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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Desabafo

Noite de quarta feira cinzenta e fria se derrama
sobre tudo.
Só mais um dia que ainda posso contar.
Um a mais e se houver um amanhã
e  se ainda estiver sóbria, será uma quinta feira. Se fria?
não sei!
Estamos atravessando um deserto, talvez, o pior deles nos últimos tempos.
Embora saiba que já houve outros tempos, tão mais escassos que este,
só temos ideia do agora, porque é neste tempo em que estamos á viver.
Muitos temem o pior, sem saber, de fato, o que é pior.
Outros já enfrentaram terríveis guerras, quando o homem procurava
por lugares desabitados, ou até mesmo, quando batalhavam por poder,
e ainda não nos acostumamos com essa historia, que, de tempos em tempos, 
temos que enfrentar.
Tudo muda a todo instante, um segundo  basta para nos colocar em xeque.
Quando penso de onde vim, me aqueço por dentro, constatando que se a gente
seguir o curso, acreditando que a vida leva cada um em seu momento para
onde ela quer, e consagra aqueles que tem os pés no chão, sem exigir muito
dela.
Vou indo, seja de que forma for: as vezes saudável, as vezes doente, mas, sempre
com a esperança andando na frente.
Sigo os passos de meu pai e minha mãe, que também seguiram os passos de seus pais,
que sem temores ou descrença, financiaram a família que hoje tenho.
Não tenho pressa, não tenho receio de nada, pois vivo a certeza de que sou como
milhares de outros, em vários lugares, lutando, ou melhor, trabalhando para sobreviver.
Até que se complete os dias, poucos ou muitos, já decididos para cada um.
Hertinha Fischer







domingo, 26 de julho de 2020

Poetizando-me

Aqui cheguei como
uma coisinha pequenina: Olhos de mar,
carretel vazio e sem graça.
A terra tão charmosa me abriu os braços,
saudando-me e coroando-me com alegria.
Foi, aos poucos, plantando em mim, suaves
sementinhas de bem-querer.
Ao lado, onde moram todos, me levou,
apresentando-me ao mundo das coisas,
que, aos poucos, ganhavam formas e nomes.
Sempre me lembrando das estradinhas simpáticas
que me enamoravam.
Flores se abriam na primavera, no outono, se despediam,
e ainda, como quem ama, abriam-se as estações dos frutos, para
que nunca me sentisse só.
Colheitas e plantio as beiras das estradas, enfeitadas por homens e enxadas, num frenesi de esperança e paixão.
Casas grandes e palhoça se misturavam em um labirinto encantado,
por onde jovens, velhos e crianças, brincavam de viver.
O poeta me escrevendo em letras delicadas, sublinhadas em papel
de veludo, tinta de cristais, assunto de gente grande.
O tempo tão vento, desvendando seus mais nobres segredos, impondo um mundo de medo, desenhando puras emoções.
Se derramava em mim, como perfeita biquinha, que em suaves gotinhas formaram um rio sem fim...
Herta Fischer.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

O mundo que desconhecemos

Muitas das noites, eu sento la fora
a sondar a escuridão dos ares, procurando por respostas.
Uma imensidão me cerca, composta por estrelas, casas
e nostalgia.
Fico imaginando os incontáveis organismos espalhados
na penumbra, cada um á realizar sua obra.
Também me manifesto no sentido humano, que, quase sempre,
vive, morre e não se questiona!
Me lembro de Jó, homem íntegro, que recebeu castigo sem merecer,
que ao sofrer suas dores, com lágrimas nos olhos, debulhava sua frustração,
uma a uma, buscando por respostas.
Questionava Deus, perguntando por que sofria tanto, por que nascera, se
não sentia mais nenhum prazer em existir?
E Deus lhes mostrava seu poder, dizendo que o homem faz parte, junto com os animais,
á um propósito muito maior, do qual nunca se ouviu falar.
E que somos como pedras preciosas, que precisa ser lapidada, para se tornar algo de valor.
Sinto aqui dentro uma impotência sem igual.
A partir dai fico imaginando que as dores provem de algo que é mortal, que toda energia subsistente
no universo, precisa de um corpo para se tornar visível.
E que todo corpo visível trabalha pra seu próprio sustento, que independe da energia , que sem o
corpo é capaz de existir.
Assim como tudo que há: eletricidade, vento, ou outro combustível qualquer,
que a partir do invisível se agarra á alguma coisa visível para se fazer presente.
Quando o corpo definha e já não consegue suportar seu próprio peso, ele morre, mas,  a energia
continua presa em algum lugar, onde Deus o guarda para uma outra estação.
Se não houvesse corpo, também não existiria mundo, assim como o conhecemos. Ou tudo o
que vemos é mera ilusão?
Sei que poucos são os que se dão conta, a maioria esta tão fixada em sobreviver, que não pensa que vai morrer.
Vivem arraigados em seus devaneios como se a vida não provesse da vida, como se morrer fosse o fim, mas, não é.
Não nos alimentamos de coisas mortas, portanto, é a vida que alimenta a vida.
E cada uma é preciosa, tanto, que Deus as criou em abundância, para aqueles que vivem e até para aqueles, que, aparentemente, aos nossos olhos, nos parecem inanimados.
A pedra se alimenta de poeira e musgos, A terra se alimenta das folhas e restos de outros corpos,   o ar se alimenta de muitos outros elementos que se combinam, a água também, e assim, sucessivamente.
Na natureza nada é desperdiçado ou criado para não realizar.
Estamos no topo da cadeia alimentar só porque temos consciência. Isto é, somos os únicos que trabalham com a razão.
Embora queiram dar essa razão aos animais, eles agem por instinto 
(impulso interior que faz um animal executar inconscientemente atos adequados às necessidades de sobrevivência própria, da sua espécie ou da sua prole.) Se eles não fossem dotados desse dom, não haveria reprodução, e por certo, morreríamos todos. porque um depende do outro para a subsistência.
Muitas pessoas diriam: isso eu já sabia!
Mas, nem todos sabem. Tanto, que nunca param para pensar e muitos acreditam que as coisas se fizeram sozinhas, que se agruparam, e que se adaptaram  e ainda se adaptam em suas circunstâncias.
Só por não considerarem aquilo que é impossível perceber ou tocar.
Hertinha










quarta-feira, 15 de julho de 2020

Cegos dirigindo cegos

Alcancei a plenitude do saber
Antes ficava aflita tentando mudar as pessoas, hoje,
me contento em tentar melhorar eu mesma.
Sabe o quintal alheio?
Não cabe, a mim, limpá-lo, a menos, que o outro
queira.
Se eu conseguir manter o meu quintal limpo, já está de bom tamanho.
O outro também precisa se exercitar, assim como eu,
mas, não precisamos nos exercitar todos á mesma maneira.
O corvo pleiteia por carnes putrificadas, o leão por carne fresca,
o carneiro por vegetais, ambos pleiteiam pela vida!
Então não ha grandes diferenças entre eles, á não ser, no modo com
 que foram projetados.
Certa vez eu assistia á um documentário sobre os felinos.
A mãe de um jaguar cuidava de três filhos: dois machos e uma fêmea.
Ela os deixava a sós na toca para sair em busca do alimento que todos precisavam.
Eles ficavam apreensivos quando isto acontecia, mas, parecendo que já sabiam da necessidade, ficavam, ali, quietinhos até que a mãe voltasse, e prontamente, saboreassem o elixir da vida, que fora tirada
de outra vida.
Eles foram crescendo em tamanho e esperteza, até, que, em determinado momento, a mãe os chamou para sair á caçar junto com ela.
No inicio da lição, ficavam parados, quietinhos em suas posições, á esperar pelo ataque.
Depois de algum tempo, já começaram a perseguir pequenos roedores.
Chegou um momento em que a mãe tomou o lugar deles, e foi ela a observar, enquanto os três enquadravam a caça.
Quando a mãe percebeu que eles aprenderam a técnica, enquanto eles saboreavam o prêmio da natureza, ela, simplesmente, virou as costas e foi embora.
Quando os três perceberam  sua ausência, ficaram um tanto desconsertados, mas, entenderam que era este o princípio da sabedoria.
E o mesmo fariam quando chegasse a hora deles.
Achei isto o máximo, e comecei a entender a vida de uma outra forma.
Somos tão arrogantes em nossas elucidações, que, ao invés, de absorvermos a sabedoria, ficamos ávidos para demonstrar isso para todo mundo.
Esquecemos que sabedoria mesmo é deixar a natureza de cada um servir seus propósitos.
Não á nossa maneira, mas, a maneira que tem de ser.
Isto é! Ensinando a base da vivência, e não a base de palavras.
Se nos comportarmos bem, fazendo cada um o que lhe cabe, para harmonizar a passagem, construído por princípios sólidos. Outros seguidores, através de bons exemplos podem absorver melhor o aprendizado. 
Não é necessário ficar apontando a ponte, como se fosse a única passagem, e sim, fazê-los conhecedores do melhor caminho, que não, necessariamente, será aquele pelo qual passou.
Se a pessoa quiser abrir um novo caminho, que seja! Será ele á enfrentar os obstáculos.
O final é o mesmo, tanto para o que aprende, como para aquele que nunca aprendeu, portanto, que cada um siga seu próprio trajeto.
Ha os que gostam de tomar banho, e há também os que nem chegam perto da água, ambos vivem, seja de um jeito ou de outro.
Por que ficamos tão obcecados por coisas que não podemos mudar, querendo dirigir um carro (destino de cada um) que não tem direção?
Queremos apresentar Deus aos outros e nem sequer sabemos o que lhe vai no íntimo?
Arrastamos o outro na presença de um deus falso, que se encontra na raiz de nosso ego, fatiado e degustado dentro do prazer de cada um, uma imagem falsa que traz muito mais doença do que cura.
Certa vez ouvi um relato de uma adolescente que dizia:- Disseram -me que Deus cura todas as doenças.
Então, rezei pela cura da minha mãe, e ela morreu, passei a não acreditar mais em nada.
Não falam a verdade, só dão falsas esperanças.
E quando falamos a verdade sobre a morte, ainda querem nos rotular sobre crença.
Estamos mal acostumados, fechamos os olhos quanto ao que acontece com todo mundo, quanto ao que pode acontecer conosco.
Traçamos uma linha imaginaria, mas, continuamos vagueando numa confusão.
E o que é pior, como cegos, tentamos direcionar os outros, achando que só nós encontraremos o caminho que sequer conhecemos. E acabamos todos no  mesmo silencio e frustrações.
Herta Fischer