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Som de tristeza

  Som de minha tristeza Ecoa por dentro palavras que nem consigo dizer Não há letras no lamento Se em lágrimas almejasse olhos tristes derra...

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Palavra tem poder Capítulo 4

(Incompatibilidade de gênio)

Daniel pensou em  por um ponto final na conversa sobre sua perspectiva de vida.  Queria falar sobre outras coisas, queria tocá-la, abraçá-la,
sentir seus lábios. Mas a conversa tomara um rumo e nem adiantaria tentar outros caminhos.
- Eu já andei mediando entre um passo e outro, meio.... Pigarreou, limpou a garganta e continuou: - Meio a cambalear diante de tantas vontades que não eram minhas. Me instruíam no sentido de colocar as minhas querencias de lado, aceitando a vida como ela foi imposta. Quer dizer: - A favor do certo amor,  Porém, eu prefiro o amor certo.
E o amor que pode dar certo é o genuíno amor  que será construído dia após dia, sem, no entanto, precisar de regras definidas, como aquelas intermináveis cobranças, e sem sentir necessidade de estar sempre juntos ou a favor disto ou daquilo.
Quando a gente precisa chegar á algum lugar, o que a gente faz?
A gente caminha!  Não ficamos á pensar se realmente valerá a pena caminhar, nem ficamos estáticos pelo medo. A gente apenas caminha! Não é assim? Independente do tamanho dos pés?
Então! Se eu digo que te quero bem, e você tem consciência de que estou aqui por vontade própria. Nem preciso falar de amor, nem fazer declarações, nem tão pouco assinar meu nome em seu braço, para que se torne propriedade minha. Nós nos tornamos um só, não fisicamente, mas em sentimentos recíprocos, independente de corpo?
Se o querer um ao outro perdurar porque queremos, de fato, seguiremos pelos mesmos caminhos. do contrário, de que adiantariam palavras?
Eu poderia te ligar de cinco em cinco minutos, mas, haverá horas em que você quererá sossego. eu poderia ficar ao seu lado vinte e quatro horas por dia, e você sentiria falta de privacidade.
Amor não é isso Anita. Amor é a junção da  partida e da chegada. A fusão complementar de duas propriedades, que continua individual, embora se torne uma só.
Anita ficou pensativa por alguns instantes, tentando absorver tudo o que ele dissera, e chegou a conclusão de que ele tinha razão, mas, o pulsar de seu coração  pedia mais do que simples palavras. Ela queria tudo: Queria mimos, queria presença. Não a presença só, nem só a ausência. mas, a totalidade. Nem mais, nem menos que amor. E ela só conhecia uma forma de amor: Aquela em que dois seres estejam em sintonia, morando na mesma casa, se alimentando das mesmas coisas, dormindo na mesma cama.
Pois é!- ela se ouviu a dizer:- Eu não te peço para ficar, Eu já me decidi quanto ao que quero e espero de alguém. E sei, que não é isso que quero. Eu vou aceitar uma proposta que recebi de fora. Vou para a África, tentar me encontrar, por enquanto, ainda estou perdida!
Daniel a olhou com tristeza, por um momento sentiu que estava no caminho certo para conquistá-la, mas, percebeu que, talvez, estivesse  enganado á seu respeito. Como todas as outras, ela queria colocar uma corda sobre seu pescoço, e ele não podia permitir aquilo. Não queria uma história se repetindo, não tinha mais tempo para vacilos.
- Você é quem sabe, querida! tirou a mão que estava sobre a sua e se levantou. para depois falar: - Quando te achar, por favor, me procure. Quem sabe eu ainda esteja te esperando. E foi embora.
Voltou para o hotel, pegou as malas que estavam sobre a cama, desceu até a recepção, fechou a conta, entrou no carro, e voltou para casa.
Anita caminhou devagar pelas alamedas, que agora nem parecia tão bonita. Uma dor no peito a impedia de respirar. Chegou na casa de sua mãe, ela já estava deitada. Não quis incomodá-la. Ligou para a rodoviária, marcou passagem para o dia seguinte bem cedo.
Dormira mal aquela noite, quase não pregara o olho, mas, em seu íntimo fizera a coisa certa. e dizia para si mesma:- Não me dobrarei á vontade de ninguém. Vou entregar a minha vida a fazer o bem. Homem nenhum vai me fazer de boba, nem me usar com tábua de apoio!
Ainda pensando nisso conseguiu se desligar até as seis horas da manhã, quando se levantou, se lavou, e foi para a cozinha.  Encontrou sua mãe a preparar o café. Quando a viu entrar perguntara o porque de acordar tão cedo.
Ainda meio tonta pela noite mal dormida, ela sentou na cadeira e começou a relatar o acontecido:-
E foi assim, eu não quero mais falar sobre isso. Coloco uma pedra em cima dessa história. Vou para a África no mês que vem. Eu estava relutando por causa do Daniel, embora estivesse com muita vontade de me aventurar. A Senhora sabe que sou inconstante, as vezes, mas, quando tomo uma decisão, não tem quem me segure.
- Sim, minha filha, a mãe se pôs a falar:- Espero que não se arrependa. Tantas vezes você fugiu de situações como esta, e se empenhou em fazer outras coisas, mas, agora, precisa amadurecer e tentar aproveitar para ser feliz.
- Eu vou ser feliz, mamãe. Palavra tem poder! E deu um sorrisinho raso, como se ela mesmo acreditasse pouco no que falava.
Tomou seu café,  a mãe a levou até a rodoviária. Quatro horas depois ela chegou em sua casa. Mas, para sua surpresa o carro de Daniel estava estacionado do lado de fora.
Começou a suar como se tivesse andado quilômetros a pé. O que ele estaria fazendo por lá? depois lembrou que a casa era dele, então, nada de sobrenatural estava acontecendo: A invasora era ela.
Entrou em seu chalé, abriu as janelas para entrar um ar, Começou a arrumar suas coisas.
Algumas horas depois alguém bateu na porta. Ela foi atender, já sabia que só podia ser o Daniel, mas não era.
Ela suspirou antes de abrir a porta. - Oi  Andersom, como vai?
 Recebeu o meu recado, né?
= Sim! recebi e quis ouvir de seus lábios: - È sério que vai para a Africa conosco?
Ela olhou de soslaio, enquanto colocava um item na caixa: - Não está vendo, já estou encaixotando meus pertences. Sou muito rápida quando tomo uma decisão. também não tenho muito tempo para pensar: - Quando embarcamos?
- Na semana que vem.!
- Dá tempo de comprar mais uma passagem?
- Na verdade, a passagem já está comprada. A associação para a qual nós trabalhamos, recruta voluntários, Temos uma meta, então, é em cima dessa meta que fazemos todos os cálculos.
Somos dez voluntários, compramos uma passagem a mais, caso alguém decida na ultima hora. Se não houver mais nenhum interessado, apenas cancelamos a ultima passagem. Acho que já te falei sobre isto!
- Sim! agora me lembro!
Então, esta decidido: Vou com vocês!
E antes que me esqueça, achou um lugar para guardar minhas coisas?
- Sim, nós temos um lugar  para essa finalidade. O templo que temos fica fechado E é lá que podemos deixar nossos pertences. Já que a maioria dos que nos acompanham não tem família no lugar onde residem. E ninguém vai ficar pagando aluguel enquanto ausente.
Anderson parecia ser uma ótima pessoa, ela também já vinha acompanhando o trabalho que eles realizavam em vários países, portanto, não tinha com o que se preocupar.
Logo que o moço se despediu e foi embora. Daniel adentrou o aposento. Anita ficou temerosa com o que viria a seguir:  precisava ter uma conversa definitiva, agora, em tom profissional. Doeu-lhe o peito ao sentir a própria indecisão nos seus atos. Queria mesmo era se jogar em seus braços e dizer que o amava, que sentiria a sua falta. No entanto, apenas olhou em seus olhos com uma frieza  que não sabia ser capaz, e apenas murmurou sem emoção:- O que faz aqui?
Daniel apenas perguntou sem titubear:- Quero saber o que faço daqui para a frente,
sobre o seu trabalho?
- Arrume outro alguém para acabar o que ainda falta. Como você percebeu: - Esta quase que finalizado, resta apenas alguns retoques, que se tiver um pouco de boa vontade, você mesmo poderá finalizar.
- O que á deixou assim, tão melodramática a ponto de deixar tudo de lado para aventurar-se num projeto que nem de perto tem a sua cara?
- Decepção!  talvez! - ela disse com uma voz um tanto embargada pelo sentimento de raiva.
- O que foi que eu fiz?
-Não seria melhor se perguntar: - O que foi que eu não fiz? Pense!
- Não faço outra coisa desde nosso último encontro! Penso que você quer as coisas imediatas, sem pensar no resultado. Eu sou mais pé no chão, devido a própria historia que vivi.
Talvez você esteja certa, O tempo dirá!
- Sim! assim eu espero.
- Você não precisa tirar suas coisas daqui! Poderia ir, sem preocupações, e se, por acaso não desse certo, poderia voltar.
- Eu prefiro assim, não quero nenhum vínculo com ninguém. Se não der certo, volto para casa. Se der, fico por lá!
Ela imediatamente conseguiu sentir a tensão que se instalou naquela sala. Daniel ficou vermelho, como se cada palavra que ela pronunciava lhe atingisse como chicote em suas costas.
- Eu não queria que você fosse. Nós poderíamos conversar, encontrar um meio de achar uma saida. Não é assim que as pessoas normais fazem?
- Verdade!  Eu tenho que admitir! Mas, eu preciso me ausentar, mesmo que isto não tenha nenhuma substância para você, eu sei de mim!
-E eu? não conto?
- Você não precisa de mim, se basta á seu próprio ver. Não quer ouvir, só falar, quer aparecer quando der vontade. Eu detesto isso!
Daniel sentiu seus olhos marear de lágrimas, engoliu em seco, para depois falar com voz mansa:- palavra tem poder! - Deu uma piscadela, para depois completar:- Isto não é o fim!
Saiu da posição em que estava, tirou a mão de seu ombro, deu meia volta e foi embora.
O vazio da sala trouxe o eco de seus passos até o coração de Anita, que imediatamente se pôs a chorar convulsivamente.
Chorou até não poder mais, depois, se levantou pegou a mala e também se despediu daquele lugar.
O táxi estava parado bem em frente ao portão, Ao entrar dentro do automóvel Anita suspirou.
Sem querer ouviu-se um murmurio vindo do coração para a boca: - Palavra tem poder!
Não ponho mais os pés aqui!
E o carro foi se distanciando, deixando sonhos para trás. Outras formas de sonhar ainda á esperava, mas o sonhar com Daniel, sinceramente, ela não  mais queria.
Ficou hospedada na casa de amigos até a data de embarque. Quando o grande dia chegou, uma imensa saudade de tudo já começava a atormentá-la.
Ligou para sua mãe avisando que estava de partida. Sua mãe ainda tentou dissuadi-la dizendo que ainda daria tempo de voltar atrás. Porém ela não pretendia fazer isto.
Entrou no avião com apenas dois conhecidos, o restante da tripulação eram apenas rostos. Sentiu-se um tanto desconfortável. estava entrando num território desconhecido. Iria passar por privações de todo tipo, E pensou:- só assim estarei segura do que quero e poderei ser o que nunca fui!
Estava pronta para trabalhar em Luanda. Estava seguindo com dois rapazes que já haviam participado
de trabalhos voluntários por lá. ela não sabia ao certo se estava habilitada para tal, embora seus imediatos amigos diziam que sim.
Após horas de voo, finalmente chegaram em Maputo. Uma oportunidade única de conhecer praias fabulosas como os da Ilha de Inhaca e ter contato com os animais da Reserva especial de Maputo- também conhecida como reservas de elefantes.
Anita ficou deslumbrada com tudo o que conseguia ver.
Passaram a noite por lá, na casa de conhecidos portugueses que os trataram com grande cortesia, para no dia seguinte, embarcarem rumo a Luanda em angola.
Embora a vagem fosse cansativa, anita se sentia no paraíso. Parecia a terra que Deus preservara para Ele. Tão cheia de mistérios. Com uma cultura tão rica de ritos e cantorias, onde a alegria predomina mesmo em lugares áridos.
Eles ficariam no bairro de Sambizanga, que fica na região metropolitana de Luanda. Um amontoado de ruas de terra batida sem água purificada.
O bairro operário é como uma imensa favela que comporta milhões de pessoas.  onde Lixo e pessoas disputam lugar.
Tão logo entraram na cidade, um sujeito chamado Zola veio em sua direção, com um sorriso alegre cumprimentou Isaías e Célio, para depois olhar para ela, com olhar muito sério, perguntando:- Quem é?
- Esta é Anita, uma voluntária que se candidatou para a nossa causa, disse Isaías:
E,  Célio completou: - veio para a missão, porque precisa se encontrar!
- Se encontrar com quem? Zola perguntou, mostrando uma fileira de dentes estragados, num sorriso
quase de gozador:
 Anita também sorriu, acrescentado:- Comigo mesma!  Embora pareça que estou bem aqui, ao alcance de seus olhos! Não sou o que você vê!
- Você é linda! diferente das mulheres daqui. Vai ser difícil não notar!
Célio olhou para Anita com um sorriso zombeteiro no olhar, para depois abrir um sorriso e dizer:- Já conseguiu um admirador!
Anita também sorriu, apesar de sair meio triste.  Sabia que não seria nada fácil recomeçar sem a unica pessoa que despertara nela uma emoção sem igual, - Suspirou!  e veio em sua mente o nome amado: - Daniel!

Herta Fischer   ( palavra tem poder)  Romance


















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