Sempre pensei que os caminhos fossem meus. Depois descobri que os caminhos eram eu.
Que doçura nas pisadas aleatórias sobre um colchão de folhas,onde o próprio caminho foram delineados por quantidade de passos.
Um céu verde, onde as estrelas sentavam em troncos, e a lua, atravessava, de quando em quando, o caminho de folhas escuras.
Misterioso e soberbo, acampamento de pássaros, raposas e serpentes.
Coberta por ramagens que desciam do céu, tramas dos anjos.
A noite preguiçosa se esgueirava na escuridão, trazendo ruídos de longe, como se os víveres fossem dependentes dela para afugentar os predadores noturnos.
Trazia consigo os arrepios, o balançar das folhas sem vento e o ouriçar dos cabelos, fazendo com que compreendesse o significado de adrenalina.
E nós, filhos da terra, vigilantes e ligeiros, serpenteávamos por entre as frondosas árvores, com os pés entre os sulcos, fundados
pelas chuvas que também se aproveitava da trilha, para desaguar no rio.
Uma mescla de relaxamento e medo, mesmo durante o dia, nos enchia de encantamento.
Amava passar por lá, conversando com seres imaginários, como as fadas que cuidavam da floresta, pendurando orquídeas nos galhos encharcados de musgos e bromélias.
As aranhas se esmeravam em construir suas casas de seda pura, trançando escadarias de lá para cá, só para ver os grilos e as moscas tornarem-se banquetes nas horas vagas.
Os tatus faziam suas casas debaixo do solo úmido, e quando, por algum motivo, ás abandonavam, se tornavam morada das jararacas e urutus.
E o córrego que por ali passava, límpido e suave, desaguava lentamente sobre as pedras e se jogavam com alegria no pequeno riacho.
A sua volta, alguns tipos de frutas se deliciavam com seu frescor, lançando frutos doces ao seus pés, alimentando as antas e os seus concorrentes.
Que maravilha pensar que nasci nesse meio, com a liberdade que hoje não tenho.
Quantos sonhos meus foram deixados ali, quantas lágrimas de criança se misturaram com as folhas mortas. Segredos foram sussurrados para os pés de ingá.
Conheceram meu corpo enquanto me banhava no luar e o meu coração, acompanharam cada fração de batida, com a mesma emoção que eu também sentia ao vê-las silenciar ou cantar.
Só não sabia que o tempo era barro e o sonho era chuva.
As chuvas tempestuosas foram apagando essa relação íntima, até que só restaram lembranças para mim, ou sonhos para os que ainda passam por lá. Quem sabe?
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