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 Me encontrei com o mundo das letras quando o meu mundo se reduzia a nada. Fui muito maltratada pelas circunstâncias que não gostava de silê...

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Palavra tem poder

Capítulo 1  ( Atitude)

Estava um dia muito quente,
daqueles em que a gente
desfalece só em pensar.
Anita colocou um pedaço
de tecido  enrolado sobre o corpo,
despida de qualquer peça
por dentro.
Estivera sobre forte pressão no trabalho,
não tinha vendido nem um imóvel
naquela semana, e nem
sequer tinha algum cliente interessado.
Com a alto estima lá embaixo, pediu
folga naquela tarde, só para espairecer.
Precisava urgentemente de dinheiro, tinha o aluguel, a taxa do condomínio e outras
prestações á pagar.
Naquele momento só podia se lamentar pelos gastos desnecessários,
devia ter escutado a sua mãe que sempre lhe alertava sobre
guardar algum dinheiro
para as eventualidades.
Gostaria de ter seguido seu conselho, mas, de que isto
 lhe adiantaria agora?
Pegou um resto de refrigerante que estava na geladeira, colocou em um copo,
sorvendo os goles apressadamente,  quase se afogou.  Riu de si mesma ao perceber sua ansiedade.
Largou o copo sobre a pia,  e foi para a sala, deitando-se
preguiçosamente no sofá quente.
- Ai! - Deu um gemidinho suave, pulando para se levantar, exclamando em voz alta:
-Nossa! parece que estou dentro de um forno!
Foi até a janela, e nenhuma brisa, tudo parado.
Pensou no quanto fora difícil chegar até ali.
Deixara sua cidade natal para se aventurar numa cidade maior,
e agora, estava ali, sem saber o que fazer da vida.
- Tudo parado, balbuciou:  - até a minha vida está estacionada.
Mas, isto não vai ficar assim.
A palavra tem poder, alguma coisa precisa acontecer, e é agora.
Acabou de pronunciar estas palavras para si mesma, e seu celular tocou.
Correu até a cozinha, onde deixara o aparelho sobre a pia.
ao dizer alô, notara a voz aflita de seu companheiro de trabalho:
- Onde você se enfiou? - estou te procurando em todos os cantos, por
sorte, me disseram que você tinha saído.
- É..- balbuciou sem nenhuma emoção: -  desculpe, se não te avisei.
-Bom, o motivo de ter te ligado é o seguinte: - Tem alguém interessado naquela
casa da Rua Vergueiro, no Jardim Eulália.
Ela quase engasgou ao perguntar: - Co- como? - aquela mansão?
- Sim, respondeu o rapaz.
- E você, por certo, está segurando o cliente, né?
- Sim!  ele está aqui, e com muita pressa!
- Estou a caminho, me dê alguns minutos. vá enrolando o moço. Deu uma risadinha
nervosa. e completou:  - Ofereça-lhe café! E desligou sem perder mais nenhum minuto de tempo.
Envolveu-se dentro do primeiro vestido que encontrou. colocou uma rasteirinha nos pés e saiu em disparada. teve que retroceder quando percebeu que nem sequer trancou a porta.
- Eita! exclamou:
Entrou no carro as pressas, quase atropelando o jardineiro que gritou, ficando vermelho de raiva: - Não olha por onde anda?
- Desculpe, agora não, tá! depois nos falamos, e saiu em disparada.
Já em trânsito, pensou em suas palavras, ditas quase sem perceber: - Palavra tem poder!
- Agora não podia duvidar, só faltava fechar negócio.
Estacionou o carro em sua vaga, pegou a bolsa, fechou a porta, acionou o alarme e subiu as escadas as pressas.
Abriu a porta do escritório, e na afobação em que se encontrava, nem percebeu a pessoa sentada de costas para a sua escrivaninha. Jogou a bolsa sobre a mesa, sem nem ao menos se dar ao trabalho de cumprimentar as pessoas.
- Boa tarde! - ouviu uma voz melodiosa vindo do outro lado da sala:
- Boa tarde, respondeu, assimilando a voz de seu companheiro de trabalho.
Só depois se virou para a figura sentada em frente ao seu computador, dizendo: - Desculpe a espera, tive que sair para resolver alguns negócios pendentes, mentiu:
Foi então, que a ficha caiu, e se viu desnorteada com a beleza do homem, um pouco sem graça e se mostrando efusiva, relaxou.
-Então!  começou a falar: Está interessado nesta casa? -  interpelou o homem, jogando uma foto em cima da mesa.
Enquanto o homem estudava os contornos para identificar o imóvel, ela o olhou de soslaio, por cima do computador. Notou a exuberância de seu pescoço e dorso, uma leve ondinha de cabelos brancos, entre cabelos pretos e  bem cortados. uma camisa cor de marfim e uma gravata vermelha adornavam aquele corpo másculo, que descia até a cintura, de onde ela não podia mais enxergar, por ele estar sentado e de cabeça baixa.
Uma onda de calor quase á sufocou, e viu-se abanando com um pedaço de papel.
- Está  com calor? - uma voz macia e cortante ao mesmo tempo a fez despertar, sentiu-se corando como uma menininha de colegial. Viu-se dizendo sem pensar: - pois é! E olha que estamos com o ar condicionado ligado!
A seguir se arrependeu do que disse, balbuciando meio desconfortável:
 - Me desculpe, mas, é que  estava lá  fora  e com essa onda de calor sufocante  nem percebi que estava repetindo essa minha mania de abanar.
 Ele sorriu, mostrando as carreirinhas de dentes bem branquinhos, e seus lábios se mostraram tão acessíveis que ela ruborizou mais uma vez, como se ele a tivesse beijado.
Resolveu falar sobre negócios e deixar para lá o que estava sentindo em relação ao moço, afinal, concluíra: -  Não estou aqui para paquerar, mas, para realizar o negócio do ano.
Você quer ver o imóvel hoje?  - se viu perguntando:
Ele balançou a cabeça positivamente, para depois responder: - Se você não tiver nada mais urgente para fazer.
- Não tenho nada para fazer -  falou sem pensar.
Tão logo se recuperou, não podia deixar transparecer o seu fracasso no trabalho.
- Quero dizer: - nada que não possa esperar. - Vamos?
- Ela se levantou de supetão, esbarrando na canequinha desenhada onde guardava suas canetas, e tudo foi ao chão.
Ele contornou a mesa e abaixou para catá-las, dando de cara com um par de pernas bem torneadas e brancas como cera.
Reparou na cor de seu vestido, enquanto suas mãos faziam de conta que procurava por mais alguns objetos, possivelmente,  caídos embaixo da mesa.
Levantou os olhos devagar, subindo até o seu seio arredondado e bem feito, e se viu pensando em coisas que nunca imaginou pensar, não, pelo menos, até aquele momento. e também enrubesceu.
Mas, ela nem notou, pois,  já se afastava tentando pegar a bolsa do outro lado da mesa.
- Sou muito desastrada, as vezes, falou: - complementando a seguir: - Como toda mulher que se preze.
Ele saiu em direção a porta, abrindo-á,  enquanto ela passava a passos largos e seguros.
Quando ele conseguiu fechá-la, ela já descia as escadas, indo em direção ao estacionamento.
quase  teve de correr para alcançá-la.
Sorriu consigo mesmo, se perguntando: - Que mulher é essa?
Anita, por sua vez, desligou o alarme, abriu a porta, comodou-se e abriu a porta no sentido do passageiro. ele entrou, acertou o banco que estava muito para  a frente, e ela aproveitou para passar os olhos sobre as pernas de seu acompanhante.
Mais uma vez se viu imaginando coisas. - Engraçado, ela pensava: - Nunca fui dessas coisas.
Agora me vejo a olhar as pernas de um homem que é meu cliente, como se fosse um paquera. E ainda por cima, admiro até a cor da sua calça. Caqui! -  ela afirmou em pensamento:  combinando bem com a cor marfim da camisa e a gravata vermelha, para completar um sapato bico fino, de um preto reluzente, como se tivesse sido comprado naquele exato instante. - perfeito demais! -  pensou:
Só então ouviu o ronco do motor, e concluiu já estar a caminho.
Ele ficou em silêncio, observando a paisagem as margens das ruas. Ela nem precisava olhar para  a frente, parecia que seu cérebro ativara um robô dentro dela, que indicava o caminho. E que caminho! -  Ela pensava: - palavra tem poder! - e riu por dentro.
Finalmente, depois de uns vinte minutos, ele interrompeu o silêncio: - chegamos!
- Como você sabe? se ouviu perguntando:
- Já olhei para a fotografia da casa tantas vezes, que não é difícil identificá-la. É aquela ali?
- Sim, ela mesma! tinha até me esquecido do quanto ela é bela.
Ele á olhou nos olhos quando ela desligou o motor se virando para pegar a bolsa do banco de trás. E ambos se mumificaram por alguns instantes. como se estivessem se perdendo um dentro dos olhos do outro. E o encanto de dissolveu rápido, antes que os levassem á algo que não tinham planejado.
Ela pegou a bolsa e saiu do carro, ele fez o mesmo.
Como se não tivesse acontecido nada, caminharam lado a lado até a porta da casa.
Anita abriu a bolsa, pegou as chaves e  quando foi abrir a porta, ele as pegou de suas mãos, assustando-á um pouco, com a rispidez de seu ato.
- Parece bravo! - ela falou quase que a sussurrar:
Ele respondeu que não, e que nem tinha motivos para isso, apenas quis mostrar-se cavalheiro.
A casa era muito bonita por dentro, até mais do que por fora, isso ela já sabia, mas, queria ver nos olhos dele a mesma emoção que sentia. Não sabia bem por quê.
 A cada cômodo visitado, ele falava algumas palavras como: - Muito bom! Gostei disso!.
Ela também não tagarelava como era de costume, até parecia que não queria vender a casa.
No término da visitação, resolveu ser profissional outra vez; - vamos sentar! - afirmou, levando o dedo a sinalizar um banquinho disposto entre os arbustos. antes que ele decidisse ela se pôs á caminho.
Um jardinzinho simpático apareceu de repente entre as árvores mais frondosas, encantando o seu olhar, mais uma vez, parecendo vir das profundezas de sua alma, já vira tantas vezes, mas, agora, parecia tão mais sublime. Seria o encanto daquele homem?
Sentaram quase ao mesmo tempo, um ao lado do outro e um muro se ergueu entre os dois. Agora era os profissionais. Ela, a vendedora, ele, o comprador.
- Então! - ela sempre começava a frase assim: - O que você achou?
- Bela , muito bela, gostei muito!
- Vai fechar negócio, ou ainda precisa pensar, já sabe dos números, certo? - vai fazer uma contra oferta?
- Calma! calma! ele disse com uma voz um tanto rouca: - deixe-me pensar um pouco. e resfolegando como se estivesse um tanto cansado, levantou-se.
Distanciou-se um pouco, chutando um montinho de terra, ela sorriu por dentro, falando consigo mesma- Vai sujar os sapatinhos,
Colheu umas tulipas, e voltando-se para ela, fez um gesto de oferta: -  ela sorriu, e foi o sorriso mais lindo que ele já vira. ela fez que sim, com um movimento gracioso de cabeça.
Ele se aproximou, fez um gesto de mesura, e colocando as flores entre seus dedos.
Sentou-se  mais a vontade. olhou em seus belos olhos dizendo: - Eu fico com a casa!
mas, quero um favor.
- Que favor?
- Quero que trabalhe para mim.
- Como assim? - perguntou-lhe um tanto apreensiva
Bem! Eu estou me separando de minha esposa, por isso estou comprando essa casa. Não é uma separação litigiosa , é de comum acordo. tanto que já resolvemos as questões financeiras. Só faltam algumas questões legais. E assim que assinarmos o divórcio, eu pretendo me mudar para cá.
Ela não falava nada, apenas o ouvia com atenção. O coração batendo descompassado, não entendia bem o que estava se passando. era uma emoção nova, algo que ela desconhecia completamente. As tulipas murchavam em suas mãos, deixando um perfume suave no ar. e aquilo enchia o seu coração
com uma mescla de alegria e compaixão. relutava em dizer para ele que nada daquilo lhe interessava, agora, que o negocio já fora concluído.  Que já podia pagar o aluguel com folga, todos os seus problemas se tornaram tão pequenos, pelo menos, por enquanto.
mas, não podia lhe dizer nada, só escutava-o com atenção.
Ele continuou falando: - Eu vou precisar de alguém confiável que trabalhe neste novo projeto, pois vou precisar me ausentar por um tempo. Não sei se você já sabe, mas, eu moro em outro estado, a mil e duzentos quilometro daqui, Não posso, simplesmente, estar em dois lugares ao mesmo tempo, por isso pensei em te contratar para  transformar esta casa num lar.
Ela olhou para ele com surpresa no olhar, e num relapso de incerteza, lhe perguntou: - Porque eu?
Ele ficou em silêncio por alguns segundos para depois responder: - Não faça pergunta difícil, eu não saberia responder.
Só sei do que preciso, e meu íntimo me revela que você seria a pessoa certa para cuidar da casa, contratar uma arquiteta e uma decoradora, comprar as peças necessárias, sem que eu precise me preocupar.
Olhando-á nos olhos, completou: - aceite, por favor! nem precisa se ausentar de seu emprego atual, pois, pelo que sei, não precisa trabalhar em tempo integral, dá para conciliar seu trabalho com mais este.
- Como sabe sobre isto?
- Ele a olhou com provocação, e com uma voz um tanto pastosa pelo cansaço, falou: - Esqueceu do quanto me fez esperar por você?
Enquanto isso, seu colega de profissão me contou um pouco do que sabia sobre sua pessoa, Sei que é solteira, que não tem filhos, Mora sozinha e seus pais não são desta cidade. Que veio para cá para estudar, e arrumou esse emprego para se sustentar, que não gosta de ser conduzida  e nem protegida por ninguém.
- Nossa! balbuciou- Só falaram sobre mim, pelo que consta!
- Um pouco sobre você, outro pouco sobre a casa, mas, não fique brava com ele, eu é que fiquei muito entediado com aquela infinidade de café que ele me oferecia, então, entre um gole e outro, eu fui lhe fazendo perguntas. Não queria fazer negócio com uma pessoa completamente desconhecida.
- E gostou do que soube sobre mim? Tão logo fez a pergunta, tão logo se arrependeu.: - não precisa responder!
- Respondo assim mesmo:-  gostei sim! me pareceu confiável, e depois que te conheci pessoalmente, eu constatei,  que, além de confiável, ainda é uma mulher corajosa e linda.
 Ela enrubesceu novamente, sua iris se dilatou e seu rosto ficou extremamente rosado, Tanto que até ele percebeu.
- Porque ficou constrangida, acho que já está acostumada a receber esse tipo de elogio, ou estou enganado?
- Está! não costumo receber elogios de clientes, sou bem profissional, não dou margem para esse tipo de comentários.
Ele sorriu de um modo que a fez estremecer.- está duvidando de mim? acrescentou:
- De modo algum, só achei engraçado a forma com que lida com suas emoções. Sei perfeitamente de tudo isso. Só que, em sua presença, as vezes, me esqueço que a conheci nesse dia, para seu governo,  nos conhecemos á apenas algumas horas, mas, parece que sempre a conheci.
 Ela corou novamente como se ele á tivesse despindo.
Pensou naquele dia: - Como pode acontecer tantas coisas, tudo o que ela almejava na vida, de repente se concretizava: - um grande amor, uma quantia razoável de dinheiro entrando em sua conta! - Opa!,
palavra tem poder, mas, nada disso é verdade, será apenas um sonho?
Não, não era sonho, pois a voz do rapaz a acordou para a realidade,:
- E ai, da para me dar uma resposta?
- Resposta sobre o quê?
Ele fez uma cara de surpresa e falou rapidamente: - sobre a minha proposta de trabalho.
-Ah! sim, Claro! - Dá para esperar até amanhã?
- Sim, mas só até amanhã a tarde, pretendo, assim que assinar a papelada da compra da casa, seguir para minha cidade. ainda tenho muitas coisas que resolver por lá.
E ainda tem mais: -  quero que você pense sobre se mudar para cá! - aquela casa construída lá embaixo, está vazia, se você quiser pode ocupá-la. Assim se livra do aluguel e ainda fica mais próxima do trabalho.
Ela olhou de soslaio, por cima dos óculos de sol, que agora, a protegia dos raios do pôr do sol, que estava diretamente voltado para eles . e sem pensar concluiu: - isto é bom demais para ser verdade!
- Isto quer dizer o quê? - ele disse: - que você aceita?
Ela pensou um pouco, e decidiu se fazer de difícil. balançou a cabeça em negativa.
- Ainda não!- Preciso pensar! Afinal, é uma mudança e tanto, incluindo muita responsabilidade.
De repente seu celular começou a tocar, ela pediu licença, se levantou , se afastando um pouco, para atender.: - Alô! Tão logo reconheceu a voz de seu assistente, que começou a falar sem parar: - Onde você está? - Já estou a ponto de fechar o escritório, todos já foram embora, só falta você! - Ainda vai voltar?
Ela olhou para seu relógio de pulso e não conseguiu acreditar no andar das horas, o tempo passara tão rápido que nem percebeu que quase anoitecera.
- Desculpe-me! - saiu uma voz quase chorosa: - Pode sair, eu volto, mas, tenho a chave!
- E ai? Como foi?
- Tudo correu as mil maravilhas! - Não conseguiu esconder a emoção.
Ouviu um assovio animado do outro lado e uma expressão de contentamento no falar: - Que maravilha! Valeu a espera!
- Sim! valeu!, mas, vamos conversar noutra hora! Já está ficando tarde, preciso sair daqui. Beijo, amigão!
O telefone ficou mudo de repente, ele já tinha desligado, com certeza, estava louco para ir para casa!
Ela se voltou para o moço, e só então, percebeu que não sabia seu nome. Ficara tão empolgada com o negócio, que esquecera completamente de perguntar. Ou não era só isso?
- Eu peço desculpas, falamos sobre tantas coisas, tratamos das coisas práticas, e nem sei qual é o seu nome!
- Daniel, mas, pode me chamar de Dan!
- Então Daniel, podemos ir?
Ele sorriu, falando em seguida:- Dan!  para os amigos eu prefiro ser chamado de Dan.  Sim!
podemos!
Levantaram do banco e seguiram diretamente para o carro, falando sobre as questões legais de compra e venda.
Se despediram na porta do escritório, prometendo se encontrarem no outro dia, as dez da manhã,
quando, então, iniciariam o processo da transferência do imóvel.
Ela voltou para casa com uma sensação estranha. Não era mais a mesma. Parecia que estava vivendo a vida de outra pessoa. Estava tensa e ao mesmo tempo relaxada, não sabia explicar:  Seria amor, ou apenas empolgação pelo homem,  que, de repente, mudava sua condição de momento?
Entrou em casa, fechou a porta e foi para o banho. Enquanto a água caia sobre sua cabeça, ela colocava um pouco em sua boca e esborrifava para fora. Era assim que conseguia relaxar e pensar.
Tudo transcorrera bem, ela nem acreditara que depois de tanto tempo, numa penúria que dava dó, agora, poderia resolver muitas pendências.: como saldar as dividas contraídas naquele ano, que estava difícil de sanar., sair daquele apartamento pequeno, e morar num casa maior, com aquele jardim imenso, e tantas outras regalias que sequer sonhara.
Dormiu mal aquela noite, foi difícil se desligar, só depois que o cansaço vencera é que pode descansar um pouco.
No dia seguinte levantou-se muito cedo, preparou o desjejum, tomou uma ducha quente, e foi para o escritório.
Chegando la´, todos á saudaram, dando-lhe os parabéns pela venda, sem notarem o turbilhão de emoções que á estava incomodando.
Lá pelas dez horas, Daniel chagara, logo após o antigo dono da casa também apareceu, todos se reuniram na sala de reuniões e efetivaram o negócio.
Daniel lhe parecera muito distante, diferentemente do dia anterior.
Assinaram a papelada, os cheques foram editados. As comissões devidamente distribuídas. A parte que cabia a imobiliária, a parte que lhe cabia, enfim, todos os trâmites devidamente acertados e concluídos com muito sucesso, sem nenhuma ressalva.
Agora, só havia mesmo o trabalho do seu assistente, que registraria tudo em cartório.
Ela foi a primeira a sair da sala, não aguentava mais a pressão do seu coração, que batia muito acelerado, como se fosse um pilão a moer milho.
Aquilo tudo lhe causara muito estresse como nenhum outro negócio que anteriormente fora fechado. Ela só entendia que o comprador era o culpado, ela não conseguia parar de pensar naquele homem.
Foi para a saleta ao lado, serviu-se de um café, sentou-se numa poltrona de coro cru, disposto perto da máquina.
Aquela sala era muito aconchegante, que, por alguns instantes, até conseguiu relaxar. No entanto, o sossego durou pouco. logo, ouviu vozes vindo do corredor, e seu cliente abriu a porta, entrando acompanhado de mais dois colegas de trabalho, e a conversa fluiu, sempre relacionado com trabalho.
Ela pouco falou, e de vez em quando, se deparava com um par de olhos verdes olhando em sua direção. Naquele dia, ele se vestira com esportividade. Estava muito mais atraente que quando o conhecera: vestia uma camisa cor de vinho, acompanhado por uma calça mais clara, quase que da cor salmão. estava sem a gravata, com a manga da camisa enrolada até os cotovelos,  com a camisa aberta , mostrando pelos dourados que se perdiam entre os tecidos.
O sapato era um tanto menos chamativos, embora simples, mantinham uma limpeza impecável.
Ficou admirando seu cliente por alguns segundos, até ouvir uma voz dirigida diretamente á ela: - Oi!, está me ouvindo? Parece estar num outro mundo!
Anita deu um salto na cadeira, quase derrubando a xícara que estava segurando entre os dedos,
- Que susto! Não estou dormindo, nem me encontro fora do mundo, só estou um tanto cansada.
Ele deu aquele sorrisinho encantador que derrubou toda a sua defesa.
- Eu estou esperando a resposta!
- Sobre? -  fez a pergunta sem pensar - Desculpou-se logo a seguir: - Ah, sim! Eu aceito a sua proposta, só que, com uma condição.
- E qual é essa condição?  perguntou meio decepcionado: -  que será que viria agora?  Tudo poderia  se esperar de uma mulher, ainda mais de uma que parecia viver nas nuvens.
- Eu quero ter carta branca, já que não vai estar por perto, eu quero todas as condições necessárias para realizar esse projeto.
- Claro!-  ele respondeu com segurança na voz:- Nem poderia ser diferente, já que estou colocando a minha vida em suas mãos.
- Sua vida? - ela se viu balbuciando:- por acaso aquela casa representa a sua vida?
- Sim! ele disse com uma certa tristeza no olhar: - a partir de agora, só viverei para ela e para os negócios.
- Não sei se deveria dizer isso, mas, você me pareceu meio frustrado.  O que realmente aconteceu para que o seu casamento não desse certo?
- Ele sorriu , e com uma certa displicência no olhar foi lhe contando o ocorrido: - A culpa foi minha. Minha esposa sempre foi muito dedicada ao casamento, embora tivesse que trabalhar, não porque precisasse, mas, para que se distraísse, sentindo-se importante como pessoa. Só que eu, vivia para o trabalho e acabei  deixando-á um pouco de lado. Quando percebi, já era tarde.
Ela já estava interessada em outro, uma pessoa que a completava, que cobria todas as suas necessidades. Ao conhecê-lo eu entendi o por quê.
- Você conheceu o amante de sua esposa e se deu bem com ele? Como isso é possível?
- Não era ainda o amante, embora tivessem um relacionamento de amizade já ha muito tempo,
antes de mudarem a condição do relacionamento, eles foram muito sinceros, vieram falar comigo, e sem muita delonga expuseram o acontecido.
Estavam se apaixonando e pretendiam ficar juntos. e eu era um empecilho.
Então, para a boa saúde de todos, optamos, de comum acordo, que o melhor seria nos divorciarmos o quanto antes.
E isso vem ocorrendo já á algum tempo, embora ainda moremos na mesma casa.
- Nossa! que história! E como se sente diante disso?
- No começo, não vou negar, isto me abalou profundamente. Eu não me dava conta de que o nosso relacionamento já havia  se esgotado. Há muito já não havia muito á se falar, nem á compartilhar, exceto coisas banais. e alguns encontros românticos, sem muita emoção, só por comodismo mesmo.
- Que triste!
- Sim!  muito triste!  É nisto que dá o casar-se quando se é muito jovem.
- Faz quanto tempo que são casados?
- Quinze anos, eu acho!
- Vocês tiveram filhos?
- Não! E não foi por falta de querer. Não tivemos, porque não tivemos. Ela tem um problema nas trompas, e não pode segurar o feto.
Já sabia disso quando me casei com ela, e isso não me afetou no primeiro momento, como já te disse:  Quando se é jovem demais, a gente não para para pensar, e sempre está tudo certo.
- E agora, o que você pretende fazer? - Quero dizer:- depois que se mudar para cá.
- Ainda não sei direito. Só sei que pretendo recomeçar, Sou jovem ainda, e tenho que pensar!
- Vai mudar de atitude, ou pretende viver para trabalhar?  Se for assim, nem adianta se casar novamente.
Falou assim, mais para jogar verde e colher maduro. Já estava sonhando em ocupar o lugar vago.
- É óbvio que aprendi a lição, começou a falar:- Se me casar novamente, eu acho, que preciso pesar os prós e os contra. mesmo porque, já tenho o suficiente para pensar em dosar o tempo.
E falando nisso. que tal um drinque depois do trabalho para comemorarmos o negócio. Podemos chamar seus amigos, ou sairmos sozinhos, como preferir.
- Sozinhos?  se viu a perguntar:
- Sim! porque não?
- Afinal, somos nós que realizamos o negócio, não teve interferência de ninguém. a sua simpatia me fascinou de um jeito tão forte, que me vi quase que obrigado a comprar a casa. Deu uma boa gargalhada e acrescentou em seguida: - brincadeira!
- Mas ela viu sinceridade em seu olhar, e foi por isso que aceitou o convite, pediu que á pegasse lá pelas nove horas da noite, em frente a sua casa.
Ambos se despediram,  ele foi para o hotel, sentindo-se realizado, ela foi comemorar com os amigos a efetuação daquela venda.
Trabalhou o restante da tarde no escritório, pois ainda tinha muitas tarefas pendentes, depois foi para casa um tanto ansiosa com o encontro de logo mais á noite. deu uma ajeitada em seu apartamento, levou o lixo para fora, tomou um banho, para depois relaxar um pouco deitada no sofá com a televisão ligada. Não conseguia prestar atenção em nada, pois a sua cabeça se concentrava na figura linda de seu mais novo cliente, pensando se valeria a pena mudar-se para a nova casa.
Ligou para a sua mãe e lhe contou as novidades, Escondendo a parte mais intrigante: A paixão eminente pelo novo patrão.
Lá pelas oito horas da noite começou a se enfeitar:  Usou maquiagem, frisou os cabelos, passou um perfume pouco usado por ser muito caro, Colocou seu melhor vestido, seu mais novo sapato. e se pôs a contar os minutos, tanto a agitação que lhe tomara conta.
Enquanto isso, Daniel também se perfumava, coisa que ele fazia com muita frequência. Mas se viu a tomar um certo cuidado com a escolha, porque,  para ele,  seria uma ocasião muito especial. Durante quinze anos não teve nenhum envolvimento romântico com nenhuma outra mulher que não fosse a sua esposa. E poucas vezes sentiu-se tão amedrontado como se sentia agora. Parecia que a vida voltara a pulsar de uma outra forma em seu peito, como se voltasse a respirar com mais intensidade e muito mais prazer.
Fez a barba, escolheu a roupa, os sapatos, até comprou um novo perfume, queria que fosse diferente, Nada a ver com o homem do passado. Agora, a mudança seria total em todos os sentidos, não queria correr riscos com o novo relacionamento. nem sabia ao certo se seria correspondido, mas, sentia que, as coisas se sucedessem dessa forma, pelo menos era essa a sua vontade.
Pensara muito sobre o assunto. Não queria precipitar-se, mas, parece que o destino faz tudo as avessas do que se planeja, Pelo menos, era isso que o seu coração transmitia. bendita hora em que resolveu mudar de Estado.
Olhou no relógio que marcava oito horas e vinte minutos. Pediu pelo interfone que o manobrista tirasse seu carro da garagem do prédio onde estava instalado. O hotel nem era tão sofisticado, mas, tinha lá suas mordomias, Tudo o que o dinheiro compra! - Pensou:
Oito e meia, ele já entrava em seu carro, oito e quarenta, a buzina soou lá embaixo. Anita se olhou no espelho mais uma vez, gostando do que via. Olhou pela janela, constatando que ele havia chegado.
Seu apartamento ficava no segundo andar, levaria apenas alguns segundos para chegar lá embaixo. No entanto, resolveu fazer um sinal para que ele a esperasse, pois não queria demonstrar muita ansiedade.- Mulher tem que se fazer de difícil, pensou:
Foi para o banheiro e se demorou um pouco sentada no vaso, para acalmar a tremedeira e desacelerar o coração que batia mais rápido que de costume.
Depois saiu, chamou o elevador, entrou sorrindo para um casal que ocupava o mesmo espaço. - Boa noite! falou:
Os dois a cumprimentaram,  a moça não parava de olhar para ela, enquanto o moço disfarçava com medo de levar um beliscão.
Ela percebeu e sorriu por dentro satisfeita, se causava essa impressão nos desconhecidos, por certo agradaria seu acompanhante. Era só o que almejava!
Ao abrir a porta que dava para a rua, deu de cara com ele a esperar-lhe. não esperava nada diferente, já notara que era um perfeito cavalheiro,
Ele tomou a sua mão e deu-lhe um beijo no rosto. Ela se encolheu um pouco diante da emoção que inundou o seu ser. Não esperava aquele comportamento, afinal, nem se conheciam direito e ela estava acostumada a tratar gente pouco conhecida com um tanto de formalidade no primeiro momento.
Ele continuou segurando sua mão entre a dele, conduzindo-á até o veículo estacionado mais adiante.
Caminharam em silêncio, não querendo quebrar aquela sensação gostosa que o leve toque proporcionava.
Só então soltou a mão dela para abrir a porta do carro para que ela entrasse. enquanto dava a volta até a segunda porta, ela se concentrou em se habituar com aquele conforto do qual nunca estivera acostumada.
Nenhum rapaz a tratara com tamanho cavalheirismo, nem tão pouco sentira aquela sensação de que o mundo parecia rodar em torno dela, deixando-á tão vulnerável a ponto de parecer boba ao seus próprios olhos.
Sem aparecer nenhuma palavra melhor para dizer. Quando ele sentou-se ao seu lado, ela apenas conseguiu balbuciar: - Muito obrigado!
 Ele não respondeu, apenas olhou em sua direção com faíscas no olhar. Para depois lhe dizer suavemente: - Você está deslumbrante!
- Você também está muito bem! - devolveu-lhe o elogio:
Ela não pode deixar de reparar em todos os detalhes que compunham a imagem daquele homem sentado ao seu lado. Estava vestido com esmero: Calça jeans da cor preta, camisa azul claro com as mangas dobradas nos punhos, sapatos mocassim de cor clara, cabelos bem penteados com uma leve onda sobre a testa, destacando alguns fios brancos sobre as têmporas. Um perfume enebriante enchia o ar, de uma fragrância ousada parecendo uma mistura de couro e cacau, com uma leve sensação de frescor de lima e de manjerição. nada parecido com o perfume que ela estava acostumada a sentir nos homens que conhecera, mostrando assim, a sofisticação que jamais vira em outra pessoa.
O garçom se aproximou com uma garrafa de vinho tinto malbec, que delicadamente, despejou em duas taças de cristal.
Ele pegou a taça erguendo-á para um brinde, ela, automaticamente, o imitou, perguntando:- A que brindaremos?
- Ao futuro!  ele disse:  acrescentado a seguir: - Tim- tim! - sorvendo um gole e suspirando de prazer.
Ela fez o mesmo,  a bebida desceu aquecendo-á ainda mais, sentiu uma onda de calor invadindo seu corpo já aquecido pela emoção, queimando-á por dentro, até aparecer em sua testa algumas gotinhas de suor, que ela, imediatamente fez questão de secar com a palma das mãos.
- Está muito calor para tomar vinho, ela disse: - Preferiria algo mais fresco.
- Imediatamente ele chamou o garçom.
- Por favor! Acho que errei no pedido, a dama prefere algo mais fresco.
- Não! ela se viu a replicar. - Falei por falar. O vinho está muito bom.
O garçom ficou ali parado, esperando os dois decidirem.
Anita fuzilava o companheiro com o olhar, após alguns segundos em silêncio, ela despejou sua fúria: - Podia, ao menos, conversar comigo para tomar suas decisões, não?
Ele a olhou com surpresa, estava acostumado a tomar decisões sobre tudo, mas, viu,  que com ela, isso não funcionava. Notou que estava lidando com alguém não manipulável, cheia de dignidade e auto-estima.
Após ouvir o comentário de Anita, o garçom se afastou para que eles tivessem o seu momento de discussão a sós.
Ele levantou as mãos para cima, num gesto que pedia paz, para depois falar pausadamente:- Peço desculpas, não queria te chatear. Estou acostumado a ir em restaurantes e pedir uma garrafa de vinho, não importa a estação, eu gosto!
Se não se importar, pode pedir o que quiser. Não é obrigada a me acompanhar.
- Sem problema, ela disse: - Eu é que peço desculpas. Não deveria estar reclamando de nada, está tudo perfeito!
- Bom! Para compensar a minha falta de companheirismo. Disse Daniel: - pode escolher o prato!
Ela sentiu-se mal, depois do ocorrido, e preferiu deixar tudo ao encargo dele, só que, desta vez, fizeram a escolha juntos.
Enquanto degustavam uma comida gostosíssima, conversaram sobre muitas coisas, ele lhe contou que trabalhava em uma companhia  de agro negócios. Onde produzia sementes, exportando para outros países, por isso viajava muito.
Como diretor, nunca deixava que outros tomassem decisões por ele.. - Até aquele momento, acrescentou:  em tom de brincadeira.
Ela sorriu também, entendendo o que ele quis dizer; sentindo-se satisfeita pela forma em que á incluía em sua vida.
Depois de terminada a refeição, ele a convidou para dar uma volta. Ela aceitou de imediato, querendo prolongar o encontro, talvez, até quebrar o gelo e partir para um outro tipo de intimidade.
Ele segurou em suas mãos logo que saíram da mesa. Ela sentiu uma vibração ir de encontro ao seu querer, como se estivesse se conectando consigo mesma.
Ao sair á rua, ele parou,  passou as mãos pelo seu cabelo, parando ao longo de seu pescoço, causando um prazer inigualável que a fez estremecer, seus lábios se uniram como um imã potente, e o mundo pariu sensações antes nunca sentidas.
- O tempo parou:  nenhum dos dois saberiam dizer em que tempo as caricias começaram, nem quando terminou. Olharam-se nos olhos, e ele disse baixinho em seu ouvido: - Não tem ideia do quanto esperei por isso!
- Nem você tem ideia do quanto esse pensamento me abalou!
A noite prometia,  passearam de mãos dadas, se beijaram um milhão de vezes, até sentirem que já era hora de se despedirem, Ele á levou até a porta do prédio, ela ficou com vontade de pedir para que ele subisse, mas engoliu em seco, deu-lhe mais um beijo, desta vez, menos voluptuoso, soltou as suas mãos das dele, bem devagarinho, quase a protestar, e só então, abriu a porta e se afastou rapidamente, sem olhar para trás.
Ele ficou ali parado, sem se mexer, paralisado por uma sensação de perda, quase á asfixiar-lhe.
Deu meia volta quando viu a luz do segundo andar se acender. voltou para o carro, e foi embora.

Por:  Hertinha Fischer

Primeiro capitulo de um romance.






































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