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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

sábado, 26 de março de 2022

Escravo da canseira

Cansada das algemas na alma,
do carcere da musica.
da cadeia do esgotamento.
Do policiamento da palavra,
do camburão da certeza,
do juiz do coração.
Cansada da prisão em domicilio,
da argola no pé do senso comum
Do chicote da mentira,
da culpa da verdade.
Cansada da senzala da amargura,
Das amarras do entendimento,
da fome do amor.
Cansada da foice a liberdade,
Da mascara de ferro a expressões
Do açoite as virtudes.
Cansada do castigo ao aprendizado,
do machado cortando a experiência.
Cansada da palmatória da justiça
Da escravidão da lógica
Do algoz em ascensão.
Cansada do vira mundo das guerras silenciosas
Da tortura da malicia
da condenação sem razão.
Hertinha Fischer.

Liberdade da razão

 Não quero mais nada....

Nem noite nem dia, nem ruas, nem estradas. - Só quero o aconchego de quem vive as horas.
Não ha mais desejo, só aquilo que me constrói e me alimenta,
até que se precise da energia.
Não ha mais sonho, por que o realizar é muito mais divertido.
Não ha mais amigos, só o doce sonar do recíproco cuidado.
Não ha mais dor, o amor assumiu tudo como compreensão.
Não ha mais modelo, o que surge, sempre surgiu em todo tempo.
Não ha mais lucro, o crédito é mais que suficiente.
Não ha mais ensino, todos aprendem a sua maneira e se levam em- sem ou com - conhecimento
Não ha mais expectativas - A não ser a de que a justiça se fará.
Não ha nada, nunca houve nada. Se houvesse, haveria tempo para todos e todas as coisas, que morrem e são enterradas para um dia
despertar em ruína ou ascensão. Deus o sabe! De onde vem os cogumelos? Em que lugar fica escondido o fogo do vulcão? De onde sai o vento - quem sopra? Como os macacos aprenderam a subir em árvores? Por que só os humanos tem consciência de bem e do mal? Quem os ensinou, ou já nasceram sabendo?
Como o dinheiro substituiu a troca sendo apenas um papel?
Qual é a importância da vida, se a morte. algum dia, chega para todos?
A roupagem é realmente necessária, ou nos vestimos para esconder a nossa vergonha? Já que tudo faz parte do corpo - por que é necessário esconder uma parte?
Ai, está! A consciência dita as regras. A razão liberta!
Hertinha Fischer

quinta-feira, 24 de março de 2022

Amar amor amei amá-lo-ia

 "Se este amor for um pasto, ornaremos com bezerros de raça. Se for um jardim, adornaremos com flores de diversas cores, se for um rio, cuidaremos para que nele, belos peixes vivam..."

Ainda que oferecessem o mundo para destruir esse amor, continuaríamos pobres, se ofertassem todas as alegrias do mundo, na tristeza sobreviveria.
Hertinha

terça-feira, 22 de março de 2022

A curva do menoscabo

Ha um mortal silêncio no lugar da sabedoria.

Não se ensina, não se complementa, nem se repassa.

Ordem desordenada do nada a nadar em lama.

O valor da aprendizagem desvalorizada

Preguiça ou inveja?

Incompetência de quem diz saber e nada sabe.

O tempo me sonda entre portas semiabertas 

Quase a  sumir dentro dele mesmo

A mentir descaradamente sobre as escalas.

Diz ter muito, sem dar nada,

O saber na ignorância é tudo

O saber da intelectualidade é nada

Tudo o que acha que sabe, outro contesta,

e quando contesta desorganiza.

Ouvir conversa, dizer que se diz sem dizer, ou

que não diz, sem ouvir, é o lema da atualidade

mais desatualizada que antes. Mais arrogante e pretensiosa

Onde se abria caminho,  agora se fecha.

Toda a ilusão ganha poder, enquanto se rebaixa a razão.

No ziguezague caminha e no ziguezague desaparecerá

e na curva da loucura renascerá. Sei lá?

Hertinha Fischer






sexta-feira, 18 de março de 2022

O reverso

 Já descaminhei, caminhando - já descansei, me cansando.

Já desamei, amando - já sorri, chorando.
Já me doí, doando - Já me doei, tirando.
Já me alegrei, sangrando - já me entristeci, sarando.

Já caí, me levantando - Já me levantei, cambaleando.
Já me achei vagando - já me perdi voltando.
Já ensinei, falseando- já aprendi, revidando
Já desfiz, arrumando - já construí, derrubando

Já fiz, errando - já desfiz, acertando
Já vivi a esmo - já morri no mesmo
já gritei no silêncio - já me calei no grito
Já prendi em liberdade - já libertei em grade.
Hertinha Fischer

Abiscoitando o viver


Tão entendida de calçada, estava, que a solidão da rua

parecia um pano de fundo. Olhava as coisas descobertas, olhares discretos estampados nas janelas.

O silêncio pairava no ar, como uma pombinha sentada num poste, sem nenhum motivo que não fosse descansar.

Um vai e vem, na estupidez, de quem nem sabe para onde segue, ou sai, ou entra?

Tudo em sua forma mais vil, como nuvens que se encolhe e se recolhe a se desenhar e se apagar.

Dentro dessa expectativa, mora um eu, que se desintegra, no auge da esperança. Um eu, abarrotado de certezas, que vai se dissolvendo, enquanto procuro.

Em um certo momento já fui, já sonhei, já realizei -  coisas que hoje nem me lembro mais. Os instantes são felicidade ou infelicidade.

O ar expelido nem é ar, só o que entra, oxigena, o que sai, sai outra coisa que não é ar - mais envenena do que traz benefício.

E a menina embala a boneca de porcelana, e o futuro do momento, seria a vivência do momento do futuro. Que de futuro passa a apenas instantes entre outros instantes de agora.

E o agora desponta, sobremodo, obscuro, como aguaceiro encontrando o seu caminho e no caminho do vento se distrai.

Antes de ser, de onde vim? O ser, seria, só células, ou as células compõe um ser? Ou somos livros de capa dura, cuja essência se encontra encoberta nas páginas que ainda não li? Ha alguns dizeres que não dizem nada, e algumas respostas nas páginas em branco, por que, o que não é  -  é mais fácil de descobrir do que aquilo que muito se expõe.

Viver sempre foi uma incógnita. Ou se morre ainda jovem, na flor do tempo - ou se vive até não poder mais? O tempo é dono da gente até que ele mesmo nos tome. E quando nos toma, nem tempo, nem contratempo nos mostra como foi.

Assim como aprendemos a usar a colher, para preservar as mãos, ainda usamos as mãos para segurar a colher. ela não toma o alimento sozinha, nem leva o conteúdo até a boca. Assim, também dependemos da razão para entender a desrazão. Sem razão estamos todos sujeitos a loucura que a tudo trastorna. 

A vida em si não encontra resposta para a morte, embora, a certeza da morte seja a mais sensata. Certa vez ouvi de um médico:- Não tem mais nada a se fazer!

Chorar uma causa perdida, é  outra causa perdida, afinal, ninguém revive uma situação, mesmo que se regue com lágrimas. A lagrima consola, mas não faz milagres.

Lacrimejar não é o mesmo que chorar, pois, um sente o que o olho sente, o outro, o coração. Só uma força menor que a gravidade pode jogar as coisas para cima. Uma pena, por exemplo: pode subir com um pequeno sopro de vento, Já um vento forte não consegue jogar a água para cima. mesmo com tanta leveza.

E os olhos de menina se esbugalhava por detrás da porta, enquanto cochichavam coisas proibidas, de imediato, sentiu uma certa vergonha de ser espiona, para depois concluir, que, as vezes é bom saber das coisas proibidas as escondidas. Podia se envergonhar a vontade, corando e sorrindo, sem que sequer percebam que ouviu.

E ouviu cada palavra que disseram, só não compreendeu o por que de esconder certos assuntos pertencentes a vida, que, por certo, em algum momento ficaria, não menos chocada, em descobrir por si mesma. A pouca idade, diziam: como se tivessem muito, Tinham uns vinte anos a mais, e se achavam as sabedoras de tudo, enquanto, ela ficava sabendo de tudo, por que a porta lhe contava.

Homens já á olhavam com um certo interesse, que mostravam através dos cantos dos olhos, espremidos, em meio a densos pelos das sobrancelhas, que ao olhar para ela, subiam e desciam, como se ela não percebesse, Era esperta demais para escancarar sua sabedoria, antes que soubesse que ela sabia e percebia, ela já virara as costas, rindo por dentro como uma mulher madura o faria de frente.

São tantos os caminhos e encruzilhadas  que a vida abre, que a gente se perde; ou  perde de vista, ou se perde de onde ou perde-se de vez. Me lembro de certo tempo, em que se abria uma picada na mata, para fincarem postes que levava energia elétrica para as grandes cidades, Um poste, em particular, quase nasceu em nosso quintal. O quintal não existe mais, nossa casa também foi derrubada, mas, o poste continua lá, como se fosse eterno. Olhos que o viram, se fecharam para sempre. Pois o vai e vem do tempo - Se é que ele vai ou vem, apagam todas as marcas.

Dona Vicentina, uma mulher ranzinza de tamanho, com uma força descomunal, fazia dinheiro com seu pilão de madeira talhada. O cocho recebia a benção da água, que no sobe e desce do monjolo , energizava engrenagens invisíveis, para pilar o milho que, magicamente, se tornava farinha.

Em tempos de guerra o melhor é recolher a língua e ficar quietinha, pois quem mais perde é quem não tem nada a ver com isso. Deixar que os poderes se mordam sem arrancar muita carne da gente. Duas figueiras podres podem não cair ao mesmo tempo,mas, um dia, as duas,irão ricochetear o chão.

Minha mãe era uma mulher como poucas, embora, as mulheres, daquela época, fossem de boa linhagem - ela, sem saber ler, era a que mais lia nas entre-linhas. Entendia de tudo um pouco e nunca deixava os is sem pingos.

De minha parte, aprendi muito com ela, a não escrever temas proibidos, pois, nunca saberei a quem atinge. Não quero ser condenada por aquilo que entendo ou defendo.

O homem tem como único objetivo fazer do amor o seu favor. Amor não se faz, embora, digam que o amor brota na cama e morre tão logo se revire os olhos. Coitado do amor - é apenas um relance e depois morre e renasce, tão logo o desejo se acenda ou se apague. É um nascer e morrer, nascer e morrer.

Fico muda de espanto quando me deparo com a alegria com que o amor morto desperta, para depois morrer de novo e de novo, Parece que gosta de se aparecer. 

Ha tanto na minha trajetória para contar que não caberia num livro. E tantas outras memórias apagadas.

Prefiro a constância do crescimento, do que tudo despejado num balde de ansiedade, onde transborda a insensatez de achar que se pode crescer de uma vez, aos atropelos, como se jogando tinta numa parede, possa parecer um bom trabalho, ou, apenas empilhando tijolos, possa fazer uma casa.

Sempre me achei esperta, esperta até demais, que, as vezes, até extrapolei na compreensão das coisas - amando o que não deveria amar, e desprezando quem me amava de verdade. Algumas vezes enganei, noutras fui enganada.

E assim se fecha o ciclo das amizades, do amor, da vida. Quando se atinge a maioridade da alma, a alma se despede de tudo o que achava que valia a pena desperdiçar tempo e delicadeza. Um adeus sereno e delicado, como pétalas que se deixam levar pelo vento.

Hertinha Fischer