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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Ensaboando meu cavalo

Aos seis anos de idade, eu ainda não conhecia cidade.
Vivia como se só existisse mato e nossa pequena casinha de pau-a-pic.
Eu amava o meu lar. Tudo muito simples.
A cozinha com uma fogão a lenha, uma mesa e um pequeno armário.
Na sala tinha apenas uma mesa e quatro cadeiras.
Nos dois quartos, o meu e de meus irmãos, apenas uma cama de casal para as meninas,
uma cama de solteiro para meu irmão, e no quarto do meus pais,
um guarda-roupa velho e uma cama.
Este era o nosso mundo.
Lá fora a mais perfeita casa que Deus nos deu.
Árvores frutíferas e imensas carreiras de bananeiras dos dois lados,
 formando um imenso corredor que nos levava a estrada.
Lá eu fui feliz.
Esta história começa num dia muito bonito, quando minha mãe disse
que no dia seguinte, ela me levaria a cidade.
Passei a noite em claro, só na expectação do passeio do dia seguinte.
Levantamos ainda no escuro, e sobre uma luz fraca de lamparina, nos
arrumamos.
Meu pai encilhou o cavalo Lebuno, colocou dois sacos vazios, um amarrado
no outro e o dispôs sobre ele.
E lá fomos nós!
Eu acredito que, para chegar a cidade, levava umas quatro horas de caminhada,
a distância era mais ou menos uns dezoito quilômetros. E fazíamos a viajem a pé.
Íamos quase sem falar. Meu pai puxava o Lebuno pela corda, na frente, e atrás, eu e minha
mãe os acompanhava em silêncio.
Eu acho que meu pai não subia no lombo do Lebuno, para poupá-lo, afinal, ao findar do dia,
ele traria em seu lombo, a compra do mês.
Eu andava e olhava por todos os lados, ia absorvendo a paisagem. As vezes o caminho era leve, uma
estradinha de terra com todos os tipos de vegetações de ambos os lados.
Porém, as vezes só conseguíamos ver imensos paredões que cercavam os dois lados da estrada.
E foi numa desses trechos que eu comecei a sentir dor de barriga.
Eu olhava para cima, e pensava: Não dá para escalar, é muito íngreme!
E agora? Como dizer para os meus pais que eu precisava ir ao banheiro!
Tudo bem, na minha casa, não tínhamos banheiro, mas havia muita vegetação rasteira, e
a mata era limpinha por baixo das árvores. Mas, onde eu estava, ou eu fazia minha necessidade
na estrada, ou escalava o morro, mas isto era impossível de se imaginar.
E a coisa ia apertando cada vez mais, e eu dizia intimamente: eu consigo andar até encontrar um lugar melhor!
Porém, aqueles paredões não tinha fim.
A dor tornou-se insuportável a tal ponto, que eu me imaginava fazendo a necessidade fisiológica
a beira do barranco, e ao mesmo tempo, pensava: A não! E se aparecer alguém, eu morro
de vergonha. E continuava.
O barulho dos cascos do cavalo começava a incomodar, e de repente, não mais aguentei:
Fez Ploft!
Ai, que alivio, mas encheu minhas calcinhas! Então comecei a andar meio com as pernas abertas
e o monte de coisas ia revirando de um lado para o outro. Ninguém percebeu!
Só que, o destino das crianças as vezes é cruel, e meu pai parou a alguns metros á frente, ao
alcançá-lo, ele simplesmente me segurou pelas axilas e me colocou montada na traseira do Lebuno. Por pura sorte, ele não me colocou sobre o arreio, pois ai, seria morte para mim.
O bumbum do cavalo ia rebolando: Para lá, para cá, para lá, para cá...Imagine a cena! É...Literalmente tomando banho de merda!
Demorou um pouco, até que meu pai resolveu me tirar de lá, para que o Lebuno pudesse descansar.
E quando me tirou... imagine o que aconteceu?
O bumbum do cavalo estava amarelado! Parecia que tinha sentado na lama.
Por misericórdia, meu pai não me bateu, apenas com certa surpresa no olhar retrucou humildemente:
-Você cagou no cavalo?
Eu olhei para ele com meus olhinhos amendoados, quase que inexpressível, como
se não tivesse culpa de nada.
Minha mãe me olhou horrorizada me perguntando; - E agora? E eu mantive minha boca fechada!
Chegamos numa clareira fechada por vegetação rasteira, tinha acabado a estrada, agora caminharíamos apenas por um trilho.
Ela me escondeu atras de alguns arbustos, tirou minha calcinha e jogou fora, me limpou com folhas,
e prosseguimos viagem.
Como já era de costume, logo esqueceram daquele episódio triste, e ninguém mais falou no assunto.
Chegamos a cidade. Meu pai amarrou o cavalo num poste um tanto longe do centro. fizemos as compras e voltamos a pé para casa. Agora sem maiores incidentes.
Graças a Deus, tudo só ficou gravado na lembrança, e quando conto o episódio, agora é só
motivos de riso.

Fim

Herta Fischer




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