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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Reduto de sonhos

Minha tarde se fez no auge da inspiração,
rodeados de pequenos fragmentos de 
luz, quase subornando minha ênfase
desejosa de ir.
Sou mariposa contristada que busca
na sombra o lugar ideal para
pousar,
e encontra no calor
seu reduto de sonhos,
mas, também de morte.
Com a mesma alegria dos ourives
quando encontra seu
material precioso,
eu me encanto na luz
que me enche de paz....
pouco importa ali morrer!
Herta Fischer.

Pouso de felicidade

Quero novidades!
Pássaros a cantar no ombro,
borboletas a beijar o dia.
Amor cantado, amor revelado.
Quero sair, pousar na felicidade,
e lhe dizer que me faz falta
quando se ausenta.
Que acredito piamente que tudo
se transforma ao nascer do dia,
quando a aurora da vida se trans
forma em boreal, transcrevendo
em cores o meu
motivo de amor.
Quero gente, que como amigo
me faz festa ao
olhar-me e me descobrir.
Sou mágica, afinal esse corpo
me carrega, e eu
carrego sonhos.
Pena que ao findar do dia
quase tudo se apaga,
para que deixemos a luz brilhando
dentro de nós.
Até que
a luz do dia pinte novamente
este dia de céu de azul.
Herta Fischer.

Leveza na alma

Ah! o amor!
Quão belo se torna o olhar
que sente, que se vê espelhado
o outro como céu estrelado.
Que de dia traz sonhos e a noite o sonhar.
Regalado se encontra neste sentimento,
sem notar o peso que leva, pois
leve é o que se faz com amor.
Leve é o que se dá por amor!
Hertinha

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Palavra tem poder - capitulo 5

A grande descoberta

Os meninos a levaram para uma casa simples: composta por dois quartos, uma pequena sala  e uma cozinha.
Ela foi apresentada ao quarto onde ficaria: quatro beliches e uma comoda para guardar seus pertences. A comoda tinha várias gavetas. Ela ficaria com uma, as gavetas restantes já estavam ocupadas..
O quarto estava bem arrumado, embora fosse simples.
Ela começou a desfazer as malas, distribuindo seus pertences em lugares devidos.  Começou a ficar preocupada, pois era muito pequeno para caber todas as suas coisas. Decidiu deixar alguns pertences dentro da mala.
Voltou para a sala,  vários membros da associação estavam acomodados numa espécie de banco de madeira, dispostos um diante do outro. uma mesa central acomodava uma garrafa de água mineral e vários copos descartáveis.
Alguém pegou um copo, colocou água e deu para ela beber, antes, porém,  fizeram um brinde, batendo um no copo do outro. e dizendo com tom de alegria: - Á nossa missão!
A nossa missão! - todos repetiram.
E que missão era aquela?  ela se perguntava:  - O que faria? Nunca havia sequer saído de seu município, agora estava em outro país.
_ E o que faremos? perguntou meio desconcertada:
- O mesmo de sempre! Amanhã, assim que clarear o dia, seguimos para a sede, respondeu um dos rapazes:
Provavelmente encontraremos  muitas crianças a nos esperar, muitos dos pais também estarão lá. As outras meninas que você conhecerá em breve a auxiliará no que fazer.
- A causa em que trabalhamos é voltada para o  social: temos vários grupos distintos: Uns trabalham
com artesanatos, outros com a palavra de Deus, não em termos religiosos, mas em termos de aprendizagem.
Outros ainda ensinam comportamento, e assim por diante. Cada um compartilha daquilo que sabe.
Anita ficou apreensiva. pensou em como contribuir, se nunca ensinara nada á ninguém!
Ela estava perdida em si mesma, como poderia levar alguma mensagem boa?
Decidiu sair da sala, enquanto seus novos amigos conversavam alegremente sobre o futuro. Se despediu alegando cansaço, mas, na verdade, queria ficar só, para fazer um balanço sobre a sua própria vida.
Lembrou-se de Daniel, do que ele falara sobre amor e companheirismo. Ficou desconsertada ao chegar a conclusão de que ele tinha razão; - Se amor fosse apenas pele e cobiça por corpo, o que seria então o amar sobre a condição de apenas cuidar?
O amor eros, como alguns o chamam. Seria amor em parceria, ou apenas desejo de sentir emoções latentes?
Porque havia nela e em tantos, o desejo de controlar as emoções do outro, quando nem sabia controlar os seus?
Havia mais perguntas que respostas, no entanto, ela sabia que tinha que resolver-se para depois concluir. Seria impossível responder sem esmiuçar dentro dela mesma tudo o que a entristecia e incomodava. que, por, um motivo e outro, não era culpa de ninguém. Talvez, nem dela mesma.
Nascemos livres, quase que totalmente livres,  não fosse a necessidade de cuidados essenciais. Ao passar dos anos, o ego flui como ribeirão ligeiro, dai nasce-se muito mais do que simples necessidade.
Olhamos para o que o outro tem, vem então, o desejo de competir. porque competimos em tudo, quase que sem perceber.
Tudo o que conseguimos adquirir consideramos "nosso", não damos margem alguma para que tirem de nós. E quando por força maior algo se perde, o vazio será preenchido com dor.
Assim sendo, quero me afortunar com sabedoria, para que amanhã não venha a colher dor em lugar de amor.
E dormiu sem perceber e sonhou com Daniel, agora, distante.
Pela manhã, alguém a cutucou de leve, chamando-á com voz mansa, quase que a sussurrar: - Acorda menina,
Está na hora de tomar café, o dever nos chama!
Ela abriu os olhos,  depois fechou-o  novamente, bocejou e espreguiçou-se graciosamente. Até perceber que não era a sua mãe lhe chamando.
Só então, pulou da cama um tanto assustada: - Onde estou?
- Na cama!  respondeu uma voz com som de riso.
Anita abriu os olhos  e viu uma moça desconhecida sentada na beira da sua cama. - Quem é você?
- Meu nome é katia, sua colega de quarto. Seja bem vinda! disse a moça: demonstrando simpatia. -  E você, quem é?
Anita notou que a moça era pequena, parecia bem pequena, quase uma menina, tinha olhos amendoados, cabelos castanhos, lisos e  compridos, agraciado por uma franja que a tornava bem mais jovem.
Ela sorriu agradecida, respondendo com sinceridade:- Bom dia pra você também, muito prazer, estendeu a mão.
A moça deixou a  mão de Anita no ar, ela ficou constrangida por um momento, mas, logo após viu-se envolvida num abraço.
-Amigas! - disse a menina: sussurrando ao pé do ouvido.
- Amigas! soltou do abraço e sorriu.
Ambas se dirigiram para a cozinha, se encontrando com uma rapaziada barulhenta e alegre. Após tomarem o café, se dirigiram para a sede.
Katia foi mostrando o caminho, pedindo para ela fixar os detalhes para quando precisasse sair sozinha, aprendesse como voltar.
As ruelas pareciam todas iguais, exceto por pequenos detalhes. As crianças pulavam de um lado á outro, atrás de uma bola quase vazia,  entre uma nuvem de fumaça que os envolvia. A terra estava seca e as ruas poeirentas, numa cidade que necessitava de tudo.
Naquele momento, embora fosse tudo novidade para os demais, envolvidos numa áurea de boa vontade, entre tantos outros estrangeiros que por ali se ajuntavam, Anita sentiu-se pequena demais.
E pensar que sofria pelos problemas que nem existiam, pensou: - Se tudo se resumisse em sofrimento sentimental?
Se pensou em se achar, tinha plena certeza que ali seria o lugar ideal.- Longe de casa, longe de tudo, numa cidade de lata, onde ao longe se via riqueza e pobreza se misturando sutilmente como se fosse dois mundos unidos e desunidos ao mesmo tempo.
Chegaram, finalmente, depois de enfrentar a poeira, numa espécie de barracão, tão humilde feito coração de mãe.
Algumas crianças ocupavam as cadeiras de plastico colorida, em seus rostos, uma mescla de curiosidade e timidez. Anita os sentiu tão forte como o próprio sentimento que nutria por Daniel. Uma ternura imensa se criava dentro dela, tinha vontade de pegar alguns no colo.
Por longas e intermináveis horas eles ficaram palestrando, falando sobre vários assuntos.
Na hora do almoço, compartilharam a refeição feita por ali mesmo, entre cantos e sorrisos, danças e brincadeiras o dia se findou.
Voltaram para casa com uma boa sensação, como se o cansaço fosse deixado para trás. Pode entender que o sofrimento, na verdade, era também uma forma de existir.
Para alguns significa perdas, para outros, viver!
Ha  também  alegria onde ha poucos recursos: - de uma forma ou de outra, o mesmo tempo que passa aqui, também passa ali.
Onde o amor impera, não ha falta.
E novamente, Daniel voltou em sua mente, como o raiar de um novo dia, ensolarado e calmo, e ouviu-o dizendo: - Do que sentimos tanta falta?
Eu sinto falta de você, ela respondeu no silêncio do seu coração. Como não percebi isso antes!
A voz de sua amiga Katia veio tirá-la de seus pensamentos:- E ai, colega, o que você achou do nosso trabalho?
- Achei magnifico, penso que não poderia ter aprendido mais: quanto mais a gente se dá, mais e mais a gente ganha.
- Verdade! eu sinto, cada vez que vou embora para casa, que ganhei mais do que ofereci.
Ao chegar em casa, sentiu uma vontade de falar com sua mãe. pegou o celular e já ia discando o número, quando lembrou que ela poderia estar no banho,  fazendo amor com seu namorado ou ainda ocupada com o jantar, então desistiu.
No dia seguinte mandou um telegrama para sua mãe com dizeres  bem carinhoso:
 Desculpa por não ter te ligado,
eu acho que a voz em muitos casos não soaria melhor que palavras,
 nas quais poderá de vez em quando, lê-las e sentir como se eu ainda estivesse presente. Estou me sentindo muito bem, apesar da saudade. Acredite, aqui distante, eu sinto muito mais do que quando
 estava perto.
Espero de coração que esteja bem !
Te amo!
Uma semana se passou sem nenhuma noticia de seu amor. ela já estava se adaptando ao novo modo de vida. trabalhar sem remuneração, comendo o que chegava a mesa. enfrentando os obstáculos que surgiam com determinação e fé.
Aprendera muito desde que chegara. Agora, estava pronta para fazer um tour, afinal, não viera para a áfrica só para trabalhar.
Zola iria ser o seu guia, e katia sua companhia.
Arrumaram as malas e seguiram rumo a Botswana, um dos lugares que Anita desejara conhecer.
Seguiram de avião,  um modo mais rápido e pratico. depois seguiriam de carro até uma cidade turística chamada Kasane.
- Kasane é uma pequena cidade com bons hotéis, onde fica um dos acessos ao Parque Chobe. Lá,  tudo é muito selvagem e você vai se surpreender com a incrível estrutura para turistas. zola falava sem parar:- Conheço tudo por lá. Vou te apresentar aos amigos mais chegados.
Anita ouvia com muita atenção enquanto saboreava lá de cima, uma paisagem deslumbrante, que mais parecia miragem.
Nunca pensara que seria tão divertido.
O horizonte a frente parecia tão perto, lá de cima podia ver algumas manadas de búfalos pastando, e ainda, girafas tentando alcançar as folhas de acácia. Tudo tão bonito e surreal para quem viveu sempre na cidade.
Zola não se cansava de passar seu conhecimento sobre a região, sentia-se o melhor guia do mundo, conhecedor de toda espécie de animal.
- Vou levá-la para fazer um passeio de barco, lá onde os elefantes nadam, dizia ele: O por do sol é sensacional.
Não vamos ficar em nenhuma hospedagem no parque, iremos mais longe, na casa de um amigo estrangeiro.
Anita sabia que não teria outra aventura igual a essa. já pensava em se instalar por ali por algum tempo, antes mesmo de colocar os pés no chão.
Depois de algumas horas de voo, enfim, desceram numa pequena pista de pouso, descarregaram as malas, se despedindo do piloto, um pequeno veículo os aguardava e um motorista de semblante cansado, pele queimada e um olhar amoroso os acolheu com um largo sorriso. - Prontos para seguir? perguntou:
- Sim!  Zola respondeu, depois de fazer as apresentações.
Zola e Katia sentaram na parte de trás do jeep, enquanto Anita sentava na frente, ao lado do motorista.
Adebumi sentiu-se o rei, seu nome sugeria isso. Parecia mesmo com um rei Africano, pomposo demais para parecer um simples motorista.
Seguiram até Kasane, onde se podia ver as imensas quantidade de hotéis e pousadas. Anita sempre pensara numa região pobre, e se surpreendeu com a beleza e sofisticação do lugar.
Entraram na cidade, depois de darem uma volta, seguiram por um caminho que dava para um território mais selvagem, adentrando mais ao norte, numa simpática estradinha de terra.
Andaram por cerca de uns quinze minutos, e uma pequena cabana já podia ser vista de longe. Adebumi apontou -á com o dedo, dizendo: - É lá que vocês ficarão! O dono está viajando, mas, deixou tudo pronto para que fiquem bem instalados por uma semana. Depois ele volta trazendo mais mantimentos.
Anita se surpreendeu, não esperava encontrar por ali, alguém com tamanha gentileza a ponto de oferecer hospedagem de graça. - Quem é ele?  perguntou:
- Um amigo! - respondeu Zola, sem dar mais nenhuma informação.
Ao estacionarem diante da cabana, uma mulher de meia idade saiu da casa, vindo ao seu encontro. Estendendo a mão para ela, desejou-lhe boa estadia. Ela olhou para a mulher com muita curiosidade. Magra, cabelos negros, presos num coque.  olhos castanhos amendoados, como era comum na região. Um sorriso aberto, e um olhar amoroso de mãe.
Ela tomou a mala de suas mãos como se fosse pesada demais para ela mesma carregar, quase que puxou de volta, mas, sentiu que seria uma desfeita muito grande, então, se conformou e seguiu-á.
Katia carregou as sua próprias malas, e Zola as suas. Deixando Anita meio sem jeito pelo modo diferenciado de tratamento.
Nada perguntou por uma questão de respeito. Ao adentrar na cabana, Ficou boquiaberta com a sofisticação do lugar, embora parecesse simples vendo pelo lado de fora.
A cabana tinha varanda por todos os lados, uma porta de correr foi aberta, dando para a sala, composta por sofás de madeira com almofadas coloridas. Uma lareira apagada num canto  dava um ar de graça. ao ambiente. Cascas de árvores trabalhadas enfeitavam um lustre quase medieval, que descia como cascata sobre uma mesa grande e  entalhada que cruzava a sala, de uma extremidade a outra. cadeiras de madeiras compunham o quadro espetacular, tudo muito rustico e nada convencional, mas, de muito bom gosto.
Zola a olhava com admiração, achava que Anita,  logo, logo, descobriria que não estava ali por acaso.
A mulher levou as duas mulheres para o quarto que iriam compartilhar. A mobília era tão simples como a sala de  estar. Apenas duas camas bem vestida com colchas  feitas a mão, coloridas e acolchoadas.
Algumas almofadas estavam dispostas no chão de cimento queimado, tão brilhante e limpo quanto outro comodo qualquer da casa.
As dez horas da noite, após um breve descanso. Maqueda, a anfitriã e cozinheira da casa  entrou no aposento para chamá-las para  o jantar.
Elas se arrumaram e foram para a sala. A mesa estava arrumada com pratos talheres e guardanapo, como qualquer restaurante requintado. As iguarias ocupavam o centro da mesa: muitos vegetais e grãos misturados, pouca carne e uma taça de vinho do porto.
Anita ficou atônita e não deixou de perguntar:- Como alguém nessa região pode ter tanto,  se a maioria ocidental pensa numa África pobre e desprovida?
Foi Zola a responder a pergunta: -  Como em qualquer lugar no mundo, aqui também existe desigualdade social. Muitas pessoas de posse vieram para esta região para investir em turismo. e o que você vê nesta região, não são gente daqui, a maioria dos nativos trabalham, mas não são donos de nenhuma propriedade.
Katia entrou na conversa:- Vem muita gente de fora nessa região, principalmente, por causa dos lagos de hipopótamos e elefantes. Também ha uma infinidade de homens nativos que conhecem bem a região e os animais, tornando o progresso da região possível e a pobreza um tanto menor, devido a possibilidade de trabalho.
E a conversa fluiu durante o jantar.
Depois de comerem, todos foram para a varanda, e de longe podiam observar o parque. O céu tinha um avermelhado intenso, como se tivesse sido pintado com cinzel.E o som dos animais chegavam até eles como gemidos inexpressíveis, porque o ar estava seco e pesado, sem nenhuma sombra de vento. As monções já davam sinais de chegada.
Depois de degustarem um bom vinho, todos se recolheram para descansarem da viagem, Zola prometeu levá-los logo cedo para um passeio de barco.
Anita fechou os olhos, veio em sua lembrança a figura de Daniel. Sentiu uma saudade imensa de seus olhos verdes, de sua voz suave, Quase que sentiu seu halito quente, pronto para beijá-la. suspirou doloridamente, acordando sua companheira de quarto que imediatamente lhe perguntou:- Você está bem?
- Sim! ela respondeu:- Só o coração que dói um pouco!
- Está apaixonada?
- Eu acho que paixão soa tão pouco diante do que sinto -  expressou com tristeza na voz:
- E por que está aqui?
- Para me encontrar, eu achava! Eu digo:-  achava! porque não sei mais! sinto agora que me perco num abismo de emoções desencontrados. Um terror pensar que o que fiz, talvez, não tenha volta.
- Como assim? O que você fez? A pergunta de Katia teve uma conotação de surpresa:
- Ele me amava, eu tenho certeza agora.  Mas, no momento, tive dúvidas. Sempre quis formar uma família. Ter  um filho sempre foi um sonho. E isso me fez ficar incrédula em relação a um companheiro. Eu esperava que o homem que me escolhesse fosse, de cara,  me carregar nos braços, me levar com ele por onde fosse, assim, como nos contos de fadas. mas, Daniel estava longe de ser assim. Muito pelo contrario! Quando presente, estava de corpo e alma, mas, quando ausente, parecia que me esquecia, Nenhum telefonema, exceto quando tinha algo urgente para falar!
Quando pedi explicação sobre isso, ele simplesmente quis me convencer que a vida é assim mesmo. Não devemos esperar muito um do outro apenas viver os bons momentos com intensidade. cada hora com a sua tarefa: - hora de amar, hora de amar! hora de trabalhar, hora de trabalhar!
Katia deu uma boa gargalhada para depois perguntar com delicadeza: - E ele está errado, amiga? Antes mesmo que ela respondesse Katia concluiu: -
As estações do amor também precisa de estabilidade. Não pode ser corroborado de incertezas. A vida não é uma  confusão que  se misturam  como um bom virado. A idade nos leva a compreender melhor todas as coisas:  Quanto mais vivemos, mais chegamos a conclusão, de que, amor verdadeiro não precisa de cobrança, só de amor mesmo. E o resultado nunca saberemos. Só vivendo!

 Por   Herta Fischer:    Capítulo cinco




























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Palavra tem poder Capítulo 4

(Incompatibilidade de gênio)

Daniel pensou em  por um ponto final na conversa sobre sua perspectiva de vida.  Queria falar sobre outras coisas, queria tocá-la, abraçá-la,
sentir seus lábios. Mas a conversa tomara um rumo e nem adiantaria tentar outros caminhos.
- Eu já andei mediando entre um passo e outro, meio.... Pigarreou, limpou a garganta e continuou: - Meio a cambalear diante de tantas vontades que não eram minhas. Me instruíam no sentido de colocar as minhas querencias de lado, aceitando a vida como ela foi imposta. Quer dizer: - A favor do certo amor,  Porém, eu prefiro o amor certo.
E o amor que pode dar certo é o genuíno amor  que será construído dia após dia, sem, no entanto, precisar de regras definidas, como aquelas intermináveis cobranças, e sem sentir necessidade de estar sempre juntos ou a favor disto ou daquilo.
Quando a gente precisa chegar á algum lugar, o que a gente faz?
A gente caminha!  Não ficamos á pensar se realmente valerá a pena caminhar, nem ficamos estáticos pelo medo. A gente apenas caminha! Não é assim? Independente do tamanho dos pés?
Então! Se eu digo que te quero bem, e você tem consciência de que estou aqui por vontade própria. Nem preciso falar de amor, nem fazer declarações, nem tão pouco assinar meu nome em seu braço, para que se torne propriedade minha. Nós nos tornamos um só, não fisicamente, mas em sentimentos recíprocos, independente de corpo?
Se o querer um ao outro perdurar porque queremos, de fato, seguiremos pelos mesmos caminhos. do contrário, de que adiantariam palavras?
Eu poderia te ligar de cinco em cinco minutos, mas, haverá horas em que você quererá sossego. eu poderia ficar ao seu lado vinte e quatro horas por dia, e você sentiria falta de privacidade.
Amor não é isso Anita. Amor é a junção da  partida e da chegada. A fusão complementar de duas propriedades, que continua individual, embora se torne uma só.
Anita ficou pensativa por alguns instantes, tentando absorver tudo o que ele dissera, e chegou a conclusão de que ele tinha razão, mas, o pulsar de seu coração  pedia mais do que simples palavras. Ela queria tudo: Queria mimos, queria presença. Não a presença só, nem só a ausência. mas, a totalidade. Nem mais, nem menos que amor. E ela só conhecia uma forma de amor: Aquela em que dois seres estejam em sintonia, morando na mesma casa, se alimentando das mesmas coisas, dormindo na mesma cama.
Pois é!- ela se ouviu a dizer:- Eu não te peço para ficar, Eu já me decidi quanto ao que quero e espero de alguém. E sei, que não é isso que quero. Eu vou aceitar uma proposta que recebi de fora. Vou para a África, tentar me encontrar, por enquanto, ainda estou perdida!
Daniel a olhou com tristeza, por um momento sentiu que estava no caminho certo para conquistá-la, mas, percebeu que, talvez, estivesse  enganado á seu respeito. Como todas as outras, ela queria colocar uma corda sobre seu pescoço, e ele não podia permitir aquilo. Não queria uma história se repetindo, não tinha mais tempo para vacilos.
- Você é quem sabe, querida! tirou a mão que estava sobre a sua e se levantou. para depois falar: - Quando te achar, por favor, me procure. Quem sabe eu ainda esteja te esperando. E foi embora.
Voltou para o hotel, pegou as malas que estavam sobre a cama, desceu até a recepção, fechou a conta, entrou no carro, e voltou para casa.
Anita caminhou devagar pelas alamedas, que agora nem parecia tão bonita. Uma dor no peito a impedia de respirar. Chegou na casa de sua mãe, ela já estava deitada. Não quis incomodá-la. Ligou para a rodoviária, marcou passagem para o dia seguinte bem cedo.
Dormira mal aquela noite, quase não pregara o olho, mas, em seu íntimo fizera a coisa certa. e dizia para si mesma:- Não me dobrarei á vontade de ninguém. Vou entregar a minha vida a fazer o bem. Homem nenhum vai me fazer de boba, nem me usar com tábua de apoio!
Ainda pensando nisso conseguiu se desligar até as seis horas da manhã, quando se levantou, se lavou, e foi para a cozinha.  Encontrou sua mãe a preparar o café. Quando a viu entrar perguntara o porque de acordar tão cedo.
Ainda meio tonta pela noite mal dormida, ela sentou na cadeira e começou a relatar o acontecido:-
E foi assim, eu não quero mais falar sobre isso. Coloco uma pedra em cima dessa história. Vou para a África no mês que vem. Eu estava relutando por causa do Daniel, embora estivesse com muita vontade de me aventurar. A Senhora sabe que sou inconstante, as vezes, mas, quando tomo uma decisão, não tem quem me segure.
- Sim, minha filha, a mãe se pôs a falar:- Espero que não se arrependa. Tantas vezes você fugiu de situações como esta, e se empenhou em fazer outras coisas, mas, agora, precisa amadurecer e tentar aproveitar para ser feliz.
- Eu vou ser feliz, mamãe. Palavra tem poder! E deu um sorrisinho raso, como se ela mesmo acreditasse pouco no que falava.
Tomou seu café,  a mãe a levou até a rodoviária. Quatro horas depois ela chegou em sua casa. Mas, para sua surpresa o carro de Daniel estava estacionado do lado de fora.
Começou a suar como se tivesse andado quilômetros a pé. O que ele estaria fazendo por lá? depois lembrou que a casa era dele, então, nada de sobrenatural estava acontecendo: A invasora era ela.
Entrou em seu chalé, abriu as janelas para entrar um ar, Começou a arrumar suas coisas.
Algumas horas depois alguém bateu na porta. Ela foi atender, já sabia que só podia ser o Daniel, mas não era.
Ela suspirou antes de abrir a porta. - Oi  Andersom, como vai?
 Recebeu o meu recado, né?
= Sim! recebi e quis ouvir de seus lábios: - È sério que vai para a Africa conosco?
Ela olhou de soslaio, enquanto colocava um item na caixa: - Não está vendo, já estou encaixotando meus pertences. Sou muito rápida quando tomo uma decisão. também não tenho muito tempo para pensar: - Quando embarcamos?
- Na semana que vem.!
- Dá tempo de comprar mais uma passagem?
- Na verdade, a passagem já está comprada. A associação para a qual nós trabalhamos, recruta voluntários, Temos uma meta, então, é em cima dessa meta que fazemos todos os cálculos.
Somos dez voluntários, compramos uma passagem a mais, caso alguém decida na ultima hora. Se não houver mais nenhum interessado, apenas cancelamos a ultima passagem. Acho que já te falei sobre isto!
- Sim! agora me lembro!
Então, esta decidido: Vou com vocês!
E antes que me esqueça, achou um lugar para guardar minhas coisas?
- Sim, nós temos um lugar  para essa finalidade. O templo que temos fica fechado E é lá que podemos deixar nossos pertences. Já que a maioria dos que nos acompanham não tem família no lugar onde residem. E ninguém vai ficar pagando aluguel enquanto ausente.
Anderson parecia ser uma ótima pessoa, ela também já vinha acompanhando o trabalho que eles realizavam em vários países, portanto, não tinha com o que se preocupar.
Logo que o moço se despediu e foi embora. Daniel adentrou o aposento. Anita ficou temerosa com o que viria a seguir:  precisava ter uma conversa definitiva, agora, em tom profissional. Doeu-lhe o peito ao sentir a própria indecisão nos seus atos. Queria mesmo era se jogar em seus braços e dizer que o amava, que sentiria a sua falta. No entanto, apenas olhou em seus olhos com uma frieza  que não sabia ser capaz, e apenas murmurou sem emoção:- O que faz aqui?
Daniel apenas perguntou sem titubear:- Quero saber o que faço daqui para a frente,
sobre o seu trabalho?
- Arrume outro alguém para acabar o que ainda falta. Como você percebeu: - Esta quase que finalizado, resta apenas alguns retoques, que se tiver um pouco de boa vontade, você mesmo poderá finalizar.
- O que á deixou assim, tão melodramática a ponto de deixar tudo de lado para aventurar-se num projeto que nem de perto tem a sua cara?
- Decepção!  talvez! - ela disse com uma voz um tanto embargada pelo sentimento de raiva.
- O que foi que eu fiz?
-Não seria melhor se perguntar: - O que foi que eu não fiz? Pense!
- Não faço outra coisa desde nosso último encontro! Penso que você quer as coisas imediatas, sem pensar no resultado. Eu sou mais pé no chão, devido a própria historia que vivi.
Talvez você esteja certa, O tempo dirá!
- Sim! assim eu espero.
- Você não precisa tirar suas coisas daqui! Poderia ir, sem preocupações, e se, por acaso não desse certo, poderia voltar.
- Eu prefiro assim, não quero nenhum vínculo com ninguém. Se não der certo, volto para casa. Se der, fico por lá!
Ela imediatamente conseguiu sentir a tensão que se instalou naquela sala. Daniel ficou vermelho, como se cada palavra que ela pronunciava lhe atingisse como chicote em suas costas.
- Eu não queria que você fosse. Nós poderíamos conversar, encontrar um meio de achar uma saida. Não é assim que as pessoas normais fazem?
- Verdade!  Eu tenho que admitir! Mas, eu preciso me ausentar, mesmo que isto não tenha nenhuma substância para você, eu sei de mim!
-E eu? não conto?
- Você não precisa de mim, se basta á seu próprio ver. Não quer ouvir, só falar, quer aparecer quando der vontade. Eu detesto isso!
Daniel sentiu seus olhos marear de lágrimas, engoliu em seco, para depois falar com voz mansa:- palavra tem poder! - Deu uma piscadela, para depois completar:- Isto não é o fim!
Saiu da posição em que estava, tirou a mão de seu ombro, deu meia volta e foi embora.
O vazio da sala trouxe o eco de seus passos até o coração de Anita, que imediatamente se pôs a chorar convulsivamente.
Chorou até não poder mais, depois, se levantou pegou a mala e também se despediu daquele lugar.
O táxi estava parado bem em frente ao portão, Ao entrar dentro do automóvel Anita suspirou.
Sem querer ouviu-se um murmurio vindo do coração para a boca: - Palavra tem poder!
Não ponho mais os pés aqui!
E o carro foi se distanciando, deixando sonhos para trás. Outras formas de sonhar ainda á esperava, mas o sonhar com Daniel, sinceramente, ela não  mais queria.
Ficou hospedada na casa de amigos até a data de embarque. Quando o grande dia chegou, uma imensa saudade de tudo já começava a atormentá-la.
Ligou para sua mãe avisando que estava de partida. Sua mãe ainda tentou dissuadi-la dizendo que ainda daria tempo de voltar atrás. Porém ela não pretendia fazer isto.
Entrou no avião com apenas dois conhecidos, o restante da tripulação eram apenas rostos. Sentiu-se um tanto desconfortável. estava entrando num território desconhecido. Iria passar por privações de todo tipo, E pensou:- só assim estarei segura do que quero e poderei ser o que nunca fui!
Estava pronta para trabalhar em Luanda. Estava seguindo com dois rapazes que já haviam participado
de trabalhos voluntários por lá. ela não sabia ao certo se estava habilitada para tal, embora seus imediatos amigos diziam que sim.
Após horas de voo, finalmente chegaram em Maputo. Uma oportunidade única de conhecer praias fabulosas como os da Ilha de Inhaca e ter contato com os animais da Reserva especial de Maputo- também conhecida como reservas de elefantes.
Anita ficou deslumbrada com tudo o que conseguia ver.
Passaram a noite por lá, na casa de conhecidos portugueses que os trataram com grande cortesia, para no dia seguinte, embarcarem rumo a Luanda em angola.
Embora a vagem fosse cansativa, anita se sentia no paraíso. Parecia a terra que Deus preservara para Ele. Tão cheia de mistérios. Com uma cultura tão rica de ritos e cantorias, onde a alegria predomina mesmo em lugares áridos.
Eles ficariam no bairro de Sambizanga, que fica na região metropolitana de Luanda. Um amontoado de ruas de terra batida sem água purificada.
O bairro operário é como uma imensa favela que comporta milhões de pessoas.  onde Lixo e pessoas disputam lugar.
Tão logo entraram na cidade, um sujeito chamado Zola veio em sua direção, com um sorriso alegre cumprimentou Isaías e Célio, para depois olhar para ela, com olhar muito sério, perguntando:- Quem é?
- Esta é Anita, uma voluntária que se candidatou para a nossa causa, disse Isaías:
E,  Célio completou: - veio para a missão, porque precisa se encontrar!
- Se encontrar com quem? Zola perguntou, mostrando uma fileira de dentes estragados, num sorriso
quase de gozador:
 Anita também sorriu, acrescentado:- Comigo mesma!  Embora pareça que estou bem aqui, ao alcance de seus olhos! Não sou o que você vê!
- Você é linda! diferente das mulheres daqui. Vai ser difícil não notar!
Célio olhou para Anita com um sorriso zombeteiro no olhar, para depois abrir um sorriso e dizer:- Já conseguiu um admirador!
Anita também sorriu, apesar de sair meio triste.  Sabia que não seria nada fácil recomeçar sem a unica pessoa que despertara nela uma emoção sem igual, - Suspirou!  e veio em sua mente o nome amado: - Daniel!

Herta Fischer   ( palavra tem poder)  Romance


















sábado, 7 de abril de 2018

Palavra tem poder - capítulo 3

Capítulo 3      ( Querendo colo)
Depois que Anita desceu do ônibus na rodoviária, ainda teria que caminhar por uns quarenta minutos até a casa de sua mãe. Poderia chamar um táxi, mas, decidiu não fazer isso.
Queria caminhar um pouco, para redescobrir na memória, o caminho que fizera parte de sua infância por longo tempo.
Enquanto caminhava pelas ruas, sentia no rosto, a brisa serena da manhã, um perfume chegava até ela, uma mistura de almíscar e mel, provavelmente vindo de algumas flores espalhadas pelas árvores que se erguiam sobre a calçada, Salientando suas flores brancas e amarelas, com inúmeras abelhas a
zumbir sobre elas.
Uma sensação de frescor á deixou submersa em boas lembranças do passado, quando, em companhia de sua mãe, ela colhia flores, erguida pelos braços fortes daquela mulher que tanto a mimara. para depois oferecer-lhe com imensa ternura e carinho.
Algumas pessoas passavam apressadas por ela, talvez indo para o trabalho. Embora fosse uma sexta feira de feriado, sabia que o comercio ficaria parcialmente fechado e agradeceu por isto _ Ainda bem que trabalhava em uma empresa que oferecia um horário flexível.
As ruas iam se desenhando á sua frente como se tivesse conhecimento do caminho que tinha que percorrer, seus pés seguiam dirigindo-á sem muito esforço.
- Ainda bem que optei por ir a pé!  Pensou: - É bem mais prazeroso curtir essa brisa da manhã.
Alguns minutos se passaram, a mochila já lhe pesava nos ombros, quando enfim pode ver de longe o telhado de sua velha casa, por cima de um muro imponente e um portãozinho de madeira envelhecida.
- Já se passaram muitos anos, nem percebi que envelheci. Pensou: Parecia tudo novo, e agora, vejo que o tempo causou seus estragos. A velha figueira plantada a alguns metros de sua casa, estava parecendo tão cansada que lhe deu uma certa tristeza e pensou:  - Como estará minha mãe?
Fazia algum tempo que não fazia-lhe uma visita, sempre que precisava, era a mãe que ia ao seu encontro, Ela sempre preferiu assim. Não queria rever pessoas e lugares que acabou deixando para trás; - Vida nova, sonho novo! Não queria correr o risco de desistir do projeto de capacitar-se.
Perdida em seus devaneios, nem percebeu que já se encontrava tocando a campainha da casa, sentindo-se um tanto culpada por não ter avisado que viria. sua mãe, por certo ainda estaria dormindo.
Esperou por alguns minutos, até ouvir a porta da frente ranger ao ser aberta, seu coração acelerou pela expectativa de abraçar sua mãezinha querida.
A chave girou na fechadura do portão. Quando ela se preparava para fazer uma brincadeira, viu que a pessoa que aparecera não era sua mãe, e, sim, um homem de meia idade.
Ficou boquiaberta sem saber o que dizer, e foi o homem a perguntar:- Pois não! Em que posso ajudá-la?
Ela não sabia se ria ou se chorava.  Teve tempo de pensar:- Será que minha mãe mudou-se sem me avisar?
O homem á sua frente, esperou com paciência pela resposta.
- Eu procuro a Dona da casa. - Mariana Soares-  ela disse meio sem jeito:
- Ela esta dormindo. Pode me adiantar o assunto?  por favor!  Falou em um tom muito sério.
- Eu sou a filha dela!
O homem ficou branco de repente. Quase se engasgando com as palavras, se desculpou:
- Nossa! me desculpe, eu á conheço por foto, mas, nem me liguei nos detalhes. Você é Anita? pois não!
- Sim, a própria! Resmungou:
- Vamos entrar, por favor! Dá-me sua mochila, parece estar pesada!
Anita tirou a mochila das costas, e ficou apenas com uma frasqueira nas mãos, entregou-á para o desconhecido e o acompanhou.
- Ele abriu a porta da frente, pedindo que á esperasse. Lá se foi a surpresa! - pensou:
Tinha imaginado a cara da mãe ao vê-la diante da porta, Mas, agora, outra pessoa iria contar a mãe que ela estava lá.
- Quem era aquele homem?  ficou a se perguntar.   Até que viu a mãe descendo a escada.
Com uma carinha meio apreensiva ela chegou até a borda do sofá, para depois comentar com alegria na voz: - Que surpresa, minha filha! Abraçou-á com muito carinho, completando: - Não á esperava, por que não avisou? Nós teríamos pego você na rodoviária.
- Pois é! Disse ela: - Eu não quis te alertar, para não te dar esse trabalho. Cheguei muito cedo, peguei o ônibus da madrugada!
- E.. Bom... Quem é aquele homem? seu namorado?
Sua mãe enrubesceu, seu semblante ficou sério de repente. Anita sentiu uma tensão no ar, e acabou sentindo-se culpada. Por isso dosou bem suas palavras: - Que é isso, não precisa ficar  assim dona Mariana. Eu não á culpo, Foi para que isto acontecesse que eu á deixei sozinha. Pensei, que, talvez, um pouco de solidão a trouxesse de volta a vida, e assim, pudesse encontrar de novo a felicidade ao lado de alguém.
O caminho estava livre, e natural que alguém a alcançasse. Quem é ele?
- O nome dele é Roney. Ele ficou viúvo a dois anos, e nos conhecemos á pouco menos de dois meses.
- Hum! que legal.
- Você não se importa mesmo?
- Não! Ela disse com um sorrisinho nos lábios: - Não mesmo!
E Dona Mariana a abraçou novamente falando de saudade.
- Eu também senti saudade, mamãe. E tenho tanto para lhe contar. Coisas que aprendi não falar por telefone.
Ouviram passos vindo de cima, Roney apareceu com uma certa timidez no olhar. Tinha um semblante sereno, e Anita pode notar o quanto era um homem bonito. Aparentava ter  uns cinquenta e poucos anos. Olhos castanhos. Alto, cabelos grisalhos, bem penteado. Usando uma calça azul, de moletom e uma camiseta cavada, parecia pronto para praticar algum esporte.
 Ao vê-lo alcançar o piso da sala, Mariana o chamou: - Venha cá, meu querido!
Segurando a mão dele nas suas, pediu que sentasse.
- Esta é Anita, como você já sabe. Ela não se importa que tenhamos um relacionamento, não precisa ficar constrangido.
- Verdade! anita falou: - Mesmo porque, quem deveria estar constrangida sou eu, por não pensar que isto poderia acontecer. Eu deveria ter ligado! Mas, agora é tarde, falou, estendendo a mão para ele: - Muito prazer?
- O prazer é todo meu, e obrigado por não fazer questão em dividir sua mãe comigo!
Eu a amo muito, e pode ter certeza, quero um relacionamento serio.
Anita deu uma risadinha por dentro. E pensou consigo mesma: - Pois é! até você, Brutus!
E eu, sem saber o que é isso!
- Vou sair para comprar pão, disse ele; - depois preparo o café, pode ser?
- Sim! mariana respondeu: - enquanto isso, conversamos um pouco.
Quando ele saiu e bateu a porta, Mariana pegou na mão da filha para logo depois perguntar: - E ai, minha filha. Como vai a sua vida em seu novo emprego?
Anita fez uma carinha triste, com uma voz meio embargada como quem estava com vontade de chorar, respondeu: - Não muito bem!
- Por quê?  sua mãe perguntou? - Não esta dando certo?
- O trabalho vai de vento em popa, só quem não esta muito bem é o meu coração.
Eu me envolvi emocionalmente com meu novo patrão, e isto está me deixando louca!
- Como assim, se envolveu?
- Estamos tendo um caso de amor!
Mariana franziu a testa: - Nossa! Logo você, que dizia ser contra relacionamentos no trabalho!
- Pois é! aconteceu!
Ele é muito charmoso!
- O seu patrão?
- Não! quer dizer,  ele também, mas falo de seu  namorado!
- Ah, minha querida. sabe lá Deus, o que o destino nos reserva,
você sabe que eu não procurei nada disso. nem queria, mas, aconteceu.
E as duas começaram a rir sem parar.
- Mas, me fala sobre esta novidade, está apaixonada?
- Sim! estou, muito! mas, ele não sabe!
- Porque ele não sabe?
-Eu não sou de me abrir, e faz tão pouco tempo, que acho que seria leviandade de minha parte dizer que o amo.
Por isso, sofro!  Ele também não fala que me ama, só que sente saudades!
- Onde ele esta agora?
- Não sei ao certo,. Pode estar em sua cidade, ou em outro país!
Ele trabalha com exportação de grãos. tem uma empresa em Santos. E viaja muito!
Não me liga, nem manda mensagens, aparece e desparece sem deixar rastros.
- Então, precisa tomar cuidado, ele parece ser casado!
Não, mãe, ele é divorciado. só não gosta de relacionamentos via celular. diz que é meio incerto um amor virtual. que pertence a uma minoria que prefere amor real, ao invés de amor platônico, cheio de promessas não efetivas.
- Isso é bom, disse-lhe a mãe, tentando acalmá-la.
- Talvez! Mas eu fico apreensiva sem saber como me comportar. tenho medo de que esteja mentindo, me usando, sei lá! estou a mil!
- Ah! relaxa minha filha. Tudo á seu tempo!
- É mamãe, falar é fácil!
A porta da frente se abriu, pondo um ponto final na conversa. Roney apareceu com alguns pacotes nas mãos., dizendo alegremente: - Agora só falta o café!
Fez uma mesura, se abaixando um pouco, para depois completar, enquanto já virava-se para a porta da cozinha: - Vou preparar, depois as chamo!
As duas continuaram a conversar, desta vez falavam sobre coisas e situações mais amenas. falando de amigos, familiares, de como a cidade mudara, enfim.
Estavam a mesa, sentados os três, a conversarem alegremente quando o celular de anita tocou.
- Desculpe-me, mas, preciso atender, disse, pegando o aparelho e se levantando da mesa.
Foi caminhando para a sala, e enquanto caminhava, atendeu: - Alô!
- Oi! Onde se enfiou, estou te procurando feito um louco!
A voz de Daniel a colocou em polvorosa, jamais acreditaria se não reconhecesse a sua voz; Porque estaria ligando? acontecera alguma coisa?
- Oi Dani, aconteceu alguma coisa?
- Como assim, aconteceu alguma coisa? Onde você está?
- Estou na casa da minha mãe! respondeu com raiva:
- E porque não me avisou, ou deixou um recado? Assim, eu não perderia tanto tempo esperando. faz horas que cheguei, fui até o escritório, está fechado. Andei pala cidade e nada! Cheguei a ficar preocupado!
- Ah é! E o que pensou?  Que eu ficaria sentada no sofá, esperando que você chegasse? Sou sua empregada, mas, não tenho que dar conta de onde eu vou!
Ficou tão irritada que não se aguentou, precisava desabafar, conter-se só a deixaria mais frustrada., começou a despejar toda as palavras contidas: - Não percebe o que faz comigo? não dá noticias, some, e de uma hora para outra aparece e ainda vem com essa de achar que te devo satisfações?
Um silencio profundo se fez do outro lado da linha, apenas se ouvia um resfolegar, como se fosse penoso demais o simples fato de respirar.
E ai, comeu a língua?
- Não!
Quero te ver!  Não vou ficar discutindo por telefone, preciso olhar em teus olhos. ver a chama fumegando e tentar apagá-la. Riu meio nervoso.
- Não dá!  ela resmungou: - estou a quilômetro de distância!
- Ahn?
- É, estou na casa de minha mãe.
- E onde sua mãe mora? Me dê o endereço, que eu vou até você!
- Mas é muito longe!  fica a duzentos quilômetros de onde você está! demoraria umas quatro horas para chegar até aqui!
- Não tem problema, me dá o endereço, por favor!
- Não! espere até segunda feira. volto e conversamos!
- De jeito nenhum. Eu quero te ver agora, Não aguento de saudade!
- Ah, agora sente saudade? Mas não me ligou á tempos, nem quis ouvir a minha voz!  Que diabo de saudade é essa?
- Por favor Anita! não faça assim!
Eu preciso te ver meu amor. nem que seja só por alguns segundos!
 Ao ouvi-lo chamar de amor, ela se derreteu toda e suspirando profundamente lhe deu o endereço.
Ele se despediu rapidamente dizendo que não tinha mais nenhum segundo a perder. Ela desligou o celular,  olhando para o lado da porta da cozinha viu sua mãe encostada no batente á balançar a cabeça, com um sorrisinho maroto nos lábios se pôs a fazer um comentário: - Amor! Que belo é e que transtorno traz!
Anita fez de conta que não escutou,  como uma criança mal criada que foi apanhada roubando doces, subiu as escadas bufando, levando consigo sua mochila.
- Não vai terminar o café? sua mãe perguntou:
Já entrando em seu antigo quarto, ela respondeu: - não! perdi o apetite!
Logo depois se arrependeu e voltou, encontrou sua mãe na cozinha, encostada na pia lavando a louça do café.
Uma ternura imensa  encheu seu coração. ela a abraçou por trás, foi dizendo cheia de emoção: - Desculpe-me mamãe, Eu agradeço por udo o que fez para mim, foi pai e mãe ao mesmo tempo, não deixando que nada me faltasse. Meu quarto está todo arrumadinho como se ainda me conservasse em sua vida. O que aconteceu foi o seguinte: - Eu fico sem saber o que fazer em relação a este sentimento novo, sempre fui dona de mim, acostumada a controlar tudo que me rodeia, e agora, me vejo assim, sem eira nem beira. completamente perdida e sem direção.
Sua mãe se virou, passando as mãos em seus cabelos, e com uma voz macia falou: - Querida, veja bem! A vida tem seus mistérios, as vezes nos acorrente, outras nos liberta.
Há sempre um recomeço, e nem sempre recomeçar é fácil. Veja o meu caso: Levei anos para me livrar do medo de me relacionar outra vez. Não estive a procurar por ninguém por todo esse tempo, mas aconteceu. Não porque quis, mas, porque tinha de ser. Se vai dar certo? O tempo dirá! Eu não posso adivinhar o que será, só posso fazer com que dê certo, mas, se não der, pelo menos tentei!
- A senhora tem razão, mamãe!
A mãe á puxou até a cadeira fazendo-á sentar-se, ocupando a cadeira ao lado, serviu uma xícara de café, e em seguida segurou novamente as suas mãos: - De que adianta espernear e fazer drama, quando, na verdade, está fazendo o que o seu coração pede?
Se após algum tempo, vier a saber que esse relacionamento não dará fruto algum, e se, por ventura, continuar a fazer mais mal que bem, você vê o que faz. Mas, por um tempo, eu sugiro paciência.
- Obrigado pelo toque, amor! Eu sabia que podia contar com você, tem sempre uma palavra coerente e sábia para me instruir e ajudar.
levantou-se, colocou a xícara sobre a pia,  e continuou a conversa:
Agora eu preciso me preparar, se é verdade que ele vem, já está quase chegando, e eu preciso arrumar o quarto e me arrumar antes que ele chegue.
- Vai lá, minha filha! Sossegue esse seu coraçãozinho e curta seu momento!
Ela subiu para o quarto um tanto mais sossegada, pensou com carinho na conversa que teve com a mãe., chegando a conclusão, de que, realmente, estava sofrendo por nada.
Deitou-se um pouco para descansar, enquanto esperava por Daniel, e começou a sonhar com seus beijos: - Tudo vai dar certo! pensou: - Palavra tem poder!
Algumas batidas na porta a fez despertar. Ainda em transe por ter acordado abruptamente, demorou para por os pensamentos em ordem, para depois perguntar em voz alta: - Que foi?
- Alguém esta a sua espera na sala, sua visita chegou.
Ela deu um pulo da cama, olhou-se no espelho, deu uma escovada nos cabelos, e se viu toda amassada.
- Peça que me espere, já vou descer!
Tirou a roupa que vestia, tomou um banho rápido e escolheu uma blusinha florida, uma calça preta e uma rasteirinha, só depois que aprovou sua silhueta no espelho, foi descendo as escadas com precisão.
Deu alguns passos e voltou, para colocar algumas gotas de perfume. Afinal, não iria se encontrar com qualquer um. Era com o amor de sua vida. novamente se viu a dizer baixinho: - Palavra tem poder! Sorrindo para si mesma, foi descendo, degrau por degrau, até se ver frente a frente com seu amado, que estava mais bonito do que nunca. Tinha um brilho no olhar, um doce sorriso encantando-á ainda mais. Vestindo uma camisa branca de mangas curtas, uma calça jeans azul, meio decorada e um par de tênis também azul. Embora informal, parecia saindo de uma revista de moda: - Quanto bom gosto! pensou:
Ele se levantou, tomando-á nos braços, e sem dizer uma palavra aàbeijou com paixão fazendo sua mãe pigarrear, meio constrangida com a situação. Ela se libertou do seu abraço, e ele pediu desculpas pelo atrevimento, alegando ser pela tamanha saudade que dela sentia.
Dona  Mariana   ofereceu-lhe um café, ele recusou educadamente, dizendo que chegara mais cedo, e fora para um hotel. La fizera uma refeição rápida para vir buscar Anita para darem um passeio.
Anita parecia um autômato:  não falara nada, não ouvira nada, só absorvia em seu íntimo o gosto do beijo trocado e aquele perfume que á enebriava, voltando a fazer-lhe vitima de paixão.
- Vamos? ele perguntou, sem soltar de suas mãos:
 Ela respondeu com outra pergunta:- Para onde?
- Para onde você quiser! Não queria conversar?
- Sim! é verdade, aqui não dá!
A mãe  dela saiu da sala por um momento, voltando logo a seguir,  dizendo: Se quiserem eu saio para dar uma volta, preciso mesmo ir ao mercado.
- Não precisa mamãe, eu e Daniel vamos dar uma volta, vou lhe mostrar a cidade.
E de mãos dadas saíram  em direção a rua.
Ela sentia-se derreter feito chocolate diante do sol, nunca sentira tamanha vulnerabilidade diante de alguém. As mãos dele segurando as suas á deixava amarrada como quem não conseguia se mexer.
Ele estava alegre, olhando a paisagem sobre as calçadas. Era verão, as flores continham um perfume enebriante e selvagem. Os jardins dentro das grades dos portões da casa estavam em festa, pareciam mesmo quererem pular para fora.
Esta rua é muito simpática! A voz  suave de seu companheiro se fez ouvir, tirando-á de seu devaneio: - Verdade!  É mesmo linda!  Eu cresci aqui, é como se revivesse meu tempo de menina, correndo por essa alameda sem nenhuma preocupação.
Agora me vejo adulta e com a mesma sensação de que nada sei. de que nada aprendi, á não ser o viver como todo mundo, com a brisa da vida repousando sobre mim, sem ao menos saber sua cor.
- Interessante! repetiu:  - A vida é como a brisa, repetiu:
E você ainda não entende o meu jeito de ser. Eu...Vamos nos sentar, falou, cortando o assunto, apontando um banquinho na praça.
Em uma cidade pequena, as praças estão sempre bem iluminadas, e muito frequentadas ao final da tarde: Crianças corriam, gritando alegremente uma com as outras enquanto seus pais conversavam sem perdê-los de vista.
Anita preferiu sentar um tanto mais afastada de toda aquela tempestuosa  onomatopeia,  automaticamente se dirigiu para o outro lado da praça, arrastando Daniel pelas mãos.
- Prefiro o silêncio para conversar, senão me perco e começo a ficar nervosa!
-Eu também gosto de conversar sem interrupções. E ai! O que manda, minha querida!
 Ela o olhou até um pouco divertida, nem sabia como iniciar a conversa. Ele parecia deixar tudo mais á vontade. ela acabava se esquecendo de suas queixas. Mas, não podia deixar passar desta vez, nem mesmo deixar-se levar por uma onda de carinho.
- É o seguinte, tentou explicar: - Eu quero uma posição sua! Já que não gosta de fazer contato via celular, nem em outra rede social. Eu gostaria de dizer que, desse jeito, é impossível me relacionar a distância. Nunca sei onde está, nem em que hora te esperar!
- Eu sei que lhe parece difícil, falou em tom suave e comedido: - Mas é como eu sou,
estou trabalhando muito para mudar essa situação, e espero que você tenha um pouco de paciência!
- Mas, você não pode abrir mão dessa sua decisão de não usar o telefone, pelo menos, comigo?
- Não é que não possa. Tudo é possível, minha querida!
Eu acho que não é necessário. Sempre detestei estar no meio de um negocio, numa conversa calorosa, e de repente, ter que me envolver numa outra conversa que não faça parte do momento. Ou que, estando no meio de um filme, tenha que pausar para atender o telefone. E ainda, aquela cobrança de que tenho a obrigação de responder uma mensagem imediatamente, porque a pessoa em questão, achou que a mensagem foi visualizada e não foi respondida. tive muitos problemas desse tipo com minha esposa e meus sócios. então, eu decidi abolir este aparelho de minha vida, pelo menos, em questões particulares. Ao invés de melhorar as relações, ele consegue estragar, fazendo da vida da gente um inferno.
Se você parar para pensar, há de perceber que a relação se torna muito mais empolgante, quando a gente não esta esperando que algo aconteça, e acontece de uma forma natural, sem que a gente sinta que esta fazendo por ter uma arma apontada sobre a nossa cabeça.
- E você precisa ser tão radical? Ela o questionou:
- Eu penso assim: - uma vez decidido, se começarmos a abrir exceções, acaba voltando tudo como era antes.
Um alcoólatra precisa tomar o devido cuidado para não dar o primeiro gole. E eu fui um viciado em conexão virtual. Não tinha mais vida própria, tudo se resumia em um aparelho ligado na tomada: Televisão, celular, vídeo game. Estive por muito tempo alienado á este meio, não encontrava nem coragem para trabalhar, até que me vi sem outra alternativa, á não ser abolir, de uma forma gradativa, toda essa tecnologia desnecessária. Não que não seja boa, desde que não venha atrapalhar a nossa vida.
Imagine-se fazendo amor pelo computador. eu não consigo me imaginar fazendo isso. Seria insano ficar jogando com o amor, como se joga vídeo game. É tão maravilhoso sentir o toque, o perfume, a voz penetrando no ouvido, causando uma sensação real. Depois do amor, ficar aconchegado um nos braços do outro, dormir abraçados, como  á perpetuar-se o prazer.
Ela o olhava com muita atenção, á pensar que ele tinha suas razões. Ela estava simplesmente, querendo atenção em todos os momentos, em qualquer hora. Não entendia daquela forma.  Dizia para ela mesma: - Ninguém entende!
- Eu compreendo, ela falou:- mas não entendo.
Quando a gente ama, ama do mesmo jeito. Quer ouvir a voz, sente saudades, quer participar da vida do outro.
- Sim! Eu sei! Só que, as vezes, podemos estar juntos, até mais do que quando estamos lado a lado! Eu trago você tão nítida em minhas lembranças, que toda vez, que não estou ligado  a nada externo, eu posso te sentir em mim com muita intensidade. Tenho que resolver tantos problemas ligado á trabalho, que preciso colocá-la guardada em um cantinho especial, para que não venha á perdê-la quando me encontro longe de tudo.
Eu vivo o momento, não gosto de misturar estações, senão fica tudo embaçado!
Ela coçou a cabeça e deu um suspiro profundo, acabou falando sem querer: - isto é o que você pensa. eu não sou obrigada a sentir o mesmo, e você me condena a seguir teus passos, mesmo sabendo que meus pés são tão mais pequenos que os teus...

Por:  Hertinha Fischer  Terceiro capitulo do romance: palavra tem poder













































































terça-feira, 3 de abril de 2018

Palavra tem poder - Capítulo 2

capitulo 2   ( Medo de amar)

A noite foi longa para Anita, quase não conseguira dormir. Entre uma cochilada e outra,
a imagem de Daniel insistia em aparecer, um tanto desbotada e incerta, como
se fosse desparecer de uma hora para outra.
Seria sua consciência  querendo lhe dizer algo,
ou apenas o medo de amar e de ser esquecida?
Sempre fora uma mulher conservadora, não se deixava levar pela magia de um encontro. Não gostava de se expôr, nem de ficar por ficar.
Seus amigos a chamavam de puritana, Ela sabia que não fazia nenhum sentido esse apelido,
ela reservava o direito de escolha, e tinha um certo receio de aventuras passageiras.
Fora criada com muita disciplina, sua mãe sempre á alertou do perigo de se apaixonar no primeiro
encontro, sempre lhe dizia que, as coisas poderiam mudar de repente, e o sofrimento seria inevitável.
Por isso, nunca teve um compromisso sério, mesmo quando queria, não conseguia ficar com alguém no primeiro encontro. Procurava conhecer bem a pessoa que se aproximava dela, antes de iniciar qualquer relação.
Mas, desta vez, o sininho tocou, e a fez refém de uma história diferente, um sentimento novo, do qual ela não sabia lidar.
Alguma coisa em seu íntimo lhe dizia para tomar cuidado. e ela repetia para si mesma: - Palavra tem poder.
Eu serei feliz com ele! Eu serei feliz com ele! E ficou repetindo até o amanhecer.

Pela manhã ao despertar, iniciou o dia como todas as manhãs. depois pegou o carro e foi para o trabalho, antes consultou o celular para ver se não tinha nenhuma mensagem.
E deparou com uma de Daniel que dizia: - Obrigado pela noite! Abraço!
Ela sentiu-se feliz por um momento, para logo sentir uma mancha preta á rondar-lhe:  Achara a mensagem muito fria, Porque um abraço, ao invés de um beijo? Depois do acontecido anteriormente, dos beijos e afagos trocados, já teriam um minimo de intimidade para tornar mensagens mais quentes.
Resolveu trancafiar esse tipo de pensamento lá no fundo, e seguiu a pensar em trabalho. Afinal, de que adiantaria remoer o que ainda não aconteceu. - Outro dia, outros motivos, pensava:
Seu assistente já havia chegado quando ela abriu a porta, ele estava atolado no meio de muitos documentos, e logo que a viu entrar foi logo dizendo: - temos que resolver muitos casos de aluguéis atrasados, os clientes estão ligando para saber o que esta havendo, A crise está brava!
- Realmente, ela disse! - Não está fácil para ninguém!
O moço deu uma risadinha, passou as mãos na cabeça, e completou: - Só para você é que não!
Ela ficou meio sem graça, em outra ocasião também sorriria, mas, não na situação em que se encontrava: apaixonada pelo patrão.
Ficou quieta e começou a limpar sua mesa, se concentrando nos afazeres mais urgentes, fazendo ligações e as recebendo, esquecendo por alguns momentos a sua crise emocional.
O dia passou rápido, um entra e sai na imobiliária , acabou exigindo toda a sua atenção. As vezes atendia o telefone e lembrava de Daniel e vinha aquela pergunta: - Seria ele?
Só depois das quatro horas da tarde, seu assistente lhe revelou que tinha recebido um email de Daniel. ela abriu a correspondência rapidamente, que só continha uma ordem: - liga para pessoa tal. número tal, que a minha contadora te dará todas as coordenadas para que você inicie o trabalho na casa.
Os cheques já estão preparados, ou você prefere um cartão corporativo?
Já dei ordens ao escritório de contabilidade para lhe dar carta branca, sempre que solicitar. depois nos falaremos. pode se mudar quando quiser, sinta-se a vontade!
abraço!
Daniel.

A noite chegara. E ela foi para casa sem ter noticias de Daniel: nenhum telefonema, nem nada! Apenas silêncio,
Nos dias que se seguiram, ela realizou a limpeza da cabana. embora fosse uma casinha pequena, muito simpática, ao contrastar com o tamanho da residência oficial, mais parecia uma cabaninha.
Arrumou e embalou todos os seus pertences, entregou a chave ao seu senhorio, chamou um veículo pequeno para fazer o transporte, e rumou para outra aventura. Agora, sem nenhum receio de não poder pagar.
-Pagaria com seus serviços, pensou: - mas, até quando? novamente veio-lhe a insegurança tomando posse de seus dias.
Uma semana, duas e nada de ter noticias do seu patrão. Já iniciara algumas obras, contratando um encanador para resolver alguns problemas,  sondando algumas lojas de eletrodomésticos, para entender bem o mercado e saber onde comprar produtos bons com menor preço.
Certa noite, ela estava meio inquieta, saiu para fora para tomar um ar. estava fresco lá fora, então resolveu caminhar um pouco pelo jardim.. De repente sentiu um perfume que ela nunca esquecera, madeira e chocolate. Inspirou instintivamente, parecia que Daniel estava tão perto, que quase conseguia tocá-lo: Que saudade! - balbuciou:
Foi então que uma mão tapou-lhe os olhos, sentiu um arrepio percorrer seu corpo, ouviu uma voz que lhe dizia: - adivinhe quem é?
- Daniel! - ouviu o som de sua própria voz pronunciar aquele nome tão querido. Ao se virar deu de cara com aquele olhos verdes a lhe sondar, brilhando sobre a luz do luar.
- Não vi o carro chegar. Falou:
- Ainda bem, queria chegar de surpresa!
- Porque não ligou antes?
- Não deu, ele respondeu com uma certa emoção:
- Estive muito ocupado, fui chamado as pressas para realizar alguns negócios. Tive várias fazendas para visitar.  Além do mais, detesto falar de intimidade pelo telefone. Minha ex esposa detestava isso.
Mas eu prefiro isso:  seus lábios se aproximaram dos dela bem devagar, ela pode sentir o hálito quente
queimando-á por fora, antes de sentir uma onda de calor invadindo-á por dentro, e um sabor de hortelã, misturado com prazer e loucura.
Beijaram-se com sofreguidão, depois de se separarem, ele tocou-lhe de leve a fronte, balbuciando em seu ouvido: - sentiu? agora sabe o por quê?
- Sim, ela sentiu e entendeu, que, por telefone, aquilo não aconteceria.
- Ele disse a seguir: - Detesto sentir vontade e não poder realizar. Sou obsessivo por toque. Sentir saudades é bom, mas, ficar só falando de amor não me sustenta. E você não sabe o quanto esperei por isso.
Ele soltou-á do abraço, pegou suas mãos entre a dele e a conduziu pelo caminho de volta.
- Vamos para a sua casa, ou para a minha? perguntou:
- Para a minha, ela disse: - Sua casa ainda não está pronta!
Não tem cama, ela ia completar, mas, desistiu.
Não tinha como fugir do desejo que sentia por aquele homem. Se as caricias continuassem, por certo, o caminho seria esse. O caminho da cama.
E foi o que aconteceu a seguir.
Ele a tomou nos braços tão logo alcançaram a porta, e como se fossem recém-casados, a levou para a cama, onde as caricias se multiplicaram até que não aguentassem mais. Ele a penetrou de mansinho, ela sentiu-se nas nuvens. Nunca em sua historia de vida sentiu algo tão profundo, Era como se dela ele fizesse parte. Os beijos tornaram-se voluptuosos, as caricias cada vez mais ousadas, até que atingiram o clímax, onde ambos se perderam entre suspiros e gritos de prazer.
Ela rolou na cama, virando-se para o lado, ele, por sua vez a abraçou em forma de conchinha, e ficaram lá por horas, sem se falar, apenas sentindo o bater do coração um do outro, em descompasso.
- Estou com fome, ela falou, quase a murmurar: - Vou tomar um banho e preparar algo para comer. Ele se soltou dela, relutante. - Ta bom! eu também estou faminto. toma teu banho, depois me levanto e vou lhe ajudar!
Quando ela colocava os espaguetes para cozinhar, ele apareceu na porta, perguntado: - em que posso ajudar? - Que cheiro bom!
- É o molho de manjericão em sua homenagem, ela respondeu: - seu perfume me lembra lima e manjericão, além de madeira e chocolate.
- Ele deu uma risada estridente que a fez rir também. - Como assim? Tudo isso?
-E algumas cositas mas... emoção, carinho, amor...
Você pode ir lavando a louça se quiser.
Ele se pôs a lavar alguns utensílios que estava sobre a pia, mas, de repente parou, foi ao seu encontro a beijou novamente.
E assim se sucedeu, enquanto jantavam, depois do jantar, até a hora de voltar para a cama e fazer amor pela segunda vez.
O dia amanhecia lá fora, o sol gritante já ameaçava o dia com seu hálito quente. ela procurou um corpo ao seu lado e só encontrou um vácuo.
- Não é possível!  pensou: - Este homem é especialista em fugir.
Ouviu um carro chegando: era ele que trazia-lhe café pronto.
- Não acredito!  pronunciou ao vê-lo atravessando a porta:
Achei que tinha ido embora.
- Ele fez uma carinha de quem não entendeu: - Como assim, eu só fui lhe preparar um café! -  disse sorrindo: e lhe entregou o pacote que tinha nas mãos.
Eu só trouxe café preto.  Não sabia se gostava de leite e não quis errar. Portanto.  hoje só cafe, pão e manteiga esquentado na chapa.
- Eu poderia ter preparado,  disse meio contrariada: tenho tudo aqui, mas, como de costume, você nem pergunta e toma suas decisões.
 Ele levantou as mãos em sinal de protesto: - Olha aqui mocinha, não vem não!  Só quis lhe fazer um agrado, se não gostou, peço desculpas e jogo tudo fora.
- Não ! ela gritou: - me desculpe!
Tocou suavemente em seus ombros - Olha eu não quis ofendê-lo. só que sou impetuosa demais, não consigo evitar.
Tomaram o café, conversaram um pouco sobre o andamento da decoração do imóvel, ela o levou para verificar alguns itens que comprara, ele ficou satisfeito: - sabia que podia contar com você, não errei quando acreditei em seu bom gosto, continue assim.
Mesmo porque, eu vou me ausentar por alguns dias. o dever me chama, e como você sabe. estarei muito ocupado para pensar em outra coisa que não seja trabalho.
Ela se ofendeu em silêncio, não queria correr o risco de ter que brigar com ele, antes de vê-lo indo embora.
-Para onde você vai desta vez?
- Por ai, onde me chamarem, não sou eu quem decido.
- Sentirei saudades!
- Eu também sentirei!  disse meio tristonho:- mas, quero que saiba, que mesmo que eu não ligue com tanta frequência, você estará em meu pensamento.
- Será? ela perguntou:
- Pode apostar! Não quero que pense que eu não ligo, mas, gosto de deixar o tempo decidir!
 Assim que puder, eu volto!  Dito isso:  ele se levantou, afastando a cadeira para trás, deu a volta, tomou-á em seus baços, beijando-á com desespero.
Seus lábios chegaram a inchar com tamanha violência do desejo. Depois ele se despediu, pegando sua maleta, e foi se distanciando, perdendo-se entre a vegetação. Ela só conseguiu ouvir o barulho do carro indo embora.
Ficou um tanto ferida ao constatar que ele nem pediu que o acompanhasse, parecia querer fugir, como sempre.

Os dias seguiram sem qualquer novidade. ocupada com seus dois empregos nem vira o tempo passar. todas as noites ficava por horas olhando a estradinha embrenhada na mata, na esperança de ver algum farol de carro iluminando algum ponto da estrada. Por meses nada aconteceu. foi então, que num fim de semana prolongado por um feriado na sexta feira, ela resolveu ir para casa de sua mãe. Fazia algum tempo em que só se falavam por telefone.
Como ela detestava dirigir na estrada, optou por ir de ônibus. Comprou passagem e na quinta feira a noite, assim que saiu do trabalho, arrumou as malas e partiu.
A pequena cidade onde sua mãe morava, ficava a uns duzentos quilômetros dali. Longe o suficiente para que não se vessem com tanta frequência. Ela sentia-se feliz em poder fazer uma visita no lugar em que morara por tanto tempo, sempre no mesmo bairro, na mesma rua e na mesma casa, desde que se conhecera por gente.
Seus pais se separaram quando ela tinha apenas seis anos de idade, Ele as deixou e nunca mais apareceu, nem para vê-la.
De vez em quando mandava algum dinheiro para ajudar sua mãe a criá-la,  até que se casou novamente, se mandou para outro país e nunca mais deu noticias.
Sua mãe deu duro para criá-la e lhe dar uma boa educação. Até que ela decidiu tocar a sua vida por conta própria. mudando-se para uma cidade maior, vencendo o medo de estar só, e de ter que arcar com suas próprias despesas, deixando sua mãe livre para refazer a sua vida se assim o desejasse.
Se passaram quatro anos, ela se formou em administração, fez um curso técnico em transações imobiliárias. Como já  trabalhava no ramo, foi muito fácil arrumar um emprego de corretora naquele estabelecimento que trabalhava atualmente.
Ganhou algum dinheiro, mas, gastou muito em coisas banais, acabou quase que tendo que voltar, até realizar o último negocio.  O maior de sua vida, e também ganhou essa dor de cabeça, que agora não á deixava mais em paz; O caso de amor com seu mais novo patrão.
Enquanto seguia  pela noite, deitada na poltrona confortável do veículo que a levava, Anita pode, enfim, fazer um balanço sobre seus últimos momentos naquela cidade.
O amor e a saudade que sentia do seu patrão era quase que insuportável: Por vezes, ficava tentada a ligar para ele, contar que o amava mais que tudo, mas, a razão se incumbia de fazê-la desistir.
Era uma tortura pensar que poderia estar servindo de passa tempo., sendo usada quando ele aparecia por lá, para depois sumir sem dar conta daquela tortura que se tornou a sua ausência. Nenhum recado, nem de desculpas, nem de nada, apenas um silêncio ameaçador.
Sentiu as lágrimas inundarem sua face, pela primeira vez sofria de amor.
Por sorte estava escuro, outros passageiros dormiam, ou estavam de olhos fechados, não podiam ver sua dor estampado em seu semblante. Fora corajosa até agora, mas, talvez a lembrança de seus pais lhe deixaram emotiva demais.
Não conseguiu dormir nada, seus pensamentos despertos á incapacitava de relaxar, até que o sol despontou no horizonte, dando-lhe um certo alento ao constatar que já estavam entrando na cidade. - - Agora, só queria um abraço de minha mãe,  constatou: - que ela me compreendesse, que eu pudesse passar para ela toda essa confusão que tomou posse de mim, e sem me questionar me revelasse um caminho, pois eu sei que palavras tem poder.
O ônibus estacionou na pequena rodoviária, agora só teria que andar por uns quinze minutos para chegar em casa.

 Segundo Capitulo  de um romance:  Palavra tem poder
Por:  Hertinha Fischer






































segunda-feira, 2 de abril de 2018

Palavra tem poder

Capítulo 1  ( Atitude)

Estava um dia muito quente,
daqueles em que a gente
desfalece só em pensar.
Anita colocou um pedaço
de tecido  enrolado sobre o corpo,
despida de qualquer peça
por dentro.
Estivera sobre forte pressão no trabalho,
não tinha vendido nem um imóvel
naquela semana, e nem
sequer tinha algum cliente interessado.
Com a alto estima lá embaixo, pediu
folga naquela tarde, só para espairecer.
Precisava urgentemente de dinheiro, tinha o aluguel, a taxa do condomínio e outras
prestações á pagar.
Naquele momento só podia se lamentar pelos gastos desnecessários,
devia ter escutado a sua mãe que sempre lhe alertava sobre
guardar algum dinheiro
para as eventualidades.
Gostaria de ter seguido seu conselho, mas, de que isto
 lhe adiantaria agora?
Pegou um resto de refrigerante que estava na geladeira, colocou em um copo,
sorvendo os goles apressadamente,  quase se afogou.  Riu de si mesma ao perceber sua ansiedade.
Largou o copo sobre a pia,  e foi para a sala, deitando-se
preguiçosamente no sofá quente.
- Ai! - Deu um gemidinho suave, pulando para se levantar, exclamando em voz alta:
-Nossa! parece que estou dentro de um forno!
Foi até a janela, e nenhuma brisa, tudo parado.
Pensou no quanto fora difícil chegar até ali.
Deixara sua cidade natal para se aventurar numa cidade maior,
e agora, estava ali, sem saber o que fazer da vida.
- Tudo parado, balbuciou:  - até a minha vida está estacionada.
Mas, isto não vai ficar assim.
A palavra tem poder, alguma coisa precisa acontecer, e é agora.
Acabou de pronunciar estas palavras para si mesma, e seu celular tocou.
Correu até a cozinha, onde deixara o aparelho sobre a pia.
ao dizer alô, notara a voz aflita de seu companheiro de trabalho:
- Onde você se enfiou? - estou te procurando em todos os cantos, por
sorte, me disseram que você tinha saído.
- É..- balbuciou sem nenhuma emoção: -  desculpe, se não te avisei.
-Bom, o motivo de ter te ligado é o seguinte: - Tem alguém interessado naquela
casa da Rua Vergueiro, no Jardim Eulália.
Ela quase engasgou ao perguntar: - Co- como? - aquela mansão?
- Sim, respondeu o rapaz.
- E você, por certo, está segurando o cliente, né?
- Sim!  ele está aqui, e com muita pressa!
- Estou a caminho, me dê alguns minutos. vá enrolando o moço. Deu uma risadinha
nervosa. e completou:  - Ofereça-lhe café! E desligou sem perder mais nenhum minuto de tempo.
Envolveu-se dentro do primeiro vestido que encontrou. colocou uma rasteirinha nos pés e saiu em disparada. teve que retroceder quando percebeu que nem sequer trancou a porta.
- Eita! exclamou:
Entrou no carro as pressas, quase atropelando o jardineiro que gritou, ficando vermelho de raiva: - Não olha por onde anda?
- Desculpe, agora não, tá! depois nos falamos, e saiu em disparada.
Já em trânsito, pensou em suas palavras, ditas quase sem perceber: - Palavra tem poder!
- Agora não podia duvidar, só faltava fechar negócio.
Estacionou o carro em sua vaga, pegou a bolsa, fechou a porta, acionou o alarme e subiu as escadas as pressas.
Abriu a porta do escritório, e na afobação em que se encontrava, nem percebeu a pessoa sentada de costas para a sua escrivaninha. Jogou a bolsa sobre a mesa, sem nem ao menos se dar ao trabalho de cumprimentar as pessoas.
- Boa tarde! - ouviu uma voz melodiosa vindo do outro lado da sala:
- Boa tarde, respondeu, assimilando a voz de seu companheiro de trabalho.
Só depois se virou para a figura sentada em frente ao seu computador, dizendo: - Desculpe a espera, tive que sair para resolver alguns negócios pendentes, mentiu:
Foi então, que a ficha caiu, e se viu desnorteada com a beleza do homem, um pouco sem graça e se mostrando efusiva, relaxou.
-Então!  começou a falar: Está interessado nesta casa? -  interpelou o homem, jogando uma foto em cima da mesa.
Enquanto o homem estudava os contornos para identificar o imóvel, ela o olhou de soslaio, por cima do computador. Notou a exuberância de seu pescoço e dorso, uma leve ondinha de cabelos brancos, entre cabelos pretos e  bem cortados. uma camisa cor de marfim e uma gravata vermelha adornavam aquele corpo másculo, que descia até a cintura, de onde ela não podia mais enxergar, por ele estar sentado e de cabeça baixa.
Uma onda de calor quase á sufocou, e viu-se abanando com um pedaço de papel.
- Está  com calor? - uma voz macia e cortante ao mesmo tempo a fez despertar, sentiu-se corando como uma menininha de colegial. Viu-se dizendo sem pensar: - pois é! E olha que estamos com o ar condicionado ligado!
A seguir se arrependeu do que disse, balbuciando meio desconfortável:
 - Me desculpe, mas, é que  estava lá  fora  e com essa onda de calor sufocante  nem percebi que estava repetindo essa minha mania de abanar.
 Ele sorriu, mostrando as carreirinhas de dentes bem branquinhos, e seus lábios se mostraram tão acessíveis que ela ruborizou mais uma vez, como se ele a tivesse beijado.
Resolveu falar sobre negócios e deixar para lá o que estava sentindo em relação ao moço, afinal, concluíra: -  Não estou aqui para paquerar, mas, para realizar o negócio do ano.
Você quer ver o imóvel hoje?  - se viu perguntando:
Ele balançou a cabeça positivamente, para depois responder: - Se você não tiver nada mais urgente para fazer.
- Não tenho nada para fazer -  falou sem pensar.
Tão logo se recuperou, não podia deixar transparecer o seu fracasso no trabalho.
- Quero dizer: - nada que não possa esperar. - Vamos?
- Ela se levantou de supetão, esbarrando na canequinha desenhada onde guardava suas canetas, e tudo foi ao chão.
Ele contornou a mesa e abaixou para catá-las, dando de cara com um par de pernas bem torneadas e brancas como cera.
Reparou na cor de seu vestido, enquanto suas mãos faziam de conta que procurava por mais alguns objetos, possivelmente,  caídos embaixo da mesa.
Levantou os olhos devagar, subindo até o seu seio arredondado e bem feito, e se viu pensando em coisas que nunca imaginou pensar, não, pelo menos, até aquele momento. e também enrubesceu.
Mas, ela nem notou, pois,  já se afastava tentando pegar a bolsa do outro lado da mesa.
- Sou muito desastrada, as vezes, falou: - complementando a seguir: - Como toda mulher que se preze.
Ele saiu em direção a porta, abrindo-á,  enquanto ela passava a passos largos e seguros.
Quando ele conseguiu fechá-la, ela já descia as escadas, indo em direção ao estacionamento.
quase  teve de correr para alcançá-la.
Sorriu consigo mesmo, se perguntando: - Que mulher é essa?
Anita, por sua vez, desligou o alarme, abriu a porta, comodou-se e abriu a porta no sentido do passageiro. ele entrou, acertou o banco que estava muito para  a frente, e ela aproveitou para passar os olhos sobre as pernas de seu acompanhante.
Mais uma vez se viu imaginando coisas. - Engraçado, ela pensava: - Nunca fui dessas coisas.
Agora me vejo a olhar as pernas de um homem que é meu cliente, como se fosse um paquera. E ainda por cima, admiro até a cor da sua calça. Caqui! -  ela afirmou em pensamento:  combinando bem com a cor marfim da camisa e a gravata vermelha, para completar um sapato bico fino, de um preto reluzente, como se tivesse sido comprado naquele exato instante. - perfeito demais! -  pensou:
Só então ouviu o ronco do motor, e concluiu já estar a caminho.
Ele ficou em silêncio, observando a paisagem as margens das ruas. Ela nem precisava olhar para  a frente, parecia que seu cérebro ativara um robô dentro dela, que indicava o caminho. E que caminho! -  Ela pensava: - palavra tem poder! - e riu por dentro.
Finalmente, depois de uns vinte minutos, ele interrompeu o silêncio: - chegamos!
- Como você sabe? se ouviu perguntando:
- Já olhei para a fotografia da casa tantas vezes, que não é difícil identificá-la. É aquela ali?
- Sim, ela mesma! tinha até me esquecido do quanto ela é bela.
Ele á olhou nos olhos quando ela desligou o motor se virando para pegar a bolsa do banco de trás. E ambos se mumificaram por alguns instantes. como se estivessem se perdendo um dentro dos olhos do outro. E o encanto de dissolveu rápido, antes que os levassem á algo que não tinham planejado.
Ela pegou a bolsa e saiu do carro, ele fez o mesmo.
Como se não tivesse acontecido nada, caminharam lado a lado até a porta da casa.
Anita abriu a bolsa, pegou as chaves e  quando foi abrir a porta, ele as pegou de suas mãos, assustando-á um pouco, com a rispidez de seu ato.
- Parece bravo! - ela falou quase que a sussurrar:
Ele respondeu que não, e que nem tinha motivos para isso, apenas quis mostrar-se cavalheiro.
A casa era muito bonita por dentro, até mais do que por fora, isso ela já sabia, mas, queria ver nos olhos dele a mesma emoção que sentia. Não sabia bem por quê.
 A cada cômodo visitado, ele falava algumas palavras como: - Muito bom! Gostei disso!.
Ela também não tagarelava como era de costume, até parecia que não queria vender a casa.
No término da visitação, resolveu ser profissional outra vez; - vamos sentar! - afirmou, levando o dedo a sinalizar um banquinho disposto entre os arbustos. antes que ele decidisse ela se pôs á caminho.
Um jardinzinho simpático apareceu de repente entre as árvores mais frondosas, encantando o seu olhar, mais uma vez, parecendo vir das profundezas de sua alma, já vira tantas vezes, mas, agora, parecia tão mais sublime. Seria o encanto daquele homem?
Sentaram quase ao mesmo tempo, um ao lado do outro e um muro se ergueu entre os dois. Agora era os profissionais. Ela, a vendedora, ele, o comprador.
- Então! - ela sempre começava a frase assim: - O que você achou?
- Bela , muito bela, gostei muito!
- Vai fechar negócio, ou ainda precisa pensar, já sabe dos números, certo? - vai fazer uma contra oferta?
- Calma! calma! ele disse com uma voz um tanto rouca: - deixe-me pensar um pouco. e resfolegando como se estivesse um tanto cansado, levantou-se.
Distanciou-se um pouco, chutando um montinho de terra, ela sorriu por dentro, falando consigo mesma- Vai sujar os sapatinhos,
Colheu umas tulipas, e voltando-se para ela, fez um gesto de oferta: -  ela sorriu, e foi o sorriso mais lindo que ele já vira. ela fez que sim, com um movimento gracioso de cabeça.
Ele se aproximou, fez um gesto de mesura, e colocando as flores entre seus dedos.
Sentou-se  mais a vontade. olhou em seus belos olhos dizendo: - Eu fico com a casa!
mas, quero um favor.
- Que favor?
- Quero que trabalhe para mim.
- Como assim? - perguntou-lhe um tanto apreensiva
Bem! Eu estou me separando de minha esposa, por isso estou comprando essa casa. Não é uma separação litigiosa , é de comum acordo. tanto que já resolvemos as questões financeiras. Só faltam algumas questões legais. E assim que assinarmos o divórcio, eu pretendo me mudar para cá.
Ela não falava nada, apenas o ouvia com atenção. O coração batendo descompassado, não entendia bem o que estava se passando. era uma emoção nova, algo que ela desconhecia completamente. As tulipas murchavam em suas mãos, deixando um perfume suave no ar. e aquilo enchia o seu coração
com uma mescla de alegria e compaixão. relutava em dizer para ele que nada daquilo lhe interessava, agora, que o negocio já fora concluído.  Que já podia pagar o aluguel com folga, todos os seus problemas se tornaram tão pequenos, pelo menos, por enquanto.
mas, não podia lhe dizer nada, só escutava-o com atenção.
Ele continuou falando: - Eu vou precisar de alguém confiável que trabalhe neste novo projeto, pois vou precisar me ausentar por um tempo. Não sei se você já sabe, mas, eu moro em outro estado, a mil e duzentos quilometro daqui, Não posso, simplesmente, estar em dois lugares ao mesmo tempo, por isso pensei em te contratar para  transformar esta casa num lar.
Ela olhou para ele com surpresa no olhar, e num relapso de incerteza, lhe perguntou: - Porque eu?
Ele ficou em silêncio por alguns segundos para depois responder: - Não faça pergunta difícil, eu não saberia responder.
Só sei do que preciso, e meu íntimo me revela que você seria a pessoa certa para cuidar da casa, contratar uma arquiteta e uma decoradora, comprar as peças necessárias, sem que eu precise me preocupar.
Olhando-á nos olhos, completou: - aceite, por favor! nem precisa se ausentar de seu emprego atual, pois, pelo que sei, não precisa trabalhar em tempo integral, dá para conciliar seu trabalho com mais este.
- Como sabe sobre isto?
- Ele a olhou com provocação, e com uma voz um tanto pastosa pelo cansaço, falou: - Esqueceu do quanto me fez esperar por você?
Enquanto isso, seu colega de profissão me contou um pouco do que sabia sobre sua pessoa, Sei que é solteira, que não tem filhos, Mora sozinha e seus pais não são desta cidade. Que veio para cá para estudar, e arrumou esse emprego para se sustentar, que não gosta de ser conduzida  e nem protegida por ninguém.
- Nossa! balbuciou- Só falaram sobre mim, pelo que consta!
- Um pouco sobre você, outro pouco sobre a casa, mas, não fique brava com ele, eu é que fiquei muito entediado com aquela infinidade de café que ele me oferecia, então, entre um gole e outro, eu fui lhe fazendo perguntas. Não queria fazer negócio com uma pessoa completamente desconhecida.
- E gostou do que soube sobre mim? Tão logo fez a pergunta, tão logo se arrependeu.: - não precisa responder!
- Respondo assim mesmo:-  gostei sim! me pareceu confiável, e depois que te conheci pessoalmente, eu constatei,  que, além de confiável, ainda é uma mulher corajosa e linda.
 Ela enrubesceu novamente, sua iris se dilatou e seu rosto ficou extremamente rosado, Tanto que até ele percebeu.
- Porque ficou constrangida, acho que já está acostumada a receber esse tipo de elogio, ou estou enganado?
- Está! não costumo receber elogios de clientes, sou bem profissional, não dou margem para esse tipo de comentários.
Ele sorriu de um modo que a fez estremecer.- está duvidando de mim? acrescentou:
- De modo algum, só achei engraçado a forma com que lida com suas emoções. Sei perfeitamente de tudo isso. Só que, em sua presença, as vezes, me esqueço que a conheci nesse dia, para seu governo,  nos conhecemos á apenas algumas horas, mas, parece que sempre a conheci.
 Ela corou novamente como se ele á tivesse despindo.
Pensou naquele dia: - Como pode acontecer tantas coisas, tudo o que ela almejava na vida, de repente se concretizava: - um grande amor, uma quantia razoável de dinheiro entrando em sua conta! - Opa!,
palavra tem poder, mas, nada disso é verdade, será apenas um sonho?
Não, não era sonho, pois a voz do rapaz a acordou para a realidade,:
- E ai, da para me dar uma resposta?
- Resposta sobre o quê?
Ele fez uma cara de surpresa e falou rapidamente: - sobre a minha proposta de trabalho.
-Ah! sim, Claro! - Dá para esperar até amanhã?
- Sim, mas só até amanhã a tarde, pretendo, assim que assinar a papelada da compra da casa, seguir para minha cidade. ainda tenho muitas coisas que resolver por lá.
E ainda tem mais: -  quero que você pense sobre se mudar para cá! - aquela casa construída lá embaixo, está vazia, se você quiser pode ocupá-la. Assim se livra do aluguel e ainda fica mais próxima do trabalho.
Ela olhou de soslaio, por cima dos óculos de sol, que agora, a protegia dos raios do pôr do sol, que estava diretamente voltado para eles . e sem pensar concluiu: - isto é bom demais para ser verdade!
- Isto quer dizer o quê? - ele disse: - que você aceita?
Ela pensou um pouco, e decidiu se fazer de difícil. balançou a cabeça em negativa.
- Ainda não!- Preciso pensar! Afinal, é uma mudança e tanto, incluindo muita responsabilidade.
De repente seu celular começou a tocar, ela pediu licença, se levantou , se afastando um pouco, para atender.: - Alô! Tão logo reconheceu a voz de seu assistente, que começou a falar sem parar: - Onde você está? - Já estou a ponto de fechar o escritório, todos já foram embora, só falta você! - Ainda vai voltar?
Ela olhou para seu relógio de pulso e não conseguiu acreditar no andar das horas, o tempo passara tão rápido que nem percebeu que quase anoitecera.
- Desculpe-me! - saiu uma voz quase chorosa: - Pode sair, eu volto, mas, tenho a chave!
- E ai? Como foi?
- Tudo correu as mil maravilhas! - Não conseguiu esconder a emoção.
Ouviu um assovio animado do outro lado e uma expressão de contentamento no falar: - Que maravilha! Valeu a espera!
- Sim! valeu!, mas, vamos conversar noutra hora! Já está ficando tarde, preciso sair daqui. Beijo, amigão!
O telefone ficou mudo de repente, ele já tinha desligado, com certeza, estava louco para ir para casa!
Ela se voltou para o moço, e só então, percebeu que não sabia seu nome. Ficara tão empolgada com o negócio, que esquecera completamente de perguntar. Ou não era só isso?
- Eu peço desculpas, falamos sobre tantas coisas, tratamos das coisas práticas, e nem sei qual é o seu nome!
- Daniel, mas, pode me chamar de Dan!
- Então Daniel, podemos ir?
Ele sorriu, falando em seguida:- Dan!  para os amigos eu prefiro ser chamado de Dan.  Sim!
podemos!
Levantaram do banco e seguiram diretamente para o carro, falando sobre as questões legais de compra e venda.
Se despediram na porta do escritório, prometendo se encontrarem no outro dia, as dez da manhã,
quando, então, iniciariam o processo da transferência do imóvel.
Ela voltou para casa com uma sensação estranha. Não era mais a mesma. Parecia que estava vivendo a vida de outra pessoa. Estava tensa e ao mesmo tempo relaxada, não sabia explicar:  Seria amor, ou apenas empolgação pelo homem,  que, de repente, mudava sua condição de momento?
Entrou em casa, fechou a porta e foi para o banho. Enquanto a água caia sobre sua cabeça, ela colocava um pouco em sua boca e esborrifava para fora. Era assim que conseguia relaxar e pensar.
Tudo transcorrera bem, ela nem acreditara que depois de tanto tempo, numa penúria que dava dó, agora, poderia resolver muitas pendências.: como saldar as dividas contraídas naquele ano, que estava difícil de sanar., sair daquele apartamento pequeno, e morar num casa maior, com aquele jardim imenso, e tantas outras regalias que sequer sonhara.
Dormiu mal aquela noite, foi difícil se desligar, só depois que o cansaço vencera é que pode descansar um pouco.
No dia seguinte levantou-se muito cedo, preparou o desjejum, tomou uma ducha quente, e foi para o escritório.
Chegando la´, todos á saudaram, dando-lhe os parabéns pela venda, sem notarem o turbilhão de emoções que á estava incomodando.
Lá pelas dez horas, Daniel chagara, logo após o antigo dono da casa também apareceu, todos se reuniram na sala de reuniões e efetivaram o negócio.
Daniel lhe parecera muito distante, diferentemente do dia anterior.
Assinaram a papelada, os cheques foram editados. As comissões devidamente distribuídas. A parte que cabia a imobiliária, a parte que lhe cabia, enfim, todos os trâmites devidamente acertados e concluídos com muito sucesso, sem nenhuma ressalva.
Agora, só havia mesmo o trabalho do seu assistente, que registraria tudo em cartório.
Ela foi a primeira a sair da sala, não aguentava mais a pressão do seu coração, que batia muito acelerado, como se fosse um pilão a moer milho.
Aquilo tudo lhe causara muito estresse como nenhum outro negócio que anteriormente fora fechado. Ela só entendia que o comprador era o culpado, ela não conseguia parar de pensar naquele homem.
Foi para a saleta ao lado, serviu-se de um café, sentou-se numa poltrona de coro cru, disposto perto da máquina.
Aquela sala era muito aconchegante, que, por alguns instantes, até conseguiu relaxar. No entanto, o sossego durou pouco. logo, ouviu vozes vindo do corredor, e seu cliente abriu a porta, entrando acompanhado de mais dois colegas de trabalho, e a conversa fluiu, sempre relacionado com trabalho.
Ela pouco falou, e de vez em quando, se deparava com um par de olhos verdes olhando em sua direção. Naquele dia, ele se vestira com esportividade. Estava muito mais atraente que quando o conhecera: vestia uma camisa cor de vinho, acompanhado por uma calça mais clara, quase que da cor salmão. estava sem a gravata, com a manga da camisa enrolada até os cotovelos,  com a camisa aberta , mostrando pelos dourados que se perdiam entre os tecidos.
O sapato era um tanto menos chamativos, embora simples, mantinham uma limpeza impecável.
Ficou admirando seu cliente por alguns segundos, até ouvir uma voz dirigida diretamente á ela: - Oi!, está me ouvindo? Parece estar num outro mundo!
Anita deu um salto na cadeira, quase derrubando a xícara que estava segurando entre os dedos,
- Que susto! Não estou dormindo, nem me encontro fora do mundo, só estou um tanto cansada.
Ele deu aquele sorrisinho encantador que derrubou toda a sua defesa.
- Eu estou esperando a resposta!
- Sobre? -  fez a pergunta sem pensar - Desculpou-se logo a seguir: - Ah, sim! Eu aceito a sua proposta, só que, com uma condição.
- E qual é essa condição?  perguntou meio decepcionado: -  que será que viria agora?  Tudo poderia  se esperar de uma mulher, ainda mais de uma que parecia viver nas nuvens.
- Eu quero ter carta branca, já que não vai estar por perto, eu quero todas as condições necessárias para realizar esse projeto.
- Claro!-  ele respondeu com segurança na voz:- Nem poderia ser diferente, já que estou colocando a minha vida em suas mãos.
- Sua vida? - ela se viu balbuciando:- por acaso aquela casa representa a sua vida?
- Sim! ele disse com uma certa tristeza no olhar: - a partir de agora, só viverei para ela e para os negócios.
- Não sei se deveria dizer isso, mas, você me pareceu meio frustrado.  O que realmente aconteceu para que o seu casamento não desse certo?
- Ele sorriu , e com uma certa displicência no olhar foi lhe contando o ocorrido: - A culpa foi minha. Minha esposa sempre foi muito dedicada ao casamento, embora tivesse que trabalhar, não porque precisasse, mas, para que se distraísse, sentindo-se importante como pessoa. Só que eu, vivia para o trabalho e acabei  deixando-á um pouco de lado. Quando percebi, já era tarde.
Ela já estava interessada em outro, uma pessoa que a completava, que cobria todas as suas necessidades. Ao conhecê-lo eu entendi o por quê.
- Você conheceu o amante de sua esposa e se deu bem com ele? Como isso é possível?
- Não era ainda o amante, embora tivessem um relacionamento de amizade já ha muito tempo,
antes de mudarem a condição do relacionamento, eles foram muito sinceros, vieram falar comigo, e sem muita delonga expuseram o acontecido.
Estavam se apaixonando e pretendiam ficar juntos. e eu era um empecilho.
Então, para a boa saúde de todos, optamos, de comum acordo, que o melhor seria nos divorciarmos o quanto antes.
E isso vem ocorrendo já á algum tempo, embora ainda moremos na mesma casa.
- Nossa! que história! E como se sente diante disso?
- No começo, não vou negar, isto me abalou profundamente. Eu não me dava conta de que o nosso relacionamento já havia  se esgotado. Há muito já não havia muito á se falar, nem á compartilhar, exceto coisas banais. e alguns encontros românticos, sem muita emoção, só por comodismo mesmo.
- Que triste!
- Sim!  muito triste!  É nisto que dá o casar-se quando se é muito jovem.
- Faz quanto tempo que são casados?
- Quinze anos, eu acho!
- Vocês tiveram filhos?
- Não! E não foi por falta de querer. Não tivemos, porque não tivemos. Ela tem um problema nas trompas, e não pode segurar o feto.
Já sabia disso quando me casei com ela, e isso não me afetou no primeiro momento, como já te disse:  Quando se é jovem demais, a gente não para para pensar, e sempre está tudo certo.
- E agora, o que você pretende fazer? - Quero dizer:- depois que se mudar para cá.
- Ainda não sei direito. Só sei que pretendo recomeçar, Sou jovem ainda, e tenho que pensar!
- Vai mudar de atitude, ou pretende viver para trabalhar?  Se for assim, nem adianta se casar novamente.
Falou assim, mais para jogar verde e colher maduro. Já estava sonhando em ocupar o lugar vago.
- É óbvio que aprendi a lição, começou a falar:- Se me casar novamente, eu acho, que preciso pesar os prós e os contra. mesmo porque, já tenho o suficiente para pensar em dosar o tempo.
E falando nisso. que tal um drinque depois do trabalho para comemorarmos o negócio. Podemos chamar seus amigos, ou sairmos sozinhos, como preferir.
- Sozinhos?  se viu a perguntar:
- Sim! porque não?
- Afinal, somos nós que realizamos o negócio, não teve interferência de ninguém. a sua simpatia me fascinou de um jeito tão forte, que me vi quase que obrigado a comprar a casa. Deu uma boa gargalhada e acrescentou em seguida: - brincadeira!
- Mas ela viu sinceridade em seu olhar, e foi por isso que aceitou o convite, pediu que á pegasse lá pelas nove horas da noite, em frente a sua casa.
Ambos se despediram,  ele foi para o hotel, sentindo-se realizado, ela foi comemorar com os amigos a efetuação daquela venda.
Trabalhou o restante da tarde no escritório, pois ainda tinha muitas tarefas pendentes, depois foi para casa um tanto ansiosa com o encontro de logo mais á noite. deu uma ajeitada em seu apartamento, levou o lixo para fora, tomou um banho, para depois relaxar um pouco deitada no sofá com a televisão ligada. Não conseguia prestar atenção em nada, pois a sua cabeça se concentrava na figura linda de seu mais novo cliente, pensando se valeria a pena mudar-se para a nova casa.
Ligou para a sua mãe e lhe contou as novidades, Escondendo a parte mais intrigante: A paixão eminente pelo novo patrão.
Lá pelas oito horas da noite começou a se enfeitar:  Usou maquiagem, frisou os cabelos, passou um perfume pouco usado por ser muito caro, Colocou seu melhor vestido, seu mais novo sapato. e se pôs a contar os minutos, tanto a agitação que lhe tomara conta.
Enquanto isso, Daniel também se perfumava, coisa que ele fazia com muita frequência. Mas se viu a tomar um certo cuidado com a escolha, porque,  para ele,  seria uma ocasião muito especial. Durante quinze anos não teve nenhum envolvimento romântico com nenhuma outra mulher que não fosse a sua esposa. E poucas vezes sentiu-se tão amedrontado como se sentia agora. Parecia que a vida voltara a pulsar de uma outra forma em seu peito, como se voltasse a respirar com mais intensidade e muito mais prazer.
Fez a barba, escolheu a roupa, os sapatos, até comprou um novo perfume, queria que fosse diferente, Nada a ver com o homem do passado. Agora, a mudança seria total em todos os sentidos, não queria correr riscos com o novo relacionamento. nem sabia ao certo se seria correspondido, mas, sentia que, as coisas se sucedessem dessa forma, pelo menos era essa a sua vontade.
Pensara muito sobre o assunto. Não queria precipitar-se, mas, parece que o destino faz tudo as avessas do que se planeja, Pelo menos, era isso que o seu coração transmitia. bendita hora em que resolveu mudar de Estado.
Olhou no relógio que marcava oito horas e vinte minutos. Pediu pelo interfone que o manobrista tirasse seu carro da garagem do prédio onde estava instalado. O hotel nem era tão sofisticado, mas, tinha lá suas mordomias, Tudo o que o dinheiro compra! - Pensou:
Oito e meia, ele já entrava em seu carro, oito e quarenta, a buzina soou lá embaixo. Anita se olhou no espelho mais uma vez, gostando do que via. Olhou pela janela, constatando que ele havia chegado.
Seu apartamento ficava no segundo andar, levaria apenas alguns segundos para chegar lá embaixo. No entanto, resolveu fazer um sinal para que ele a esperasse, pois não queria demonstrar muita ansiedade.- Mulher tem que se fazer de difícil, pensou:
Foi para o banheiro e se demorou um pouco sentada no vaso, para acalmar a tremedeira e desacelerar o coração que batia mais rápido que de costume.
Depois saiu, chamou o elevador, entrou sorrindo para um casal que ocupava o mesmo espaço. - Boa noite! falou:
Os dois a cumprimentaram,  a moça não parava de olhar para ela, enquanto o moço disfarçava com medo de levar um beliscão.
Ela percebeu e sorriu por dentro satisfeita, se causava essa impressão nos desconhecidos, por certo agradaria seu acompanhante. Era só o que almejava!
Ao abrir a porta que dava para a rua, deu de cara com ele a esperar-lhe. não esperava nada diferente, já notara que era um perfeito cavalheiro,
Ele tomou a sua mão e deu-lhe um beijo no rosto. Ela se encolheu um pouco diante da emoção que inundou o seu ser. Não esperava aquele comportamento, afinal, nem se conheciam direito e ela estava acostumada a tratar gente pouco conhecida com um tanto de formalidade no primeiro momento.
Ele continuou segurando sua mão entre a dele, conduzindo-á até o veículo estacionado mais adiante.
Caminharam em silêncio, não querendo quebrar aquela sensação gostosa que o leve toque proporcionava.
Só então soltou a mão dela para abrir a porta do carro para que ela entrasse. enquanto dava a volta até a segunda porta, ela se concentrou em se habituar com aquele conforto do qual nunca estivera acostumada.
Nenhum rapaz a tratara com tamanho cavalheirismo, nem tão pouco sentira aquela sensação de que o mundo parecia rodar em torno dela, deixando-á tão vulnerável a ponto de parecer boba ao seus próprios olhos.
Sem aparecer nenhuma palavra melhor para dizer. Quando ele sentou-se ao seu lado, ela apenas conseguiu balbuciar: - Muito obrigado!
 Ele não respondeu, apenas olhou em sua direção com faíscas no olhar. Para depois lhe dizer suavemente: - Você está deslumbrante!
- Você também está muito bem! - devolveu-lhe o elogio:
Ela não pode deixar de reparar em todos os detalhes que compunham a imagem daquele homem sentado ao seu lado. Estava vestido com esmero: Calça jeans da cor preta, camisa azul claro com as mangas dobradas nos punhos, sapatos mocassim de cor clara, cabelos bem penteados com uma leve onda sobre a testa, destacando alguns fios brancos sobre as têmporas. Um perfume enebriante enchia o ar, de uma fragrância ousada parecendo uma mistura de couro e cacau, com uma leve sensação de frescor de lima e de manjerição. nada parecido com o perfume que ela estava acostumada a sentir nos homens que conhecera, mostrando assim, a sofisticação que jamais vira em outra pessoa.
O garçom se aproximou com uma garrafa de vinho tinto malbec, que delicadamente, despejou em duas taças de cristal.
Ele pegou a taça erguendo-á para um brinde, ela, automaticamente, o imitou, perguntando:- A que brindaremos?
- Ao futuro!  ele disse:  acrescentado a seguir: - Tim- tim! - sorvendo um gole e suspirando de prazer.
Ela fez o mesmo,  a bebida desceu aquecendo-á ainda mais, sentiu uma onda de calor invadindo seu corpo já aquecido pela emoção, queimando-á por dentro, até aparecer em sua testa algumas gotinhas de suor, que ela, imediatamente fez questão de secar com a palma das mãos.
- Está muito calor para tomar vinho, ela disse: - Preferiria algo mais fresco.
- Imediatamente ele chamou o garçom.
- Por favor! Acho que errei no pedido, a dama prefere algo mais fresco.
- Não! ela se viu a replicar. - Falei por falar. O vinho está muito bom.
O garçom ficou ali parado, esperando os dois decidirem.
Anita fuzilava o companheiro com o olhar, após alguns segundos em silêncio, ela despejou sua fúria: - Podia, ao menos, conversar comigo para tomar suas decisões, não?
Ele a olhou com surpresa, estava acostumado a tomar decisões sobre tudo, mas, viu,  que com ela, isso não funcionava. Notou que estava lidando com alguém não manipulável, cheia de dignidade e auto-estima.
Após ouvir o comentário de Anita, o garçom se afastou para que eles tivessem o seu momento de discussão a sós.
Ele levantou as mãos para cima, num gesto que pedia paz, para depois falar pausadamente:- Peço desculpas, não queria te chatear. Estou acostumado a ir em restaurantes e pedir uma garrafa de vinho, não importa a estação, eu gosto!
Se não se importar, pode pedir o que quiser. Não é obrigada a me acompanhar.
- Sem problema, ela disse: - Eu é que peço desculpas. Não deveria estar reclamando de nada, está tudo perfeito!
- Bom! Para compensar a minha falta de companheirismo. Disse Daniel: - pode escolher o prato!
Ela sentiu-se mal, depois do ocorrido, e preferiu deixar tudo ao encargo dele, só que, desta vez, fizeram a escolha juntos.
Enquanto degustavam uma comida gostosíssima, conversaram sobre muitas coisas, ele lhe contou que trabalhava em uma companhia  de agro negócios. Onde produzia sementes, exportando para outros países, por isso viajava muito.
Como diretor, nunca deixava que outros tomassem decisões por ele.. - Até aquele momento, acrescentou:  em tom de brincadeira.
Ela sorriu também, entendendo o que ele quis dizer; sentindo-se satisfeita pela forma em que á incluía em sua vida.
Depois de terminada a refeição, ele a convidou para dar uma volta. Ela aceitou de imediato, querendo prolongar o encontro, talvez, até quebrar o gelo e partir para um outro tipo de intimidade.
Ele segurou em suas mãos logo que saíram da mesa. Ela sentiu uma vibração ir de encontro ao seu querer, como se estivesse se conectando consigo mesma.
Ao sair á rua, ele parou,  passou as mãos pelo seu cabelo, parando ao longo de seu pescoço, causando um prazer inigualável que a fez estremecer, seus lábios se uniram como um imã potente, e o mundo pariu sensações antes nunca sentidas.
- O tempo parou:  nenhum dos dois saberiam dizer em que tempo as caricias começaram, nem quando terminou. Olharam-se nos olhos, e ele disse baixinho em seu ouvido: - Não tem ideia do quanto esperei por isso!
- Nem você tem ideia do quanto esse pensamento me abalou!
A noite prometia,  passearam de mãos dadas, se beijaram um milhão de vezes, até sentirem que já era hora de se despedirem, Ele á levou até a porta do prédio, ela ficou com vontade de pedir para que ele subisse, mas engoliu em seco, deu-lhe mais um beijo, desta vez, menos voluptuoso, soltou as suas mãos das dele, bem devagarinho, quase a protestar, e só então, abriu a porta e se afastou rapidamente, sem olhar para trás.
Ele ficou ali parado, sem se mexer, paralisado por uma sensação de perda, quase á asfixiar-lhe.
Deu meia volta quando viu a luz do segundo andar se acender. voltou para o carro, e foi embora.

Por:  Hertinha Fischer

Primeiro capitulo de um romance.






































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