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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

segunda-feira, 4 de abril de 2022

A alegria da alfabetização

 Minha letras nasceram pobres, vieram do roçado, das colheitas.

Minhas letras cresceram a míngua, sem meio termo, sem direção.

Minhas letras não ficaram soberbas, vieram do rádio, de boa canção.

Minhas letras vem da simplicidade, fogão a lenha num barracão

Minhas letras andam a margem, nem é profunda, nem inspiração.

Minhas letras andam a pé, sem escora e nem carrão.

Minha letras andam a cavalo, sem espora e sem cordão

Minhas letras é estado inteiro, não é escada nem corrimão.

Minhas letras estão cansadas,  dão impulso as próprias mãos.

Minhas letras são analfabetas, só são enfeites ao coração.

Minhas letras que não são ricas, nem são tijolos nem construção.

Minhas letras não almejam as estantes, só desejam o frio chão.

Minhas letras mesmo sendo abelha, não tem asas e nem ferrão,

Minhas letras são testemunhas da minha luta e oração

Minhas letras sou eu sofrendo a mutação.

Minhas letras mostram alegria do poder da alfabetização.

Hertinha Fischer



Volubilidade e emoção

 Uma lembrança suave como pena a voar com o vento.

Uma saudade feito nuvem de chantili

A voar no sistema sideral, estupidamente doce.

Vencido e domado como cavalo bravo a trotear

com rédias e cabresto.

Olhando o ar se deslocar sobre seus caminhos,

sem rastros, no domínio de si mesmo.

Sem mandante nem medida, ouriçado

pela velocidade com que o mar se revolta.

De frente com a frente, seja calor, seja frio

Apaixonado em seu leito, desmanda.

Junta-se e se separa, para renovar-se o amor.

Sem ideal que lhe cause danos.

Dirige um bem maior sobre as águas do oceano

Aprendendo a não se cansar

O que será saudade senão ausência?

O que será lembrança senão saudade?

Hertinha Fischer



A consagração temporária (devenir)

 Havia uma casinha, outra casinha e mais outra casinha, até que o tempo, desavisado de saudade, passou a desconstruir.

Havia uma família lá, outra família e outra família, até que o tempo, descompromissado de carinho, os separou.
Havia conforto lá, embora, não se achasse em meio. A feroz onda de mal-me-quer despetalou-á
Havia tantos porvir ainda em andamento, mas, o sentimento do tempo não consagrou os santos laços.
Havia vida, havia histórias, havia amizade, havia tudo que construía o imã da irmandade - entre risos e choros, faltas e abundâncias, coragem e fraqueza, silêncio e ruído, entendimento e brigas, como se imagina os reveses.
Não se cria sem desfazer. Não se compartilha sem quebrar ou cortar.
Outros aspectos sobre outros olhos, outras casinhas, talvez, a mesma, a olhar outros componentes, sem ser os mesmos, mas, com a mesma intensidade de corresponder.
Outras árvores em outros lugares, outro rio, talvez, mais elaborado, outra disputa, outros valores, sobre o mesmo pacto de viver.
Outros pés a percorrer o mesmo caminho, pegadas em desalinho, outras vozes a correr nas margens, outros contos a contar, sempre com a carismática das mesmas palavras com outros sentidos.
Outras formas de saber, outras novidades a socorrer, outras ondas a diferenciar, com a mesma vontade de ser.
Outros encontros na alegria, muitas vezes, em tristeza, Chegadas e partidas não esperadas nem refletidas.
Outras paisagens, outras paragens, outros personagens, outras histórias, outros momentos, outros carinhos, outros amores, outras edificações, outros semblantes, outros amantes, outros atuantes e a constante arte da mesmice do nascer viver e morrer.. Chacoalhados e derrubados em cada estação.
Hertinha Fischer.