As acaloradas e rosadas tardes de verão abriam caminho para o descanso merecido.
Ao deixar a roça, se abria um pequeno trilho entre a vegetação rasteira, que se acabava numa estradinha de terra, onde passavam sonhos de rodas. Ao lado, havia postes de transmissão de dois módulos, deslizando no ar, várias linhas em simetria, que pareciam dançar no ar.Um romantismo para todos os olhares cansados.
Saindo da estrada, outro trilho, marcado por um pé de bananeira nanica, levava a dois pessegueiros, plantados, um em frente do outro, No meio, o trilho se jogava para um terreiro imenso, Do lado de baixo, grandes arvoredos se deixavam crescer até o céu, do lado de cima, infinidades de bananeiras de todas as espécies, disputavam lugar. No meio do bananal, uma passagem de pedestres, largo e sombrio, que se ia até outro terreiro menor, desbocando, um pouco mais a frente da primeira passagem da casa para a estrada.
Dentro do contexto, a casinha se destacava, sentada na base do primeiro terreiro, com bananeiras também ladeando á suas costas.
No terreiro de cima, havia o paiol, onde se guardava a colheita. As vezes, de milho, noutras de tranças de cebola.
A morada continha uma pequena porta de madeira que se abria para oeste, outra para o sul, Duas janelas pequenas e desajeitadas de abriam para o norte, E uma para o sul. Ao leste ficava suas costas, que se encostava com um grande pessegueiro, que segurava um varal de roupas, feito de arame farpado, que se esgueirava acima dos capins até se encontrar com um coqueiro, que ficava ao lado do primeiro chiqueiro.
Abaixo do chiqueiro, o pasto do cavalo, Também cercado com arame farpado, ladeando uma boa parcela de terra, que ia até um taquaral a beira da estrada, descia até o rio, e do rio, vinha ladeando o segundo chiqueiro, feito por erosões, subindo pelos braços da mata, até, novamente se encontrar com o primeiro chiqueiro perto da casa..
A frente havia um mata burro, por onde havia a passagem para buscar água no rio, lavar roupas e chegar até outro mata burro, que se abria no segundo chiqueiro feito por erosão, onde se preparava a terra para os canteiros onde semeávamos as sementes de cebola, que, tão logo, alcançasse bom tamanho, eram retiradas e plantadas em terrenos, preparados, acima da estradinha de terra.
Encantos se espalhavam por todo lugar, goiabeiras davam seus frutos de quando em quando, enchendo os ares com seu perfume.
A pequena casinha contava histórias passadas, por onde se olhava havia vestígios: Ora um descampado, ora, se achava uma árvore frutífera perdida no meio da mata!
Quando ali chegamos, estava tudo abandonado, mas, assim que o lugar nos conheceu, começou a brilhar novamente.
A composição de um lar, modelado a mão antiga, Tesouros de terracota enfeitava paredes : desenhados pelas mãos do tempo, ressecados, formavam imagens.
O assoalho de terra batida, de tanto mimo, já se tornava meio tonto, Tinha certas ondulações, que os tijolos consertavam, para nivelar os pés das camas.
Dois quartos - Um para as cinco crianças e um para o casal, a cozinha já se aprontava para as fieis refeições, que nunca faltavam, se deliciavam nas panelas bem limpinhas, ariadas com perfeição, em cima da quentura de um fogão á lenha.
A sala de visitas, nunca era usada, ficava a observar o passeio da criançada que á usava apenas de passagem. Apenas o patriarca se sentava numa das cadeiras, a tarde, quando botava o rádio para funcionar , para ficar entendido dos acontecimentos longínquos.
Oh! que magia, tudo funcionando e resultando em alegrias.
Não havia pobreza por aqueles lados, só uma vontade imensa de viver. O que se plantava, se comia, e era tão farto como um restaurante qualquer de uma cidade grande.
O porco gordo que se abatia, ficava guardado em pote de barro, dentro de sua própria gordura, como um açougue a disposição, assim como os frangos, colhidos no quintal de casa. Bastava pegá-los sábado á tardezinha, para comê-los no dia de domingo.
O feijão sendo plantado, cuidado, colhido, batido, peneirado, ensacado, depois, direto para a panela.
Não me lembro de um só dia que não seria dia de festa.
Começava com a cantoria do galo, de madrugada - As galinhas despertavam e ficavam aglomeradas perto do chiqueiro, esperando que o milho fosse debulhado. Após, saiam cada uma para um lado, a ciscar ou botar seus ovos.
Depois o cheirinho de café que chegava até a cama, um convite para se levantar. Parecia uma prece, a prece de todas as manhãs.
Meu pai ia para o rio, com a toalha no pescoço, para se lavar e começar bem o seu dia. Nós ficávamos esperando que ele voltasse. Assim que ele abria a porta, todos pulávamos da cama em sintonia. Hora de tomar aquele café com pão amanhecido torrado.
Depois do desjejum, Ele colocava o seu conga azul, nem precisava falar nada. Saíamos para a seara na roça. Cada dia uma tarefa . Ora carpindo, ora plantando, ora arrancando matinhos com as mãos, entre as mudas de cebola.
Só quando chovia é que ficávamos presos dentro de casa. E mesmo assim, achávamos um jeito de ocupar o tempo. As vezes, lendo, outras vezes, aborrecendo uns aos outros.
Mas, o tempo voa com asas de borboleta. Bate- bate e vai em frente. Some!
E assim foi - é lembrado, que nasce a saudade, as lembranças e por que não dizer: o esquecimento.
Outro tempo se precipita, outros lugares nos comporta, outra idade nos distrai. Pessoas vão indo embora, pessoas vão chegando, agregando, abarrotando o sentido de tudo. E quando a gente percebe, estamos no mesmo patamar. Com muito menos história pra contar.
Hertinha Fischer.
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