Em tenra idade, me apaixonei pelas letras.
Assim como um amor incondicional.
Por muito tempo, inspirada pelas doces manhãs,
quando os rouxinóis se empoleiravam
na entrada do meu mundo,
prontos para cantar suas cantigas sem letras
e tão repletos de sentimentos. Já
começava a ver meu mundo, sobre
perspectiva de poesia.
Era uma entusiasta de versos, prosas
e carurus.
Achava graça nos repentes, e dentro
de minha cabecinha de vento,
formava uma forma de escrita.
Eram só garranchos descuidados,
que, para mim, pareciam letras
de belas canções.
Um amigo inseparável, que sempre
me inspirou foi um radinho de pilha,
que se grudava em minha orelha,
com a ajuda de um lenço.
Até que, num dado momento,
me iniciei como aprendiz do alfabeto.
E fui eficaz no aprendizado,
na escolinha de meus sonhos.
Comia letras nas revistas, como
se come pedaços de pão quentinho,
pela manhã.
Formava belas histórias de amor,
enquanto fincava mudas de cebola na terra.
Andava pela mata que rodeava minha casa,
falando com folhas e filmando aranhas
com o olhar.
Saudosa casinha de telhas vermelhas,
Piso de falso assoalho, feito de barro,
esculpidos com os pés e mãos.
A simplicidade de olhar, foi-me moldando
e me fazendo crer que tudo é possível.
Arrepiava-me os cabelos as histórias contadas,
Pássaros eram meu violão.
Quando aprendi a assoviar, passava horas
a dar vida a construção.
Desenhava, na cabeça, letras de canções,
que nem sabia ao certo, se havia coerência ou não.
Vinha tudo bagunçado, desnorteado,
como versinhos simples de criança.
Demorava a dormir, abraçada a parede de terra
batida, onde taquaras e barros se uniam, tão
perfeitos quanto um casamento por amor.
Meu coração pulsava de alegria, quando
já podia ler com precisão e maestria.
Já, podendo, então, coroar todas as
minhas fantasias com lápis e papel.
Precisei sair de casa, ainda sem
asas, voei um tanto mais alto.
E consegui, através de muita luta,
avançar no conhecimento.
A cidade me entristecia um pouco,
não estava tão apaixonada, por mim, quanto
o meu sertão.
Não havia tantos pássaros a cantar, nem tanto tempo
para sonhar.
A saudade foi inspiração, quando batia forte,
formava feridas por dentro,
que se transformavam em tristes canções.
E assim, segui o meu destino, sendo
a estante de meus livros não publicados,
que guardo no fundo do meu coração.
Hertinha Fischer.