Total de visualizações de página

Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Saindo do buraco

Eu já estive desassossegada como um animal
ferido e esfomeado.
Procurava no mundo aquilo que eu só
poderia conquistar longe dele.
Estou aqui, me sinto viva a respirar
e a precisar de ar.
O mundo não é o que vemos: o mundo
é a aparência do mal que se predispõe
a levar ao tropeço, todo aquele
que caminha no sossego da esperança.
O mundo são as ilusões que consomem
a energia boa de um homem e o leva
a lugares pouco recomendéveis
a procura do nada.
Viver é bom e natural quando somos
levados pelo bom senso, pela doçura
de um momento qualquer, onde haja
sentimento verdadeiramente voltado
para a alegria.
Tenho muita pena daqueles a quem o prazer
compra, ou se vendem pelo mesmo, sem,
no entanto, se darem conta, que o prazer
só é bom quando este mesmo prazer
trabalha em favor de algo ou alguém.
Quando a ilusão foi meu método, eu me
sentia inútil, como um barco a deriva em alto mar,
esperando por direção.
Estive por longos períodos a sós, e a solidão
me arrastava para um mundo feio, onde pensamentos
destrutíveis se aprontavam para me ferir.
Eu culpava meus irmãos pelo desinteresse, culpava
meus pais pelo abandono, culpava os amigos
por não estarem ao meu lado, e culpava o "mundo"
por pensá-lo cruel.
Até descobrir a minha própria crueldade.
Eu tinha tudo: estava provida de mim mesma: com braços
fortes, mente sã, e o que mais eu queria?
O meu lugar não era meus irmãos, nem pais, nem amigos,
o meu lugar era eu.
Eu estava lá, como qualquer corpo disposto no universo,
dependente, sim! mas nunca, no abandono!
Sofri por longos anos a síndrome da pena de mim, por
achar que todos seriam responsáveis pela minha fé, pela minha
alegria, pelo meu bem estar, pela minha segurança; sem saber
que chorava pelo meu próprio egoismo, me vendo como
algo frágil, querendo que me colocassem numa redoma, sem
pensar que a redoma me deixaria muito mais fragilizada.
Todas as noites eu compunha uma canção triste e cada vez mais
com ela eu me alinhava, como se o único modo de me sentir
melhor fosse me afundar em desespero.
Eu procurava me isolar, e quanto mais me isolava, mais desesperada
eu ficava e pensava em morrer. Hoje eu vejo quanto mal eu me fiz.
Perdi muito tempo cavando buracos para eu mesma cair. Apagando a
luz que vinha do alto, sempre disposto a me tirar de la.
Comecei a ler vários livros de auto-ajuda, a estudar historias, e assim percebi
que a vida nada mais é do que, simplesmente, aceitação.
Assim como a terra aceita os dejetos sobre ela descarregadas, Assim como
as estrelas aceitam a luz solar, e a lua aceita ser menor  que o sol.
Comecei a me aceitar, a aceitar os outros, e a encarar a verdade sobre os fatos: ninguém
tem responsabilidade por ninguém, exceto se esse alguém for incapaz.
Hoje, quando olho para traz eu nem me reconheço mais, cresci de tal modo, que
aquilo que eu fui ficou tão minúsculo que já não consigo enxergar.
Estou completa, tenho meus olhos e enxergo, tenho consciência própria,
e escolho, tenho pernas e ando, não necessito de ninguém para me assistir
. As pessoas só me servem de companheiros, não de muletas.
Herta Fischer













Nenhum comentário:

Postar um comentário