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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Esperança que sobrevive

As vezes me recolho
nas mãos do tempo,
para constatar que sem
mim, ele também acontece.
E de mansinho soa meus passos,
para distanciar-me um pouco
do barulho que vem de fora.
Há tantas inconstâncias
nos pareceres, há tanta correria
por coisas, há tanta fuga e pouco
consolo, que, as vezes, me dói
pensar.
Estou bem e em paz onde estou,
que nem necessito mais de
andanças, de ver o que já
me cansei de olhar, de sentir
e levar esse sentimento que
descarrilha minha sensatez.
Estou mais para luto,
do que para alegrias vãs.
Sei que, enquanto ainda houver
mente sã em mim, ainda
posso sonhar e sentir saudade,
coisas curriqueiras que
levamos conosco para
preencher a lacuna do
saber-se já morto em algum
momento.
Todos os dias vividos, são
dias perdidos, toda a emoção
passada só vive na memória,
que em dias tristes faz questão
de voltar.
Só mesmo a esperança que
escrevestes no coração, tem valor
inestimável, e faz sentido, quando
sinto já a me despedir, a balançar minhas mãos
trêmulas pelos contar dos dias passados
que me empurram para o fim, mas
que me mostra um recomeço se
assim merecer.

Herta Fischer (Hertinha)


domingo, 15 de outubro de 2017

Segundos de intimidade

Estava eu, mais feliz do que de costume.
Mesa farta, frutos doces.
A primavera me enche os olhos de flores, mas é no
verão que me compromete o paladar, nos
frutos que minha alma padece.
Estou a passar como cometa em sua órbita
mais relevante,
embora na solidão viva, a mais perfeita
harmonia são quando olhos me veem.
Enquanto sou nuvem a passar, e se esconder em um futuro qualquer,
apenas quando me transformo em água
é que me enlevo no proceder.
Não quero ser apenas gotículas que nem se apercebem, na torrencia
é que me torno destrutiva ou em benção, quem o sabe?
Sou como grãos de areia na praia a malhar em seus pés desnudos
que em feridas te animo, muito mais que massagear
sou quem em brasas te animo.
Eu quero ser mais, eu preciso ser o que te acorda em todas as manhãs em
mania, que te despende do sono, em trabalho em correria.
Sou a esperança no nada, aquilo que esperas eternamente, que depois de concluido
ainda estou a faltar.
Sou o ar que tu respiras, que de ti sai e volta, nem percebe a minha prece,
nem se da conta do que sou.
Sou uma energia mutante, que faz seu olhar competir, que te mostra onde ir, que
te leva para onde não queres ir.
Sou eu, simplesmente eu, até que o tempo me apague em seu
caminho
mas, não conseguira tirar-me de sua imaginação.
Sou tempo, sou hora e sou a sua folga e tortura.
Herta Fischer.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Atravessando precipícios

Já andei metade do tempo desfrutando
das minhas vaidades.
No meio do caminho iniciou-se
um querer que escravizava minha visão.
Procurava nas esquinas dos sonhos algo
ou alguém que me valorizasse, que pudesse
me querer com avidez.
Necessitava de carinho? Talvez!
Mas não seria só isso.
Eu precisava ser lembrada, ter alguém próximo
que sentisse de mim, saudade.
Que se alegrasse com a minha presença,
que pudesse alimentar a alegria que em mim faltava.
Foi num desses momentos que optei por ler romances,
eu me satisfazia nos contos de amor, como se fosse eu a vivê-lo.
Cada historia, cada choro, cada tormento que nas páginas se desenrolava,
era como se estivesse dentro, e a fantasia foi a companheira fatal.
Dormia em sonhos, acordava e andava sonhando, e nada acontecia
para mim.
Acabei por ficar mais só.
Nos dias, livros tornaram-se amores, e nas noites,tristeza e dor por
vê--los indo embora.
No final de cada romance, sentia a satisfação momentânea de quem vence,
e no momento seguinte, ao iniciar outro, a mesma enrolação de sempre. Renúncia
de  mim mesma, enfadonha arte de conquistar.
Assim se passaram anos, nessa fábrica ilusória. a inflar meu ego de
mentiras.
Do trabalho para casa. E tudo se encontrava vazio: irmãs, irmãos, pai, mãe e
amigos em folhas de papel.
Tudo porque não encontrava amor.
Eu não queria a sexualidade, não queria usar o meu corpo,
nem viver em lascívia. Só queria e precisava de atenção.
Saia com alguns rapazes, até me apaixonei por várias vezes, mas a ilusão
desse querer que me aprisionava, de longe seria o que me ofertavam.
Não sei bem a diferença, só sei que havia diferença em tudo á minha volta.
gente que se satisfazia com pouco, eu desejava a impossibilidade: um amor
amor somente!
Lógico que encontrei um rapaz em minha rua, dotado de beleza, que me chamou a atenção,
e me fez feliz por me aceitar: no inicio, igual aos outros.
Não era amor, era desejo, e foi muito difícil para mim, aceitar aquela forma de querer.
Estou no mundo:- pensava eu: e como o mundo só oferece isso, então,
isto serei.
E no decorrer do tempo, como um romance de papel,  as coisas foram se encaixando.
Agora, neste exato momento, quando olho para as páginas já viradas e lidas. vejo
que o amor nasceu, entre espinheiros e abrolhos, que foi necessário passar
pelo precipício para alcançar as flores.
Hertinha Fischer