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Som de tristeza

  Som de minha tristeza Ecoa por dentro palavras que nem consigo dizer Não há letras no lamento Se em lágrimas almejasse olhos tristes derra...

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Enganando-se sem perceber

Indefinidamente ainda nos
sentimos sementes.
Querendo despertar sem prejuízos
nem sofrimentos.
Rasgando a terra como
quem rasga o ar, como
vento a transpôr o
tempo em seu lugar.
Gostando de se tornar
planta desenvolvida, sem, no entanto,
parar para gozar os acontecimentos
referentes ao que se pode aprender
por si só.
Sabendo que, em algum momento, o crescimento nos levaria
a gloria, não sem antes nos
mostrar o caminho da lamentação e da perda consequente
da magia da inocência,
pois, crescendo se perde um pouco
de criança, e nos mostra a feiura
de descobrir o próprio
desejo mórbido de ter que se dar.
Daí nos consolamos na crença, na abundância
de ideias e ideais que outros constroem para nos
tirar de dentro de nós mesmos.
Nos deparamos com o que fora está, e nos
encolhemos a procura de uma satisfação
que nos tire a apreensão que a própria existência
nos mostrará.
Toda aquela inocência de criança se transforma
em abusos, por causa da competitividade
que no viver se promete.
Experimentar torna-se vontade maior que descobrir,
e viver se torna um peso tão grande de responsabilidade,
que melhor seria ficar do lado de lá.
Como uma criança a reclamar seus doces, mas, ao saber
que o doce faz mal, se come as escondidas, enganando-se
quase sem perceber.
Da euforia ao desespero: precisa-se desesperadamente
de posses, seja ela de que forma for.
Andar conforme os passos, não ao que te arremete aos seus
próprios pés, mas, na medida em que todos andam.
Só então, chega a conclusão de que não quer ser você mesmo,
transforma-se num modelo sem valor, desbotado numa vitrine,
sem cor e sem forma, como um autômato se desintegra
ao passar dos anos, parado no desgosto de não
poder viver á seu modo, e tendo de lutar por espaço e amor.
Ao se ver, se encontra velho, e olhando para trás nada faz sentido,
pois o tempo já se encarregou de trazê-lo de volta ao
recomeço, onde novamente ficará a querer brotar, porém,
já não haverá força para despontar sem se quebrar.


Hertinha Fischer



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