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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Enfastiada

Não estou triste, não,
Só o sonar da tarde é que
me leva com ela.
Há  uma solidão se derramando
no escuro, encobrindo a cor
do sorriso que quase dou.
Um luar morrendo entre as folhagens
desbotadas na beira da estrada.
Pouco resta de luz à desmaiar entre galhos,
suado com poucas gotas sonolentas de orvalho
O silêncio que incomoda, a roda do moedor,
sutil, leva a semente a gemer por causa
dela mesma.
Não há descanso, as horas sofrem o fastio
do tempo, que na mais profunda dor, morre
e vive, vive e morre.
Sonhei fora do corpo, vivo entre o mar e o deserto,
ambos me enchem de ternura, mas refrigério
não dá, um e seco, outro salgado, e o
sonho fora de mim é oco...

Hertinha Fischer












Negro céu azul

A chuva não vem,
o barro fragmentado, estorricado
abaixo dos meus pés a sangrar.
Tremendo estão as nuvens sem
água sem estação.
Há uma sangria por toda parte,
e um cheiro de morte no ar.

Nos poucos troncos de juncos enfileirados,
o fogo quente á consumir as hastes, folhas
secas e podres beijam o chão.
Aves abandonaram seus ninhos,
pobres dos passarinhos
O charco é só convulsão.

Negro céu azul se tornou em toda parte,
secura traiçoeira e poeira,
se levantou no sertão e na cidade
Mãos calejadas descansam da enxada
mas não tem repouso não.
Nem o diploma adiantou nesse tempo
de calamidade.

A figura do peão, agora desfigurado,
ante a fúria do vulcão que tem
por nome fome.
Vagueia por entre pedras,  com
seu cavalo sedento, vazio esta seu coldre
A arma que um dia usava,
agora mata sua fome.
 Hertinha Fischer


quinta-feira, 23 de abril de 2020

Cansaço audível

Estou cansada, muito cansada.
Desse existir em promessas
Esse ir e vir em expectação.
Um cansaço quase audível,
como um leão a rugir.
A alma padecendo no asfalto,
onde flores não nascem.
A vida passando ante o olhar,
sem graça e sem novidade.
Uma garça a sondar os peixes,
escorando numa perna só
por horas.
Que dilema sem fim é a vida,
um curso sedento de água,
e água não há.
Uma casa enorme, só um
quarto à ocupar.
Gostaria de ser pássaro grande,
de olho em suas presas.
que só para o estômago vive.
Ou um gato a espiar pelas janelas,
onde procura pão.
Ou ainda uma formiga adestrada para o seu fim,
mais olfato que memoria.
Estou livre dentro da prisão, ninguém me prende,
só essa insatisfação: fastio de ociosidade..
Trabalhando para jogar fora, cansaço de todas as horas..
hertinha Fischer

Era uma vez


Era uma vez, a alegria feito bola de sabão.
A paz surgia onde não havia solidão.
E a tal felicidade em disparada,
corria mais que um alazão.

Era uma vez, ruas cheias, perdidas na
consumação.
Sorriso do comércio, bolso cheios
de ilusão.
Carros potentes, fruto da imaginação, gente
fingindo alma pura e coração.

Era uma vez, trocaram o carro por helicóptero
e avião,
Domando as nuvens por pura satisfação, trocando moeda entre uma e outra nação.
Só não contaram que a vida é um leão.
Não existe revista que dê jeito nisso, não!

Era uma vez, o jovem se desfez do ancião,
Da sabedoria fez escarnio e presunção
. olha de cima como se fosse o sabichão.
Quase sempre o destino é a prisão,
entre grades e desgostos em amplidão, sofre
a consequência de sua própria presunção.

Era uma vez, rodeados de simplicidade e mansidão,
honra e leveza e muita devoção,
havia regras e boa educação, marcando ponto em
cada canto da nação, alegres almas sorriam
de satisfação, tudo acabou em guerra de
irmão contra irmão.

Era uma vez.......







quarta-feira, 22 de abril de 2020

Castelo de papel

Olhando para o passado. O que sobrou dele?
Castelo de papel.
Se fez algum sentido para alguém,
já foi esquecido.
A orla, aos poucos, é sugada pela maré, vira barranco,
Mariscos secam onde a água não chega,
Castelo de papel
Vozes de antes se calaram, pregadas como
pregos na parede, um dia virou ferrugem
e se desfez,
Castelo de papel
E o sonho sonhado de madrugada,
ao surgir do sol, fica esquecido,
e o sonar do sino que toca por alguns instantes,
para depois se calar,
Castelo de papel
O amor sentido, atribuído a algo ou alguém
num relance de intimidação virou ódio e
mágoa e nunca mais voltou a ser.
Castelo de papel.
A tinta, o lápis, a caneta encontrou seu mundo morto,
mãos suadas em comportamento estranho, na escrita
de um computador.
Castelo de papel
A crença que no amor brota, a degustação do bem afável,
a leitura da inspiração,caiu no poço fundo da incompreensão,
Castelo de papel
Piedade á mercadejar, ciência absurda de posse,canavial
sem açúcar, semente oca, sem vida sem historia.
Castelo de papel
E quando a chuva chegar, será que ainda haverá segurança,
será que sobra alguma coisa,
Castelo de papel?
Hertinha Fischer



terça-feira, 21 de abril de 2020

Exultação

Havia uma estradinha de terra serpenteando o lugarejo,
cabendo nas mãos dos meus sonhos.
Suave e perfumada, com cheiro de terra, meus pezinhos
lisonjeiros as esmiuçavam entre os dedos.
O vento sorrateiro zombava de sua sensibilidade, arrancando-à
de seus devaneios, levando-à a brincar de pipa nos ares.
O cinza se misturando ao azul celeste do céu, quase a encobrir o sol.
A vida pulsava com o coração acelerado em meio ao capinzal repleto
de sementinhas onde passarinhos desenhavam seus ninhos sorrateiros.
Um cantar constante de grilos e cigarras ao cair da tarde, e a noitinha, pirilampos
incendiavam os ares com suas luzinhas cintilantes.
Onde as bananeiras dormiam, também dormiam os sapos, confortáveis pela umidade
que ela oferecia.
O ingazeiro majestoso, exibindo a copa florida, entre milhares de árvores que pareciam alcançar o céu.
Taquareiras à cantar, abraçando umas as outras, numa melodia assombrosa, e ao
mesmo tempo tão divinal.
Os raios de sol a brincar em seu meio, escapando por entre elas, dançando a musica da floresta,
até se cansar.
A noite surgia com sua magia, pondo quase tudo pra dormir, na sorrateira escuridão, burburinho se ouvia no doce rincão.
A penumbra despertava seus grilos, restaurava a paixão dos sapos,  aninhava suas aves.
As árvores perdiam suas cores, pintando com carvão seus caules e folhas, saudando a lua que já despontava atrás do chiqueiro.
Um clarão vindo do oeste, tocava de manso a copa das árvores, fazendo-á vibrar. E a estradinha de terra, escura e perdida, novamente se achava a sorrir.
O clarão despertava seus súditos, tocando a flauta da vida noturna, os seres encobertos pela luz do dia despertavam na toca, saindo de seus estado de sono, e tudo se avivava novamente.
Uma luz se apagava, outra se acendia e a vida nunca dormia.
Bem no meio desse gosto, nascia uma casinha, cercada de terra batida, entre o bananal que a protegia do vento, entrava em transe, quieta em seu lugar, lá dentro a vida descansava, lá fora, outro tipo de vida surgia.
Num vai e vem de magia, tudo recomeçava de novo e de novo, os mesmos personagens, outras historias, mas a estradinha, a casinha, sempre seriam as mesmas. serpenteando o sertanejo coração da terra.. povoando nossos corações de alegrias...
Hertinha Fischer











segunda-feira, 20 de abril de 2020

Recreação do intuir

Conheci um lugar onde a paz morava,
um ranchinho cuja coberta era de telhas vermelhas.
rodeadas por torrões de terracota.
Uma ilha em meio a um mar verde repletos de folhas
desenhadas diferentemente.
Dentro da casinha, meninos de pés descalços sorriam
alegremente, debruçados no patamar de um fogão à lenha.
O fogo crepitando abaixo da água que fervia dentro da chaleira.
Uma mulher cheirando á fumaça, adestrava a chama do fogo, e este,
lhe obedecia.
Quantas verdades existiam ali. tantas verdades que nem se conheciam mentiras -
a verdade do existir e coexistir um no outro.
O fogo exuberante e ativo, as mãos poderosas de artesã sustentando a vida e seus anfitriões
ávidos por sua coroa.
Do trigo se fazia pão. Do pão, o alimento.  Do alimento, a alegria. Da alegria, o motivo de viver!
E o fogo participava da ópera - cantando e batucando com seus galhos falantes. Aos olhos da artesã ia crescendo e se tornando alimento.
E a paz se adiantando em cada estalo das cinzas, incapaz e ainda criança, precisava de seus mimos.
Bocas entreabertas á mastigar o presente, na alegria da puberdade das coisas, até se tornarem adultos
de felicidade.
E nesse embalo infinito, a alegria crescia, o mato os esperava depois da ciranda, a roda viva estampada de cores se movimentava ao redor.
Tudo parecia sincero: o sorriso do tempo e até  o passar dele, o relógio se desligava na passagem da alegria.
O dia tomava seu rumo, á se esconder entre as copas das árvores. A noite, ainda mais divertida, o procurava até o amanhecer. Quando o encontrava, era ela à se esconder.
Divina brincadeira era essa, sem pressa, sem pressão, quando a claridade surgia, era mais fácil do que fazer pão.
Vinha então as nuvens, também a fazer parte da brincadeira, de corre-corre e pega pega, só diversão e prazer.
E o sol a fazer parte,  o prazer na paz e a paz no prazer.....
Hertinha Fischer













Memorias apagadas...

Chegou a hora. Ninguém soubera,
mas, ele sim!
Havia uma certa agonia por dentro,
uma certeza serena, de que deveria partir.
O médico o avisara fazia um ano, que a sua
saúde estava quase á um fio.
A pressão, a maldita pressão descontrolada,
anos, após anos, na incerteza, tanta coisa para se preocupar.
Dois casamentos, sete filhos. O primeiro acabou na morte da esposa,
o segundo, ainda em curso, acabaria por sua vez, quando a sua hora chegasse.
O que deixaria para os dois filhos ainda pequenos, como eles conseguiriam
sobreviver sem o pai?
Isso não o deixava em paz.
E a pressão ia subindo e os remédios não davam conta, muitas
vezes, acabava na U.T.I.
Quando voltava para casa, uma paz o inundava por dentro: Deus ainda lhe dava uma chance!
A sua casinha branca, de janelas azuis, ainda estavam lá, sem nenhum resquícios de que distanciara por dias.
Havia uma áurea brilhante em cada planta, agora que já pensava haver pouco tempo, dava uma vontade incontrolável de cuidar delas, com mimos cada vez mais sensível. Por vezes as lágrimas escorriam pela face, quase à sugar suas poucas energias.
Entrava em seu paiol, as coisas penduradas num canto: o regador, o gancho, o machado, as enxadas, o deixavam cada vez mais fragilizado. Tudo aquilo fizera parte de um tempo, quando ainda podia usá-los:  na horta, no pomar - ou ainda a carpir ao redor da casa.
Olhava suas duas crianças brincando, correndo atrás das galinhas ou a colher ovos nos ninhos, quanta bonança havia naquele lugar.
Quando jovem, sua vida não fora fácil, houve tempo em que o dinheiro faltava, e que precisava depender de algum vizinho. Agora, tinha tudo, era pouco, mas nada faltava. Porém faltava o principal: saúde e tempo!
Se tivesse um pouco mais de tempo, iria se aproximar mais dos outros filhos, os do primeiro casamento, que andavam meio afastados.
Mas, de que adiantaria fazer isso agora, seria como tentar plantar algo que jamais colheria.
Sua primeira mulher era tudo para ele, mas, a morte bateu muito cedo em sua porta, ele teve que aprender a ficar sozinho, por um tempo, mas, depois, se viu obrigado a arrumar uma companheira, e consequentemente, arrumou mais dois filhos, que agora, era uma razão a mais para querer ficar por mais algum tempo.
Porém, sabia que nada dependia de sua vontade, sempre fora um homem forte e decidido, até demais em algumas situações. Pensava ser o dono de tudo, comandava com mãos de ferro -  sua família, sua mulher, até seus animais.
E quando mais precisava não encontrava nenhum poder. Á não ser, continuar sendo acompanhado por um especialista e tomar seus remédios conforme recomendação.
Isso ele fazia. com zelo e atenção, mas sabia que nenhum dos dois tinham nenhum poder sobre o que lhe acontecia por dentro.
Continuou fazendo o que sempre fazia, cuidava, na medida do possível, de suas mexeriqueiras. Ia à cidade fazer compras,  deixando outras preocupações um pouco de lado.
Já estava sem vigor algum. Aos sessenta e seis anos sentia-se com se já tivesse cem.
Numa tarde de domingo recebeu a visita de seus filhos distantes. conversaram por longas horas, a beira de seu lago preferido. carregou sua primeira neta no colo - Estava sentindo-se bem e feliz, como ha muito não sentia.
O dia ensolarado de céu extremamente azul dava-lhe um pouco mais de esperança. Talvez seu coração alcançaria um estado de êxtase e não ficasse tão fraco como estava nos últimos tempos, e a sua fé o levasse para além das expectativas médicas.
O dia se findou, os filhos retornaram para as suas casas, finalmente, parecia estar em paz.
No dia seguinte sentia-se bem melhor: regou as plantas, colocou um pouco de adubo nos pés de fruta, brincou com seus filhos, parecia um dia normal.
Mas, a noite chegou, e com ela trouxe o pior. Parecia faltar oxigênio no mundo.
O ar entrava, mas não chegava até o pulmão, aguentou por alguns minutos e quando tornou-se insuportável, chamou pela esposa.
Correram para o hospital mais próximo, mas, já não havia mais nada à fazer. seu coração entrou em colapso. Tudo o que dera valor por todos aqueles anos terminou com um ultimo suspiro. marcando o fim que ele não queria.
Os olhos se fecharam, os braços amoleceram, e seu cérebro parou de funcionar. Sem ter tempo de se despedir.
Seu corpo inerte foi deixado numa sala de fundo, jogado em cima de uma mesa, inerte, como se não representasse mais nada, como se fosse um nada. O céu continuou azul, as pessoas continuaram seus afazeres, cada um com seu sonho e o dele terminou, Não sem antes escrever a sua historia...

Hertinha Fischer
















sexta-feira, 17 de abril de 2020

Inspiração

As vezes, ao falar sobre um tema, elevamos tão alto a nossa própria inteligência,
 a ponto de ninguém entender o que queremos dizer.
Respeito aqueles que dizem pouco e  falam tudo sem delongas e longas explicações.
Porque o relativo é simples e o simples é iluminado.
Para acender um pavio, só ha a necessidade de um fósforo, se já com a luz acesa,
 tentar acendê-la novamente, será pura perda de tempo.
Por isso, os livros que contém muitas paginas, quase sempre, se torna repetitivo.
O sim é sim, o não é não e ponto!
Não ha o que se acrescentar.
Há muito de mentira nos acréscimos.
Gosto de poesia, mas, tem quem ache que algumas poesias não vem do coração,
são absolutamente sem emoção. Concordo!  Certos autores procuram as palavras certas, e essa procura, já não condiz com o seu estado.
Outros se prendem em estudos sobre palavras, esquecendo que o simples é muito mais compreensível.
O poema e poesia ou outro meio em que podemos nos comunicar com outras pessoas sem que precise de presença. O físico não importa, as palavras precisam tocar, e para tocar, ela precisa ter coração.
E que vem a ser coração em uma poesia, senão o escrever o pensamento, o que se sente ao
ver algo ou alguém, sem no entanto, usar os olhos.
Tem dias que não consigo escrever nenhuma palavra, tão distante estou de mim mesma, que, se tentasse, provavelmente, não faria nenhum sentido.
hertinha Fischer







O elo

Ouço cantos de pássaros lá fora,
assoviando sua melodia,
não reconheço a letra,
e penso que é só agonia.

Dizem da injustiça, como se conhecesse a justiça,
mas justiça o que seria.
O pássaro constrói o seu ninho,
 a cobra rouba seus ovos
quem seria o mais injusto,
em se tratando de seus filhos.

Uma vida por outra, é assim
que a natureza trabalha,
a vida seria um nada
se não houvesse batalha.

A flor rouba a umidade da terra,
a terra rouba o conteúdo da flor,
ambas se nutrem uma na outra
mesmo cada um contando sua dor.

Um pai trabalha por seus filhos
até se consumir em seus dias,
depois o filho se torna pai.
e o mesmo lhe acontece.

Um vai embora ainda criança,
sem conhecer nenhum mal,
Outros vivem por cem anos,
e é o mesmo final.

Hertinha Fischer









Eu , amanhã

Para onde vais, segue o mundo.
pois é só mundo que há
Para onde anda segue o pé,
sem o pé, chega pouco

E me arrastando de corpo e de tudo,
ruminando palavras no compartimento de sonhos,
 sem ter onde me derramar.

Ando, ando, para nunca chegar
descobrindo o que já se achou,
 sim, sim, meu Senhor,
são só retalhos de dor.

Segui pela mesma estrada
onde, muitas vezes passou,
Sim, sim meu senhor, assim também o levou.

Hertinha Fischer









Um lugar para se esperar

Sinto-me meio longe,
rosto e sorriso largo, nem
sequer me vejo.
Uma angustia de dia seguinte.

Um amargo de hoje na boca,
um silêncio mesquinho
de quem não se entrega
a própria definição.

Será só esta vida malograda de
anos contados, gotas em oceano
ou ainda há alguma esperança de mais.

Até onde a minha fé vagueia,
se sem fé também se vai
O criador sempre me arranca
a máscara
me deixando sempre a querer mais.

Eu peso, tu pensas, e acordo não há
uma soma de nada, nada a acrescentar,
só doenças e ais.

Não estou mais aqui, aqui não quero estar.
Dentro do pensamento é que me alegro,
no egocentro sou mais eu
sem ninguém à me perturbar

Este é o meu céu, aqui o meu senhor
me desperta, aqui eu posso
sentir a alva surgindo
nada denegrindo esse parecer

Que mais me espera
se vida ou morte, tanto faz
Uma ou outra, já se fez, ou se faz ouvir
a trombeta à tocar, anuncia que virá
tudo o que ainda não veio.

E se vem, já não posso
e se posso, já estou,
e se estou, para que me preocupar....
Hertinha Fischer




quinta-feira, 9 de abril de 2020

Ilusionismo

Estou criando o meu próprio mundo.
Um mundo paralelo em função da reclusão.
Um pouco para a escrita, outro pouco pra comer,
outro pouco só para continuar viva mesmo.
Se a morte está na esquina, para lá é que não vou,
mas, e se ela já criou asas e braços para abrir minha porta,
nisso eu ainda não pensei.
A minha idade já demonstra o quanto ela me espreita,
ah! mas, se,  eu posso retardá-la, por que não?
Vou fechar-me entre quartos, respirar bem manso, falar
o mais baixinho possível: aqui não!
Não quero ninguém por perto, Vai que a morte venha
galgada em seu colarinho sem você perceber.
Vai que ela te use só para me enganar,  e assim que eu
me distraia, queira me levar sem eu querer.
Eu quem mando na minha casa, só saio se eu quiser,
e por enquanto, enquanto está lá na rua, aqui me sinto segura.
Será?
Hertinha fischer







terça-feira, 7 de abril de 2020

(Tudo ao contrario) oirártnoc oa oduT

A fada madrinha está fadada a morrer,
sua varinha não funciona: A abóbora apodreceu, a
princesa sumiu, o príncipe adoeceu
A carruagem se transformou em fogo, o fogo
consumiu o romantismo e o castelo desmoronou.
Eis uma praga do Egito que ninguém sequer falou: amor
ao contrário, amor que mata, que se transforma em ódio
após  amor.
Mundo podre ou gente podre amando o mundo, como
se o mundo fosse seu?
Em que partido nos partimos, em que nos
transformamos após nascer?
Liberdade de promessas que nem sequer  se ouviu falar,
se corrompe em cada esquina e em braços
desleais se escora.
O direito se tornou defeito, o esquerdo o direito que de
todo se fartou.
Os montes clamam pelo bem, o bem jaz nas planícies,
onde homens se aninham.
Esquadrinhando a vida, a morte a perder de vista,
e a vista turva e egocêntrica, só a enxergar seus tostões.
Consumismo consumindo almas, divertindo-se calma
no comunismo da paixão..
Hertinha Fischer







quarta-feira, 1 de abril de 2020

Desespero Humano


Eu estava lendo um livro de bolso escrito por Sorem Kierkegaard, tradução de Fransmar Costa lima,
Titulo: O desespero Humano, que diz o seguinte:
Não é a morte (João 12,14) esta doença e contudo Lázaro morreu. Como os discípulos não compreendessem a continuação: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas eu vou acordá-lo do seu sono. Sem ambiguidade Cristo disse-lhes: Lázaro está morto (11,14).
Portanto, Lazaro está morto, e contudo sua doença não era mortal, mas o fato é que está morto, sem que tenha estado mortalmente doente.
Sem dúvida, Cristo pensava nesse momento no milagre que mostrasse aos contemporâneos, isto é, àqueles que podem crer, a gloria de Deus, no milagre que acordou Lázaro dentre os mortos.
De modo que não só essa doença não era mortal, mas ele o predisse, para maior gloria de Deus, a fim de que o filho de Deus dessa forma fosse glorificado.
Todavia, ainda que Cristo não tivesse acordado Lázaro, nem por isso seria menos verdade que essa doença, a própria morte, não é mortal.A partir em que Cristo se aproxima do túmulo e exclama: Lázaro, levanta-te e anda! (11,43) já estamos certos de que essa doença não é mortal. Mesmo com essas palavras não mostra ele, ele que é a ressurreição e a vida (11, 25) tão só pelo aproximar-se do túmulo, que essa doença não é mortal? Mas simples fato da existência de Cristo, não é isso evidente? Para Lázaro, que proveito haveria em ter ressuscitado para ter de acabar por  morrer!
Que proveito, sem a existência daquele que é a Ressurreição e a Vida para qualquer homem que nele creia! Não, não é por causa da ressurreição de Lázaro que essa doença não é mortal, mas por Ele existir, por Ele. Porque na linguagem humana a morte é o fim de tudo, e, como se costuma dizer, enquanto ha vida há esperança. No entanto, para o cristão, a morte não é o fim de tudo, nem sequer um simples episódio perdido na realidade única que é a vida eterna. A morte implica para nós infinitamente mais esperança de que a vida comporta, até mesmo quando saúde e força transbordam.
Nesse sentido, para o cristão nem mesmo a morte é a doença mortal, e muito menos todos os sofrimentos temporais: desgostos, doença, miséria, aflição, adversidades, torturas do corpo ou da alma, mágoas e luto. De tudo o que coube de alguma maneira aos homens, por muito pesado, por muito duro que lhes seja, pelo menos, aqueles que sofrem, a tal ponto que os faça dizer que a morte não é pior, de tudo isso, que se assemelha á doença, mesmo quando não o seja, nada é mortal aos olhos do cristão.
Pois essa é a forma magnânima como o cristianismo ensina ao cristão a pensar sobre todas as coisas deste mundo, incluindo a morte.
É quase como se lhe fosse necessário orgulhar-se de estar altivamente para além daquilo que corretamente é considerado infelicidade, aquilo que vulgarmente se diz ser o pior dos males.... Em compensação o cristianismo descobriu uma miséria cuja existência o homem, como homem, ignora: a doença mortal é essa miséria.
Pode enumerar à vontade tudo que é horrível ao homem natural - e tudo esgotar, o cristão ri-se da soma. A diferença entre o homem natural e o cristão é semelhante à da criança e  e do adulto. Nada é para o adulto o que faz tremer a criança. A criança ignora o que seja o horrível, o homem sabe e teme. A deficiência da infância está, primeiramente, em não conhecer o horrível, e em seguida, devido à sua ignorância, em tremer  pelo que não é para fazer tremer. Igualmente o homem natural. Ele ignora onde verdadeiramente jaz o horror, o que todavia não o livra de tremer. No entanto, é do que não é horrível que ele treme. Dessa forma, o pagão na sua relação com a divindade não apenas ignora o verdadeiro Deus como adora, além do mais, um ídolo como se fosse um deus.
O único que conhece a doença mortal é o cristão. Porque o cristianismo lhe dá uma coragem ignorada pelo homem natural - coragem concebida com um receio dum maior grau de horrível. verdade é que a coragem à todos é dada e que um receio de um maior perigo nos dá forças para afrontar um menor. E, finalmente, que o infinito temor dum único perigo torna inexistentes todos os outros. Não obstante, a lição horrível do cristão está em ter aprendido a doença mortal....
A primeira doença mortal é o desespero...
Fim!