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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

sábado, 8 de julho de 2017

Esboço de mim

Maria rodopiava
no celeiro, entre
o cesto de quirera
e os pintainhos. Uma visão de arrepiar.
Estendia as mãozinhas a jogar
os grãos fininhos, espalhando-os
sobre o chão de concreto.
E os bichinhos esfomeados,
encenavam seu primeiro
passo rumo a emancipação.
ao som da mãe que
incentivava.
Os pezinhos  de unhas
compridas ciscavam sem parar.
numa confusão de vozes
ininteligível.
Maria sentia-se no paraíso, mesmo a trabalhar
sem parar.
Os animais faziam festa toda hora em que
se preparava para entrar em cena, parecia
que a amavam. Não sabia se a amavam
por ela mesma, ou era só por causa
da comida que oferecia.
lembrava-se de que a vida é assim: somos
amados. talvez, não
pelo que somos, mas, pelo que oferecemos.
Não se importava muito
com o resultado, só queria mesmo
estar entre as demandas criativas do viver.
Sabia que as flores precisavam da terra,
o mar, das águas, a felicidade, do sorriso,
a mansidão, da paz, e a vida a precisar dela.
E assim se via, no decorrer da seara, que em si mesma,
brota e se desenvolve, sem canseira ou desordem,
tudo em seu precioso momento.
Até que tudo mude e se transforme.
Amanhecia, anoitecia, e nada oferecia
mais do que merecia ou pedia.
O sol brilhava ao amanhecer como
se conhecesse seu próprio caminho, e o dia
encantado seguia seu curso sem novidade,
e mesmo que o sol, em algum momento
se perdesse no céu, ainda estaria no
mesmo lugar, longe dos olhos.
Assim como quem dorme, não sabendo
para onde vai suas lembranças, mas, que,
quando desperta, se vê sem nuvem e nunca
deixa de ser.
Ela tinha plena consciência de si: das coisas,
dos modos, das querencias e sentimentos,
do corpo que a identificava, da vida que
havia.
Em tudo que via ou ouvia, se lembrava: do canto dos pássaros,
da borboleta que voava,
das folhas que gemiam, da sua imagem e partitura á
trilhar sem constrangimento, fartada de tudo.
Sentia que andava em sintonia com a natureza,
que fazia parte da magia, ela e seus duendezinhos
supersticiosos que insistiam em se vestir de verde.
Assim como quem sonha e nunca se lembra, assim
também sabia-se morrendo, mas, quem se  perseverará até
o fim?
O túnel!
O pisar na lua!
O seguir as cegas!
O querer sem querer!
O ser  desejado!
Tudo na ilusão de quem segue a marcha
dos humanizados, até que não seja,
até que se rompa a madre, e se exponha
a cria, e tudo mude num lampejar
de luz. E se forme em tempo
de se nascer de novo, como
se nunca houvera nascido ou compreendido,
Hertinha Fischer













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