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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

sábado, 19 de dezembro de 2020

Inexato sentir

 Por ti, por te, poteia, coisa de poeta português.

A ti dou meu coração
Que coração recebes?
A mesma boca que beija, agora blasfema a face
que desejastes.
Faz-se noite face a noite, em ruínas desmorona
de desejos ao contrario.
O que parecia puro, na verdade,
transforma-se em infecto sentimento,
O inverso e reverso de amigo a inimigo.
Mascavado o translúcido, defeituoso o apurado,
corrompido o límpido, de paixão ao ódio deslavado.
Promessas não cumpridas, ação sem ação ou inércia.
Coisa de quem não tem no querer constância. Ora
conserta para quebrar, ora quebra pra consertar.
Sem forma e espumante, ondas arrebatadas no ar,
coisas de quem nunca soube,
o que significa amar...
Hertinha

Surdez

 Ao som sublime do silêncio em

que meus ouvidos descansam.

Mergulhada na sabotagem dos olhos,

que apreciam e não ouvem.

Nem o bater das asas, nem os cantos serenos de sapos na madrugada,

 nem as gotas que cantam no telhado, na seresta

da noite enluarada.

Toco a musica de minha alma,

lembrando letras tristonhas, já sem os acordes de violões

e guitarras.

Emudecidas e esmiuçadas dentro desse campo sem flores.

Foi-se o barulho das citaras, Foi-se o som que se ouvia.

Ainda vejo a figueira com seus frutos, o cipó que lhe abraça.

o balançar de suas folhas, só não posso mais ouvir

o canto que te faz dançar.

O tempo secou meus tímpanos, as cordas se esticaram a ponto

de rebentarem, os hinos, agora, são só barulhos indecifráveis,

 os cantos, gemidos e confusão,

Figuras dançam sem musica, musica, só dentro do coração.

Hertinha Fischer


Viagem de rima

 Pouco sei, pouco entendo, pouco faço.

E de pouco em pouco encho o pote.
As vezes vou a pé, as vezes de avião, noutras, vou
de bote.
Na maciez do caminho: lento, apressado, na correria
ou de trote.
Nas costas, em cima, embaixo, mitas vezes de reboque
Fazendo pirueta, dançando, me arrastando,
dando cambote.
Na luz, na contra luz, avermelhada, alaranjada, estampada,
mesmo que embote.
Com força, sem força, vigorosa e viçosa, tantas vezes fracote.
Levando a vida, a vida me levando, quando se cansa, me carrega no cangote.
Fazendo sonhos, refazendo, escondendo dentro de caixote,
Na mão, na contra mão, empurrando mesmo que capote,
Amparando, espezinhando, caçoando, no deslise ou no capote,
Na amizade, inimizade, rixa, tendo feita de mascote.
Perdas, incertezas, indelicadezas, o que mais vale, é o dote.
Hertinha

sábado, 12 de dezembro de 2020

Oferta

 Eu te ofereço sinceridade, mesmo que esteja na contramão de seus desejos.

Eu te ofereço sossego, um barquinho livre, vagando sobre o oceano.
Uma viagem no centro da vida, até o limite do fim.
Apregoado com palavras e sentimentos condizentes.
Te presenteio com a liberdade
Na máxima constatação do obvio
Te ofereço a lampada de Aladim, é só tocar no coração
que haverá uma alegria constante em meio ao caos
Te ofereço opções, sem, no entanto, separar-te de ti mesmo
E tempo para desgastá-lo
Muito tempo para ir e voltar, estarei a espera.
Hertinha Fischer

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Tempo para tudo

 Alguém já viu o dia reclamar de suas vinte e quatro horas?

Ele te dá tempo para tudo:
Tempo para adoecer e sarar.
Tempo para chorar e sorrir.
Tempo para se alegrar e sofrer.
Tempo para cair e se levantar.
Tempo para comprar e vender.
Tempo para amar e odiar.
Tempo para se entristecer e cantar.
Tempo para limpar e sujar.
Tempo para descansar e trabalhar.
Tempo para acreditar e descrer..
Tempo para sonhar e desistir.
Tempo para praguejar e orar.
Tempo para falar e calar.
Tempo para ouvir e desdenhar.
Tempo para louvar e degradar
Tempo para entender e cogitar
Tempo para nascer e morrer.
Tempo para juntar e espalhar.
Tempo para abraçar e afastar
Tempo para agradecer e blasfemar
Tempo de dar e de roubar
"Que cada um use bem o tempo que o dia tem e dá, porque você não terá todo esse tempo"
Hertinha Fischer.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Gélido pensar

 Entreguei-me ao acaso como quem brinca

de se dar.

Num ímpeto, emulsionei sonhos e realidade

que rapidamente se juntaram

como duas cordilheiras imponentes

que se ergueram no tempo.

E lá me ergui entre os nevoeiros

que não me abalam, em pico me desenha nas alturas

como um astro que sobrevive ao vento forte.

Empoleirei entre as pedras afiadas um dedal de esperança,

para que não houvesse abalo que me pusesse deslizando entre

geleiras.

Vinha um frio na barriga e uma fadiga ocultada,

de pedras e ar rarefeito de ilusão,

quase a circuncidar o coração.

Um branco de doer os olhos, essa mania de olhar descalço

Focar em nada, sem nenhum aparato que o protege,

só a imensidão de ladeira a desviar-se de si mesma,

descendo a ribanceira da vida que não dá trégua.

Num caso de acaso sem fim.

Hertinha




quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Balaio

 Como a inspiração chega? Assim, como quem não quer nada,

entra e preenche o coração da gente.

O sol, que entra pela janela, sinistro, as vezes,  mostrando os pós.

E aqueles pássaros que não sabem cantar, ensaiando cantos

enfadonhos. 

E a guerra que se instala aqui dentro, em confronto com

o esperado e desejado simples das coisas.

E o velho tempo, já sem dente e doente, esperando por soluções.

E os morros, crescendo para baixo, como se comessem do próprio corpo.

E o vento, já sem sentimento, vem sem hora marcada sem

noção de sua força, arrasando tudo em sua frente.

E os homens, para mostrarem que tem poder, destroem sua própria casa.

E o mar, que nunca foi consumidor, a lidar com o lixo do consumo alheio.

E ainda eu, eu á refletir, sobre aquilo que não depende de mim.

Hertinha







terça-feira, 27 de outubro de 2020

Eu, a sombra e o suor

 Com sacolas nas mãos, sacolejo

na calçada, só molejo.
Um pé me leva, dois pés,
me põe de pé.

Entre carros e gente, eu me represento,
de vento em vento, me reinvento.
Vou de mansinho, quase que lento,
atrás do meu intento.

Gosto de me ouvir nos passos
entre o compasso que me leva
na descida, na subida,
resfolegando cansaço

Assombro as sombras do meu caminho,
assopro como asas de vento,
enquanto ainda for tempo
em tempo me refrigero.

Gosto de suor no rosto
caindo sobre as costelas
existe coisa mais bela
que passear nas ruelas
cantando rimas ensaiadas
de frases que se atrela..

Hertinha

Em busca do Vale encantado

 Nego-me três vezes nesse ensejo

que o desejo me resvala.
Que o galo cante e me levante
desta trombose de fala
Não sei se dou conta desses hoje e
amanhãs
que de intento, quase tento
inventar outro tempo.
Na mesmice do mesmíssimo,
mesmo que na crendice
insistido e assistido,
enfrento o que ainda
sou, e o que será?
Esperança quase na frente
a quilômetro de distância.
Em dezembro, talvez janeiro
esta crise há de passar.
E quando penso que passa,
passado se torna outra vez
E lá vem outro ano
com outra estupidez.
Gambiarra feito de gesso
na água é que se dissolve,
dai é que a gente resolve
essa febre amputar!

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Comemorando a escrita

 Escrevo por que escrevo,

de escrever  não tenho medo.

palavras que são remédios,

e tem muito que é placebo.

Tenho alma no coração

e luz nas pontas dos dedos.

Tem doce que nem açúcar

tem como limão, muito azedo.

Rimas, versos e poemas,

historias com muito enredo.

Escrevo com muita cautela

e, as vezes, muito me excedo.

Muitas palavras memoradas

em teclas eu sento o dedo,

As claras na consciência,

outras anuviadas feito bêbado.

Assim, curtindo a vida,

rápida feito um torpedo.

Algumas vezes com fú

ria, outras vezes, retrocedo.

Quando estou inspirada, escrevo,

e muitas vezes, fico chupando o dedo.

Hertinha Fischer


sábado, 17 de outubro de 2020

O pouco, as vezes é muito

 Tive tudo para ser infeliz e não fui

Dentro de mim sempre brotava a esperança

como flor miúda, forte e hospitaleira.

Ainda em tenra idade, sai da roça,

onde meus pais nos criaram com a mesma

esperança que sempre me impulsionou.

Entre árvores frondosas plantei meus sonhos,

em caminhos poeirentos, cingi meus lombos.

A pobreza não me incomodava, pois nunca

nos provou a fome.

Sempre havia espigas na roça, um pé de alface a beira do rio.

A terra nunca foi nossa, mas, nos deu do que podia, sem cobrar um tostão.

Se faltava faltava água na bica, ainda sobrava chão.

Promessa havia de monte, alegria a brotar na fonte e

muita inspiração.

Entre a enxada e o capim, muita disposição,

para enfeitar as fileiras com a nossa plantação.

Hertinha Fischer


Sobre os trilhos da saudade

 Saudade entra no peito

e fica incomodando.

Saudade, saudade, 

em buraquinhos, sondando.

Rostos, sorrisos, companhias,

apenas perfumes exalando.

Frascos vazios, frestas na porta,

de vida que foi minguando.

Poeiras  nas roseiras,

enquanto o tempo foi passando.

Só resta sombras e vultos

em vias que vou lembrando.

Da terracota, asfalto, de casa de madeira

á tijolo, meus pés vão desfilando,

Saudoso da aridez, agora na maciez,

choram agonizando.

A noite me traz lembranças

dentro do peito a agonia

de um coração sangrando.

Pelo que ficou para trás,

tempo que não volta mais,

sigo em frente chorando.

Uma saudade palpável

que só me faz bem lembrando.

Hertinha Fischer


quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Banzo em fresta

 Ah, as velhas amizades, parecem novinhas em folha.

Quanta doçura há em quem nos aceita, seja feita de fita ou de grampos.
Meia duzia de faz de conta, algum sorriso enlameado em graça, meio sem graça se despe.
E aquela dona que passa, de nariz mais alto que os cabelos presos na nuca, nunca se cansa de desprezo, nunca está para quem não lhe estende um tapete.
Falsidade só se vê na cara dos outros, pois á passos largos só enxerga sua sombra.
Que belos versos se compunha no anti-tempo, no anti-momento, do anti-sentimento.
As ruas por qual passamos encolheu, a amizade que tínhamos desvaneceu, como nuvem sem água, o vento levou.
E ainda resta uma fresta, por onde se olha e se vê, uma saudade de longe, quase a subsistir na memória, meio que sublime e sem cor entre as arestas do tempo, pequeno grande amor que passou.
Hertinha Fischer

sábado, 26 de setembro de 2020

Orbitando

 

Cabe a mim, deslizar pela vida

sem medo de viver.

Lançando fora todo medo e preocupação,

por que tudo se realiza como um botão de flor

desabrochando na primavera.

Hoje, descobri que tenho forma, sou visível

no real.

Sou como máquina compondo tempo,

que em seu tempo faz e desfaz.

Vai aproveitando o bom vento, plainando

nas alvoradas, satisfeita em si mesma.

Colhendo o melhor á derredor, somando franquezas.

Faço parte, assim como todas as coisas no espaço,

sem embaraço.

Consciência pura, resistência ao máximo.

Ha um universo paralelo aqui dentro,

com seus sóis, luas e asteroides.

Compondo-se em ondas lúcidas, traçando o caminho

das luzes que derramo.

Um planeta em sua órbita perfeita, rodeando

o céu por anos a fio, se alimentando de sua capacidade e

velocidade.

Aproveitando a vida nos momentos e momentaneamente

satisfeita em existir.

Hertinha Fischer





segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Autarcia

Hoje eu tirei um tempinho para reler meu passado.
Tive a sensação de que ouvi demais a ilusão,
tanto, que acabei por ferir meus tímpanos
Engraçado, como andamos precisados de coisas e
sem perceber, zombamos das bençãos que recai sobre
nós todos os dias.
O tempo passado já não deveria nos preocupar,
o que já fizemos não pode servir de motivo de tristeza.
Tive momentos desperdiçados, por querer um mundo
que fosse do meu jeito, que pudesse estar ajoelhado aos meus pés.
Achei cicatrizes onde não havia, e dores que nunca me incomodou.
Doía em meu íntimo recluso e incerto, não por causa de alguém, mas, por
causa própria.
Causa de um ego aguçado, que eu, descaradamente, inflava.
Aperceber-se foi uma tragédia total, querer parecer alguém
 que não era me levou a falência de mim.
Meus olhares flambados pelo álcool carência, 
chamando a  atenção que não devia.
Cada um trilha seu próprio caminho, mas, é com nossos pés que se anda.
Dentro do coração ha comichão, com gula e com sede, longe da satisfação.
Hoje encaro tudo como novo, Procuro não tropeçar em palavras, para não torcer os fatos.
Vejo o passado como sapato velho, macio e esquecido,
 um futuro que não posso tocar.
Tudo mudou aqui dentro, uma modificação real, Pouco sonhos e uma realidade
suave e fértil.
Nada mais me fere: nem passado, nem presente, 
nem futuro, sempre estaremos a um passo de viver ou morrer.
E referente aos acontecimentos, não posso e nem quero antecipar.

Hertinha Fischer



 





terça-feira, 8 de setembro de 2020

Amor negado

 Quando a lua conta suas histórias

de penumbras e sombras

ao ver seu sol de longe á suspirar

em seus desejos.

Quase que submerge nas águas escuras, para se levantar
e beijá-lo em ondas.
Suavemente desliza sobre um alaranjado e sutil olhar
entre árvores que se deitam sobre a luz.
Sente a vingança do amor que se distancia, destilar
sobre um véu negro a escurecer seu leito,
enquanto sonha despertar, algum dia, entre lençóis avermelhados
pela luz que o amor lhe negou.
Herta Fischer.

Posposto

 Laranjas dormindo entre folhas

amareladas de pó, ao longo das estradas 

quietas e  quentes.

Lá que olhos de ventos por elas passam

e se apressam em não ver.

Se distanciam sem apreciar o gosto

maduro de suas pupilas dilatadas

de paixão, suspense e doçura.

Morrem em solidão apodrecida de

sucos mornos, amargadas pela

ação do terrível tempo sem colheita.

O sol que por ela se derrama sem piedade,

a noite, que, por fim, da-lhe uma trégua,

sem, no entanto, lhe conceder um frescor.

Pouco tempo se lhe seguram as cordas,

até que se espalhem ao chão.

As cores amareladas as abandonam,

 até que fiquem marrom.

E o calor as consomem, de suculentas a seca

tornam-se nada outra vez.

Herta Fischer



terça-feira, 1 de setembro de 2020

Somos fonte de lucro fácil

 Todo dia é assim: Só mais um!

Gente que se levanta para trabalhar

gente que se levanta para folgar.

Só os pássaros são incansáveis em seus cantos.

mesmo diante de seus desencantos.

Não vejo a hora  de sair daqui, ir para um lugar

onde não exista essa fome de existir de

qualquer jeito.

Talvez precisemos mesmo do instinto mais

do que a inteligência da qual pouco usamos.

O instinto faz com que busquemos o necessário,

a inteligência amontoa para estragar.

Será que precisamos mesmo de tanta tecnologia?

A tecnologia não está preocupada com o bem estar comum,

ela visa status. querendo conhecer para entender ou mudar?

Mudando tudo como se pudessem resolver todos os problemas existentes,

sem perceberem que só aumentam.

Seria tão mais simples conservar o que já estava feito, mas, 

preferem fazer de qualquer jeito para durar pouco e venderem mais.

Negócio lucrativo é no que nos transformaram: doentes e neuróticos!

Hertinha Fischer







segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Nos braços do tempo

 Amo falar de mim: do tempo, das escolhas

que não fiz, das derrapadas a sós, dos desalinhados sentimentos

enquanto buscava pela alegria, das descobertas, das frustrações

de alguns passos dados no escuro, enfim.

Havia uma ladeira ante meus olhos famintos, encobrindo

um céu azul que se estendia la pras bandas do inconsciente.

Cada etapa que se desenhava, logo perdia a coloração, quando

o coração ansiava por novos horizontes.

Um deslumbrar ao deparar com a novidade, motivação 

de cada instante, que após, anuviava num desaquecer intenso

de novo ego.

Quantas andanças no despreparo, quanta esperança em sonhos despertos, que

acabava logo ao anoitecer.

Novamente o tempo da candura, do desejo de posse,  alienada alegria do nada no

crescimento, mais ilusão que ventura.

O tempo, que igual enxurrada em dias de chuva forte, 

carrega em seu lombo, objetos jogados ao léu, para depois encurralar

em uma ponte qualquer, me levou em seu leito, até que restasse 

apenas algumas lembranças retidas em algum canto de memoria.

Sigo meio que lenta, depois do desgaste, meio que ofuscada por

uma luz que sequer brotou em mim.

Resta apenas a penumbra, quase que morta, de algumas cicatrizes

no joelho, de alguns rabiscos românticos, de algum amor que passou.


Hertinha Fischer




sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Oração do dia

 Pertenço ao dia

que acolhe tudo como
se dele fosse.
Me coloca na magia da luz
que vem com o sol e
me deita na escuridão quando
de descanso preciso.
Acalenta minha alma com seu precioso
tempo,dando-me espaço.
E num abraço joga todo o carinho que tem.
Num piscar de olhos, me faço
e sinto que sou dele também.
Hertinha Fischer;

terça-feira, 18 de agosto de 2020

As amarras da criação

 Houve um tempo em que guardava todos meus sentimentos

dentro do peito, até que se transformasse em lágrimas.

Tinha uma extrema dificuldade de transformar agonia ou felicidade

em palavras.

Isto era desgastante demais em meus dias, um medo intenso de

dizer o que pensava por medo de machucar, sei lá!

Meus pais eram muito fechados, nos transmitiam apenas sentimentos de  frustrações

decorrente de nossa criação,

Quase não se falavam.

A unica forma que eles achavam para transmitir algum sentimento

era a disciplina com que eles mesmos tinham ou conheciam.

Trabalhar e obedecer era uma meta incansável em nossos dias.

Talvez seja por isso que aprendi a fazer coisas só para mim, 

as escondidas planeava algum sentimento,

 e ao ver dos outros, parecia não ter nenhum.

Quando me realizei como mãe, enfrentei um medo danado de não

conseguir ser igual a eles, porque achava que aquele comportamento 

era padrão.

Meu filho mais velho enfrentou alguns deslizes meus,

em relação ao que esperava dele, e não ao que ele podia ser.

Após muitos anos vividos, fui, aos poucos, perdendo um pouco

do medo que me seguiu ao longo tempo, E comecei a dar os

primeiros passos em direção da emancipação.

Aprendi a falar de mim, das coisas e fui entendendo um pouco da vida.

Vi, que, precisamos mesmo de ponderação ao falar, mas, 

que, para transmitir algo para os outros, temos

que abrir o coração.

Ainda é difícil não corresponder as expectativas dos outros,

muitas vezes me sinto frustrada á esse respeito, sinto

que as amarras vão se destruindo aos poucos, e que, talvez, um dia,

elas me soltem totalmente.

E só então me sentirei livre.

Hertinha Fischer






domingo, 16 de agosto de 2020

Tudo é sentimento

 Hoje eu reflito sobre sentimento.

O que é sentimento?

(aptidão para sentir, disposição para se comover, se impressionar, perceber e apreciar algo etc.; sensibilidade.)

Tem a ver com sentir, mas o sentir não pode ser palpado, nem visto, a não ser que seja descrito, ou

colocado em prática.

Ninguém sente desejo, sem qualquer motivo para realizar, seja bom, seja ruim.

Ninguém vê o medo, sem que haja um objeto que seja a causa, muito embora, muito da causa nem exista.

Por isso  o coração é o órgão que expressa amor, Ele ( o coração) é o encarregado superior da vida, e o amor é vida.

Sem a vida o amor não existe, porque, sem a vida não pode haver sentimento, o sentimento é a expressão máxima de tudo que existe.

Dentro da semente há uma expressão de amor, dentro do mar há uma expressão de amor, assim como dentro da terra.

O núcleo da terra é fogo, não é um fogo ao acaso. Existe para uma finalidade, Essa finalidade é amor.

Ha um sentimento em tudo que existe: O sentimento da chuva, do ar, do vento, da cor.

A utilidade é um sentimento, a inutilidade também. O concavo e o convexo.

A preguiça é um sentimento de impotência, sinal de um sentimento de doença, de falta de energia vital para um sentimento em relação ao trabalho.

O próprio Deus é um sentimento, sem o sentimento de amor, não podemos vê-lo. Sem um sentimento de bondade, de bem-querer não podemos tocá-lo.

Sem Deus, derrapamos em um sentimento de ego: voltado para nós mesmos, para tudo aquilo que nós fazemos e sentimos, negando o sentimento alheio.

Foi um sentimento de poder que tudo criou, um sentimento de querer que tudo fez, um sentimento de amor que pôs tudo a funcionar.

O sentimento é maior que a razão, porque a razão depende do sentimento para realizar o certo. E o certo é o maior dos sentimentos que dá a razão o verdadeiro sentimento que começa no amor.

Hertinha Fischer




segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Por quê de ser

 Hoje é hoje novamente,

saúdo mais um dia que me aquece.

Entre nevoeiros que me encobre a visão

e luzes fugaz no coração, sou mais

sentimentos que emoção.

Tenho que sobreviver ao acaso, entre o 

eu e o que sobrevêm.

Sou o querer sem querer, mudo em miúdo desdém.

Se me abre em possibilidade o dia,mas, diante da impossibilidade

do poder, escuto as vozes do silencio que me corrói.

Meus pés em desalento retrai.

Queria ser borboleta amadurecida de asas abertas, a metamorfose 

incerta me trai. 

Não ser eu, qual a novidade?

Se tão eu sou eu.

A vontade me limitou, a bondade não me visitou,

sigo meio que viva e morta, ante a vida que sou.

Hertinha Fischer









segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Somos todos sertanejos de sonhos

O bom sertanejo que a enxada desperta
atrás de uma porta.
 Entre o ranger das horas, floreia a plantação.
Capinando seus sonhos, colhendo esperança em
suas espigas.
De manhã desperta as galinhas, os pintainhos e seus
outros animais, para uma jornada divina,
Que se enlaça nos segundos corridos, entre folhas e frutos,
canto e lamento, sugando suor.
Na terra que traz o sustento, revirada e amada, mãos calejadas
se sujeitam a ele.
No vai e vem da lamina cortante,  num lampejo de instante,
tudo se renova outra vez.
Bocas se abrem em sulcos, recebendo a semente ou mudas viçosas,
na esperançosa  engenhosidade do seu autor.
Que com grande destreza se propõe a doar seu amor.
Ouve a promessa do tempo, confessa sua fé na terra, 
que nunca o decepciona. E planta, confiante, a sua alegria.
Assovia para o céu, melodioso agradecimento, enquanto se fia
no passo seguinte.
 Sua boca faminta recebe da vida, a vida que nela há, na ponta dos dedos,
o sangue que corre sempre o socorrerá.
Tudo se planta na terra, ele pensa. A mesma,
 que em tempo oportuno, também me receberá.
Hertinha Fischer






quarta-feira, 29 de julho de 2020

Desabafo

Noite de quarta feira cinzenta e fria se derrama
sobre tudo.
Só mais um dia que ainda posso contar.
Um a mais e se houver um amanhã
e  se ainda estiver sóbria, será uma quinta feira. Se fria?
não sei!
Estamos atravessando um deserto, talvez, o pior deles nos últimos tempos.
Embora saiba que já houve outros tempos, tão mais escassos que este,
só temos ideia do agora, porque é neste tempo em que estamos á viver.
Muitos temem o pior, sem saber, de fato, o que é pior.
Outros já enfrentaram terríveis guerras, quando o homem procurava
por lugares desabitados, ou até mesmo, quando batalhavam por poder,
e ainda não nos acostumamos com essa historia, que, de tempos em tempos, 
temos que enfrentar.
Tudo muda a todo instante, um segundo  basta para nos colocar em xeque.
Quando penso de onde vim, me aqueço por dentro, constatando que se a gente
seguir o curso, acreditando que a vida leva cada um em seu momento para
onde ela quer, e consagra aqueles que tem os pés no chão, sem exigir muito
dela.
Vou indo, seja de que forma for: as vezes saudável, as vezes doente, mas, sempre
com a esperança andando na frente.
Sigo os passos de meu pai e minha mãe, que também seguiram os passos de seus pais,
que sem temores ou descrença, financiaram a família que hoje tenho.
Não tenho pressa, não tenho receio de nada, pois vivo a certeza de que sou como
milhares de outros, em vários lugares, lutando, ou melhor, trabalhando para sobreviver.
Até que se complete os dias, poucos ou muitos, já decididos para cada um.
Hertinha Fischer







domingo, 26 de julho de 2020

Poetizando-me

Aqui cheguei como
uma coisinha pequenina: Olhos de mar,
carretel vazio e sem graça.
A terra tão charmosa me abriu os braços,
saudando-me e coroando-me com alegria.
Foi, aos poucos, plantando em mim, suaves
sementinhas de bem-querer.
Ao lado, onde moram todos, me levou,
apresentando-me ao mundo das coisas,
que, aos poucos, ganhavam formas e nomes.
Sempre me lembrando das estradinhas simpáticas
que me enamoravam.
Flores se abriam na primavera, no outono, se despediam,
e ainda, como quem ama, abriam-se as estações dos frutos, para
que nunca me sentisse só.
Colheitas e plantio as beiras das estradas, enfeitadas por homens e enxadas, num frenesi de esperança e paixão.
Casas grandes e palhoça se misturavam em um labirinto encantado,
por onde jovens, velhos e crianças, brincavam de viver.
O poeta me escrevendo em letras delicadas, sublinhadas em papel
de veludo, tinta de cristais, assunto de gente grande.
O tempo tão vento, desvendando seus mais nobres segredos, impondo um mundo de medo, desenhando puras emoções.
Se derramava em mim, como perfeita biquinha, que em suaves gotinhas formaram um rio sem fim...
Herta Fischer.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

O mundo que desconhecemos

Muitas das noites, eu sento la fora
a sondar a escuridão dos ares, procurando por respostas.
Uma imensidão me cerca, composta por estrelas, casas
e nostalgia.
Fico imaginando os incontáveis organismos espalhados
na penumbra, cada um á realizar sua obra.
Também me manifesto no sentido humano, que, quase sempre,
vive, morre e não se questiona!
Me lembro de Jó, homem íntegro, que recebeu castigo sem merecer,
que ao sofrer suas dores, com lágrimas nos olhos, debulhava sua frustração,
uma a uma, buscando por respostas.
Questionava Deus, perguntando por que sofria tanto, por que nascera, se
não sentia mais nenhum prazer em existir?
E Deus lhes mostrava seu poder, dizendo que o homem faz parte, junto com os animais,
á um propósito muito maior, do qual nunca se ouviu falar.
E que somos como pedras preciosas, que precisa ser lapidada, para se tornar algo de valor.
Sinto aqui dentro uma impotência sem igual.
A partir dai fico imaginando que as dores provem de algo que é mortal, que toda energia subsistente
no universo, precisa de um corpo para se tornar visível.
E que todo corpo visível trabalha pra seu próprio sustento, que independe da energia , que sem o
corpo é capaz de existir.
Assim como tudo que há: eletricidade, vento, ou outro combustível qualquer,
que a partir do invisível se agarra á alguma coisa visível para se fazer presente.
Quando o corpo definha e já não consegue suportar seu próprio peso, ele morre, mas,  a energia
continua presa em algum lugar, onde Deus o guarda para uma outra estação.
Se não houvesse corpo, também não existiria mundo, assim como o conhecemos. Ou tudo o
que vemos é mera ilusão?
Sei que poucos são os que se dão conta, a maioria esta tão fixada em sobreviver, que não pensa que vai morrer.
Vivem arraigados em seus devaneios como se a vida não provesse da vida, como se morrer fosse o fim, mas, não é.
Não nos alimentamos de coisas mortas, portanto, é a vida que alimenta a vida.
E cada uma é preciosa, tanto, que Deus as criou em abundância, para aqueles que vivem e até para aqueles, que, aparentemente, aos nossos olhos, nos parecem inanimados.
A pedra se alimenta de poeira e musgos, A terra se alimenta das folhas e restos de outros corpos,   o ar se alimenta de muitos outros elementos que se combinam, a água também, e assim, sucessivamente.
Na natureza nada é desperdiçado ou criado para não realizar.
Estamos no topo da cadeia alimentar só porque temos consciência. Isto é, somos os únicos que trabalham com a razão.
Embora queiram dar essa razão aos animais, eles agem por instinto 
(impulso interior que faz um animal executar inconscientemente atos adequados às necessidades de sobrevivência própria, da sua espécie ou da sua prole.) Se eles não fossem dotados desse dom, não haveria reprodução, e por certo, morreríamos todos. porque um depende do outro para a subsistência.
Muitas pessoas diriam: isso eu já sabia!
Mas, nem todos sabem. Tanto, que nunca param para pensar e muitos acreditam que as coisas se fizeram sozinhas, que se agruparam, e que se adaptaram  e ainda se adaptam em suas circunstâncias.
Só por não considerarem aquilo que é impossível perceber ou tocar.
Hertinha










quarta-feira, 15 de julho de 2020

Cegos dirigindo cegos

Alcancei a plenitude do saber
Antes ficava aflita tentando mudar as pessoas, hoje,
me contento em tentar melhorar eu mesma.
Sabe o quintal alheio?
Não cabe, a mim, limpá-lo, a menos, que o outro
queira.
Se eu conseguir manter o meu quintal limpo, já está de bom tamanho.
O outro também precisa se exercitar, assim como eu,
mas, não precisamos nos exercitar todos á mesma maneira.
O corvo pleiteia por carnes putrificadas, o leão por carne fresca,
o carneiro por vegetais, ambos pleiteiam pela vida!
Então não ha grandes diferenças entre eles, á não ser, no modo com
 que foram projetados.
Certa vez eu assistia á um documentário sobre os felinos.
A mãe de um jaguar cuidava de três filhos: dois machos e uma fêmea.
Ela os deixava a sós na toca para sair em busca do alimento que todos precisavam.
Eles ficavam apreensivos quando isto acontecia, mas, parecendo que já sabiam da necessidade, ficavam, ali, quietinhos até que a mãe voltasse, e prontamente, saboreassem o elixir da vida, que fora tirada
de outra vida.
Eles foram crescendo em tamanho e esperteza, até, que, em determinado momento, a mãe os chamou para sair á caçar junto com ela.
No inicio da lição, ficavam parados, quietinhos em suas posições, á esperar pelo ataque.
Depois de algum tempo, já começaram a perseguir pequenos roedores.
Chegou um momento em que a mãe tomou o lugar deles, e foi ela a observar, enquanto os três enquadravam a caça.
Quando a mãe percebeu que eles aprenderam a técnica, enquanto eles saboreavam o prêmio da natureza, ela, simplesmente, virou as costas e foi embora.
Quando os três perceberam  sua ausência, ficaram um tanto desconsertados, mas, entenderam que era este o princípio da sabedoria.
E o mesmo fariam quando chegasse a hora deles.
Achei isto o máximo, e comecei a entender a vida de uma outra forma.
Somos tão arrogantes em nossas elucidações, que, ao invés, de absorvermos a sabedoria, ficamos ávidos para demonstrar isso para todo mundo.
Esquecemos que sabedoria mesmo é deixar a natureza de cada um servir seus propósitos.
Não á nossa maneira, mas, a maneira que tem de ser.
Isto é! Ensinando a base da vivência, e não a base de palavras.
Se nos comportarmos bem, fazendo cada um o que lhe cabe, para harmonizar a passagem, construído por princípios sólidos. Outros seguidores, através de bons exemplos podem absorver melhor o aprendizado. 
Não é necessário ficar apontando a ponte, como se fosse a única passagem, e sim, fazê-los conhecedores do melhor caminho, que não, necessariamente, será aquele pelo qual passou.
Se a pessoa quiser abrir um novo caminho, que seja! Será ele á enfrentar os obstáculos.
O final é o mesmo, tanto para o que aprende, como para aquele que nunca aprendeu, portanto, que cada um siga seu próprio trajeto.
Ha os que gostam de tomar banho, e há também os que nem chegam perto da água, ambos vivem, seja de um jeito ou de outro.
Por que ficamos tão obcecados por coisas que não podemos mudar, querendo dirigir um carro (destino de cada um) que não tem direção?
Queremos apresentar Deus aos outros e nem sequer sabemos o que lhe vai no íntimo?
Arrastamos o outro na presença de um deus falso, que se encontra na raiz de nosso ego, fatiado e degustado dentro do prazer de cada um, uma imagem falsa que traz muito mais doença do que cura.
Certa vez ouvi um relato de uma adolescente que dizia:- Disseram -me que Deus cura todas as doenças.
Então, rezei pela cura da minha mãe, e ela morreu, passei a não acreditar mais em nada.
Não falam a verdade, só dão falsas esperanças.
E quando falamos a verdade sobre a morte, ainda querem nos rotular sobre crença.
Estamos mal acostumados, fechamos os olhos quanto ao que acontece com todo mundo, quanto ao que pode acontecer conosco.
Traçamos uma linha imaginaria, mas, continuamos vagueando numa confusão.
E o que é pior, como cegos, tentamos direcionar os outros, achando que só nós encontraremos o caminho que sequer conhecemos. E acabamos todos no  mesmo silencio e frustrações.
Herta Fischer












terça-feira, 16 de junho de 2020

Conformidade desconforme

Tantas coisas á se fazer
entre um dia e outro
De canseira e de prazer,
já estou quase que morto.
Mãos e pés que não se cansam,
de fazer e de andar
quase que em tinta branca,
transformam o azul do mar.
Ao nascer, nem percebi,
que a vida era só canseira,
o nervosismo de uma noite,
só me dá uma rasteira.
Sem amor nem amizade,
que persista, ha de se ver,
o sol apaga a lua,
a lua, o sol á escurecer.
Vou saindo de mansinho,
rodeando minha historia,
não pretendo conhecer
o final dessa aurora.
O chão nos chama pra volta,
eu, querendo permanecer,
mesmo que a tristeza me destrua
não quero me ver morrer.
Hertinha Fischer.