Total de visualizações de página

Som de tristeza

  Som de minha tristeza Ecoa por dentro palavras que nem consigo dizer Não há letras no lamento Se em lágrimas almejasse olhos tristes derra...

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Roçado e realeza

 La na minha rocinha, havia casa de taipa, jabuticabeira e pessegueiro,

Havia riqueza na horta, galinhas além da conta e porcos dentro do chiqueiro
Quando alguma visita chegava, horas não se bastava, meia noite era criança, e muitos causos se contava.
Mamãe e papai se olhavam, com muita delicadeza, crianças, lá fora, brincavam, sem conhecer safadeza.
Dias benditos de toda sorte, alegria de sul a norte, vida boa sem corte, nem prescindíamos a morte.
Nas noturnas trevas, dormíamos, ao sol nascer, possuíamos,
grades não conhecíamos.
Camas em um só quarto, sala sem sofá e sem cadeira, o pilão a descansar no canto, o fogão a esquentar chaleira.
A lua era nosso guia, o sol, nosso irmão, a roça nosso sustento,
a proteção vinha de um cão.
A enxada na mão calejada, a água da ribanceira, quando o barranco as empurrava, se transformava em cachoeira.
O balanço eram as ramadas, a gangorra, uma tora, em forca, amarrada, a alegria emergia, quando se fazia gargalhada.
Sem ferir ou se ferir, tudo se consumava, nada era desperdiçado - nem o frango em seu poleiro, nem o gado na invernada.
Os sapos a fazer serenata, em cima de juncos e ciscos, encantando sua amada, A noite, musica sertaneja, e galo cantando de madrugada.
Poeira de rua de terra, machado no lugar de serra, tudo era paz, nada de guerra.
Trabalho não era problema, amor era o emblema, tudo benção, nenhuma blasfêmia.
A coruja melindrosa, na cunheira agourava, contava de algum acontecimento distante, logo a noticia má chegava.
A madrugada rompia o escuro, a gota de orvalho  secava, a cama nos expulsava e o cheiro de café despertava.
Hospitaleira as plantas, remédio que até curava, farmácia a céu aberto, ferida cicatrizava.
Horas que iam e vinham, nenhum incomodo deixava, o caminho era longo, porém, nunca cansava.
Tudo a mercê do destino - Frutos, campanas e favas. 
Eu, que nascia no meio, cavalo usando arreio, trigo virando centeio.
Arrozal brotando em águas, feijão na sombra do milho e cebola em canteiro.
Tudo puro e cristalino, loucura não existia. No plano já edificado, justiça lá se fazia.
O tempo em sua jornada, a vida levando pra frente, alma leve e alva, transbordava saúde na mente.
Santo e justo é o caminho, simplicidade é constante, nada de carro encostado, quando o pé é viajante.
Assim passavam-se os dias, devagar e sem nenhuma pressa, na escuridão se dormia, acordando com o sol em festa.
De dia, o trabalho ardia, a noite se descansava e Deus do céu nos olhava.
Hertinha Fischer





Nenhum comentário:

Postar um comentário