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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

domingo, 21 de abril de 2024

Lá onde aconteceu

 Busquei em vão o que não achei,

a maquina do tempo não funciona.
Leva-me na alça de seu estalo
Já foi, foi mesmo.

Em que sala se entrega, sem casa e sem portas
Caminhando
sobre ruas tortas.

Nesse vazio que me engole num
estar sem servir
Sirvo-me das fontes inúteis
que nem sede mata.

Viajei sem rumo
Numa terra de ninguém
Sem destino, cheguei e
me encostei a lugar nenhum

Se tive, já perdi
Se perdi, nem constatei
a dor que na perda tive
se foi quando perdoei

Não sei o que sofre dentro,
mas, fora, já constatei
os rumos que o corpo toma, na
desesperança que já provei

Na fuga do homem velho,
que os anos já constataram
Das coisas que construíram
e de nada adiantaram

Acaba-se este ou aquele
Finda-se também a memória
Em cima do que escreve
se escreverá nova história

Hertinha Fischer.

A semente de nós

 Poderia eu, saber de onde vim? Sim!

Na lógica sábia terrena, vim de uma
escolha!
Vim do casai-vos e multiplicai-vos
Essência divina do nascer para viver
Escolhi quem ser? Não!
O acaso me escolheu, sem que ninguém interferisse.
Talvez, quem sabe! Na visão de minha frágil imaginação,
tenha sido derramada do céu. A semente semeada
junto com a água misturada, em terra fértil ajuntada.
Essa plantinha chamada eu, sobreviveu e
entre outras plantinhas que não era eu, cresceu.
Como duvidar de um céu, ou um Deus?
Que leva uma misturinha de um tempo a outro,
de uma década a outra, de um século á outro.
Finda-se, ou se completa?
Uma geração chama outra que não é,
mas, que vem a ser. mesmo que do
passado se esqueça.
Modifica-se, enfraquece ou se fortalece, por
causa da união diferenciada, mas, na essência
são sempre os mesmos em tempos diferentes,
por milhões ou trilhões de anos.
De que semente fomos plantados?

Hertinha Fischer

Sobre o chão da emoção

 E o sol relampejou em minha alma,

trovejando amor.
Águas torrenciais de sentimentos
inundou as ruas da imaginação.
Então, flores desabrocharam
no chão da emoção,
até que o sol da compreensão
secou o solo dos olhos
que lacrimejavam de solidão.
Não mais sofri de você,
ante um eu de compensação,
que se acomodou no coração.
Hertinha Fischer.

sábado, 20 de abril de 2024

Enredo denso

 Ah, tempo que esqueceu, os seus, do passado.

Quanto dizeres, ensinamentos e proezas esquecestes.
Quantos rostos formastes e quantos risos apagastes.
Vários idiomas, vários dogmas, vários pensamentos, vários arrependimentos, vários gênios enterrastes
Nem mesmo o mar sabe de onde veio e onde enterrou seus rumores. Muda a rota, revive suas águas, afunda navios, mercadeja e subtrai nos submundos.
Da mesma forma, a terra encerra seus atritos, para depois, retornar, estremecendo o labirinto de seu útero, a criar novos montes.
Sua trajetória jamais será compreendida. Tu, sim, tem a eternidade, e dela compreende.
Resvala, submete, amplia, constrange, tira, põe e se recompõe em seus declives.
Apoia os pequenos e os grandes, ajunta e espalha os de sangue, retira o que se é para ser retirado, e outros, iguais, nascem e morrem igualmente.
Viva estou agora, aqui e acolá, como alguém que pensa, ouve e vê. Uma peça humana.
Não sou tempo e nem espaço, nem céu e nem terra, nem tão pouco sou universo. Mas sou, de qualquer modo, algo que se move.
Um complemento de alguma coisa que não alcanço.
Uma chama que se acendeu sem ignição. Um despertar do nada, sublinhada no real. Sou!
E comigo, que não poderia ser só. Fez-se outros tantos em sua esfera, para durar um pedaço de sua eternidade.

Hertinha Fischer.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Luz azul

 Quando olhava o que ele fazia, ficava extasiada. Era capaz de fazer qualquer coisa andar, especialmente, quando manejava seu tempo.

Era meio parecido com a enxada que ele usava para carpir, ou as sementes que jogava nos canteiros, ou ainda a foice que lhe obedecia nos cortes precisos.
Não necessitava de relógio. O sol o conduzia a hora exata.
Sabia a hora certa de plantar ou colher, como se as sementes despertassem para ele, e a colheita se preparasse para seu querer.
Tinha mania por exatidão: Levantava sempre na mesma hora, até o bater de seu conga surrado, para limpá-lo, no batente da porta, todas as manhãs, se tornaram um rito.
Acho que, enquanto jovem, ele tenha aprendido a se educar por conta própria. Nada lhe era penoso.
Não bebia nada que continha álcool, mas, fumava, seu cigarrinho, enquanto experimentava descanso.
Tão sutil em certas circunstâncias, que, pensávamos que não tomasse banho nem usasse banheiro.
Aos domingos, depois do almoço, ia conversar com os amigos. O horário da saída e da volta sempre seria os mesmos. Precisos demais.
Tinha a tez carrancuda, sorria, as vezes, com o canto da boca, Não sei por que nunca gargalhava.
Gostava de escutar o canto das estrelas em noites enluaradas. Acho que sorria para Deus em seus silêncios.
Não falava de si, quase nunca, Também não reclamava de nada. Tudo parecia fatal demais para tentar consertar com melodramas.
Tinha esposa e filhos e era, extremamente, fiel aos bons princípios. Esperava isso de todos.
Pagava suas contas em dia, não ostentava em casa, nem em vestes. O necessário bastava, os excedentes, guardava, para que nunca faltasse o pão.
Guardava dentro de si, muitos desejos secretos, embora não demonstrasse sentimentos demais.
Alegria se via na roça, no maestro capinar, tristeza nunca.
Seu radinho a pilha lhe mostrava os arredores do mundo, sabia pouco de escrita, mas, o ouvido era alfabetizado, tinha doutorado de vida.
Seus braços eram fortes como rocha, nunca se cansava de quebrar pedras, literalmente.
Desbravava lugares inóspitos, como quem abre caminhos para a bonança, sabia onde havia terra boa e produtiva, as vezes, até achava água com uma varinha mágica. Nunca falhava em descobrir as nascentes.
Colocava sua prole em ação, assim que o dia clareava, para que aprendessem o oficio da sobrevivência.
Cultivava suas próprias sementes, no celeiro da inteligência.
Também plantava porcos nos chiqueiros, de cinco em cinco, iam nascendo e abastecendo os potes de barro com suas carnes deliciosas, preparadas para durar meses e até anos, sua própria gordura as conservavam.
Tinha o dom de ser criativo, já passara por quase tudo no aprendizado. Tudo começou numa terra de ninguém, quando foi carvoeiro com seus pais.
Saiu da mata, casou-se e formou família, contando somente com o suor do próprio rosto.
E agora, contava suas histórias feitas de fé e convicções. A honestidade seria sempre sua fiel escudeira.
As pessoas que amava iam sumindo no pó da estrada. E as sementes, despertavam, sempre que sua mão tocava.
A vida nunca será fácil ele dizia: Os dias contam suas proezas no cabo de uma enxada bem afiada. E a terra jorra sabedoria.
Certa tarde, quando o sol já ia acenando ao longe. Viera o fim de sua jornada. Foi então que fez sua última prece, antes de deixar aquele chão que tanto amava. Entregou-se a canseira dos anos, findando sua jornada. Se deu permissão de sair do corpo, para que a volta pra casa se tornasse mais leve.

Hertinha Fischer






sexta-feira, 12 de abril de 2024

Alma serena

 Queria alçar ao céu de madrugada,

quando a alva se rompe.
Abraçar minhas próprias pernas e voar
no magnifico ar
em profundidade.
Sentir o sereno gotejar em minha alma,
para semear gotículas ao amanhecer.
Encontrar com o dia ainda criança,
a brincar de frescor.
Olhar para o horizonte dos seus olhos,
amarelados de compaixão,
a rastrear, seus arco íris, no final de tarde.
Até que a primavera se abra
e transforme tudo em jardim
Hertinha Fischer.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Acústico da alma

 Ah! nunca me senti uma princesa

E nem princesa desejo ser.
Meu castelo só tem um rei
E esse rei não posso ver

Está acima de mim,
Onde meus olhos repousam
Minha mão o alcança
quando realmente não ouso

Vivo, mas vivo não sou
Estou onde hei de fugir
Quanto mais me esforço,
mais vontade tenho de sair

Quero lâmpada acesa
Ainda ao meio dia, escureço
Se sua luz não me alcança
Desta falta, padeço

Ir e ir de encontro ao seu
para reaver o que é meu

Tudo que sou, bendigo,
para poder um dia estar contigo.

Hertinha Fischer

domingo, 7 de abril de 2024

Se tu para tu mesmo

 Mesmo que sejas só tu e suas palmas. Parabenize-se!

Jogue-se no perfume e sinta-se o jardim. Depois floresça para ti mesmo!
Hertinha Fischer.

sábado, 6 de abril de 2024

Convicção de valor

 Ainda chorava minhas manhãs perdidas,

elas se iam com as horas.
A tarde, como sempre, me incentivavam
com as suas preguiças.
Buscava, então, a coragem como familiaridade.
Seguir pela tarde já não era como irmã.
O pulsar fica mais lento diante da perspectiva da pressa.
Fazer dar certo, na pressa, seria o mesmo que errar.
Tinha, por sorte, as lamparinas sagradas, que se davam com a luz do luar. E os sombreados auxiliavam na composição dos afazeres.
O não enxergar direito não vê defeito.
O dia, porém, me dava o rumo.
Quase sempre me mostrava o conceito dos defeitos.
Via minhas íris escuras, minhas pisadas falsas e meu saber na crença, quase que emaranhadas.
Pensava no caótico fim.
E fim não havia.
Embora se acredite na morte de todas as coisas.
Os números não mentem. Pra onde vai toda essa gente que
se despede?
A terra pode por um fim na matéria, E a sensibilidade, a identidade em si, a maturidade, a sutileza da promessa, quem poderá suprimir?
Impossível se criar o vento para a calma, ou o diluvio para a seca?
Não se constrói para destruir, nem se cria para nada.
Há sempre um propósito para o sol e outro para a lua, para a terra e para o mar, será que só o homem foi criado para não ser?
Hertinha Fischer.

Silencio da palavra

 Penso, logo me calo. Em escritas me consolo.

Ergo meus silêncios aos céus,
para então ouvir.
Essa ausência murmura na alma, a espera de
um cântico qualquer.
Como aquele que embala a árvore de um pássaro
Nada mais é como é.
Tudo se perdeu nas poças
Barros que afundam a mensagem
Arrogâncias que pulam pra fora
Nada pra se dizer.
Hertinha Fischer.

Uivando céu

 O cansaço do dia me traz noite,

acomoda-se na linha do sonho,
que ainda nem sonhei.
Uma vontade de voltar sem ir, de crescer
ao reverso.
Nem quero mais do que sou, nem
mais do que mereço, apenas descansar
as pregas das pernas num jogo
de lençóis azuis, para uivar céu de madrugada
como um lobo uiva para sua lua preferida.
Hertinha Fischer.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Asas da fé

 Eu que progresso, eu que não regresso

Desculpe-me tempo, sou contra tempo.
Desmorona-me, remonto.
Respira-me, expiro-te
Lentamente, me definha, me defino a cada passar.
Há quem te diga: nunca mais!
Acredito no que não vejo esse afim
Se me enrolar, desenrolo,
Se me maltratar, bem me trato
Se me levar, levo-o comigo
Se me derrubar, te levanto
Se me esquecer, me lembrarei
Sou mais impetuosa e teimosa que o além.
Vou além das coisas,
O aquém me sustem.
Deus, meu universo.
Deus, minha vida.
Deus, começo, meio e fim.
Hertinha Fischer.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

A nevoa

 O homem fala, discute, questiona e sente.

Mais fácil amar quem apenas anda, come e respira
Esse tipo de amor que queres não existe.
A própria historia do homem conta.
Quando apenas um, podia falar consigo mesmo, responder o
que quisesse, isso não o faria aprender.
Quando dois, Quem somos? Um é um,
outro é outro, ambos pensam desigual
O que, geralmente, incomoda, é não ter o outro. Quer dizer: Não possuir o outro como um objeto util.
Amem! Amem! Amem! gritam: Quando nem sabem direito o que é amar. Estão sempre colocando o amor numa balança de pretensão.
Passam ao lado do semelhante como se este não existisse.
Não é só quem tem fome no estômago que precisa de alimento. O ato de ignorar maltrata muito mais que a fome de coisas.
As vezes, dão muito mais valor a quem está longe do que quem está perto, por que quem está longe não disputa lugar, nem interesse.
Ninguém fala mal de desconhecidos, Já os conhecidos
são massacrados em conversas fiada nas esquinas.
Onde escondemos nosso tesouro?
Quem apagou a luz da sabedoria?
Por que se dão ao trabalho de esmiuçar fatos sem relevância, querendo
descobrir outros mundos, e destruindo seu próprio?
Estou muito estranha também. Não tenho mais vontade de estar no meio.
Objetivo a obra, mais que o valor.
Cansada demais para disputas, seja de carinho, preocupação ou consideração.
Um nevoeiro nos envolve, incapacitando os olhos a enxergar o que se deve. E o coração, de sentir livremente.
Hertinha Fischer

Silêncios ao céu

 Penso, logo me calo.

Ergo meus silêncios aos céus,
para então ouvir.
Essa ausência murmura na alma, a espera de
um cântico qualquer.
Como aquele que embala a árvore de um pássaro
Nada mais é como é.
Tudo se perdeu nas poças
Barros que afundam a mensagem
Arrogâncias que pulam pra fora
Nada pra se dizer.
Hertinha Fischer.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Ciranda noturna

 E as formosas tardes, roubando

o encanto da manhã,
A sorrir sol entre as árvores
Meu recanto, colorindo
a relva com giz amarelo.
E a luz sondando os telhados.
A boca da noite beijando as portas
que já se fechavam para dormir.
Quando tudo se apagava,
a luz aparecia entre as frestas.
E a serenata começava entre capins
A cantar para ninguém.
Os grilos chamavam os cri - cri
Os sapos tocavam tambor,
a lua dançava para o céu
e o céu descia para embalar o
sono do trabalhador.
Pirilampos exaltavam o
criador, acendendo a
pétala da flor.
Hertinha Fischer.

terça-feira, 26 de março de 2024

Postura em si

 Que bom que me alertou.

Nuvens nem sempre viram água
O deserto nunca é deserto:
Sempre há uma lagartixa teimosa
que gosta de deslizar na areia.
Ventos, levam tudo,
menos o frescor.
Certo dia ventava forte, todos
as bagas, vazias, foram levadas para longe,
menos as sementes que sofreram varadas.
Pés de couro muito fino, na nudez, caleja,
mas aprende.
Tudo é questão de aprender,
quem nunca aprende, também entende.
Boca que fala muito, fala dos outros,
a língua se esquece dele próprio.
Esta sempre encorajando e atirando pedras.
Os humanos querem ser bichos, sem saber que já o são.
Quem vive a disputar qualquer coisa, só pode ser igual
Inteligência não é disputa, é agregação.
Ser não basta, ter não basta, tem que parecer
É a tal da sala espelhada: parece grande, mas, é uma farsa.
Hertinha Fischer.

Rota dos sonhos

 Nasci com correntes invisíveis nos pés, mas, a alma,

livre, como um cavalo indomado.

Lá nas bandas onde morava, tudo era incerto. Nem

sabia dos desertos.

Havia contos em revistas

lidas com os olhos do coração

Romance impossíveis que davam certo

E me perdi na canção

Minha mãe, tão pequenina, casou-se ainda menina,

nada tinha para contar,

A não ser do que vivia e se via a olho nu

Sua luta me inspirava, seus princípios me corrigia, mas,

ao certo nem sabia.

Minha  Vivência se mantinha, ainda, em pano cru

Fui andante, entre sonhos, que, em travesseiros construí

A vida é mais dura que pedregulho que já comi.

Atravessei de canoa, areia movediça e pedregal

Não me atentei ao que me fazia mal

Acreditando que tinha sentinela

velando minhas passagens

Valeu cada centímetros dessa viagem

Nada me tirou do rumo,

sonhos também tem sumo,

um dia ele encontra seu prumo

entre prumos e rumos eu me acalmei

Até que aqui cheguei.

Hertinha Fischer.



domingo, 24 de março de 2024

O passado e o vento

Meu passado é um caminho
Deixado para trás.
Ainda há passagem e pastagens
Ando por lá as vezes

Sinto tanta saudade de mim
De outros e de tantos
Estou bem mais perto de mim
Embora, veja o que já vi
nos mesmos caminhos
que senti.

Não fui, sou
Não me enclausurei
O tempo
pode ter me engolido no passado
Mas, o passado ficou
grudado em mim

Há tanto para contar
as lembranças me contemplam
Coração cresceu, nele cabe eu

Não há novidade,
só algumas lacunas nas passagens
Tudo igual, menos eu.

Hertinha Fischer.

domingo, 17 de março de 2024

Ambíguo existir

 Na constância desses meus dias,

passos e mais passos não contados. Muitos.
Sem freios em meus devaneios. Esporeio.
Fui meio que trôpega, sem meta,
Medo e dúvidas me acompanhavam
Ainda não me sustento em certezas,
as delicadas horas me fazem, uma a uma.
Tinha aconchego quando criança, adulta,
tenho que ser.
Talvez morra sem sentir-me segura.
Só consigo ouvir minha humanidade,
a humanidade dos outros são mudas
Acho que a humanidade dos outros
me constrange, por que não sei
se são tão inseguras quanto a minha.
Meus olhos de criança viu coisas que, agora, não vejo
Sentia diferente, e ouvia o que não mais ouvi.
Adulta, já esqueci.
Se voltasse no tempo, na última hora e
encontrasse novamente com
aquela criança que fui, talvez eu entenderia
um pouco mais de mim.
Hertinha Fischer.

sábado, 16 de março de 2024

Cinzas ao vento

 É, que morte certa

Vigiemos antes
Somos ignores
Fazendo, desfazem,
Construindo, pretérito
O fim nos atrai,
passagem anterior,
Foi, viemos, vem
Se não souber, melhor
sabendo, de nada vale.
Somos aquele que passa.
escombros criadores.
Fazemos para morrer
e continuamos assuntando
poder
Hertinha Fischer.

Ensaios do pouco

 E lá estava, embarcando numa viagem nas asas do pensamento.

Plainando histórias
Brisa suave levantava fenos de esperança
Sem nenhuma delicadeza nem méritos, delirava nos pobres poemas. ricos
em mim
Uma mistura de simples com simplório. Juntados, como se junta frases pensadas com frases verbalizadas.
Percorria rios de memórias, charcos de intensão, muitas vezes, lamas de ilusão.
Eu, quem dera! Amante da arte, sem ferramentas sofisticadas. Punhos de aço.
O silêncio á me olhar com aqueles olhos de pidão.
E o mundo inteiro ao meu dispor: Eu só querendo alinhá-lo poeticamente.
Meus pássaros se aninhavam no alfabeto, e meus poemas punham ovos de plástico
Havia tantas coisas a contar, e ninguém para ouvir
Comecei a contar para os caminhos, para os lagos, e, muitas vezes, para a noite.
Horas a fio a desenhar em meus limites. Nada é mais fértil que a imaginação. É como aprender a ser médico, curando a si mesmo.
Ainda insisto nos traços. Poesia é desenho que não se desenha, se esboça.
Hertinha Fischer

Versões anuviadas

 Quisera eu falar de meus desatinos

Contar as minhas falhas
De quanto já errei
Só eu sei!
Pago por que devo
Se é pesado, não me calei
Me diga onde falhei!
Tive mais do que pedi
menos do que desejei
De tristeza, sobejei
Me considero déspota
Creio só de língua
Nem teus apreços considerei
Só conheço a minha face,
no distorcido do espelho
Se visse como realmente sou
meu rosto estaria vermelho
Se me agrada, me agrado
se me descreve, torço o nariz
Se falo da minha bondade
meus atos me contradiz.
Queria a mansidão do regato
E só consigo ser corredeira
Meus laços nem são tão fortes
minha alma é corriqueira.
Hertinha Fischer.

Vida em curso

 Na manhã que se fazia,

era minha a mania,
de esperar na rodovia.
Nunca fui de me sentar,
pés foram feitos para usar
e mente para discursar
Ninhos prontos me aqueciam
que, de pronto esqueciam,
minhas manhas só cresciam
Precisava de amar,
que amar sem somar
rosa sem flor, frutos sem pomar
Nuvens perto da água
não alimenta nem deságua
mais vestido que anágua
Alma sem olhos,
olhos sem alma,
mais apreço do que calma
Lâmina afiada de uma cutela
nem encosta já escalpela
coragem não é cautela
Anda a torto, meio reto
na posição de um feto
composição de um desafeto
Nem fim reconhecemos
verdade omitiremos
Acasos deslembraremos
Nem sabemos para onde vamos
Dos açoites nós escapamos
Da árvore só secos ramos.
Hertinha Fischer.

terça-feira, 5 de março de 2024

Inteligência original

 As frescas manhãs rosas,

cochilavam aos orvalhos
talhados de maçãs.
Olhos da amendoeira caiam a olhar
o chão com satisfação.
Rodeada pela cachoeira preguiçosa
que caia nos braços do sol, faiscando de amor.
Uma casinha se lançava as margens, como rainha poedeira
de sonhos perpétuos
Erguia-se a ponto de alcançar os braços dos coqueiros, tornando-se um só coração.
O vento enciumado, de vez em quando, os separava com seus bafos.
Flores de todas as cores sapateavam no ladrilho chão de outono.
Enfeitando os arredores do falcão, batendo as asas para atrair suas caças. Mergulhando seu nariz de bico na aterrisagem da fome.
Tudo se completava: Os que vinham com os que iam.
E a natureza mãe, anfitriã de muitos, não poupava sua delicadeza de incluir os desafetos como protagonista do espetáculo.
O baile das rosas e do vento incluía camundongos e águia, pássaros e cobras, sementes e esquilos, tocas e poleiros.
A mágica vinha dos ganhos e das perdas. do aparato do saber, da fartura e escassez, Nunca da falha.
No caminho da sabedoria nem o ar tem verdadeiro sossego, Seu movimento contínuo embala a vida. Atravessa mares e tempestades, afunda navios, derruba faróis, mas não incomoda seus peixes.
Tudo em razão de ser e poder.
Ser enquanto se é, e poder enquanto se pode. De resto é só conclusão.
Hertinha Fischer.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Deste-mudo

 Eu que achava, achava viu?

Não acho mais.
O tempo destemperou meus tesouros,
ouro de tolo
Chacota de ontem
Hoje se superou
minhas ruínas se afinaram
Tempo demais para reclusão,
conclusão.
Tempo de menos para chegar,
sair, talvez, caminho há,
mas, onde?
O arco da lua vive em minha cabeça, prenúncio.
Temporais atemporais submergem
Antes fosse do que houvesse prometido,
Amanhã me revestiria de novo no novo
que se perdeu nas eiras das beiras.
Hertinha Fischer.

sábado, 2 de março de 2024

Corpos ou princípios

 Viver de bem com a vida, mas,

o que é vida que se vê bem.
Se é corpo, onde falhamos, se é alma, onde descansa?
Se não for intriga é fadiga.
Melhor é não viver, ser apenas.
Ser e descaber, rebelar-se e se render, para quem?
Eu nem vi por onde vim, nem me
lembro por onde andei antes de chegar.
Onde caberia um saber que não sei?
Onde haveria um lugar longe, que me destaque aqui.
Ou, a que horas a divida apita, em
que trilhos me cobra.
Ou em que trem devo embarcar, sem hora marcada.
Chegar onde? partir a partir de que estação?
Se nunca esteve como sabe como?
Meu corpo está condenado? Sim! qualquer um!
A terra o toma, é dela, mas é ela a substância final.
E o feito, por onde anda? Se no final tudo se desintegra, como reaver?
De que somos feitos? de barro ou de energia?
Então, sobre a lógica humana, o abalo sísmico somos nós, já que também somos terra.
Hertinha Fischer

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Alúvio de mim

 Minha imagem nada tem de lúcida, sou translucida.

Creio mais na poesia que nada diz e diz tudo, do que, aquele
que constrange com discursos acalorado, falando muito, dando a entender tudo do lado errado.
Não me importo com as portas que se abrem, Todas se abrem em algum momento. Nem com sonhos - sonhos nada dizem, se antes não se levantar com disposição.
Minhas ruas não estão solitárias, estão cheias de mim. Se não houver ninguém disposto a ouvir, as ruas me ouvem, estou sempre declamando para elas ao pé do ouvido.
Máquinas não me dizem muita coisa, Já meus dedos contam histórias.
-Mundo, Não concordo com você em muitas coisas. Ando meio alheia aos teus enganos. Amanhã, se eu for embora, não lhe entrego nenhuma saudade. Não sou daqui!
Hertinha Fischer.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Discurso da vida

 Como não ser grata.

Ouvindo aqui o canto da tarde.
Seresta de seres e aves e gente.
Especialmente, o som do domingo,
que traz em meus braços um tiquinho do sonho.
E a vida... isto é! Deus, com toda certeza, regou
meus planos com bênçãos. Olha ao derredor, há uma suave plantação de alegria, que flora e frutifica á cada estação.
Envelhecemos e crescemos... Assim como um final de tarde que chama a sua noite e vai crescendo a medida em que se dão as mãos....
Hertinha Fischer.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

O sonar das horas

 O encanto que as horas comeram,

degustando momentos  pelas bordas

Eis que sou e nem sei

Horas que se foram,

horas que voltaram

Encontros que permaneceram

horas que permitiram.

Fluidez do tempo,

ou tempo não há.

Ou há sem tempo

quando as horas levam

E as memórias insistem

Corroborando os feitos

que já se fizeram

ou ainda estão por fazer.

Hertinha Fischer

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Grande prurido

 Estou a intuir que já foi,

Todo bem que se construiu
se foi,
no enfado do certo que ligava
as redes e os sociais.
Desintegrou-se ainda criança
nos atos que se arriscou
Foi-se o romance, foi-se casado no descasado,
Foi-se.
Foi-se a purpura e o papiro, perdeu-se na arca
As desilusões as abateram, só sobraram cortes.
E a religiosidade que trouxe paz, ao mundo,
é a que mais destrói.
Trança-se espigas mofadas, abriga-as nas profundezas.
O inútil se valorizou e o útil se escondeu.
As praças estão cheias de traças e trapaças, a alegria se encolheu.
Ruas largas, pouco espaço para gente, pra bicho.
O sol bate nos vidros, embaçando a visão, e o cortejo já não tem defunto, apenas caixão vazio rodando.
Árvores desperdiçando sombra e engolindo fuligem - tudo certo, lógica da terra plana.
E os seres não são seres. São na maioria das vezes, gladiadores.
Onde lutam consigo mesmos, com armas de ganância milenares, quando um homem corrupto corrompe tudo que toca.
Tudo na terra já foi consumido e habitado. Não há mais para onde fugir ou descobrir.
Vontade de ser um conto, mas, nem te conto - conto são apenas contos.
Alice não mais se maravilha.
Hertinha Fischer.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Globo da criação- Ars

 Ainda assim me via e ouvia quando as fraudas de pano de saco estavam encharcadas de frio.

Uivava ainda a criança chacal dentro da comodidade do cerco.
Quando as circunstâncias da fome afagava o silêncio dos vigias.
Uma sede de descobrir além, um choramingar de esperança, um defender-se quase que destrutivo diante do perigo a rodear.
O mundo circulando ante seus olhos atentos, numa expressão selvagem de olhos famintos naturais.
O céu de olhos azuis, titubeando sobre a luz fraca do sol entre nuvens negras e pegajosas.
Enquanto mastigava um pedaço de capim seco, entre dentes, ainda de leite, branquicentos e lentos, sacolejando, as ancas, no prelúdio de uma força imaginária.
Uma coroa de penujem sobre a cabeça, ouriçada pela mágica sensação de já poder ser como os demais.
Tudo parecia imenso diante dos seus passos, incompreensível e poderoso para que encarasse como fato.
Uma janelinha que mais se parecia com um buraco negro, se abria para o sul de seus dias, que a noite engolia como se brincasse de viver e morrer. E a vida solvia seus goles.
Brincar de pega-pega com as folhas soltas de uma árvore, solrisando de prazer nas brincadeiras inocentes, como se brincar fosse a moral.
E assim, como não se quer nada, e nada a se esperar, as águas corriam em seus mananciais, cresciam e seguiam seu curso meio que descampando.
Esperar e esperar, até que os vigias voltem com a recompensa do abandono. E o tempo o empurre para o crescimento, para que esteja apto a vigiar por si mesmo.

Hertinha Fischer.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Vão sós

 Que olhos distantes em terras sombrias, que sorte sacramentou nos atos e nós.

Nas fases de lua e camaradagem dispersa
de onde e de hoje sobrou-se o sós
Vi na alvorada, seus braços estendidos, na foice e na enxada
de vias e pós.
Quaisquer lembrança, façanha e risos
Apaga-se na entrada da força dos mós.
Usa-se palavras e gestos, encobre-se saudade
na dor do após.
Saudade doída; calada e temida,
de nós, de sós, não tem dó.
Hertinha Fischer.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Duplo vazio

 Eu ainda esperava, sentada naquele banquinho cheio de memórias, quando o dia se foi e trouxe consigo o esquecimento.

Era tarde, e a tarde já se mostrava ausente, a noite furtou sua gloria, e levou teu rosto para longe.
Percebi que perdi, perdi você e todo aquele ensejo de amor que havia.
Tudo falso, tão falso quanto o teu silêncio já me mostrara.
Vias de fato: visão embaçada, coração malogrado.
Te esperei na esquina, e tua ausência me mostrou ausência.
Te procurei nos cantos, e estavam vazios.
Não era você, era você sem você, nos beijos trocados, na alegria dos momentos, apenas sonhos em névoa.
Não há rancor, nem saudade, apenas uma dor oca de uma oportunidade feliz que se perdeu.
Hertinha Fischer.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

O dia em que se está

 E anteontem que não era ontem, nem hoje, nem amanhã.

Tinha gosto, mosto, rosto.
Frívola manhã desintegrada, charada, escancarada.
Vivia, sofria, magia, transmitia.
Amor que amava, chorava, se apaixonava.
Ia, cria, sorria, percebia.
Havia, cortesia, de ventania se vestia.
Ausência, clemencia, sofrência.
Esquecimento, lamento, isento.
Eu, você, nós
Foi-se, sorte, morte.
Hertinha Fischer.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Apanhadores do simples

 Eu estava com meu vestidinho de festa, de um azul supremo, com enfeites de cianinha branca, nas mangas e nas bordas da saia rodada. meus pés vestidos com sapatinhos novinhos, de plástico, também azul, com um tom mais ousado que o vestido, realçado com a beleza de uma fivela dourada.

E ia deslizando com sabor a vida, saltitante nas estradinhas de cristal.
As beiradas, delicadas framboesas adocicavam o ar de respirar, entre espinhos que as defendiam de mim.
Abaixo dos pés plastificados, havia certa maciez a desejar, poeiras frescas se despregavam dos seus torrões de terra batida, sem bermas definidas, com muitas silvas e terrenos acidentados, onde se enchiam de alegrias ao passos dos viajantes.
Até serem calcificadas por pegadas.
A pureza de menina que sentia em cada passo a honra de pisar, as, vezes, pulando com uma perna só, noutras, de passos cruzados, rumo a escolinha dos sonhos, que nem morava muito longe, apenas a alguns quilômetros de sabedoria. Levava a bolsa de pano com alça, agarrada ao pescoço, como se levasse, dentro dela, um tesouro, embora, o tesouro, consistisse apenas de um caderno de brochura, um lápis e uma borracha.
E como era robusto aquele sonho de sonhar.
Letras dançavam nas placas, as beiras, realçadas pela sede de aprender.
O éle (L) ou Erre (R) , entre uma consoante e uma vogal seria um enigma a desvendar. Era preciso treinar a língua.
O levantar cedo tinha magia, o sair com a lua a lançar lágrimas sobre a relva, molhando as pontas dos dedos, era a lógica do deleite.
O sincronismo do substantivo coletivo surreal.
Combinava, fundia, se ligava, juntava e agregava.
O ar, o sereno, a terra, a estradinha, eu, a escola, a ida, a volta.
E a minha casinha, sentada lá embaixo, também adornada de terra, a me esperar com as portas, escancaradas, cheias de ternura por dentro.
Não me canso de sentir saudades.
Hertinha Fischer

sábado, 20 de janeiro de 2024

Logo depois, vento

 E o dia que ontem era hoje, futuro presente, passado.

E o tempo que nunca distante, sempre a frente,
de trás pra frente
E nós que fomos e somos, mistura de tantos fores e seres
Cinzas em potes quebrados, ruinas, em terra, encerrados.
Que livre que somos e sumos, vaidade de fogos e fumos
Sumindo entre rimas e rumos, do inteiro, só bagaços sem sumo.
Saudade de ires e vires, Volta a volta, voltando, indo e o tempo, cobrando. Quem se terá no após, quem se dará no depois,
doravante, quem fomos ou somos,
E a que tempo nós nos compomos?
Hertinha Fischer.

Tempo e novidade

 Gosto do inédito, o inédito não cansa.

Uso as asas da consciência para plainar nos bons gostos do viver. Gero frutos enquanto durmo e acordada degusto.
Não sou quatro estações, sou mais cautelosa em mudar.
Geralmente estudo as correntes, para que não venha a fluir contra a correnteza.
Sou tartarinho, uma mistura de tartaruga e passarinho. Uso minhas asas devagarinho.
Nem impressa, nem publicada, nem exibida.
Hertinha Fischer.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Seriema da periferia

 Meus sonhos sempre moraram em periferia. Amava cantar

aos pássaros enquanto eles assobiavam.

Passeava entre os bananais, atiçando as folhas secas

para que elas dançassem sobre meus pés.

Tinha um gosto por terra, minhas unhas recebiam

suas cores entre as entranhas. Esmaltadas com barro.

Ia e vinha, a pé, fazia longas viagens dentro da minha cabeça

Ousava acompanhar o crescimento das plantas, crescia com elas, embora,

elas fossem arrancadas mais cedo do que esperava. Também fui arrancada tempos depois.

Subi para o alto, troquei o barro por salto.

As travessias entre pedras nos rios, risos de águas deslizantes, para asfalto seco e frio.

Saudade da periferia do bairro. Escolinha a céu aberto, professora se chamava terra.

Cidade triste e calada, invernada sem bois. passarinhos sem casa, eu, sem asa.

Ainda me refresco em meus rios imaginários, pinto a imaginação com as cores da saudade.

Dizem que não tem nada lá. É verdade! 

Por isso a memória grava os instantes. E a saudade trás de volta grandes recordações. 

Das serenatas dos grilos, do encanto da terra a engolir historias.

Das manhãs maliciosas,  apanhando com as mãos, o sereno do céu.

Das estrelas que descem para sondar a esperança do sertanejo que dorme,

Dos pássaros noturnos que cantam para as sementes que despertam e crescem.

Das doces alegrias a conquistar pouca e preciosas coisas, 

No pouco, há um sabor de vitória, cada grão tem sua glória.


Hertinha Fischer







sábado, 13 de janeiro de 2024

Cara ou coroa

 Tem um cansaço aqui dentro, daqueles que nem se sabe de onde vem.

Algo como carregar peso invisível nas costas, nas pernas, na vida.
Será o peso do tempo, ou o peso da experiência?
Vivemos mais cansados do que antes - falta de conversas animadas, ou falta de animação do viver.
Tudo nos parece mais triste, Nem mesmo as árvores frutíferas estão a produzir com alegria.
Os cães que saiam para caçar, correndo e farejando, latindo de tanta alegria, apenas rosnam a beira de suas cadeias ideológicas. Homens que andavam pelas ruas, aspirando o ar fresco pela manhã, ficam por horas enlatados no transito.
No trabalho, ao invés de ativar o cérebro, ativam a mecânica - São controlados pela máquina.
Esse cansaço acaba contaminando rios, gente, mata, vidas.
Os olhares, antes tão cheios de ternura, claramente, anuviados por um véu de subtração.
Ouro de tolo a submergir da esperança.
Por onde for é pichação - Prédios, escola, ruas, gente.
O mundo se tornou um buraco negro, vai engolindo tudo. Ainda se produz, mas, a produção foi alterada, Já não é o que foi.
Até o simples se complicou.
Mercado de almas adotando povo.
Povo se consumindo a procura de algum prazer.
A luxuria a competir com a vida, o dinheiro comprando os miseráveis ricos, e os opulentos pobres a desejar o chão.
Hertinha Fischer.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Meu cérebro tem fome

 Nunca ajuizei. Carrego muitas letras, dentro do peito, que se transformam em coreografias alfabéticas. Os ideais são meus, contados em pequenos trechos, Não espero que todos compreendam, nem se avexem, quando não compreendem. Não sou letrada de nascença. Tive muita dificuldade para aprender e continuo, através, da prática, a desenvolver alguma forma de manter o cérebro funcionando.

Hertinha Fischer.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Alma em dormência

 Tenho tudo aqui dentro de minha cabeça:

Um lindo lago azul, ladeado de flores coloridas, um cisne branco a brincar de navegar.
Tenho também um pequeno chalé, onde cabem, todas as coisas que preciso.
Tenho em meu terreno, imensas árvores, que jorram alegrias pelas folhas e os doces caminhos que se abrem de dia e a noite, para me, sossegar, ao andar ou dormir.
Tenho amigos imaginários que gostam de contos, Não falam, mas, ouvem, tudo o que declamo no silêncio, apreciam as histórias que invento.
Tenho Deus passando de quando em quando, assim como fazia com Adão. Posso senti-lo, no ar que respiro, e nas vezes em que realizo algum trabalho, ou, ainda quando choro de saudade de alguém. Sinto seu cheiro nas lágrimas.
Tenho também, a rodear-me, o aconchego das horas que passam, livremente, assim como pássaros a voar sobre a magia da sobrevivência.
Não tenho nada para mostrar, á não ser, coisas, que, em algum momento, se jogam fora.
Tenho a certeza de que vou, até onde?
Minha decadência corporal é irrelevante, pois, almejo, lugar onde o corpo é inútil. Aqui ainda preciso alcançar coisas com as mãos, andar com os pés e procurar com os olhos. Para onde vou, atravesso tempo e espaço. E me alegro por dentro, onde sou semente.
Hertinha Fischer.