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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Amor coelho

Estava eu, deitada ainda em minha cama,
pela manhã, sonolenta e preguiçosa,
quando ouvi meu pai me chamar.
Fiquei meio atordoada com o tom de sua
voz, estava rouca e tremida.
Pensei com emoção: O que teria
de tão importante naquela hora?
Era domingo de páscoa, e não
haveríamos de trabalhar naquele dia.
Mais uma vez se fez ouvir a sua voz grave:
Levantem-se crianças, o coelho já botou!
Lembrei-me então, de que no dia anterios,
eu e meus irmãos, fizemos ninhos, cada
um em seu lugar, todo enfeitado com flores
e papeis coloridos picados.
Todo sábado de aleluia era uma festa em minha casa.
Passávamos a semana toda coletando papéis e flores,
para que, no sábado
pudéssemos disputar quem faria um ninho melhor e
mais bonito. É claro que,minhas irmãs mais velhas
sempre ganhavam. O que, para mim, não fazia
nenhuma diferença, pois o coelhinho da páscoa
colocava os ovos na mesma proporção: seis ovos
de galinha cozidos, e de cores diversas, e um
ovo médio de chocolate em cada ninho.
Naquele dia, eu estava meio desatenta, pois em
outras épocas eu nem dormia direito.
Pulamos da cama, quase que todos ao mesmo tempo,
e lá estava os ovos coloridos, molhados de sereno.
Coloquei-os enrolados na base da camiseta e sorria feliz,
enquanto entrava em casa dizendo:
Olha pai, o coelho me trouxe tudo isto! E meu
pai fingindo não saber, olhava com perplexidade e
entre um belo sorriso, nos mostrava uma vasilha de
escorrer macarrão cheinhos de ovos coloridos: Olha,
o coelho não se esqueceu de mim e de sua mãe!
Fui lavar o rosto no rio, pela manhã, e achei escondido
sobre a vegetação este recípiente repletos de ovos.
Nossa! Como éramos felizes.
Passavamos o final de semana nos empaturrando
com ovos de galinha cozidos.
 Minha
mãe, então, preparava uma bela ceia, com direito a sobremesa,
coisa muito rara naqueles tempos. Geralmente ela fazia
ovinhos de sapo com vinho, era assim que chamavamos
o sagú.
Muito bom!
O tempo foi passando, e quando chegou outro
ano, na mesma época, aprontamos nossos ninhos, e
minha mãe pediu para nossa irmã mais velha nos
levar para um passeio. Eu fiquei cismada, me perguntando:
por que ela faria isto?
Fomos né? Afinal ninguém contrariava a mamãe.
Quando voltamos, já no final da tarde, eu fiquei de olho
para ver se conseguia decifrar o enigma dos ovos,
não podia ser o coelhinho, afinal, coelhos não botam ovos.
E ainda mais, não poderiam botar ovos já cozidos?
Tínhamos uma pequena mesa na cozinha, e eu vi rastros de
tinta sobre ela. Ahan! Bingo!
Eu não estava errada, era a minha mãe quem fazia as traquinagens,
enquanto não estávamos em casa. Que descoberta!
Não falei nada, eu sempre fui assim, não podia tirar aquilo das pessoas,
não tinha esse direito.
Minha mãe fazia tudo aquilo com amor, não era para enganar, mas,
para fazer-nos felizes, ela amava nos ver com os olhinhos brilhantes
de expectativas ante aquela brincadeira.
Passaram-se mais alguns anos, e eu, fazendo de conta que não sabia de nada,
ninguém desconfiou que eu ja sabia, até que minha irmã
caçula também descobriu, mas, não guardou segredo, falou para
todo mundo, que o coelhinho da páscoa era meu pai.E,
a bricadeira acabou. dali para a frente, só havia adultos em casa, e a
magia de criança se transformou em  apenas responsabilidades!
Herta Fischer









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