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laços internos

 Me encontrei com o mundo das letras quando o meu mundo se reduzia a nada. Fui muito maltratada pelas circunstâncias que não gostava de silê...

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Passagem de ida

- "A esperança é a última que morre!" -
dizia rosinha:
A Sua mãe á olhava de soslaio,
quase a duvidar de suas palavras.
Estou quase a morrer junto com ela! Completou:
Dias e dias a caçá-la por dentro, ou melhor, anos, talvez!
-Essa doença não tem cura, Rosinha!
Não é falta de esperança, é vida ou morte!
_ Eu sei minha mãe, só que, desgasta
a gente, deixa uma melancólica sensação
de desuso!
-Desuso, que palavra mais deprimente!
-E a vida não o é?
- Não Rosinha, a vida  é maravilhosa
com a gente, só que o corpo
que nasce fraco, se desgasta mais rápido!
-E tinha que ser comigo?
- Não é com você, não tem nada de
castigo nisto, é a natureza!
_Minha natureza, mãe!
- Sim, a sua, porque você vive nele, tem consciência
disso, mas, poderia ser outra, ou outro, porque não?
_ você tem cada ideia mãe. É lógico
que sou eu, eu sinto!
-E eu também, talvez, até mais que você, sinto-me
até um tanto culpada.!
-Culpada de quê,
de ter me gerado?
- Sim! Se não tivesse te gerado, essa doença não existiria
dentro de você, eu não precisaria te ver sofrendo desse jeito!
- Ah!!! Não gosto dessa conversa!
- Todos morreremos algum dia, mais cedo ou mais tarde,
eu poderia carregar todas as suas dores se pudesse!
_ Mas, você não pode! E eu, ainda não morri. Se
estivesse morta, nem estaríamos tendo
essa conversa!
- Verdade!
- Então, vamos sair por ai, andar sem rumo pelos campos,
talvez seja isso de que precisamos!
- Espere, vou buscar os chapéus!
Mãe e filha se deram as mãos, trancaram as portas e foram
andando pelas trilhas da solidão.
Ambas sabiam que o fim era eminente, mas,
porque sofrer antes da hora, porque ficar cavando
feridas, quando podiam aproveitar os bons
momentos que ainda restava.
- Sabe, filha! - Sua mãe lhe falou de mansinho,
não querendo quebrar aquele silêncio gostoso
que fazia lá entre as matas e a estradinha caprichosa
e pedregosa.
_ Eu nunca me arrependi de ter você, Nunca!
E mesmo agora, com essa doença limitando a sua
desenvoltura, mesmo assim, me sinto muito
feliz á seu lado. É uma parte minha, um
pedaço de sonho realizado por Deus!
Talvez seja um sonho breve, mas os sonhos
breves são mais intensos. E o meu amor
por você vai além de tudo que já vivemos.
Cada dia que você conquistava algo: fosse
a descoberta de uma nova palavrinha, ou
um passinho um pouco mais equilibrado,
  transmitia mim uma felicidade indescritível.
Pouco ou muito, você foi a minha descoberta mais bonita.
Ver alguém se desenvolver dentro de mim,
crescendo e se mexendo, existindo a partir
do nada. agora me faz entender que do nada
podemos sentir e adquirir tantas coisas.
Que não faz diferença a presença, se temos
um sentimento em relação á algo.
Hoje você está aqui comigo, estamos andando
de mãos dadas, porque você está doente,
ou melhor: não é você que esta doente,
mas o seu corpo!
_ E não é tudo a mesma coisa?
- Não! não é!
Tanto não é, que podemos conversar!
Se fosse você á estar doente, não poderíamos fazer isso. Você,
por certo, não
entenderia  sobre o que estou falando, e também não
poderia expressar seus sentimentos.
Mesmo que você se despeça algum dia,
mesmo que não reste nenhuma lembrança sua,
mesmo assim, você será uma parte!
Como assim?
A parte de um todo nos planos Divino,
que não sabemos bem qual é. Mas estamos
visíveis ao mundo visível, será que é só isto?
Eu creio que não!
-Eu também creio, mamãe, e por certo, um
dia, quando realmente nos tornarmos
algo mais que simplesmente corpo que
morre e passa, algo que subsista, eu também
possa estar no meio, porque assim como vivo,
outros viveram, vive e viverão, mas, que, também morrerão,
então, porque não?
- Você é algo que subsiste, minha filha!
Essa alma ou espírito que habita ai dentro, com
essa riqueza toda, cheia de energia e vibrações,
que o corpo carrega, que nunca se cansa de ser, ouvir e falar.
Que não pensa em morrer,  mesmo em face a morte,
 quase a sucumbir ante ela, com dores e prantos
encerrados numa doença sem cura, ainda consegue
nutrir tamanha vida dentro de si.
O corpo definha dia a dia, no entanto, o alimento
que nutre a sua esperança ainda se renova apesar de tudo!
- Verdade! Se eu pudesse descrever a sensação que
sinto aqui dentro, se eu pudesse descrever o medo
em relação ao que será depois, e também o alivio
á que estou sendo inspirada, é uma confusão tremenda,
mas também  há uma paz renovadora!
Eu estou aqui, despojada de sentimentalismos baratos,
longe de qualquer vaidade extrema, apenas pensando
em viver o dia, como um presente, mesmo
sabendo que muitos não tiveram esse privilégio.
Se eu tiver que deixar isto tudo amanhã, só
penso na sua dor!
- Minha dor, menina! Minha dor e te ver se arrastando,
e sentir a sua dor quando esta em crise, quando nem
eu e nem os remédios te bastam!
É logico que penso em milagre todos os dias, que mais do que ninguém,
 se pudesse,  transferiria para mim o teu mal.
Mas, é só o seu corpo, algo que nasceu da terra, algo
que pertence a ela, que voltará para ela!
- É isso que me da alento, saber que não tenho
poder algum sobre nada, que não verei meu ultimo
suspiro. Assim como
não vi a minha chegada!
- Não vamos mais falar sobre isso, amada!
O dia e a luz nos presenteia neste exato momento,
e é só isto que importa. O amanhã
se fará, de qualquer forma em todos os cantos,
e será amanhã, apenas um amanhã que nunca chega,
porque se veste de hoje, e hoje sempre será,
até a última gota, o existir comporta olhos
abertos, consciência dentro de tudo, até que a alma
adormeça dentro de um poema qualquer, e o
corpo que nada é, volte a ser como antes,
apenas um nada a esperar... E
se faz como tudo que é!

Herta Fischer






















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