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Ciranda noturna

  E as formosas tardes, roubando o encanto da manhã, A sorrir sol entre as árvores Meu recanto, colorindo a relva com giz amarelo. E a luz s...

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Entre um sonho e outro.

Chegara mais um tarde de sábado,
e eu já me preparava para sair.
Coloquei meu vestidinho de chita,
pés descalços, cabelos emaranhados, e bochecha
rosada pelo frio intenso do mês de junho.
Tirei meu cavalo da estrebaria, com o pretexto de levá-lo
até um pasto melhor. mas, na realidade só queria trotar um pouco
sobre a luz solar.
Dei um pulo sobre ele, primeiro de barriga, e fui escorregando
de leve, com um tremendo esforço, que quase não aguentei.
Ser pequeno tem dessas coisas.
Logo que me vi sobre seu lombo, curvei-me para a frente, encolhendo
a barriga, ficando numa posição militar. Gostava de me sentir assim, como
uma verdadeira amazona.
Meu cavalo começou a trotear com uma maestria sem igual, e eu, sentindo-me
especial.
Subi até a estradinha de terra batida que sumia ao longe, meu cavalo
conhecia meus sonhos,e
se pôs a trotear feliz.
O vento estava cortante, quase a sufocar-me, tirando-me o ar, mas
não havia incomodo algum em minha alma sonhadora.
Enquanto meu cavalo adivinhava o caminho que queria seguir,
eu olhava a minha volta.
Os coqueirinhos sumiam atrás das frondosas árvores, e suas folhas,
se esgueiravam  entre elas, só para me verem passar.
A solidão das vozes estavam vestidas de conselhos, no barulho dos cascos ativos
que me levavam.
Me contavam de outros sons inaudíveis que vinham do céu em festa, o
dia era tão especial quanto os outros, mas aquele dia me falava de paz.
Entre as coisas que via, estava meu coração a palpitar, como que, domesticado
pelo silêncio, num sonar baixo, quase que a parar de tanta emoção.
Não havia mais nada no mundo a não ser aquele momento, como se tudo
se resumisse numa só palavra: felicidade!
Deixei meus medos para trás, e eles sumiram nas curvas da estrada empoeirada,
e a minha estatura parecia cada vez menor.
Pensei não ser real, como era bom sentir-me assim, como quem está fora de qualquer realidade
ruim.
As fadas povoavam minha mente com cantos de vitoria. Eu na santidade do momento, eu
ao encontro de mim mesma, sobre um cavalo encantado.
Tinha já uma certa idade, mas me sentia criança, como se tempo não houvesse.
E tempo não havia, só o limiar do sol a compôr o céu azul, e uma vontade de
chegar a Deus.
Foi então que parei de sonhar: hora de voltar.
Dei meia volta, puxando as rédeas, meu cavalo bufou, quase a chorar por
ter que voltar.
De longe já podia ver o telhadinho entre os arbustos verdinhos,a dançar sobre o vento sul,
o sol intimidado pela minha tristeza, se preparava para dormir. Então se desenhou
no céu uma aquarela que me tirou novamente o folego, e meu cavalo parou, e ficamos lá
por algum tempo, até o céu se descolorir ante meus olhos marejados.
Hora de seguir, como se ouvisse meu pensamento, o cavalo começou a trotear,
um tanto devagar, parecia que não queria de mim, se separar.
Descemos até a área que circundava a casa, tudo em silêncio, as escuras, descemos
até a cerca da estrebaria,  saltei num ímpeto, deslizando até o chão.  aliviei a corda, tirei o
cabresto, e deixei meu cavalo solto. Ele ficou parado por um momento, depois me lambeu
as mãos, em sinal de agradecimento.
Só então, fechei a porteira e subi sem olhar para traz. La dentro de casa, minha mãe esperava
ansiosa, sentada em seu banquinho com uma lamparina acesa.
Me colocou para dormir, e o sonho se acabou.
La fora o vento uivava raivosamente, e entre as cobertas eu pensava
em meu cavalo fiel, que dormia no relento. Então, fechei os olhos, e o
trouxe para dormir comigo, pois em sonho, tudo se torna possível.
 Herta Fischer (hertinha)






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