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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Prova de inocência.

Certo dia Luiza saiu de casa pela manhã, ainda
estava escuro, ia para o trabalho.
Fazia bem pouco tempo que tinha se mudado
para aquela cidade, Até então, conhecia apenas
a inocência da área rural.
Enquanto estava em seu "habitat natural", tudo
era tão longe, e portanto, mais difícil de se
locomover.
Quando precisava sair, sempre estava rodeada de
amigos, ou de alguns familiares.
As tardes de domingo, depois do almoço, saiam para
assistir futebol em algum campo, andavam por longas distancias
a pé, entre risadas e conversas animadas.
Quando voltava para casa, a noite, logo ia para a cama, não
tinham televisão, então, sobre a canseira de andar e passar o
dia inteiro procurando aventuras, só restava dormir.
Todos em sua casa tinham o costume de dormir cedo, não
era nada fácil viver a meia luz. ou sair apenas
com a luz da lua ou das estrelas.
Pela manhã, antes mesmo que o sol nascesse,
 precisava pular da cama, acender o fogão a lenha, ferver
a água e preparar o café da manhã;
Esta tarefa era revezada com suas duas irmãs mais
velhas, em outros dias poderia curtir a cama por mais algum tempo.
Depois do desjejum cada uma pegava a sua ferramenta e
iam trabalhar na roça.
Seu pai sempre fora agricultor, e como não havia outra
atividade que não fosse essa, então, tinham que fazer o
mesmo.
Colocavam blusas de manga comprida, um pano amarrado
na cabeça e um chapéu, tudo para não queimar a pele, pois
a não ser que trabalhassem no galpão, ficavam expostos a sol
forte na maioria das horas do dia, principalmente quando
era época de plantar, limpar e colher.
Ao completar dezenove anos de idade, depois de ter passado
por várias experiências já morando na cidade, ela foi morar
numa cidade de porte médio.
Não tinha nenhuma experiência com homens, ou melhor,
pelo menos com homens de má índole.
Em cidades pequenas em que morou, ela se divertiu bastante,
porém lhe fazia falta alguém que pudesse ser companheiro de
verdade, quase todas as suas amigas tinham namorado, e ela,
apenas alguns paqueras, nada oficial.
Tinha tanta vontade de arrumar um namorado, e também uma certa vergonha
de ser sozinha. precisava urgentemente afiliar-se a alguém, que, se desgastava,
a procurar pela  sua metade. Porém nenhum relacionamento ia além de dois
ou três meses.
Voltou a estudar e conheceu um menino, forçara um relacionamento, e por
fim, ele cedeu, começaram a namorar, primeiro nos intervalos das aulas,
depois, ele começou a convidá-la para sair.
Fizeram algumas viagens, sempre acompanhados pela família dele,
assim, ela conheceu algumas cidades, onde ele tinha algum irmão
ou tio, sempre que ia fazer alguma visita, ele a levava.
Até que, num dia fatídico, ele a levou até uma cidade proxima de
onde ela morava, para uma visita de final de semana á uma de suas irmãs,
 e lá, ela conheceu os seus pais.
Na volta, vieram todos juntos, ela, o garoto e seus pais.
Ela notou que o pai do menino não a olhava nos olhos, nem lhe dirigia
uma só palavra. Para quebrar o gelo, ela pagou a passagem de volta,
achado que assim, o pai do menino veria que ela não era uma aproveitadora.
Mas, de nada adiantou.
O menino  pediu-lhe que fosse até a sua casa, que ali pernoitasse, já que era sábado, e que,
no dia seguinte, ela voltaria, pois tinha trabalho e escola.
Enquanto ela ficou sentada na sala com os sogros, até que surgiu uma conversa amigável,
eles contaram que seu filho teve uma namorada, e que ainda gostavam muito dela, embora
eles tivessem já terminado o relacionamento.
Ela ficou um tanto chateada com a conversa, mas não disse nada.
A sogra levantou-se e foi dormir, mas o sogro fez questão de
ficar até que ela, cansada pela viagem, também se despedisse e fosse para
um quarto reservado para hospedes.
No dia seguinte bem cedo, o menino lhe despertou com batidas insistentes na porta,
ela levantou-se, e ele a convidou para saírem.
Andaram a pé por uma estradinha de terra até chegarem em outro bairrro, onde ficava
o açougue, ele comprou carne, e voltaram para casa.
Ela foi tomar um banho, e quando saiu, não mais encontrou o menino nem o pai,
eles tinham saído, nem a mãe dele sabia do seu paradeiro.
Ficou sentada na cozinha enquanto a mulher preparava a refeição, ela fez-lhe muitas
perguntas como onde ela morava e trabalhava, só faltou querer saber o
quanto recebia de salário.
O almoço ficou pronto, e a mulher resolveu procurar por eles, foram em
vários lugares sem contudo encontrá-los, então resolveram voltar para casa, almoçaram
e  ela decepcionada ao se ver sozinha, resolveu deitar um pouco, Quando levantou eles
já haviam chegado.
Ela se preparou para ir embora, tinha que sair até a pista para tomar o ônibus de volta,
O menino a acompanhou como se não tivesse acontecido nada, ela também ficou
calada, embora já soubesse qual seria o resultado, era questão de tempo, ele
com certeza terminaria com ela.
E foi o que aconteceu no dia seguinte:
Logo que chegou a escola, já sentia um peso no peito. Esperou por ele, sentada a
mesa da cantina, e quando ele chegou, não foi nenhuma surpresa para ela, quando
ele, simplesmente, disse que não queria levar adiante o relacionamento.
Ela ainda lhe perguntou por quê?
Ele veio com uma conversinha de que o pai lhe prometeu pagar a sua faculdade,
caso ele terminasse com ela. E ele apenas acatou o desejo do pai, provando assim,
que  nenhum carinho existiu de fato, para ele, ela foi apenas um passatempo.
Ela chorou muito, ficou vazia por dentro, não era possível que tudo terminasse assim,
Nenhum relacionamento dava certo, toda vez que ela acreditava estar no caminho, vinha
uma coisa ou outra e acabava com a sua alegria.
Vivia tão desiludida a ponto de paquerar todo os homens bonitos que passavam por ela.
Bom! Já é sabido que Luiza era muito carente, talvez, devido o seu histórico de
rejeições e solidão.
Neste dia, especialmente, ela levantou-se como um autômato, instalada inconfortavelmente
na casa da irmã mais velha, dormindo atrás da mesa de jantar, num  pequeno colchão jogado
ao chão. Tendo que tomar dois ônibus para chegar ao trabalho, um deles até um determinado lugar,
onde pegaria um poutro ônibus fornecido pela empresa em que trabalhava, pois
a empresa sediava-se em uma cidade a trinta quilômetros dali.
 Pegou a marmita colocando-a numa bolsa tira colo azul escuro, feita de crochê, saiu apressada
e ainda sonolenta, pela noite mal dormida, tomou o ônibus que a levaria até o centro, descendo
um tanto longe do ponto onde pegaria um outro.
Logo que atravessou uma praça, um homem chamou a sua atenção, ele estava passando pela rua numa moto,
e ao vê-la, parou, perguntando-lhe: o que  fazia ali aquela hora da manhã?
Ela respondeu com um sorriso nos lábios:- estou indo para o trabalho!
Ele, gentilmente ofereceu-se para levá-la.
Ela nem pensou direito, aceitando de imediato a oferta.
Apenas se limitou a dizer-lhe: -tem certeza?
fica um pouco longe, em outra cidade!
Ele lhe respondeu que estava sem ter o que fazer, e que, para ele não custaria nada.
Então, ela subiu na moto e o homem a colocou em movimento, logo que saíram do centro,
em sentido a outros bairros, ela ficou esperta, ele estava se afastando do caminho
que os levaria a rodovia, estava indo sentido contrário.
Mas, ao perceber a intenção do homem, já era tarde, não podia pular da moto, estavam em alta velocidade, então, ela disse no ouvido do rapaz:- Para onde esta me levando, este não é o caminho?
Ele tentou convencê-la de que estava sem documento, e estava usando um atalho. mas, ela já
sabia o que estava para acontecer, lamentou muito a sua brejeirice.
Ao pegar uma rodovia, eles passaram por um ponto de ônibus, um policial
estava parado, provavelmente, esperando por uma condução, ela pensou em fazer
algum sinal para o guarda, mas logo desistiu, a partir dai, ela precisava de
muito sangue frio, se ela alertasse o guarda, pensou: Provavelmente ele colocaria alguma viatura
em seu encalço, poderia ser fatal, imaginou-se em alta velocidade sobre a garupa de uma moto
perseguida por policial.
Não! ela não queria passar  por aquela vergonha, ela não merecia, estava querendo chegar ao
trabalho, só isso!
 Não queria parar numa delegacia e ter que explicar que pegara uma carona
com um homem desconhecido.
O homem saiu da rodovia pegando uma estradinha de terra, ela estava rígida e sem fôlego,
estava confirmado o que temia, para ela, talvez, fosse o fim.
Já se imaginava sendo manchete no jornal:  "pessoa desaparecida a caminho do
trabalho."
Pessoa encontrada morta num matagal, e as pessoas se perguntando: como ela chegou até ali?
Muitas coisas passavam na sua cabeça, até que, em determinado momento, a velocidade da moto foi diminuindo,  havia um declive bem acentuado, e encontrava-se o final da estrada e um trilho
no meio de plantações de eucaliptos, um trilho de gramas amassadas, como
se alguém já estivesse se deitado ali.
Quando a moto estava quase parando, ela pulou e saiu correndo, a pulsação quase que
arrebentava a pele, tanto era a pressão.
Saiu novamente na estrada e entrou na mata, ficando escondida sobre a vegetação, enquanto o
homem lutava com a surpresa e tentava manobrar a moto, pois o trilho era tão estreito, que ele teria que carregar a moto para colocá-la em posição de volta.
Ela ouviu o som do motor sendo novamente acionado, estava tão desperta e com tanta determinação
pra sair desta, que parecia que forças vinham do além e tomavam posse dela.
Estava ainda na mata, ficou com medo, ela tinha pavor de cobra, e se, de repente aparecesse alguma?
Ouviu a moto subir pela estrada, resolveu sair, mas o homem voltou. Não era bobo, foi
até uma encruzilhada, não vendo ninguém, deduziu que ela estava escondida em algum lugar.
Por sorte, havia um sulco enorme entre a estrada e a mata, erosões feitos por enxurradas
frequentes.
Ela ficou presa. Ele, na moto de um lado da estrada, e ela, separada pelo sulco, do
outro, quase caindo no buraco.
Então, ele lhe falou: Eu só quero que você "bata uma" para mim, só isto!
Ela deu um grito de negação: Não!
Ele levantou a mão e acertou-lhe um tapa no seu rosto, resmungando e lhe dirigindo insultos.
ela, por sua vez, não emitiu mais nenhum som, com os olhos esbugalhados. pôs-se a olhá-lo
nos olhos, nem uma lágrima sequer brotara de seus olhos.
Vendo que não obtivera nenhuma chance, e intuindo que se continuasse tentando, ele poderia se dar
mal, o homem manobrou a moto, dando meia volta, e foi embora.
Temendo que ele voltasse, Luiza segurou a bolsa firmemente com as duas mãos e se pôs a
correr, chegou numa encruzilhada, rezando para que ele não voltasse, sem saber o
que fazer caso isto acontecesse.
Foi então, que,em meio ao caos de seus pensamentos, ela ouviu barulho de um carro, e quando uma
pequena caminhonete aproximou-se, ela quase que se jogou na frente do carro, acenando desesperadamente para o motorista.
Nunca pedira carona a ninguém, sempre fora tímida, mas naquele momento, seu medo falava
mais alto que o orgulho.
O motorista parou.
 Ela percebeu que era um senhor de aparência simples, então, antes que ele lhe perguntasse alguma coisa, ela lhe contou o que acontecera, omitindo o fato de que, pegou carona com um desconhecido.
Perguntou ao homem o seu destino. Ele passaria pela mesma rodovia que a levou até ali,
Passariam por uma ponte, esta ponte continha um atalho que chegava até a rodovia. onde
passaria o ônibus que a levaria até o trabalho. O carro demorou para chegar até a ponte, mas quando ela  a avistou, seu coração aliviou a pressão.  Falou então ao motorista que desceria ali.
Quando o motorista parou, ela agradeceu e saiu do carro, atravessou a ponte, desceu pelos degraus que a levaria até outra pista.
Parou num ponto de ônibus, já era tarde para pegar a condução da empresa, pegaria um ônibus de linha, chegaria em cima da hora, mas não deixaria de trabalhar.
No entanto, como que por um milagre, o ônibus da firma apontou no final da estrada, também estava um tanto atrasado, ela deu
sinal, e o motorista a reconheceu e parou.
Entrou no veículo quase que como um autômato, não dava para ela ver o seu rosto, mas devia
estar desfigurado, pois tão logo tomou o seu lugar numa poltrona, um colega de trabalho lhe
perguntou: -O que aconteceu, está tão branca, viu um fantasma?
Com os olhos secos e ardendo, ainda sentindo muita vergonha, ela simplesmente lhe respodeu:
-Ah! Eu perdi a hora,  meu cunhado me trouxe até a pista de cima, e eu desci correndo, por
isto estou sem fôlego!
 O colega ficou satisfeito com a explicação. Ela então, fechou os olhos fingindo dormir.
Chegando ao trabalho, a cena se repetia em sua mente, por mais que tentasse se distrair,não
conseguia deixar de se maltratar pela inocência de seu ato que poderia facilmente ter
se transformado em tragédia.
Depois deste caso, aprendera a lição. Nunca mais aceitaria carona de ninguém, a menos
que conhecesse muito bem a pessoa.
Tudo, na vida, precisa ser levado a serio, muitas vezes, colocamos nossa vida em risco apenas por
negligenciarmos a capacidade de fazer analise numa certa situação, agimos sem astúcia, e acabamos por sofrermos consequências severas.
Desta vez, a historia teve final feliz, mas nem sempre isto acontece!
 Herta Fischer































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