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Som de tristeza

  Som de minha tristeza Ecoa por dentro palavras que nem consigo dizer Não há letras no lamento Se em lágrimas almejasse olhos tristes derra...

sábado, 7 de abril de 2018

Palavra tem poder - capítulo 3

Capítulo 3      ( Querendo colo)
Depois que Anita desceu do ônibus na rodoviária, ainda teria que caminhar por uns quarenta minutos até a casa de sua mãe. Poderia chamar um táxi, mas, decidiu não fazer isso.
Queria caminhar um pouco, para redescobrir na memória, o caminho que fizera parte de sua infância por longo tempo.
Enquanto caminhava pelas ruas, sentia no rosto, a brisa serena da manhã, um perfume chegava até ela, uma mistura de almíscar e mel, provavelmente vindo de algumas flores espalhadas pelas árvores que se erguiam sobre a calçada, Salientando suas flores brancas e amarelas, com inúmeras abelhas a
zumbir sobre elas.
Uma sensação de frescor á deixou submersa em boas lembranças do passado, quando, em companhia de sua mãe, ela colhia flores, erguida pelos braços fortes daquela mulher que tanto a mimara. para depois oferecer-lhe com imensa ternura e carinho.
Algumas pessoas passavam apressadas por ela, talvez indo para o trabalho. Embora fosse uma sexta feira de feriado, sabia que o comercio ficaria parcialmente fechado e agradeceu por isto _ Ainda bem que trabalhava em uma empresa que oferecia um horário flexível.
As ruas iam se desenhando á sua frente como se tivesse conhecimento do caminho que tinha que percorrer, seus pés seguiam dirigindo-á sem muito esforço.
- Ainda bem que optei por ir a pé!  Pensou: - É bem mais prazeroso curtir essa brisa da manhã.
Alguns minutos se passaram, a mochila já lhe pesava nos ombros, quando enfim pode ver de longe o telhado de sua velha casa, por cima de um muro imponente e um portãozinho de madeira envelhecida.
- Já se passaram muitos anos, nem percebi que envelheci. Pensou: Parecia tudo novo, e agora, vejo que o tempo causou seus estragos. A velha figueira plantada a alguns metros de sua casa, estava parecendo tão cansada que lhe deu uma certa tristeza e pensou:  - Como estará minha mãe?
Fazia algum tempo que não fazia-lhe uma visita, sempre que precisava, era a mãe que ia ao seu encontro, Ela sempre preferiu assim. Não queria rever pessoas e lugares que acabou deixando para trás; - Vida nova, sonho novo! Não queria correr o risco de desistir do projeto de capacitar-se.
Perdida em seus devaneios, nem percebeu que já se encontrava tocando a campainha da casa, sentindo-se um tanto culpada por não ter avisado que viria. sua mãe, por certo ainda estaria dormindo.
Esperou por alguns minutos, até ouvir a porta da frente ranger ao ser aberta, seu coração acelerou pela expectativa de abraçar sua mãezinha querida.
A chave girou na fechadura do portão. Quando ela se preparava para fazer uma brincadeira, viu que a pessoa que aparecera não era sua mãe, e, sim, um homem de meia idade.
Ficou boquiaberta sem saber o que dizer, e foi o homem a perguntar:- Pois não! Em que posso ajudá-la?
Ela não sabia se ria ou se chorava.  Teve tempo de pensar:- Será que minha mãe mudou-se sem me avisar?
O homem á sua frente, esperou com paciência pela resposta.
- Eu procuro a Dona da casa. - Mariana Soares-  ela disse meio sem jeito:
- Ela esta dormindo. Pode me adiantar o assunto?  por favor!  Falou em um tom muito sério.
- Eu sou a filha dela!
O homem ficou branco de repente. Quase se engasgando com as palavras, se desculpou:
- Nossa! me desculpe, eu á conheço por foto, mas, nem me liguei nos detalhes. Você é Anita? pois não!
- Sim, a própria! Resmungou:
- Vamos entrar, por favor! Dá-me sua mochila, parece estar pesada!
Anita tirou a mochila das costas, e ficou apenas com uma frasqueira nas mãos, entregou-á para o desconhecido e o acompanhou.
- Ele abriu a porta da frente, pedindo que á esperasse. Lá se foi a surpresa! - pensou:
Tinha imaginado a cara da mãe ao vê-la diante da porta, Mas, agora, outra pessoa iria contar a mãe que ela estava lá.
- Quem era aquele homem?  ficou a se perguntar.   Até que viu a mãe descendo a escada.
Com uma carinha meio apreensiva ela chegou até a borda do sofá, para depois comentar com alegria na voz: - Que surpresa, minha filha! Abraçou-á com muito carinho, completando: - Não á esperava, por que não avisou? Nós teríamos pego você na rodoviária.
- Pois é! Disse ela: - Eu não quis te alertar, para não te dar esse trabalho. Cheguei muito cedo, peguei o ônibus da madrugada!
- E.. Bom... Quem é aquele homem? seu namorado?
Sua mãe enrubesceu, seu semblante ficou sério de repente. Anita sentiu uma tensão no ar, e acabou sentindo-se culpada. Por isso dosou bem suas palavras: - Que é isso, não precisa ficar  assim dona Mariana. Eu não á culpo, Foi para que isto acontecesse que eu á deixei sozinha. Pensei, que, talvez, um pouco de solidão a trouxesse de volta a vida, e assim, pudesse encontrar de novo a felicidade ao lado de alguém.
O caminho estava livre, e natural que alguém a alcançasse. Quem é ele?
- O nome dele é Roney. Ele ficou viúvo a dois anos, e nos conhecemos á pouco menos de dois meses.
- Hum! que legal.
- Você não se importa mesmo?
- Não! Ela disse com um sorrisinho nos lábios: - Não mesmo!
E Dona Mariana a abraçou novamente falando de saudade.
- Eu também senti saudade, mamãe. E tenho tanto para lhe contar. Coisas que aprendi não falar por telefone.
Ouviram passos vindo de cima, Roney apareceu com uma certa timidez no olhar. Tinha um semblante sereno, e Anita pode notar o quanto era um homem bonito. Aparentava ter  uns cinquenta e poucos anos. Olhos castanhos. Alto, cabelos grisalhos, bem penteado. Usando uma calça azul, de moletom e uma camiseta cavada, parecia pronto para praticar algum esporte.
 Ao vê-lo alcançar o piso da sala, Mariana o chamou: - Venha cá, meu querido!
Segurando a mão dele nas suas, pediu que sentasse.
- Esta é Anita, como você já sabe. Ela não se importa que tenhamos um relacionamento, não precisa ficar constrangido.
- Verdade! anita falou: - Mesmo porque, quem deveria estar constrangida sou eu, por não pensar que isto poderia acontecer. Eu deveria ter ligado! Mas, agora é tarde, falou, estendendo a mão para ele: - Muito prazer?
- O prazer é todo meu, e obrigado por não fazer questão em dividir sua mãe comigo!
Eu a amo muito, e pode ter certeza, quero um relacionamento serio.
Anita deu uma risadinha por dentro. E pensou consigo mesma: - Pois é! até você, Brutus!
E eu, sem saber o que é isso!
- Vou sair para comprar pão, disse ele; - depois preparo o café, pode ser?
- Sim! mariana respondeu: - enquanto isso, conversamos um pouco.
Quando ele saiu e bateu a porta, Mariana pegou na mão da filha para logo depois perguntar: - E ai, minha filha. Como vai a sua vida em seu novo emprego?
Anita fez uma carinha triste, com uma voz meio embargada como quem estava com vontade de chorar, respondeu: - Não muito bem!
- Por quê?  sua mãe perguntou? - Não esta dando certo?
- O trabalho vai de vento em popa, só quem não esta muito bem é o meu coração.
Eu me envolvi emocionalmente com meu novo patrão, e isto está me deixando louca!
- Como assim, se envolveu?
- Estamos tendo um caso de amor!
Mariana franziu a testa: - Nossa! Logo você, que dizia ser contra relacionamentos no trabalho!
- Pois é! aconteceu!
Ele é muito charmoso!
- O seu patrão?
- Não! quer dizer,  ele também, mas falo de seu  namorado!
- Ah, minha querida. sabe lá Deus, o que o destino nos reserva,
você sabe que eu não procurei nada disso. nem queria, mas, aconteceu.
E as duas começaram a rir sem parar.
- Mas, me fala sobre esta novidade, está apaixonada?
- Sim! estou, muito! mas, ele não sabe!
- Porque ele não sabe?
-Eu não sou de me abrir, e faz tão pouco tempo, que acho que seria leviandade de minha parte dizer que o amo.
Por isso, sofro!  Ele também não fala que me ama, só que sente saudades!
- Onde ele esta agora?
- Não sei ao certo,. Pode estar em sua cidade, ou em outro país!
Ele trabalha com exportação de grãos. tem uma empresa em Santos. E viaja muito!
Não me liga, nem manda mensagens, aparece e desparece sem deixar rastros.
- Então, precisa tomar cuidado, ele parece ser casado!
Não, mãe, ele é divorciado. só não gosta de relacionamentos via celular. diz que é meio incerto um amor virtual. que pertence a uma minoria que prefere amor real, ao invés de amor platônico, cheio de promessas não efetivas.
- Isso é bom, disse-lhe a mãe, tentando acalmá-la.
- Talvez! Mas eu fico apreensiva sem saber como me comportar. tenho medo de que esteja mentindo, me usando, sei lá! estou a mil!
- Ah! relaxa minha filha. Tudo á seu tempo!
- É mamãe, falar é fácil!
A porta da frente se abriu, pondo um ponto final na conversa. Roney apareceu com alguns pacotes nas mãos., dizendo alegremente: - Agora só falta o café!
Fez uma mesura, se abaixando um pouco, para depois completar, enquanto já virava-se para a porta da cozinha: - Vou preparar, depois as chamo!
As duas continuaram a conversar, desta vez falavam sobre coisas e situações mais amenas. falando de amigos, familiares, de como a cidade mudara, enfim.
Estavam a mesa, sentados os três, a conversarem alegremente quando o celular de anita tocou.
- Desculpe-me, mas, preciso atender, disse, pegando o aparelho e se levantando da mesa.
Foi caminhando para a sala, e enquanto caminhava, atendeu: - Alô!
- Oi! Onde se enfiou, estou te procurando feito um louco!
A voz de Daniel a colocou em polvorosa, jamais acreditaria se não reconhecesse a sua voz; Porque estaria ligando? acontecera alguma coisa?
- Oi Dani, aconteceu alguma coisa?
- Como assim, aconteceu alguma coisa? Onde você está?
- Estou na casa da minha mãe! respondeu com raiva:
- E porque não me avisou, ou deixou um recado? Assim, eu não perderia tanto tempo esperando. faz horas que cheguei, fui até o escritório, está fechado. Andei pala cidade e nada! Cheguei a ficar preocupado!
- Ah é! E o que pensou?  Que eu ficaria sentada no sofá, esperando que você chegasse? Sou sua empregada, mas, não tenho que dar conta de onde eu vou!
Ficou tão irritada que não se aguentou, precisava desabafar, conter-se só a deixaria mais frustrada., começou a despejar toda as palavras contidas: - Não percebe o que faz comigo? não dá noticias, some, e de uma hora para outra aparece e ainda vem com essa de achar que te devo satisfações?
Um silencio profundo se fez do outro lado da linha, apenas se ouvia um resfolegar, como se fosse penoso demais o simples fato de respirar.
E ai, comeu a língua?
- Não!
Quero te ver!  Não vou ficar discutindo por telefone, preciso olhar em teus olhos. ver a chama fumegando e tentar apagá-la. Riu meio nervoso.
- Não dá!  ela resmungou: - estou a quilômetro de distância!
- Ahn?
- É, estou na casa de minha mãe.
- E onde sua mãe mora? Me dê o endereço, que eu vou até você!
- Mas é muito longe!  fica a duzentos quilômetros de onde você está! demoraria umas quatro horas para chegar até aqui!
- Não tem problema, me dá o endereço, por favor!
- Não! espere até segunda feira. volto e conversamos!
- De jeito nenhum. Eu quero te ver agora, Não aguento de saudade!
- Ah, agora sente saudade? Mas não me ligou á tempos, nem quis ouvir a minha voz!  Que diabo de saudade é essa?
- Por favor Anita! não faça assim!
Eu preciso te ver meu amor. nem que seja só por alguns segundos!
 Ao ouvi-lo chamar de amor, ela se derreteu toda e suspirando profundamente lhe deu o endereço.
Ele se despediu rapidamente dizendo que não tinha mais nenhum segundo a perder. Ela desligou o celular,  olhando para o lado da porta da cozinha viu sua mãe encostada no batente á balançar a cabeça, com um sorrisinho maroto nos lábios se pôs a fazer um comentário: - Amor! Que belo é e que transtorno traz!
Anita fez de conta que não escutou,  como uma criança mal criada que foi apanhada roubando doces, subiu as escadas bufando, levando consigo sua mochila.
- Não vai terminar o café? sua mãe perguntou:
Já entrando em seu antigo quarto, ela respondeu: - não! perdi o apetite!
Logo depois se arrependeu e voltou, encontrou sua mãe na cozinha, encostada na pia lavando a louça do café.
Uma ternura imensa  encheu seu coração. ela a abraçou por trás, foi dizendo cheia de emoção: - Desculpe-me mamãe, Eu agradeço por udo o que fez para mim, foi pai e mãe ao mesmo tempo, não deixando que nada me faltasse. Meu quarto está todo arrumadinho como se ainda me conservasse em sua vida. O que aconteceu foi o seguinte: - Eu fico sem saber o que fazer em relação a este sentimento novo, sempre fui dona de mim, acostumada a controlar tudo que me rodeia, e agora, me vejo assim, sem eira nem beira. completamente perdida e sem direção.
Sua mãe se virou, passando as mãos em seus cabelos, e com uma voz macia falou: - Querida, veja bem! A vida tem seus mistérios, as vezes nos acorrente, outras nos liberta.
Há sempre um recomeço, e nem sempre recomeçar é fácil. Veja o meu caso: Levei anos para me livrar do medo de me relacionar outra vez. Não estive a procurar por ninguém por todo esse tempo, mas aconteceu. Não porque quis, mas, porque tinha de ser. Se vai dar certo? O tempo dirá! Eu não posso adivinhar o que será, só posso fazer com que dê certo, mas, se não der, pelo menos tentei!
- A senhora tem razão, mamãe!
A mãe á puxou até a cadeira fazendo-á sentar-se, ocupando a cadeira ao lado, serviu uma xícara de café, e em seguida segurou novamente as suas mãos: - De que adianta espernear e fazer drama, quando, na verdade, está fazendo o que o seu coração pede?
Se após algum tempo, vier a saber que esse relacionamento não dará fruto algum, e se, por ventura, continuar a fazer mais mal que bem, você vê o que faz. Mas, por um tempo, eu sugiro paciência.
- Obrigado pelo toque, amor! Eu sabia que podia contar com você, tem sempre uma palavra coerente e sábia para me instruir e ajudar.
levantou-se, colocou a xícara sobre a pia,  e continuou a conversa:
Agora eu preciso me preparar, se é verdade que ele vem, já está quase chegando, e eu preciso arrumar o quarto e me arrumar antes que ele chegue.
- Vai lá, minha filha! Sossegue esse seu coraçãozinho e curta seu momento!
Ela subiu para o quarto um tanto mais sossegada, pensou com carinho na conversa que teve com a mãe., chegando a conclusão, de que, realmente, estava sofrendo por nada.
Deitou-se um pouco para descansar, enquanto esperava por Daniel, e começou a sonhar com seus beijos: - Tudo vai dar certo! pensou: - Palavra tem poder!
Algumas batidas na porta a fez despertar. Ainda em transe por ter acordado abruptamente, demorou para por os pensamentos em ordem, para depois perguntar em voz alta: - Que foi?
- Alguém esta a sua espera na sala, sua visita chegou.
Ela deu um pulo da cama, olhou-se no espelho, deu uma escovada nos cabelos, e se viu toda amassada.
- Peça que me espere, já vou descer!
Tirou a roupa que vestia, tomou um banho rápido e escolheu uma blusinha florida, uma calça preta e uma rasteirinha, só depois que aprovou sua silhueta no espelho, foi descendo as escadas com precisão.
Deu alguns passos e voltou, para colocar algumas gotas de perfume. Afinal, não iria se encontrar com qualquer um. Era com o amor de sua vida. novamente se viu a dizer baixinho: - Palavra tem poder! Sorrindo para si mesma, foi descendo, degrau por degrau, até se ver frente a frente com seu amado, que estava mais bonito do que nunca. Tinha um brilho no olhar, um doce sorriso encantando-á ainda mais. Vestindo uma camisa branca de mangas curtas, uma calça jeans azul, meio decorada e um par de tênis também azul. Embora informal, parecia saindo de uma revista de moda: - Quanto bom gosto! pensou:
Ele se levantou, tomando-á nos braços, e sem dizer uma palavra aàbeijou com paixão fazendo sua mãe pigarrear, meio constrangida com a situação. Ela se libertou do seu abraço, e ele pediu desculpas pelo atrevimento, alegando ser pela tamanha saudade que dela sentia.
Dona  Mariana   ofereceu-lhe um café, ele recusou educadamente, dizendo que chegara mais cedo, e fora para um hotel. La fizera uma refeição rápida para vir buscar Anita para darem um passeio.
Anita parecia um autômato:  não falara nada, não ouvira nada, só absorvia em seu íntimo o gosto do beijo trocado e aquele perfume que á enebriava, voltando a fazer-lhe vitima de paixão.
- Vamos? ele perguntou, sem soltar de suas mãos:
 Ela respondeu com outra pergunta:- Para onde?
- Para onde você quiser! Não queria conversar?
- Sim! é verdade, aqui não dá!
A mãe  dela saiu da sala por um momento, voltando logo a seguir,  dizendo: Se quiserem eu saio para dar uma volta, preciso mesmo ir ao mercado.
- Não precisa mamãe, eu e Daniel vamos dar uma volta, vou lhe mostrar a cidade.
E de mãos dadas saíram  em direção a rua.
Ela sentia-se derreter feito chocolate diante do sol, nunca sentira tamanha vulnerabilidade diante de alguém. As mãos dele segurando as suas á deixava amarrada como quem não conseguia se mexer.
Ele estava alegre, olhando a paisagem sobre as calçadas. Era verão, as flores continham um perfume enebriante e selvagem. Os jardins dentro das grades dos portões da casa estavam em festa, pareciam mesmo quererem pular para fora.
Esta rua é muito simpática! A voz  suave de seu companheiro se fez ouvir, tirando-á de seu devaneio: - Verdade!  É mesmo linda!  Eu cresci aqui, é como se revivesse meu tempo de menina, correndo por essa alameda sem nenhuma preocupação.
Agora me vejo adulta e com a mesma sensação de que nada sei. de que nada aprendi, á não ser o viver como todo mundo, com a brisa da vida repousando sobre mim, sem ao menos saber sua cor.
- Interessante! repetiu:  - A vida é como a brisa, repetiu:
E você ainda não entende o meu jeito de ser. Eu...Vamos nos sentar, falou, cortando o assunto, apontando um banquinho na praça.
Em uma cidade pequena, as praças estão sempre bem iluminadas, e muito frequentadas ao final da tarde: Crianças corriam, gritando alegremente uma com as outras enquanto seus pais conversavam sem perdê-los de vista.
Anita preferiu sentar um tanto mais afastada de toda aquela tempestuosa  onomatopeia,  automaticamente se dirigiu para o outro lado da praça, arrastando Daniel pelas mãos.
- Prefiro o silêncio para conversar, senão me perco e começo a ficar nervosa!
-Eu também gosto de conversar sem interrupções. E ai! O que manda, minha querida!
 Ela o olhou até um pouco divertida, nem sabia como iniciar a conversa. Ele parecia deixar tudo mais á vontade. ela acabava se esquecendo de suas queixas. Mas, não podia deixar passar desta vez, nem mesmo deixar-se levar por uma onda de carinho.
- É o seguinte, tentou explicar: - Eu quero uma posição sua! Já que não gosta de fazer contato via celular, nem em outra rede social. Eu gostaria de dizer que, desse jeito, é impossível me relacionar a distância. Nunca sei onde está, nem em que hora te esperar!
- Eu sei que lhe parece difícil, falou em tom suave e comedido: - Mas é como eu sou,
estou trabalhando muito para mudar essa situação, e espero que você tenha um pouco de paciência!
- Mas, você não pode abrir mão dessa sua decisão de não usar o telefone, pelo menos, comigo?
- Não é que não possa. Tudo é possível, minha querida!
Eu acho que não é necessário. Sempre detestei estar no meio de um negocio, numa conversa calorosa, e de repente, ter que me envolver numa outra conversa que não faça parte do momento. Ou que, estando no meio de um filme, tenha que pausar para atender o telefone. E ainda, aquela cobrança de que tenho a obrigação de responder uma mensagem imediatamente, porque a pessoa em questão, achou que a mensagem foi visualizada e não foi respondida. tive muitos problemas desse tipo com minha esposa e meus sócios. então, eu decidi abolir este aparelho de minha vida, pelo menos, em questões particulares. Ao invés de melhorar as relações, ele consegue estragar, fazendo da vida da gente um inferno.
Se você parar para pensar, há de perceber que a relação se torna muito mais empolgante, quando a gente não esta esperando que algo aconteça, e acontece de uma forma natural, sem que a gente sinta que esta fazendo por ter uma arma apontada sobre a nossa cabeça.
- E você precisa ser tão radical? Ela o questionou:
- Eu penso assim: - uma vez decidido, se começarmos a abrir exceções, acaba voltando tudo como era antes.
Um alcoólatra precisa tomar o devido cuidado para não dar o primeiro gole. E eu fui um viciado em conexão virtual. Não tinha mais vida própria, tudo se resumia em um aparelho ligado na tomada: Televisão, celular, vídeo game. Estive por muito tempo alienado á este meio, não encontrava nem coragem para trabalhar, até que me vi sem outra alternativa, á não ser abolir, de uma forma gradativa, toda essa tecnologia desnecessária. Não que não seja boa, desde que não venha atrapalhar a nossa vida.
Imagine-se fazendo amor pelo computador. eu não consigo me imaginar fazendo isso. Seria insano ficar jogando com o amor, como se joga vídeo game. É tão maravilhoso sentir o toque, o perfume, a voz penetrando no ouvido, causando uma sensação real. Depois do amor, ficar aconchegado um nos braços do outro, dormir abraçados, como  á perpetuar-se o prazer.
Ela o olhava com muita atenção, á pensar que ele tinha suas razões. Ela estava simplesmente, querendo atenção em todos os momentos, em qualquer hora. Não entendia daquela forma.  Dizia para ela mesma: - Ninguém entende!
- Eu compreendo, ela falou:- mas não entendo.
Quando a gente ama, ama do mesmo jeito. Quer ouvir a voz, sente saudades, quer participar da vida do outro.
- Sim! Eu sei! Só que, as vezes, podemos estar juntos, até mais do que quando estamos lado a lado! Eu trago você tão nítida em minhas lembranças, que toda vez, que não estou ligado  a nada externo, eu posso te sentir em mim com muita intensidade. Tenho que resolver tantos problemas ligado á trabalho, que preciso colocá-la guardada em um cantinho especial, para que não venha á perdê-la quando me encontro longe de tudo.
Eu vivo o momento, não gosto de misturar estações, senão fica tudo embaçado!
Ela coçou a cabeça e deu um suspiro profundo, acabou falando sem querer: - isto é o que você pensa. eu não sou obrigada a sentir o mesmo, e você me condena a seguir teus passos, mesmo sabendo que meus pés são tão mais pequenos que os teus...

Por:  Hertinha Fischer  Terceiro capitulo do romance: palavra tem poder













































































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