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Ciranda noturna

  E as formosas tardes, roubando o encanto da manhã, A sorrir sol entre as árvores Meu recanto, colorindo a relva com giz amarelo. E a luz s...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Viciada em alegria

Eu sempre fui uma garotinha esperta e curiosa, andava pelos campos do sitio em que nasci, era muito pobre, porém isso nunca me afetou.
O que eu queria estava ao meu alcance, mesmo sem ter dinheiro, pois amizades e amor não se acham pra comprar, nem se trocam por dinheiro.
E isso eu tinha de monte, nos olhos do meu cavalo, no carinho do meu cachorro, no calor do seio da minha família, no meu fogão a lenha, quando as brasas estalavam como se sorrissem pra mim.
Era tão feliz em minha pequena morada, mesmo dormindo  quatro pessoas numa mesma cama, sem televisão, sem geladeira, sem luz elétrica, sem água encanada.
Meu céu tinha uma luz especial, meu sol era de uma doçura sem igual, o vento era todo especial e as estrelas... ah! as estrelas... bonitas como aquelas, só mesmo no paraíso!
Todo dia era novidade, toda tarde convidativa, toda noite uma mensagem.
Era correr pelos campos sem medo de nada, pisar nas folhas da mata só pra ouvir o seu cantar, embalar em sonhos no ouvir o som do próprio sorriso enquanto abraçava uma árvore, que tão meigamente deixava-se abraçar.
Tomava banho no rio , enquanto as cigarras cantavam pressentindo aquele prazer que meu corpo sentia no toque gelado das águas, como uma suave caricia, a felicidade sentada do lado, me fazendo companhia.
Depois dizem que pra ser feliz é preciso ter dinheiro...O maior prazer da vida a natureza lhe dá de graça! Subia nas copas das árvores como se fosse um macaquinho, em um galho qualquer, sentava bem devagarinho e assoviava uma musiquinha aprendida com os passarinhos, era tão doce e tão sincera que eles acompanhavam a melodia de longe, cada um sentados em seu próprio galho.
Se as pessoas conhecessem e soubessem admirar uma linda  paisagem, conheceriam o verdadeiro significado de luxo. Por que minha terra tinha uma vestimenta luxuosa, mais linda que todos os vestidos do mundo.
A felicidade morava ao lado, era só balançar  os dedinhos para ela vir correndo, enchendo meu mundo de graça.
Todos os dias eram risonhos, todas as horas companheiras, todas as tardes mágicas e todas as noites brilhantes.
Não precisávamos de muito para viver, por que o pouco já era suficiente, e o que tínhamos era muito pra se viver, os sonhos começavam e se concretizavam ali.
Até que um dia toda essa magia se dissipou como fumaça, por que o tempo passou e meus olhos de menina já não vê mais como via antes, não sente mais como coração de criança, não sabe mais como é o gosto dessa felicidade tão simples.
Vivo agora na cidade, e os vestidos coloridos deram lugar ao pano cinzento, o sorriso fácil já não tem mais melodia, e os animais já não me reconhecem mais, as estrelas perderam seu brilho diante da luz artificial, tudo o que restou é essa  imensa saudade do tempo de infância que não volta nunca mais. E daquela menina que eu deixei para trás!

Autora: Herta Fischer      direitos reservados

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