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Eu dando vida as coisas

  E o caminho era suave - sem obstáculos na pronúncia das flores. Um perfumado sonar de cores e risos, que se estendiam na passagem dos ol...

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

A guerra do tempo

 Sempre foi subida, as decidas sofridas.

Tinha em mim a mania de viver em concerto,

O maestro tempo com sua batuta, tamborilava

nas passagens.

Havia um mestre, que não se importava em falar,

dirigia ensinamentos, como quem dirige

um trem sobre os trilhos.

Me colocava onde deveria estar,

mesmo que o lugar fosse penumbra.

Com pouca força e muita vontade,

ia aprendendo a medida que meus olhos sabiam.

Luz, havia pouco, uma luneta me apontava a direção,

as vezes, nem isso, o tatear na escuridão me ameaçava.

Pouco se entendia de tudo, lá fora, apontava-se sobre buracos.

As estrelas se mostravam sorridentes, a noite, rindo para mim,

convidativas e prestimosas, nos apontava os céus. E abaixo

do manto azul celeste, sonhar não era pecado.

Olhar distante apontava outros mundos que não havia ali,

na reviravolta do olhar, as miudezas faziam sentido.

A mesinha do jantar que me parecia grande, o quintal já se tornara

mundo, e a ida até o rio, uma grande viagem, e os vizinhos seriam os 

estrangeiros.

Meu pai significava a pátria, minha mãe, a bandeira, meus irmãos, o

território, eu, a cidadela.

Chegando a guerra contra o tempo, perdemos.

O território sobrevive em partes e a cidadela já não é como era antes.

Sem pátria e sem bandeira, sobrevivemos.


Hertinha Fischer.









Aprendi com as rosas

 Tentei olhar para a natureza de um jeito diferente,

Tudo que aprendi, aprendi sozinha,
Não foi pelos olhares alheios que comecei a ver poesia.
Foi através da tristeza e desalento, entre um cansaço e outro,
que as rosas começaram a explodir,
Entre pétalas mortas encontrei perfume, na solidão das ruas as vi nascendo.
Meus olhos despertaram para dentro, e o poço saiu de mim.
Hoje, com a idade avançando, já posso sentir o jardim se colorindo,
e as rosas, entre outras, é a que mais me atrai, por me mostrar que
podemos crescer mesmo em cima de espinhos, que, muitas vezes,
servem para nos proteger e nos impele a seguir em frente.

Hertinha Fischer.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Delirando

 De pedras em pedras subindo a montanha,

vestido de renda, em vento dançando.

Castiga o batom em boca vermelha,

Cabelos brilhantes caminham versando.

Cruel a subida que a vida caminha.

Suores e lágrimas no seio se aninha.

Se o topo te acha e não há mais lugar.

Que outro lugar te pode achar?

A vida e o tempo em seu reverso.

Na crença, o costume fica imerso.

Adivinhos tentam rastrear o céu

Querendo tornar-se o seu carrossel.

Eu que não sou, meio que cega,

me apego a luz que cisma lá em cima,

carrego no ventre o vento e a sorte

É esse cordel que cedo me anima.


Hertinha Fischer










Despedida de mãe

 Quando minha mãe se despediu,

Fraqueza se ajoelhou,
Senti aquele nó na garganta, chorar
não consegui.
Estava doendo nela, mas,
muito mais em mim.
Não havia mais passagem na orla
do amor, só
um mar de saudade, a rodear esse
fim.
Da dor, a despedida, dor sua se foi,
a minha ficou a doer.
A rua não mais floresceu,
minha alma pouco sobrou,
Nessa passagem de moer
Sem colo para chorar,
sem peito para encostar
e uma vida para chorar.
A terra fria te abraçou,
No derradeiro, se deitou,
mas deixou o teu amor.

Hertinha Fischer.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

fugidio da idade

 Depois dos sessenta, estiagem.

Seca severa me espreita em meus andares, poeiras

O cheiro já não cheira, o paladar já não sente, mente

Ossos salientes nos calcanhares, indecentes

Falsos dentes, sem mobilidade, demente

Fraqueza na íris, lentes sem foco, poeira

Calosidade nos pés, unhas grossas, frieiras

Sobra de pele nos antebraços, gordura nas coxas, canseira

Idas vagarosas, volta tristonha, vergonha

Rindo o tempo, passando como vento, fim

Cerceada pela idade, sonhando juventude, vaidade.


Hertinha Fischer.


terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Presença distraída

 Queria ser nuvem

contemplar o sol de perto
ouvir as estações se abrirem
em canto que já não ouço.
O vento me elogiando,
tocando meus cabelos
já embaraçado, sem se importar
se andei errado.
Os cometas me rodeando,
lá de cima me observando,
maquiada de branco brando
De tristeza sem desespero,
solto lágrimas no destempero,
abrindo o céu com o meu olhar
fogoso raio rasga o meio.
A terra me vê e se alimenta
os homens fogem com a tormenta,
sou eu que amanso ou se arrebenta
todo orgulho que a terra ostenta.

Hertinha Fischer.

Vida de xícara

 As costumeiras manhãs com café,

as vezes sem pão.
Xícaras que aquecem a lida que vem,
Xícaras que sabem teus credos de cor,
ouve e abaixa o olhar.
A noite já não pode te ver,
café tira o sono da xícara
que descansa para o amanhecer.
Ouve as queixas do dia, entre comadres e tias
Em sopros e resmungos é o que te esfria
Toma para si as dores da falta,
água quente é o que te apalpa,
os dedos é quem te exalta.

Hertinha Fischer

sábado, 25 de janeiro de 2025

Sobre si mesmo ( concepção de liberdade)

 Lutar contra o medo é decisão

O amanhã trará mesmo assim,
O futuro é furtivo,
vive contra ou favor de mim.

Se sangrar teu coração,
antes mesmo que adoeça,
antecipará a rescisão,
antes mesmo que aconteça.

Liberdade é seguir,
em promessa de descuido,
se viver amedrontado,
não suportará o escuro.

A luz pode nem ser vista,
quando a distância desencadeia,
Seus olhos são faroletes,
seu coração, a candeia

Nada te alcançará,
se tua alma for pura,
o que se vale lá fora
se dentro já não tem cura

Já passastes pelo hoje,
ontem se observou,
amanhã é um talvez
que o hoje já te contou.

Hertinha Fischer.


quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Nova velha

 Eu, de posse de uma grande parcela de tempo, tão grande que até me curva o lombo.

Tudo meio que usado demais - Mãos finas e calejadas enfeitam um membro já ressecado.
Ante tantos olhares - cansaço de admirar.
Ante tantos ouvires- cansaço de aprender.
Ante tantos andares- cansaço de abrolhar.
Um caracol me avisou, que carregaria minha casa nas costas. zombei dele.
E hoje vejo, que, realmente, carrego, não só a casa, mas também todos os utensílios que usei.
Tudo pesa no decorrer da idade-Amor, saudade, amizade. Todos aqueles sentimentos que silenciamos ou pronunciamos, vem a tona, novamente, Não sei se é para inspirar-nos a entender ou é para atiçar-nos a esquecer.
Hertinha Fischer.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Miragens vividas

 Vejo o mundo como se estivesse num deserto,

Vivo as miragens.

Eu estava vagando em meio as areias do tempo,

Debaixo de um sol forte, a meia luz. Descobri minha casinha,

castelo de areia.

Sobre a luz de lamparina, entravamos na noite,

Comigo andava mais seis esperanças individuais,

transformando a grossa camada de areia 

em grãos pequeninos que se grudavam nos pés.

A noite nos amontoávamos no leito

como leitõezinhos famintos, dormentes em

colo de mãe.

E os caminhos, sem querer, nos viu distanciando,

e aquele recanto tornou-se apenas sonhos passageiros.

Areia e miragem

As passagens se fecharam, o rio transformou-se

num jardim de ninfeia-vermelha e estrela branca,

no meio do lodo.

A casinha perdeu as paredes e metade dela cedeu ao

tempo. Daquele corpo pequeno e singelo, só sobraram os ossos.

E outras tantas saudades que agora vem  a tona. Miragem.

O deserto continua a trazer constrangimentos as paisagens,

Nada sobra, nada! Nem sombra dos que, por lá já passaram.


Hertinha Fischer



sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

A dependência das coisas

 Só não sei falar do jeito certo, 

então uso o incerto para dizer.

Digo e espero que o que digo

bata com o que se entende.

A vida não espera: De repente já é tarde!

O melhor caminho é aquele que ainda está

por abrir. No papel tudo é simples.

Quando nos deparamos com as necessidades,

havendo habilidade para construir o necessário,

quase sempre nos deparamos com um pouco

mais do que importa.

Olhos alheios é como olhar de formiga,

Nunca se volta para ela mesma, está de olho

no galho.

Esperamos que os outros entendam as nossas asas

e sequer temos asas para voar.

Epicuro já dizia que a felicidade é alcançada por meio

da ataraxia, que é a tranquilidade da alma.

E quem se acalma dentro da humanidade

que nos habita?

Seria como se a felicidade dependesse só das coisas.

Quem somos? Ainda estamos a procura de nós.

E já se foram milhões de anos, e já caducamos de tanto

saber, e ainda nos falta aprender a amar.

Respeito mutuo é amor. e mutualmente estamos incertos.

O meu lado não é o seu lado, a minha perspectiva não

é sua, portanto, dentro desse sistema, haveremos de viver

enclausurados dentro de um poço que não conhecemos,

mas, que quereremos sair.

Chego sem entender e volto sem entender. Tudo

que muito se explica se complica.


Hertinha Fischer.




quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Mergulho na inquietação

 E a cada dia que passa, a

estrada se afasta,
vamos nessa meus amigos.
que está cheia a praça.
Vai que é de graça.
Sumimos todos,
quando a noite se rende,
na escuridão não se prende,
tudo é bom
quando a luz se acende.
Se pendure no alpendre.
Suave na nave, viajante auto astral.
nunca caia na real
meditar não é mal
sonhar mais que viver é normal.
A cidade é de ouro, de
prata são as ruas,
sentimento andam as cruas
ser feliz são obras suas.
Nada deves a sua cria,
se entregue a mania
toma banho de água fria
evitando a estria.
Mulheres que vem e que vão
nos altares, só gozação.
Nada insere, tudo ilusão
Não se machuca não.
Aqui tá tudo dominado,
a terra puxando arado,
Ferro sendo afiado
no fio da foice que é cortado.
As avessas que é beleza,
frente é puro enfado
mentira traz mais agrado.

Hertinha Fischer.

Sobrevivência é a palavra

 Quem dera pudesse sobressair,

Escrever para mudar.

Eu mesma não mudo, nunca.

Somos o que viemos para ser. 

Simples humanos desesperados 

em busca de não sei o quê.

Quanto vemos, já fomos. sem grandes chances,

sequer,  de brotar de novo.

De manhã, ainda, sementes germinando,

a tarde em flor despertando, E a noite, gemendo

em ruínas.

As pressas nos compõe,

a fome nos acomoda, e nas

poucas vezes em que saímos do

modo sobreviver, ainda é cansaço.

Muito a desejar e pouco a concluir.

Tão assim como despejar água na terra,

vê-se cair, vê-se molhando, mas, dela

mesma não sobra nada. Evapora-se.

E quando quero muito, ai mesmo é que não consigo.

E quando consigo, logo vem aquela vontade

de refazer, por que acho que não fiz direito.

E lá se foram, e lá vou eu, e lá vamos nós,

rumo ao esquecimento.


Hertinha Fischer



 

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Eco de saudade

 O vácuo de sua presença só me fez silencio,

Dolorido como espinhos na alma,

Foi-se como quem nunca mais volta

e não mais está.

As ruas não mais te encontram e sua face

sumiu dentro do espelho.

Suas mãos ligeiras e pretenciosas se 

desprenderam dos afagos e se foi

a noite que a descansava.

O clarear do dia não mais achou 

o teu olhar, Teu coração deixou de amar.

Procuro-te e não te vejo,

só este silencio ainda vaga dentro de mim,

com uma voz de eco que não se expande,

e que ainda me diz muitas coisas.

Hertinha Fischer

Zétesis

 Não tenho talento, só uma vontade que tem força.

Forte sempre fui, nasci da terra.

A terra me deu seus componentes, misturados com 

cristais e lava.

O sol foi meu pai, e a lua minha mãe,

ambos me ensinaram a orbitar.

O vento me esculpiu, quando despejou

em meu corpo o seu hálito.

Sempre desejei o aleatório, sem coisas e sem corpo

O infinito me cativa e o que não vejo me desperta.

Aprendi com as plantinhas á esperar por cuidado,

sem desmerecer a fotossíntese.

Sou o redor de tudo que me habita, o capô

que protege o motor,

portanto, sou um conjunto de peças, como

um relógio feito para movimentar um corpo,

repletos de funções e complicações,

portanto, sou um universo invisível

e visível ao mesmo tempo.


Hertinha Fischer.






Vigia-te (cara ou coroa)

 Cara ou coroa

Tem um cansaço aqui dentro, daqueles que nem se sabe de onde vem.
Algo como carregar peso invisível nas costas, nas pernas, na vida.
Será o peso do tempo, ou o peso da experiência?
Vivemos mais cansados do que antes - falta de conversas animadas, ou falta de animação do viver.
Tudo nos parece mais triste, Nem mesmo as árvores frutíferas estão a produzir com alegria.
Os cães que saiam para caçar, correndo e farejando, latindo de tanta alegria, apenas rosnam a beira de suas cadeias ideológicas. Homens que andavam pelas ruas, aspirando o ar fresco pela manhã, ficam por horas enlatados no transito.
No trabalho, ao invés de ativar o cérebro, ativam a mecânica - São controlados pela máquina.
Esse cansaço acaba contaminando rios, gente, mata, vidas.
Os olhares, antes tão cheios de ternura, claramente, anuviados por um véu de subtração.
Ouro de tolo a submergir da esperança.
Por onde for é pichação - Prédios, escola, ruas, gente.
O mundo se tornou um buraco negro, vai engolindo tudo. Ainda se produz, mas, a produção foi alterada, Já não é o que foi.
Até o simples se complicou.
Mercado de almas adotando povo.
Povo se consumindo a procura de algum prazer.
A luxuria a competir com a vida, o dinheiro comprando os miseráveis ricos, e os opulentos pobres a desejar o chão.

Hertinha Fischer

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Salario da fé

 Não há nada, só os dias em que vivemos, um a um.

Sem provas, nem problemas, nem escolhas. Apenas oportunidade de
fazer algo - aqui, ali, onde estiver, com quem estiver.
Os momentos se instalam, como estrangeiros a procurar por abrigo.
Não há nada que mude, Nada que possa fazer para mudar. O céu, pela manhã é céu, igualmente, a tarde, igualmente a noite.
Se pudéssemos escolher, provavelmente, escolheríamos outro planeta para estar, outras pessoas para conviver, outra língua para falar, mas, não! O lugar que você está é que escolheu você.
O amor que tanto esperou não foi o primeiro amor, talvez, nem o segundo e talvez fique sozinho(a) sem amor algum. Tudo dependerá das circunstâncias e ou da forma em que se relaciona e lida com sentimentos adversos.
A galinha põe seus ovos, mas nem todos eclodem. No entanto, ela continua a botar, a botar sem parar. Assim também deveríamos fazer as pazes com a vida, que só exige de nós, a ampla dignidade de se abastecer com as próprias mãos, enquanto as tem.
Não somos seres inanimados, nascemos com o dom do movimento. A cadeira só nos empobrece em todos os sentidos.
Ampliando conhecimento ( não aquele conhecimento que causa orgulho) mas o conhecimento, em si, que a própria vida nos ensina. Que tudo é passageiro, embora sejamos o motorista de nossa própria história.
Respeitemos os limites e não cansemos de agradecer por fazer parte das estações das flores, do amadurecimento dos frutos, e consequentemente, pela caixa que nos guardará para a próxima plantação.
Assim como o pequeno príncipe de Saint Exupery, que marcou dia e hora para se encontrar com a morte, a fim de voltar de onde viera, por considerar, que seria muito penoso levar o peso do corpo. Assim também nós, possamos entender, que carne e sangue não herdarão o reino de Deus. portanto, o corpo, em si, nasceu para ter fim. E o nosso lugar, aquele ao qual Cristo vive, nos chamará em gloria, fato que o corpo desconhece, porque esse Reino é invisível.
Hertinha Fischer


quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

compilação das eras

 Nessa de me encontrar 

perdi muito tempo - sempre estive.

Apareci em dia incerto, nem sei se me lembro.

A partir de algo, alguma lembrança solta

no espaço, comecei a sentir minha presença

em tudo que me rodeava.

Algumas vezes lá - outras vezes aqui, ali ou acolá.

Onde estava, estava eu.

O meu tempo me mostrou ao mundo, tirou de dentro, de

mim, o invólucro, patenteando o que eu não sabia e que

se achava escondido dos meus sentidos.

Passei então a ver e ouvir - já com um certo apuro.

Formas e víveres - cores e rostos

Soaram nomes, no primeiro momento, insignificante.

Depois veio a identificação da propriedade, após, a hierarquia.

E foram me mostrando formas de agir - a briga por um espaço e afins.

Decidindo por mim o tempo - Já me capacitando para outras esferas.

O aprendizado me empurrando e me motivando, cada vez mais, á ser idêntica

aos outros.

E de repente, já me sentia apta para seguir minhas intuições, 

ainda meio que cambaleando.

Fui me inteirando de algumas coisas, como por exemplo: ter experiências

um tanto desagradáveis, compreendendo, que, os meus pés me serviam,

minha consciência me alertava, mas, não tinha liberdade de ação.

Tudo o que sentia e desejava estava condicionado ao que

estava acima de mim, na hierarquia da vida.

E foi assim, que os anos me engoliram, como

moscas mal colocadas no anzol.

E ainda hoje, quando já posso falar por mim, ainda

me vejo na obrigação de ter que pisar no freio, para

não magoar aqueles que pensam ser melhores do que eu,

e, que, ainda, vão me levar para um lugar que não desejo,

mas, que terei que ir.


Hertinha Fischer


Saber esperar

 Só por você eu fui e

voltei, sem tempo e
nem lugar.
Flori as pétalas já secas,
enfeitando-as de amor.
Quando a noite já ia longe,
coloquei o sol em teu dedo
Adoeci o medo, e
curei a coragem,
que despertou em você,
a delicadeza de ficar.
Assuntei a borra da xícara,
que me mostrou as
iniciais de teu nome,
Esperei a eternidade
do chegar, até que, o
momento me deu resposta
Desfolhando toda tristeza
da solidão, que se transformou
num belo caderno de recordação.

Hertinha Fischer.

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Se agora ser

 Essas canções que componho,

de regas e podas.

De criações e cópias.

Na discordância em que me enredo,

sem poder sequer usar a verdade

como instrumento.

Como manejar uma enxada sem corte,

vai arrastando e moendo, sem resultado.

Sempre houve dificuldades, essas mesmas

dificuldades assolam meus jardins.

Não sou forte, sou uma sobrevivente,

forçada a ir em frente só por teimosia.

Cai num rio e tive que atravessar um mar,

sem barco,  com dois remos nas mãos.

Afoguei-me muitas vezes, e muitas vezes, me vi

socorrida.

E ainda vago como se o mundo me espreitasse, de

tal maneira, que desenhei um céu só para mim.

Onde eu posso ser - Já que ser é tão labiríntico.


Hertinha Fischer



Sem norte

O que não entendo,

o que entendo?

Sei muito pouco, e sei também que

me avesso, as vezes.

Há uma certa tristeza em não ser compreendida,

Não sou ninguém, talvez, por isso, me é

tão difícil tocar alguém

Sabe, aquela planta que se ausenta

de todas as outras, e cresce para si mesma?

Essa sou eu!

Estou numa fase, se é que fases hajam.

Meio esquisita, como uma lua em fase minguante,

Quase apagada e sem brilho.

Não quero ser assim, gostaria de mudar. Mudar

para onde? Se vivo dentro de mim!

Ando como redemoinho de vento,

Abarrilando.

Só quero chegar logo, não

sei onde, nem como,

mas, desejo, ardentemente,

 chegar em algum lugar.


Hertinha Fischer.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

A casa do meu íntimo

 Vi-me desperta sem saber quando.

De lá para cá - a solidão me encanta.

Já podia compreender as nuvens,

conversar com plantas.

A solidão fala minha língua,

aprendeu comigo a contar os dias,

e falar sozinha.

Paredes me deram guarida,

quando o frio atravessava porta.

As flores estão se abrindo ali, não vês?
Pássaros cantam, fazem vibrar o dia.
A tua luz se acende, como se acende
o fogo para fazer um café.
Há uma esperança renascendo dentro da gente.
Quantas formas, quantas cores o universo
despeja.
Há uma forma de agradecer por tudo.
Acalente o coração, como o sol,
que desperta perfumes.
Não perturbes o vosso coração a ponto
de o fazer sair do prumo.
Faça á sua parte. Quando puder, dê uma forcinha.
Pois quem, empurra o outro para o abismo,
pode, fatalmente, cair junto com ele.
No mais, Cuide do seu habitat.
Hertinha Fischer.



Compondo a vida

Havia nela uma força de vontade,
além do que se espera.
Não era como via, nem ouvia.
Seria como superar a si mesma
Seus pés ágeis, pareciam flutuar
com asas de chão. A terra,
solidária, á amparava acima da relva.
Não era alegria, nem júbilo,
havia ali, muito mais do que
se entende.
Esperara dos outros, sim! dos pais
e irmãos. Foi, quando percebeu
ser.
Sonhos? moravam dentro dela, Seria a única
responsável pela prática.
Aprendeu a amar as estradinhas de terra, O silencio com
que estas, á acolhia, lhe traziam o melhor conselho.

Venho de longe, busco um abraço

Tão perto agora,
que é só cansaço.
Todo socorro, veio de estrada,
meus pés cansados, determinados,
passos que dei, frutificou.
Minha alma serena o desvendou.
Venha me encontrar na porta,
abra seus braços em torno
de mim.
Cada vez que te encontro,
sua alma me diz assim:
Descansa, descansa, que esse abraço
não tem fim.
Já fui contigo, em lembrança,
Voltei contigo em esperança,
Fica só mais um pouquinho,
serei sempre teu caminho.

Hertinha Fischer.


domingo, 5 de janeiro de 2025

Frações de tempo

Ah, os meus dias.
Começam ao meio dia e terminam a noite, mas também vivo da meia noite ao meio dia, sendo assim, não vejo desperdício de horas.
Traço a vida com manejo, não vejo nada que me atraia tanto, quanto vivê-las.
As minhas estradinhas, tão enfadonhas, as vezes, me fazem andar para motivá-las.
Amo a utilidade, seja ela cansativas ou não,
Só me aborreço quando o cansaço me faz parar.
Não servir de tropeço á ninguém é minha alegria.
Se tiver que deixar tudo para trás, deixo! Minhas regras, meu destino.
Vivo para os outros, sem eles nada faria sentido, um corpo não funciona sem seus membros.
Os que perto estão, me dedico, os que vivem longe, transmito.
Todo tempo que temos é um tempo.
Me desfolho e me recomponho, até que o tempo me recolha!

Hertinha Fischer.