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Luz azul

  Quando olhava o que ele fazia, ficava extasiada. Era capaz de fazer qualquer coisa andar, especialmente, quando manejava seu tempo. Era me...

terça-feira, 24 de maio de 2016

Seu olhar na janela

Eu tinha tão pouco, e ao mesmo tempo, tinha tudo.
Andar descalço sobre a terra, furtivamente, tirar
alguns frutos das árvores, que delicia!
Sinto uma imensa ternura ao me lembrar daquela estradinha de terra,
cúmplice de tantos sonhos, que acolheu meus pés sorridente e
sertanejo.
Que falta me faz o silencio das horas, quando em concordância
com meu sorriso, andava tão lentamente, que parecia uma eternidade.
Tantas recordações hoje me move, do plantio, da colheita, dos grandes
e magistrais pés de feijão, cuja bainha se enchia de grãos, e eu maravilhada,
me perguntava de onde vinham?
É coisa de Deus, dizia a minha mãe.
Pela manhã, logo que o galo acordava, despertando-nos com seu canto,
pulávamos da cama sorrindo, a mesa já estava posta, minha mãe parece que
não dormia.
O fogão fumegando de tão aceso, a cozinha quentinha que só se vendo, e
meu pai, um tanto rabugento batendo seu sapatos no chão, ali ficava a terra,
testemunhando o trabalho árduo do dia passado.
E como uma familiazinha de pequeninos, íamos saindo um a um, cabisbaixo e sonolentos,
rumo a roça que nos sustentava,
Quão delicioso momento de união, entre as plantinhas viçosas, conversas bobas
fluíam.
Contos de fadas, contos do ontem passado era nossa conversa preferida.
E meu pai, ao parar para fumar um cigarro, sentava-se ao cabo da enxada, e como
se um imã nos puxasse,  como num ensaio, todos nós fazíamos o mesmo.
Meu pai olhava-nos divertido, dizendo entre sorrisos: - porque pararam?
E meio sem jeito dizíamos cansados.
O dia passava despreocupadamente, como se não quisesse terminar, as horas se arrastavam
como minhocas preguiçosas, e nós não víamos a hora de voltar para casa.
Quando meu pai falava; por hoje chega criançada!
Rompíamos o cordão, e cada um saia em disparada, deixando meu pai para traz.
Saudade da mamãe, eu pensava, havia horas que eu não a via, e quando finalmente
alcançava a porta da cozinha, la estava ela, a pilotar o fogão. Que visão esplendorosa,
a rainha do nosso lar.
Quantos e quantos dias, a se perder a conta, nossa história se fazia entre um estado
a outro, chuva, sol, frio, calor, outono, primavera, e felicidade!
Não me lembro de nada que tirasse aquele sentimento de mim, aquele aconchego
de família, aquele amor surreal, que marcava nosso crescimento. tenho muitas
histórias tristes, mas nenhuma tão sofrida quanto a morte da minha mãe.
Aconteceu de repente, houve uma ruptura no sagrado, algo que não consigo
explicar. É como se o santo houvesse despedaçado, e nunca mais seria o mesmo.
Uma parte de mim se foi, talvez a parte mais bonita, a mais edificante, uma parte
jamais preenchida, um vazio sem igual.
É como se faltasse chuva para que a semente brotasse, embora inteira e transbordante
de vida, tivesse que se ausentar.
Eu estou indo, nem sei como. Guardei dentro do peito esta dor, fiz da vida meu caminho,
mas a flor mais bonita eu não posso encontrar.
Por mais que ande, por mais que sonhe, por mais que tente ser um pouco ela, ainda
me falta seu olhar.
Um doce olhar de ternura, uma fonte de água pura, algo tão maravilhoso que
me escapou das mãos numa tarde de verão. Que falta me faz minha mãe,
Herta Fischer,










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