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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

domingo, 21 de abril de 2024

Lá onde aconteceu

 Busquei em vão o que não achei,

a maquina do tempo não funciona.
Leva-me na alça de seu estalo
Já foi, foi mesmo.

Em que sala se entrega, sem casa e sem portas
Caminhando
sobre ruas tortas.

Nesse vazio que me engole num
estar sem servir
Sirvo-me das fontes inúteis
que nem sede mata.

Viajei sem rumo
Numa terra de ninguém
Sem destino, cheguei e
me encostei a lugar nenhum

Se tive, já perdi
Se perdi, nem constatei
a dor que na perda tive
se foi quando perdoei

Não sei o que sofre dentro,
mas, fora, já constatei
os rumos que o corpo toma, na
desesperança que já provei

Na fuga do homem velho,
que os anos já constataram
Das coisas que construíram
e de nada adiantaram

Acaba-se este ou aquele
Finda-se também a memória
Em cima do que escreve
se escreverá nova história

Hertinha Fischer.

A semente de nós

 Poderia eu, saber de onde vim? Sim!

Na lógica sábia terrena, vim de uma
escolha!
Vim do casai-vos e multiplicai-vos
Essência divina do nascer para viver
Escolhi quem ser? Não!
O acaso me escolheu, sem que ninguém interferisse.
Talvez, quem sabe! Na visão de minha frágil imaginação,
tenha sido derramada do céu. A semente semeada
junto com a água misturada, em terra fértil ajuntada.
Essa plantinha chamada eu, sobreviveu e
entre outras plantinhas que não era eu, cresceu.
Como duvidar de um céu, ou um Deus?
Que leva uma misturinha de um tempo a outro,
de uma década a outra, de um século á outro.
Finda-se, ou se completa?
Uma geração chama outra que não é,
mas, que vem a ser. mesmo que do
passado se esqueça.
Modifica-se, enfraquece ou se fortalece, por
causa da união diferenciada, mas, na essência
são sempre os mesmos em tempos diferentes,
por milhões ou trilhões de anos.
De que semente fomos plantados?

Hertinha Fischer

Sobre o chão da emoção

 E o sol relampejou em minha alma,

trovejando amor.
Águas torrenciais de sentimentos
inundou as ruas da imaginação.
Então, flores desabrocharam
no chão da emoção,
até que o sol da compreensão
secou o solo dos olhos
que lacrimejavam de solidão.
Não mais sofri de você,
ante um eu de compensação,
que se acomodou no coração.
Hertinha Fischer.

sábado, 20 de abril de 2024

Enredo denso

 Ah, tempo que esqueceu, os seus, do passado.

Quanto dizeres, ensinamentos e proezas esquecestes.
Quantos rostos formastes e quantos risos apagastes.
Vários idiomas, vários dogmas, vários pensamentos, vários arrependimentos, vários gênios enterrastes
Nem mesmo o mar sabe de onde veio e onde enterrou seus rumores. Muda a rota, revive suas águas, afunda navios, mercadeja e subtrai nos submundos.
Da mesma forma, a terra encerra seus atritos, para depois, retornar, estremecendo o labirinto de seu útero, a criar novos montes.
Sua trajetória jamais será compreendida. Tu, sim, tem a eternidade, e dela compreende.
Resvala, submete, amplia, constrange, tira, põe e se recompõe em seus declives.
Apoia os pequenos e os grandes, ajunta e espalha os de sangue, retira o que se é para ser retirado, e outros, iguais, nascem e morrem igualmente.
Viva estou agora, aqui e acolá, como alguém que pensa, ouve e vê. Uma peça humana.
Não sou tempo e nem espaço, nem céu e nem terra, nem tão pouco sou universo. Mas sou, de qualquer modo, algo que se move.
Um complemento de alguma coisa que não alcanço.
Uma chama que se acendeu sem ignição. Um despertar do nada, sublinhada no real. Sou!
E comigo, que não poderia ser só. Fez-se outros tantos em sua esfera, para durar um pedaço de sua eternidade.

Hertinha Fischer.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Luz azul

 Quando olhava o que ele fazia, ficava extasiada. Era capaz de fazer qualquer coisa andar, especialmente, quando manejava seu tempo.

Era meio parecido com a enxada que ele usava para carpir, ou as sementes que jogava nos canteiros, ou ainda a foice que lhe obedecia nos cortes precisos.
Não necessitava de relógio. O sol o conduzia a hora exata.
Sabia a hora certa de plantar ou colher, como se as sementes despertassem para ele, e a colheita se preparasse para seu querer.
Tinha mania por exatidão: Levantava sempre na mesma hora, até o bater de seu conga surrado, para limpá-lo, no batente da porta, todas as manhãs, se tornaram um rito.
Acho que, enquanto jovem, ele tenha aprendido a se educar por conta própria. Nada lhe era penoso.
Não bebia nada que continha álcool, mas, fumava, seu cigarrinho, enquanto experimentava descanso.
Tão sutil em certas circunstâncias, que, pensávamos que não tomasse banho nem usasse banheiro.
Aos domingos, depois do almoço, ia conversar com os amigos. O horário da saída e da volta sempre seria os mesmos. Precisos demais.
Tinha a tez carrancuda, sorria, as vezes, com o canto da boca, Não sei por que nunca gargalhava.
Gostava de escutar o canto das estrelas em noites enluaradas. Acho que sorria para Deus em seus silêncios.
Não falava de si, quase nunca, Também não reclamava de nada. Tudo parecia fatal demais para tentar consertar com melodramas.
Tinha esposa e filhos e era, extremamente, fiel aos bons princípios. Esperava isso de todos.
Pagava suas contas em dia, não ostentava em casa, nem em vestes. O necessário bastava, os excedentes, guardava, para que nunca faltasse o pão.
Guardava dentro de si, muitos desejos secretos, embora não demonstrasse sentimentos demais.
Alegria se via na roça, no maestro capinar, tristeza nunca.
Seu radinho a pilha lhe mostrava os arredores do mundo, sabia pouco de escrita, mas, o ouvido era alfabetizado, tinha doutorado de vida.
Seus braços eram fortes como rocha, nunca se cansava de quebrar pedras, literalmente.
Desbravava lugares inóspitos, como quem abre caminhos para a bonança, sabia onde havia terra boa e produtiva, as vezes, até achava água com uma varinha mágica. Nunca falhava em descobrir as nascentes.
Colocava sua prole em ação, assim que o dia clareava, para que aprendessem o oficio da sobrevivência.
Cultivava suas próprias sementes, no celeiro da inteligência.
Também plantava porcos nos chiqueiros, de cinco em cinco, iam nascendo e abastecendo os potes de barro com suas carnes deliciosas, preparadas para durar meses e até anos, sua própria gordura as conservavam.
Tinha o dom de ser criativo, já passara por quase tudo no aprendizado. Tudo começou numa terra de ninguém, quando foi carvoeiro com seus pais.
Saiu da mata, casou-se e formou família, contando somente com o suor do próprio rosto.
E agora, contava suas histórias feitas de fé e convicções. A honestidade seria sempre sua fiel escudeira.
As pessoas que amava iam sumindo no pó da estrada. E as sementes, despertavam, sempre que sua mão tocava.
A vida nunca será fácil ele dizia: Os dias contam suas proezas no cabo de uma enxada bem afiada. E a terra jorra sabedoria.
Certa tarde, quando o sol já ia acenando ao longe. Viera o fim de sua jornada. Foi então que fez sua última prece, antes de deixar aquele chão que tanto amava. Entregou-se a canseira dos anos, findando sua jornada. Se deu permissão de sair do corpo, para que a volta pra casa se tornasse mais leve.

Hertinha Fischer






sexta-feira, 12 de abril de 2024

Alma serena

 Queria alçar ao céu de madrugada,

quando a alva se rompe.
Abraçar minhas próprias pernas e voar
no magnifico ar
em profundidade.
Sentir o sereno gotejar em minha alma,
para semear gotículas ao amanhecer.
Encontrar com o dia ainda criança,
a brincar de frescor.
Olhar para o horizonte dos seus olhos,
amarelados de compaixão,
a rastrear, seus arco íris, no final de tarde.
Até que a primavera se abra
e transforme tudo em jardim
Hertinha Fischer.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Acústico da alma

 Ah! nunca me senti uma princesa

E nem princesa desejo ser.
Meu castelo só tem um rei
E esse rei não posso ver

Está acima de mim,
Onde meus olhos repousam
Minha mão o alcança
quando realmente não ouso

Vivo, mas vivo não sou
Estou onde hei de fugir
Quanto mais me esforço,
mais vontade tenho de sair

Quero lâmpada acesa
Ainda ao meio dia, escureço
Se sua luz não me alcança
Desta falta, padeço

Ir e ir de encontro ao seu
para reaver o que é meu

Tudo que sou, bendigo,
para poder um dia estar contigo.

Hertinha Fischer