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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

domingo, 27 de agosto de 2023

Vintage retrô

 Tinha o olhar voltado para aquele cavalo que troteava, elegantemente,

a minha frente, assim como o cavalheiro (cavaleiro) que segurava as rédeas,

tão elegantemente, como o aquele trote.

Havia certa magia no ar, a mulher que o seguia, assim como o cavalo, seguiam o mestre

como quem segue a fidelidade.

A estradinha que fora aberta entre arvoredos e montes, estava entrecortada: Ora, soberba e alinhada, ora, humilde, serpenteava.

Em alguns trechos, barrancos imponentes a cercavam com seu corpanzil em arrogância, derramando pedras e terras por sobre ela, a esmagar  suas entranhas.

De repente, tudo se transformava e o modo de ver era outro.

Suave ramas a saudavam, deitadas sobre seus pés, como quem mostra um caminho diferente que a leva em frente. Quem foi o autor daquele deslumbre. Quantos homens trabalharam, incessantemente, com suas pesadas ferramentas para fazê-la tão preciosa?

E o cavalo seguia a corda que seguia o guia, que sabia que a mulher também o seguia, como quem confia. E a estradinha se superava. Em cada curva, subia ou descia.

Assim como a vida que nunca trava, sente a fava a seu favor, nascendo e crescendo entre pedras e suor.

A mulher que seguia, de olhar esperto, coberta de poeira, é poedeira de sonhos. Espreita a novidade com olhar de menina, a deslizar na felicidade.

O homem, no entanto, com passos confiantes, segura as  rédeas de seu destino, tem em mente algum lugar pra chegar.

Tudo a mercê do tempo e passos, não há fracasso, só o embaraço do cansaço.

Seguindo os trilhos que se formavam, para novamente se fazer mais aberta, a estradinha aparecia do outro lado.

Até que a cidade chegava, cheia de gente e casas, tão travessa e obediente, ao mesmo tempo, misteriosa e perversa, a derramar suas ruas como enxurradas no deserto.

As roupas penduradas ao alcance das mãos que se davam a troca de papéis e os frutos, sem folhas ou caules, da mesma forma se formavam uma em cima da outra, nascendo em tábuas enfileiradas, cheias de cor e fascínio.

O cavalo ficava fora, amarrado a distância, a coicear o ar.

Até que a tarde chegava, para trazê-los de volta a cirandar, outra vez, no mesmo lugar, agora, sobre a luz do luar.


Hertinha Fischer.







 


quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Fora de contexto

O vento cessou, chuva na certa.

Quando venta aqui dentro, é como andar a cavalo,

corcoveia.

Agita-se a emoção que muitas vezes nem tenho, mas tento!

Sou  mestra em me sentir culpada, juíza de minhas causas.

Estou sempre devendo, embora não deva nada. Nem amor!

Faço minhas preces de gratidão, usando as minhas mãos, sempre

atrás de ocupação, para não me sentir tão desleal.

Cansaço? que cansaço! me dou bem com o corpo dolorido.

Enquanto não conspiro contra meu corpo, meu espirito fica agitado.

Ainda bem que tenho o travesseiro para me conter e uma boa

noite para sossegar.

Soo-me desafinada, como cordas de um violão descansado.

Já bordei e cortei pano, nunca consegui bons resultados. Quero tudo para ontem.

Invejo quem gosta da noite. Eu a ignoro.

Queria entender o amor dos outros, para definir os meus. Me acho ( nesse sentido) um

pouco neutra,

Acredito que sou muito intensa e lucida, para cair no irreal dos fatos.

Não acho que as pessoas são chatas, só não descobriram a forma certa de se ter uma boa conversa.

Gosto de saber de tudo, menos de coisas que todo mundo já sabe ou daquilo que não me sustenta.

Detesto assistir o mesmo filme duas vezes. Só poema e poesia nunca me cansa!

Nem sei por que escrevo: se é para me isolar, ou para me servir de retiro.

Aliás, tudo que faço é trabalhar, o melhor retiro de todos os tempos.

Hertinha Fischer








quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Riscos, ciscos e rabiscos

 Meus medos me afinaram a ponto

de caber-me em carretel.

Miudinha esperteza, 

que de perto nem é fleche

só rabiscos de quem não

 sabe escrever.

Fui mansa, cheguei quase nua

nesta fase quase lua

Chinelinhos de cordão

de tanto andar virou sertão

Lá se escondia no dia que nem era dia

Só imaginação de uma pobre noite

enluarada que se rendia

Tudo as pressas, peso e medida

que se basta numa mão

só palha seca e bastão

Infinito na ilusão.

Cabe aqui uma senhorinha,

olhar raso de emoção

folha de loro atrás da orelha

perfume de manjericão.

Hertinha Fischer




terça-feira, 22 de agosto de 2023

ilusionista


E as vestes tão simples varria o roçado, 

De lado a janela que se abria por dentro

De tão triste a enxada engolia a foice

Em cima a febre do seu firmamento

Raposas uivando como um lobo

em ninhos cobertos de cedro e capim

seus ovos se iam sem nenhum pecado

na terra dos deuses tupiniquim.

De tudo que amansa se rende a praga

rostos cobertos de pano carmim

Te leva a fome onde não tem nada

se dorme em cama feita de capim

Nem sempre a farsa é pobre e burra

as vezes se deita lá nas alturas

Homens que rezam no alto dos montes

trazem em si, imensas ranhuras

Fuja daquele que empresta favores

Nem sempre o bem é aquilo que vemos

boas palavras também é razão 

para tirar aquilo que temos.


Hertinha Fischer



terça-feira, 15 de agosto de 2023

Engolindo o amanhã

 Humanos entre migalhas

espirito impuro que se espalha
come de tudo e nunca se farta
fome de fé e sua falha.

Sublime é o céu em entardecer
miúdo se passa sem perceber
o escuro andando e tropeçando
na falha do sol entorpecer

A destra descansa em súplica e bonança
na esquerda da vida nunca esperança
o veio que se abre nunca é ouro
é corpo moído em seu matadouro

Lá onde se vê alguma leveza
é só alegria sem aurora e sua presa
nada se encontra nem se vigora
é só o segredo na sutileza

Bem largo é o hoje na substância
que se vive na pressa logrado na ânsia
o amanhã é fugitivo e encantado
vive cercado de inconstância

Se a rede te pega só resta lamento
o tempo te leva em seu firmamento
a grande vantagem também é perigo
a terra te engole quando termina seu tempo.

Hertinha Fischer

domingo, 6 de agosto de 2023

Aconchego da solidão

Estou no ausente, o ausente é belo
É lá que nasce um sol infinito sobre um lago
numa casinha que não tenho que disputar,
onde a felicidade é um mago

Faz-me completa sem mediações
reveste de paz uma nuvem de algodão
Me dá o que preciso e
leva pra longe a solidão

Capaz de serenar no silêncio copioso
tudo em folha de papel
Onde a fidelidade e felicidade
não cabe num anel

Ouço mais o canto dos pássaros
vejo mais o infinito
sozinha e bem descansada
só sinto o que é bonito

Longe das frustrações de palavras
aconchego de ouvido
onde a lua é namorado
e o dia é marido.

Eu me entendo comigo
o comigo me faz companhia
me contando tantas histórias
longe de qualquer perigo.

Hertinha Fischer