também, aproveitei todos os instantes, com muita fidelidade
ao sentimento que despertava em mim.
Nunca cobrei da vida mais do que ela me oferecia.
Fui uma eterna apaixonada pelo acaso que me visitava.
Gostava de explorar e de aprender, mesmo que fosse, só para sondar
as copas das árvores, me deliciando com seus movimentos.
Palavras iam e vinham á compor meus pensamentos, muitas vezes,
ousados e adiantados para aquele tempo.
Nunca fixei demais em coisa alguma, nem dava tanta importância
para o futuro, o meu futuro eram as horas que passava embaixo dos meus pés.
A vida nada mais é do que um eterno despertar e dormir.
Entre um vai e vem é que mora a eternidade. Nada além de ir e vir.
Nunca gostei de silêncio, mesmo que o silêncio me rodeasse.
Entre eu e eu mesma, sempre havia barulho. Um incessante barulho
de pensar.
Mesmo enquanto dormia, sonhos povoavam meu descanso.
Nunca gostei de solidão, sempre havia alguma conversa entre eu e alguma coisa: até mesmo
as paredes me compreendiam.
As vezes, era uma voz incompreensível de um graveto a se quebrar sobre meus passos, Noutras,
folhas sussurrando para o vento.
Tudo que aprendi tem a ver com tudo que vivi. Me parecia louco viver e não compreender
o significado de tudo que nos rodeia.
A vida em si é uma composição única. Pode-se passar os anos, pode-se envelhecer, é fato! Mas a ópera
só acaba no dia em que se esquece a letra.
Hertinha Fischer





sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Mutável entardecer

 Meia noite de um dia qualquer de janeiro. Saio la fora para sondar a noite que já

se instalou á algum tempo.

Olho para o céu, a gente costuma olhar para ele, só quando a visibilidade está a todo vapor.

Ele se mostra, nesta hora, um tanto tristonho, combinando com meu sentimento.

Então, sento num canto e começo a contemplá-lo, sem preconceito. E me vem a mente um tempo

distante.

Começo a imaginar como ele era no passado, por que tudo muda a todo instante.

Lembro-me de momentos que se transformaram em fumaça, quase igual, as nuvens, que,

naquele instante, ameaçava todo azul que o compõe.

E entre um pensamento e outro, me questiono sobre o que passou.

Lembro da casinha onde nasci, do lugar que me acolheu, e que, agora,não existe mais. Quer dizer: existe, mas, não da forma que era. Tudo mudou de lugar, a paisagem se modificou, o rio secou, a mata tomou conta de alguns caminhos. E os sonhos sonhados desvaneceram-se a medida em que o tempo passava.

Então, não é o tempo que passa, mas, as coisas que se modificam com o tempo. 

Tudo ao derredor envelhece e morre. Depois de alguns anos, vira fumaça e não se sabe bem para onde vai.

A casinha, que, antes, enfeitava á beira da estrada, as bananeiras enfileiradas, compondo a obra, as laranjeiras imponentes, o caminho pelo qual passávamos todos os dias, os risos, as brincadeiras, tudo

se foi, como alguém que parte para sempre.

Parece que nunca existi antes, que a minha imaginação flore e se descobre a cada instante, que a magia

que ficou para trás, não passou de contos de fadas.

Sobra apenas cacos de recordações, entre porções de terracotas amassadas na memória.

Tão sutil, que mais parece uma nuance de cores mal pigmentadas, desenhadas por mãos de uma criança.

Onde foi parar todo aquele tempo?

Quem foi que recolheu aquela lona tão protetora?

E agora, este outro tempo me escapa entre os vãos dos dedos, em outra época, com uma outra estrutura,

só aqui dentro do peito é que as coisas continuam iguais.

Transportando o esquecimento, que por certo, já está as portas, quando tudo ficar para trás, e não mais haver nenhum motivo para lembranças...

Hertinha Fischer