Pela manhã do dia sete, do mês doze, do ano 1960
Logo que a madre se abriu, depois de nove meses de absoluto silêncio, surge, uma vida, lambendo as beiradas do tempo.
E ouve-se gritos, na perfeição de quem já se pode ver e ouvir. Alguém cujo rostinho se ajusta perfeitamente ao corpo, roseado de jubilo e poder. Já pronto para a agonia de fazer parte e ter que enfrentar as tempéries, empurrando espaço pra cima, enterrado na superfície fantasmagórica da gravidade.
Entre paredes espremidas, cama desarrumada, olhares apaixonados e uma doce harmonia á sintetizar a elegância da realização mais sublime do ser. Barriga satisfeita, seios fartos de bravura, desencadeando suspiros de alivio e prazer.
E a terra por debaixo de tudo, completamente segura de si, á semear culto, á receber seus méritos, quando tudo que carrega é suprido de divindade. Vitoriosa e perspicaz, dormita por sobre águas e fogo, sem se afogar e nem derreter. Entre as matas, se faz dilúvio, sem se misturar nem escorrer para fora. Sobe, discretamente, entre os ares, para depois, igualmente, não se perder. Pensa no fruto que a ela corresponde, dentro do tempo, que a tudo responde.
Dentro do tempo, onde vivem todos, na harmônica sabedoria da natureza que não deixa escape para quem vem. Sabe, portanto, que a vida, tão necessária, um dia precisa descansar, então, arruma um jeito de clonar espécies. E derramar bençãos, fincar raízes e sobejar esperança.
Um mesmo caule, uma só lembrança do que se foi, folhas e frutos á sobressair da mesma base, numa sustentação antagônica, uma simbiose perfeita.
A maturidade do princípio que nunca esquece o caminho, a inteligência muda que não muda, guarda-se para a eternidade. Compõe o inevitável e engloba qualquer espaço de tempo.
Hertinha Fischer