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 Me encontrei com o mundo das letras quando o meu mundo se reduzia a nada. Fui muito maltratada pelas circunstâncias que não gostava de silê...

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Palavra tem poder - capitulo 5

A grande descoberta

Os meninos a levaram para uma casa simples: composta por dois quartos, uma pequena sala  e uma cozinha.
Ela foi apresentada ao quarto onde ficaria: quatro beliches e uma comoda para guardar seus pertences. A comoda tinha várias gavetas. Ela ficaria com uma, as gavetas restantes já estavam ocupadas..
O quarto estava bem arrumado, embora fosse simples.
Ela começou a desfazer as malas, distribuindo seus pertences em lugares devidos.  Começou a ficar preocupada, pois era muito pequeno para caber todas as suas coisas. Decidiu deixar alguns pertences dentro da mala.
Voltou para a sala,  vários membros da associação estavam acomodados numa espécie de banco de madeira, dispostos um diante do outro. uma mesa central acomodava uma garrafa de água mineral e vários copos descartáveis.
Alguém pegou um copo, colocou água e deu para ela beber, antes, porém,  fizeram um brinde, batendo um no copo do outro. e dizendo com tom de alegria: - Á nossa missão!
A nossa missão! - todos repetiram.
E que missão era aquela?  ela se perguntava:  - O que faria? Nunca havia sequer saído de seu município, agora estava em outro país.
_ E o que faremos? perguntou meio desconcertada:
- O mesmo de sempre! Amanhã, assim que clarear o dia, seguimos para a sede, respondeu um dos rapazes:
Provavelmente encontraremos  muitas crianças a nos esperar, muitos dos pais também estarão lá. As outras meninas que você conhecerá em breve a auxiliará no que fazer.
- A causa em que trabalhamos é voltada para o  social: temos vários grupos distintos: Uns trabalham
com artesanatos, outros com a palavra de Deus, não em termos religiosos, mas em termos de aprendizagem.
Outros ainda ensinam comportamento, e assim por diante. Cada um compartilha daquilo que sabe.
Anita ficou apreensiva. pensou em como contribuir, se nunca ensinara nada á ninguém!
Ela estava perdida em si mesma, como poderia levar alguma mensagem boa?
Decidiu sair da sala, enquanto seus novos amigos conversavam alegremente sobre o futuro. Se despediu alegando cansaço, mas, na verdade, queria ficar só, para fazer um balanço sobre a sua própria vida.
Lembrou-se de Daniel, do que ele falara sobre amor e companheirismo. Ficou desconsertada ao chegar a conclusão de que ele tinha razão; - Se amor fosse apenas pele e cobiça por corpo, o que seria então o amar sobre a condição de apenas cuidar?
O amor eros, como alguns o chamam. Seria amor em parceria, ou apenas desejo de sentir emoções latentes?
Porque havia nela e em tantos, o desejo de controlar as emoções do outro, quando nem sabia controlar os seus?
Havia mais perguntas que respostas, no entanto, ela sabia que tinha que resolver-se para depois concluir. Seria impossível responder sem esmiuçar dentro dela mesma tudo o que a entristecia e incomodava. que, por, um motivo e outro, não era culpa de ninguém. Talvez, nem dela mesma.
Nascemos livres, quase que totalmente livres,  não fosse a necessidade de cuidados essenciais. Ao passar dos anos, o ego flui como ribeirão ligeiro, dai nasce-se muito mais do que simples necessidade.
Olhamos para o que o outro tem, vem então, o desejo de competir. porque competimos em tudo, quase que sem perceber.
Tudo o que conseguimos adquirir consideramos "nosso", não damos margem alguma para que tirem de nós. E quando por força maior algo se perde, o vazio será preenchido com dor.
Assim sendo, quero me afortunar com sabedoria, para que amanhã não venha a colher dor em lugar de amor.
E dormiu sem perceber e sonhou com Daniel, agora, distante.
Pela manhã, alguém a cutucou de leve, chamando-á com voz mansa, quase que a sussurrar: - Acorda menina,
Está na hora de tomar café, o dever nos chama!
Ela abriu os olhos,  depois fechou-o  novamente, bocejou e espreguiçou-se graciosamente. Até perceber que não era a sua mãe lhe chamando.
Só então, pulou da cama um tanto assustada: - Onde estou?
- Na cama!  respondeu uma voz com som de riso.
Anita abriu os olhos  e viu uma moça desconhecida sentada na beira da sua cama. - Quem é você?
- Meu nome é katia, sua colega de quarto. Seja bem vinda! disse a moça: demonstrando simpatia. -  E você, quem é?
Anita notou que a moça era pequena, parecia bem pequena, quase uma menina, tinha olhos amendoados, cabelos castanhos, lisos e  compridos, agraciado por uma franja que a tornava bem mais jovem.
Ela sorriu agradecida, respondendo com sinceridade:- Bom dia pra você também, muito prazer, estendeu a mão.
A moça deixou a  mão de Anita no ar, ela ficou constrangida por um momento, mas, logo após viu-se envolvida num abraço.
-Amigas! - disse a menina: sussurrando ao pé do ouvido.
- Amigas! soltou do abraço e sorriu.
Ambas se dirigiram para a cozinha, se encontrando com uma rapaziada barulhenta e alegre. Após tomarem o café, se dirigiram para a sede.
Katia foi mostrando o caminho, pedindo para ela fixar os detalhes para quando precisasse sair sozinha, aprendesse como voltar.
As ruelas pareciam todas iguais, exceto por pequenos detalhes. As crianças pulavam de um lado á outro, atrás de uma bola quase vazia,  entre uma nuvem de fumaça que os envolvia. A terra estava seca e as ruas poeirentas, numa cidade que necessitava de tudo.
Naquele momento, embora fosse tudo novidade para os demais, envolvidos numa áurea de boa vontade, entre tantos outros estrangeiros que por ali se ajuntavam, Anita sentiu-se pequena demais.
E pensar que sofria pelos problemas que nem existiam, pensou: - Se tudo se resumisse em sofrimento sentimental?
Se pensou em se achar, tinha plena certeza que ali seria o lugar ideal.- Longe de casa, longe de tudo, numa cidade de lata, onde ao longe se via riqueza e pobreza se misturando sutilmente como se fosse dois mundos unidos e desunidos ao mesmo tempo.
Chegaram, finalmente, depois de enfrentar a poeira, numa espécie de barracão, tão humilde feito coração de mãe.
Algumas crianças ocupavam as cadeiras de plastico colorida, em seus rostos, uma mescla de curiosidade e timidez. Anita os sentiu tão forte como o próprio sentimento que nutria por Daniel. Uma ternura imensa se criava dentro dela, tinha vontade de pegar alguns no colo.
Por longas e intermináveis horas eles ficaram palestrando, falando sobre vários assuntos.
Na hora do almoço, compartilharam a refeição feita por ali mesmo, entre cantos e sorrisos, danças e brincadeiras o dia se findou.
Voltaram para casa com uma boa sensação, como se o cansaço fosse deixado para trás. Pode entender que o sofrimento, na verdade, era também uma forma de existir.
Para alguns significa perdas, para outros, viver!
Ha  também  alegria onde ha poucos recursos: - de uma forma ou de outra, o mesmo tempo que passa aqui, também passa ali.
Onde o amor impera, não ha falta.
E novamente, Daniel voltou em sua mente, como o raiar de um novo dia, ensolarado e calmo, e ouviu-o dizendo: - Do que sentimos tanta falta?
Eu sinto falta de você, ela respondeu no silêncio do seu coração. Como não percebi isso antes!
A voz de sua amiga Katia veio tirá-la de seus pensamentos:- E ai, colega, o que você achou do nosso trabalho?
- Achei magnifico, penso que não poderia ter aprendido mais: quanto mais a gente se dá, mais e mais a gente ganha.
- Verdade! eu sinto, cada vez que vou embora para casa, que ganhei mais do que ofereci.
Ao chegar em casa, sentiu uma vontade de falar com sua mãe. pegou o celular e já ia discando o número, quando lembrou que ela poderia estar no banho,  fazendo amor com seu namorado ou ainda ocupada com o jantar, então desistiu.
No dia seguinte mandou um telegrama para sua mãe com dizeres  bem carinhoso:
 Desculpa por não ter te ligado,
eu acho que a voz em muitos casos não soaria melhor que palavras,
 nas quais poderá de vez em quando, lê-las e sentir como se eu ainda estivesse presente. Estou me sentindo muito bem, apesar da saudade. Acredite, aqui distante, eu sinto muito mais do que quando
 estava perto.
Espero de coração que esteja bem !
Te amo!
Uma semana se passou sem nenhuma noticia de seu amor. ela já estava se adaptando ao novo modo de vida. trabalhar sem remuneração, comendo o que chegava a mesa. enfrentando os obstáculos que surgiam com determinação e fé.
Aprendera muito desde que chegara. Agora, estava pronta para fazer um tour, afinal, não viera para a áfrica só para trabalhar.
Zola iria ser o seu guia, e katia sua companhia.
Arrumaram as malas e seguiram rumo a Botswana, um dos lugares que Anita desejara conhecer.
Seguiram de avião,  um modo mais rápido e pratico. depois seguiriam de carro até uma cidade turística chamada Kasane.
- Kasane é uma pequena cidade com bons hotéis, onde fica um dos acessos ao Parque Chobe. Lá,  tudo é muito selvagem e você vai se surpreender com a incrível estrutura para turistas. zola falava sem parar:- Conheço tudo por lá. Vou te apresentar aos amigos mais chegados.
Anita ouvia com muita atenção enquanto saboreava lá de cima, uma paisagem deslumbrante, que mais parecia miragem.
Nunca pensara que seria tão divertido.
O horizonte a frente parecia tão perto, lá de cima podia ver algumas manadas de búfalos pastando, e ainda, girafas tentando alcançar as folhas de acácia. Tudo tão bonito e surreal para quem viveu sempre na cidade.
Zola não se cansava de passar seu conhecimento sobre a região, sentia-se o melhor guia do mundo, conhecedor de toda espécie de animal.
- Vou levá-la para fazer um passeio de barco, lá onde os elefantes nadam, dizia ele: O por do sol é sensacional.
Não vamos ficar em nenhuma hospedagem no parque, iremos mais longe, na casa de um amigo estrangeiro.
Anita sabia que não teria outra aventura igual a essa. já pensava em se instalar por ali por algum tempo, antes mesmo de colocar os pés no chão.
Depois de algumas horas de voo, enfim, desceram numa pequena pista de pouso, descarregaram as malas, se despedindo do piloto, um pequeno veículo os aguardava e um motorista de semblante cansado, pele queimada e um olhar amoroso os acolheu com um largo sorriso. - Prontos para seguir? perguntou:
- Sim!  Zola respondeu, depois de fazer as apresentações.
Zola e Katia sentaram na parte de trás do jeep, enquanto Anita sentava na frente, ao lado do motorista.
Adebumi sentiu-se o rei, seu nome sugeria isso. Parecia mesmo com um rei Africano, pomposo demais para parecer um simples motorista.
Seguiram até Kasane, onde se podia ver as imensas quantidade de hotéis e pousadas. Anita sempre pensara numa região pobre, e se surpreendeu com a beleza e sofisticação do lugar.
Entraram na cidade, depois de darem uma volta, seguiram por um caminho que dava para um território mais selvagem, adentrando mais ao norte, numa simpática estradinha de terra.
Andaram por cerca de uns quinze minutos, e uma pequena cabana já podia ser vista de longe. Adebumi apontou -á com o dedo, dizendo: - É lá que vocês ficarão! O dono está viajando, mas, deixou tudo pronto para que fiquem bem instalados por uma semana. Depois ele volta trazendo mais mantimentos.
Anita se surpreendeu, não esperava encontrar por ali, alguém com tamanha gentileza a ponto de oferecer hospedagem de graça. - Quem é ele?  perguntou:
- Um amigo! - respondeu Zola, sem dar mais nenhuma informação.
Ao estacionarem diante da cabana, uma mulher de meia idade saiu da casa, vindo ao seu encontro. Estendendo a mão para ela, desejou-lhe boa estadia. Ela olhou para a mulher com muita curiosidade. Magra, cabelos negros, presos num coque.  olhos castanhos amendoados, como era comum na região. Um sorriso aberto, e um olhar amoroso de mãe.
Ela tomou a mala de suas mãos como se fosse pesada demais para ela mesma carregar, quase que puxou de volta, mas, sentiu que seria uma desfeita muito grande, então, se conformou e seguiu-á.
Katia carregou as sua próprias malas, e Zola as suas. Deixando Anita meio sem jeito pelo modo diferenciado de tratamento.
Nada perguntou por uma questão de respeito. Ao adentrar na cabana, Ficou boquiaberta com a sofisticação do lugar, embora parecesse simples vendo pelo lado de fora.
A cabana tinha varanda por todos os lados, uma porta de correr foi aberta, dando para a sala, composta por sofás de madeira com almofadas coloridas. Uma lareira apagada num canto  dava um ar de graça. ao ambiente. Cascas de árvores trabalhadas enfeitavam um lustre quase medieval, que descia como cascata sobre uma mesa grande e  entalhada que cruzava a sala, de uma extremidade a outra. cadeiras de madeiras compunham o quadro espetacular, tudo muito rustico e nada convencional, mas, de muito bom gosto.
Zola a olhava com admiração, achava que Anita,  logo, logo, descobriria que não estava ali por acaso.
A mulher levou as duas mulheres para o quarto que iriam compartilhar. A mobília era tão simples como a sala de  estar. Apenas duas camas bem vestida com colchas  feitas a mão, coloridas e acolchoadas.
Algumas almofadas estavam dispostas no chão de cimento queimado, tão brilhante e limpo quanto outro comodo qualquer da casa.
As dez horas da noite, após um breve descanso. Maqueda, a anfitriã e cozinheira da casa  entrou no aposento para chamá-las para  o jantar.
Elas se arrumaram e foram para a sala. A mesa estava arrumada com pratos talheres e guardanapo, como qualquer restaurante requintado. As iguarias ocupavam o centro da mesa: muitos vegetais e grãos misturados, pouca carne e uma taça de vinho do porto.
Anita ficou atônita e não deixou de perguntar:- Como alguém nessa região pode ter tanto,  se a maioria ocidental pensa numa África pobre e desprovida?
Foi Zola a responder a pergunta: -  Como em qualquer lugar no mundo, aqui também existe desigualdade social. Muitas pessoas de posse vieram para esta região para investir em turismo. e o que você vê nesta região, não são gente daqui, a maioria dos nativos trabalham, mas não são donos de nenhuma propriedade.
Katia entrou na conversa:- Vem muita gente de fora nessa região, principalmente, por causa dos lagos de hipopótamos e elefantes. Também ha uma infinidade de homens nativos que conhecem bem a região e os animais, tornando o progresso da região possível e a pobreza um tanto menor, devido a possibilidade de trabalho.
E a conversa fluiu durante o jantar.
Depois de comerem, todos foram para a varanda, e de longe podiam observar o parque. O céu tinha um avermelhado intenso, como se tivesse sido pintado com cinzel.E o som dos animais chegavam até eles como gemidos inexpressíveis, porque o ar estava seco e pesado, sem nenhuma sombra de vento. As monções já davam sinais de chegada.
Depois de degustarem um bom vinho, todos se recolheram para descansarem da viagem, Zola prometeu levá-los logo cedo para um passeio de barco.
Anita fechou os olhos, veio em sua lembrança a figura de Daniel. Sentiu uma saudade imensa de seus olhos verdes, de sua voz suave, Quase que sentiu seu halito quente, pronto para beijá-la. suspirou doloridamente, acordando sua companheira de quarto que imediatamente lhe perguntou:- Você está bem?
- Sim! ela respondeu:- Só o coração que dói um pouco!
- Está apaixonada?
- Eu acho que paixão soa tão pouco diante do que sinto -  expressou com tristeza na voz:
- E por que está aqui?
- Para me encontrar, eu achava! Eu digo:-  achava! porque não sei mais! sinto agora que me perco num abismo de emoções desencontrados. Um terror pensar que o que fiz, talvez, não tenha volta.
- Como assim? O que você fez? A pergunta de Katia teve uma conotação de surpresa:
- Ele me amava, eu tenho certeza agora.  Mas, no momento, tive dúvidas. Sempre quis formar uma família. Ter  um filho sempre foi um sonho. E isso me fez ficar incrédula em relação a um companheiro. Eu esperava que o homem que me escolhesse fosse, de cara,  me carregar nos braços, me levar com ele por onde fosse, assim, como nos contos de fadas. mas, Daniel estava longe de ser assim. Muito pelo contrario! Quando presente, estava de corpo e alma, mas, quando ausente, parecia que me esquecia, Nenhum telefonema, exceto quando tinha algo urgente para falar!
Quando pedi explicação sobre isso, ele simplesmente quis me convencer que a vida é assim mesmo. Não devemos esperar muito um do outro apenas viver os bons momentos com intensidade. cada hora com a sua tarefa: - hora de amar, hora de amar! hora de trabalhar, hora de trabalhar!
Katia deu uma boa gargalhada para depois perguntar com delicadeza: - E ele está errado, amiga? Antes mesmo que ela respondesse Katia concluiu: -
As estações do amor também precisa de estabilidade. Não pode ser corroborado de incertezas. A vida não é uma  confusão que  se misturam  como um bom virado. A idade nos leva a compreender melhor todas as coisas:  Quanto mais vivemos, mais chegamos a conclusão, de que, amor verdadeiro não precisa de cobrança, só de amor mesmo. E o resultado nunca saberemos. Só vivendo!

 Por   Herta Fischer:    Capítulo cinco




























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