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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Alúvio de mim

 Minha imagem nada tem de lúcida, sou translucida.

Creio mais na poesia que nada diz e diz tudo, do que, aquele
que constrange com discursos acalorado, falando muito, dando a entender tudo do lado errado.
Não me importo com as portas que se abrem, Todas se abrem em algum momento. Nem com sonhos - sonhos nada dizem, se antes não se levantar com disposição.
Minhas ruas não estão solitárias, estão cheias de mim. Se não houver ninguém disposto a ouvir, as ruas me ouvem, estou sempre declamando para elas ao pé do ouvido.
Máquinas não me dizem muita coisa, Já meus dedos contam histórias.
-Mundo, Não concordo com você em muitas coisas. Ando meio alheia aos teus enganos. Amanhã, se eu for embora, não lhe entrego nenhuma saudade. Não sou daqui!
Hertinha Fischer.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Discurso da vida

 Como não ser grata.

Ouvindo aqui o canto da tarde.
Seresta de seres e aves e gente.
Especialmente, o som do domingo,
que traz em meus braços um tiquinho do sonho.
E a vida... isto é! Deus, com toda certeza, regou
meus planos com bênçãos. Olha ao derredor, há uma suave plantação de alegria, que flora e frutifica á cada estação.
Envelhecemos e crescemos... Assim como um final de tarde que chama a sua noite e vai crescendo a medida em que se dão as mãos....
Hertinha Fischer.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

O sonar das horas

 O encanto que as horas comeram,

degustando momentos  pelas bordas

Eis que sou e nem sei

Horas que se foram,

horas que voltaram

Encontros que permaneceram

horas que permitiram.

Fluidez do tempo,

ou tempo não há.

Ou há sem tempo

quando as horas levam

E as memórias insistem

Corroborando os feitos

que já se fizeram

ou ainda estão por fazer.

Hertinha Fischer

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Grande prurido

 Estou a intuir que já foi,

Todo bem que se construiu
se foi,
no enfado do certo que ligava
as redes e os sociais.
Desintegrou-se ainda criança
nos atos que se arriscou
Foi-se o romance, foi-se casado no descasado,
Foi-se.
Foi-se a purpura e o papiro, perdeu-se na arca
As desilusões as abateram, só sobraram cortes.
E a religiosidade que trouxe paz, ao mundo,
é a que mais destrói.
Trança-se espigas mofadas, abriga-as nas profundezas.
O inútil se valorizou e o útil se escondeu.
As praças estão cheias de traças e trapaças, a alegria se encolheu.
Ruas largas, pouco espaço para gente, pra bicho.
O sol bate nos vidros, embaçando a visão, e o cortejo já não tem defunto, apenas caixão vazio rodando.
Árvores desperdiçando sombra e engolindo fuligem - tudo certo, lógica da terra plana.
E os seres não são seres. São na maioria das vezes, gladiadores.
Onde lutam consigo mesmos, com armas de ganância milenares, quando um homem corrupto corrompe tudo que toca.
Tudo na terra já foi consumido e habitado. Não há mais para onde fugir ou descobrir.
Vontade de ser um conto, mas, nem te conto - conto são apenas contos.
Alice não mais se maravilha.
Hertinha Fischer.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Globo da criação- Ars

 Ainda assim me via e ouvia quando as fraudas de pano de saco estavam encharcadas de frio.

Uivava ainda a criança chacal dentro da comodidade do cerco.
Quando as circunstâncias da fome afagava o silêncio dos vigias.
Uma sede de descobrir além, um choramingar de esperança, um defender-se quase que destrutivo diante do perigo a rodear.
O mundo circulando ante seus olhos atentos, numa expressão selvagem de olhos famintos naturais.
O céu de olhos azuis, titubeando sobre a luz fraca do sol entre nuvens negras e pegajosas.
Enquanto mastigava um pedaço de capim seco, entre dentes, ainda de leite, branquicentos e lentos, sacolejando, as ancas, no prelúdio de uma força imaginária.
Uma coroa de penujem sobre a cabeça, ouriçada pela mágica sensação de já poder ser como os demais.
Tudo parecia imenso diante dos seus passos, incompreensível e poderoso para que encarasse como fato.
Uma janelinha que mais se parecia com um buraco negro, se abria para o sul de seus dias, que a noite engolia como se brincasse de viver e morrer. E a vida solvia seus goles.
Brincar de pega-pega com as folhas soltas de uma árvore, solrisando de prazer nas brincadeiras inocentes, como se brincar fosse a moral.
E assim, como não se quer nada, e nada a se esperar, as águas corriam em seus mananciais, cresciam e seguiam seu curso meio que descampando.
Esperar e esperar, até que os vigias voltem com a recompensa do abandono. E o tempo o empurre para o crescimento, para que esteja apto a vigiar por si mesmo.

Hertinha Fischer.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Vão sós

 Que olhos distantes em terras sombrias, que sorte sacramentou nos atos e nós.

Nas fases de lua e camaradagem dispersa
de onde e de hoje sobrou-se o sós
Vi na alvorada, seus braços estendidos, na foice e na enxada
de vias e pós.
Quaisquer lembrança, façanha e risos
Apaga-se na entrada da força dos mós.
Usa-se palavras e gestos, encobre-se saudade
na dor do após.
Saudade doída; calada e temida,
de nós, de sós, não tem dó.
Hertinha Fischer.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Duplo vazio

 Eu ainda esperava, sentada naquele banquinho cheio de memórias, quando o dia se foi e trouxe consigo o esquecimento.

Era tarde, e a tarde já se mostrava ausente, a noite furtou sua gloria, e levou teu rosto para longe.
Percebi que perdi, perdi você e todo aquele ensejo de amor que havia.
Tudo falso, tão falso quanto o teu silêncio já me mostrara.
Vias de fato: visão embaçada, coração malogrado.
Te esperei na esquina, e tua ausência me mostrou ausência.
Te procurei nos cantos, e estavam vazios.
Não era você, era você sem você, nos beijos trocados, na alegria dos momentos, apenas sonhos em névoa.
Não há rancor, nem saudade, apenas uma dor oca de uma oportunidade feliz que se perdeu.
Hertinha Fischer.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

O dia em que se está

 E anteontem que não era ontem, nem hoje, nem amanhã.

Tinha gosto, mosto, rosto.
Frívola manhã desintegrada, charada, escancarada.
Vivia, sofria, magia, transmitia.
Amor que amava, chorava, se apaixonava.
Ia, cria, sorria, percebia.
Havia, cortesia, de ventania se vestia.
Ausência, clemencia, sofrência.
Esquecimento, lamento, isento.
Eu, você, nós
Foi-se, sorte, morte.
Hertinha Fischer.