Meus sonhos sempre moraram em periferia. Amava cantar
aos pássaros enquanto eles assobiavam.
Passeava entre os bananais, atiçando as folhas secas
para que elas dançassem sobre meus pés.
Tinha um gosto por terra, minhas unhas recebiam
suas cores entre as entranhas. Esmaltadas com barro.
Ia e vinha, a pé, fazia longas viagens dentro da minha cabeça
Ousava acompanhar o crescimento das plantas, crescia com elas, embora,
elas fossem arrancadas mais cedo do que esperava. Também fui arrancada tempos depois.
Subi para o alto, troquei o barro por salto.
As travessias entre pedras nos rios, risos de águas deslizantes, para asfalto seco e frio.
Saudade da periferia do bairro. Escolinha a céu aberto, professora se chamava terra.
Cidade triste e calada, invernada sem bois. passarinhos sem casa, eu, sem asa.
Ainda me refresco em meus rios imaginários, pinto a imaginação com as cores da saudade.
Dizem que não tem nada lá. É verdade!
Por isso a memória grava os instantes. E a saudade trás de volta grandes recordações.
Das serenatas dos grilos, do encanto da terra a engolir historias.
Das manhãs maliciosas, apanhando com as mãos, o sereno do céu.
Das estrelas que descem para sondar a esperança do sertanejo que dorme,
Dos pássaros noturnos que cantam para as sementes que despertam e crescem.
Das doces alegrias a conquistar pouca e preciosas coisas,
No pouco, há um sabor de vitória, cada grão tem sua glória.
Hertinha Fischer
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