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Lá onde aconteceu

  Busquei em vão o que não achei, a maquina do tempo não funciona. Leva-me na alça de seu estalo Já foi, foi mesmo. Em que sala se entrega,...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Meu encontro com o pequeno príncipe de Exupéry


Prezados amigos: Eu queria contar essa história para aqueles que, assim como eu, se emocionaram com a narrativa do autor do livro "O pequeno príncipe".
Sei que não é bonito, aproveitar de um fato para contar outro, mas o autor deixou uma brecha ao finalizar o seu livro, onde faz um pedido: Para que se por acaso alguém o encontrasse, escrevesse dando-lhe notícias.
Portanto, acho que ele não se importaria se eu deixasse registrada toda a emoção que senti quando o encontrei. Já que o próprio autor pediu que assim o fosse.
O seu encontro com a majestade foi na África, Já o meu encontro foi aqui mesmo no Brasil.
Eu estava muito cansada da vida. Dessa luta incessante que todos travam para sobreviver.
Cansada de lavar, passar, limpar, cozinhar. Enfim, cansei dos trabalhos domésticos que parecem nunca ter um fim.
Certo dia acordei meio atravessada e num impulso resolvi me refugiar em minha chácara em Araçoiaba da Serra.
Havia morado lá por dez anos, porém uma doença causou danos em meu rim esquerdo, obrigando-me a voltar para cidade com minha família.
Mas, deixa isso para lá, já passou!
Cheguei na chácara por volta das dez horas da manhã. Durante o dia realizei um pesado trabalho de limpeza, embora fosse desse tipo de trabalho que queria evitar, mas não tinha jeito de fugir, se quisesse um pouco de conforto por alguns dias.
Era o mínimo que teria que fazer para meu bem estar e segurança.
O dia passou rapidamente, e a noite começou a cair de mansinho. Eu admirava o lindo pôr- do- sol ao longe.
O céu ficou com um colorido indescritível, numa mistura de alaranjado, violeta e amarelado.
Até que o sol desapareceu por completo, partiu para visitar outros mundos, enquanto a escuridão tomava conta de tudo, emudecendo quase todos os sons.
Apenas alguns latidos de cães se ouviam ao longe, também alguns ruídos sutis de pássaros se acomodando nas copas das árvores, preparando-se para dormir.
Deitei-me na grama macia, olhando para o céu.
Em frente a minha chácara tem um poste com uma luminária com sérios problemas, seu fio deve estar com mau contato, ora acende, ora se apaga, e naquele momento estava apagado.
A escuridão era total e eu buscava no céu alguma estrela viajante.
Quando eu era criança, meu pai costumava  deitar-se no chão, e eu o acompanhava deitando-me ao seu lado em cima de um saco de estopa. Ficávamos por horas observando as estrelas no céu. Não tínhamos televisão. O céu era a maior e melhor tela que conhecíamos.
Em determinados dias, meu pai apontava alguma estrela vagando pelo céu, chamava-a de estrela viajante. E meus olhinhos de criança acompanhavam maravilhados a trajetória daquela estrela até que se perdesse na escuridão.
Ao contar isso para meus filhos, eles riem e dizem que estrelas não andam pelo céu, eu fico quieta, não querendo contrariá-los, mas cada vez que fico por horas olhando para o céu, sempre ás vejo, e é sempre com a mesma emoção de quando eu era criança.
E é a mais pura verdade! Posso garantir que se ficar bastante tempo olhando para um céu estrelado, você também as verá.
Bem! Voltando ao tempo presente, eu procurava pela estrela viajante, quando ouvi uma voz muito próxima que me falou:
-Ô de casa!
Eu pensei comigo mesma: Alguma alma nesse fim de mundo resolveu me fazer uma visita!
Levantei-me do chão, pondo-me de pé às pressas. Fui até o portão. Espiei pelo buraco e não vi ninguém.
Pensei: - Entrei em surto psicótico solitáriano. Já comecei a ouvir vozes do além!
E voltei a deitar-me ao chão.
Foi então que senti tocarem na barra do meu pijama, balançando-o com certa insistência. Novamente ouvi uma voz melodiosa a dizer: - Ei! Estou aqui!
- Não estou vendo nada! Respondi:
A escuridão era total, não dava mesmo para enxergar nada. Foi então que a luz do poste acendeu, e bem na minha frente, um pouco afastado, estava a figurinha do pequeno príncipe de Exupéry.
Esfreguei os olhos com as mãos fechadas, fazendo movimentos bruscos de vai e vem. Abri-os novamente. E para minha surpresa, ele continuava ali!
Pensei novamente comigo mesma: - Devo estar sonhando de olhos abertos! Também, sozinha nesse lugar, se começar a falar comigo mesma, sem testemunha, ninguém me acusará de louca. Então respondi: - Oi! É você mesmo? Ou meus olhos estão me enganando?
- Não, seus olhos dificilmente te enganam, porque olhas com a alma!
-Como sabes que olho com a alma?
-Pelo brilho dos teus olhos, parecem vagalumes brilhando no escuro!
- Por que não chegas mais perto? Disse eu meio abobada:
- Não posso! Ainda não me cativastes.
-Como  faço para isso?
- Da mesma forma que a raposa! Disse-me:
- Ah! Agora me lembrei! - Sento-me cada vez mais perto, me aproximo devagarzinho até ter te cativado por completo. Acertei?
- Isso mesmo! Tens boa memória!
Pedi licença para me afastar um pouco, precisava acender a luz do alpendre, só assim poderia ficar mais sossegada. Aquela luz do poste apagando e acendendo estava me deixando irritada. Voltei num instante, por medo de que aquela visão maravilhosa sumisse de minhas vistas.
- Ainda nem tinha chegado muito perto dele, mas a emoção era do tamanho do universo.
Fiz-lhe a pergunta que não queria calar:
-Como foi que você chegou até aqui?
- Você sabe desenhar?-Perguntou ele, sem responder minha pergunta.
-Não! Nunca aprendi a desenhar! Lembrei-me então dos adultos que interrompem nosso talento, antes mesmo que se aflorem.
Certa vez, como aconteceu com o homem do deserto, eu também tentei desenhar. Gostava muito de desenhar árvores, mas nunca consegui, pois meus amigos de sala de aula sempre riam dos meus esboços.
Até que desisti e resolvi virar humorista, Meu pai jogou fora um rádio velho, porque não tinha conserto, então eu o coloquei do lado de dentro do paiol onde trançávamos cebola. Meu pai armazenava a colheita dentro desse paiol. Enquanto meus irmãos e meu pai trabalhavam, eu ficava do lado de fora contando anedotas, como se fosse radialista.
Eu cantava assim: -Um gaio seco pindurado na porteira, foi lá que começou o nosso amor, dois gaio seco pin- pindurado na porteira..... E assim por diante, até chegar no décimo gaio.
O pequeno príncipe deu uma gargalhada tão estridente, batendo os pés na grama, não percebendo que eu já estava quase ao seu lado.
Então ele respondeu minha pergunta, mas não entendi:- Uma lágrima chegou até meu planeta, por causa desse seu coração de criança, você o conservou assim até o dia de hoje, e não se envergonha disso.
Seu coração é puro, não consigo ver nele nenhuma maldade, suas lágrimas são justamente pelas injustiças que os homens cometem a toda hora e em qualquer lugar sobre a face da terra.
-Você sabe desenhar? Repetiu ele novamente.
Eu me irritei com ele, já tinha respondido a pergunta. Então lhe respondi de outra maneira para que ele finalmente entendesse:
- Nunca desenhei nada, embora tivesse tentado muitas vezes. Agora com cinquenta anos de idade, resolvi pintar telas. Tenho uma professora que me ensina muito bem e com a tinta torna-se mais fácil desenhar alguma coisa.
-Então pinta para mim um vulcão ativo?
- Por que você quer mais um vulcão ativo? Nem vai caber naquele seu planeta tão minúsculo. Aliás, você já tem dois pelo que me consta, um ativo e um extinto!
- Como sabe tanto sobre meu planeta?
- Eu li num livro.
-Num livro sobre mim?
-Seu amigo da África escreveu sobre você. Como chegou, por onde passou e como foi embora. Até hoje tenho raiva daquela serpente.
- Não tenhas! Ela apenas me ajudou com seu veneno. Eu não tinha como carregar meu corpo de volta para meu planeta, estava muito cansado para isso.
E agora como pensas que voltará? Aqui não vai encontrar nenhuma serpente igual aquela, as cobras estão muito ariscas por causa da matança.
- Matança?
-Homens matam as cobras, sejam venenosas ou não!
-Por quê?
-Por medo de seu veneno!
-Elas só picam para se defender!
-E os homens as matam pelo mesmo motivo!
-Você pinta um vulcão com muita fumaça para mim?
Percebi que apesar do tempo passado ele continuava o mesmo, nunca deixava uma pergunta cair no vazio.
Mas para provocá-lo eu também não respondi a sua pergunta e lhe fiz outra que ele deixou de me responder: - Como você chegou até aqui?
-No lombo de uma lágrima! Mas pinta um vulcão com bastante fumaça para mim?
Fiquei pasma com a resposta e lhe perguntei logo a seguir:
- Como assim, no lombo de uma lágrima?
- Domesticando-á, assim como os homens fazem com os cavalos selvagens. Mas, pinta um vulcão com bastante fumaça para mim?
Perdi toda minha autoconfiança, ficando muito irritada. Já estava sentindo muito sono e ele se recusava a esquecer aquela idéia de vulcão com fumaça.
Então eu ia resolver aquele impasse:
- Não posso pintar um vulcão, estou sem tinta nem pincéis, deixei tudo em casa.
Eu senti muita pena quando seus olhinhos se fecharam, parecendo que seu problema não seria resolvido se eu continuasse negando-lhe esse favor.
- Então o meu planetinha vai desaparecer!
- Por causa de um vulcão? - Você já tens dois!
- Os dois que tenho já estão muito velhos, um já está extinto e o outro não faz fumaça, por isso tenho que revolvê-los todas as tardes.
Eu preciso de bastante fumaça para proteger meu planeta.
-Por que precisas de fumaça, seu planeta está em perigo?
- Está correndo grande perigo por causa dos homens.
- Mas, homens ainda não conseguem chegar tão longe.
-Eles não. Mas suas geringonças sim!
- De que geringonças estás falando?
-Sondas espaciais, aquelas com olhos nas pontas dos dedos.
-Ah! Agora entendi do que falas. Mas, como essas máquinas podem te fazer mal?
-Vê-se que não conheces os homens de verdade!
Eles podem destruir meu planeta em nome da ciência. Só pelo prazer da conquista.
Sabendo que o que ele falava podia mesmo acontecer, eu fiquei desesperada, e meio que pedindo desculpas por todos os homens eu lhe falei sem pensar:
- Não tenho tinta nem pincéis, no entanto tenho caneta e papel, vou tentar desenhar um vulcão com muita fumaça.
Uma lágrima rolou pelo seu rosto encantador, e eu também me pus a chorar.
-Não precisas chorar. Ele disse: - Tudo dará certo se desenhares o vulcão.
Rapidamente entrei em casa, procurando pela caneta e papel e meio sem jeito desenhei um pequeno vulcão quase escondido pela fumaça.
Ele pegou o papel de minha mão, olhou o desenho como se o analisasse e depois me falou emocionado:
- Meu planeta está salvo! Até que não é tão mal assim...
-O quê? Salvar o seu planeta?
-Não! O seu desenho!
Tudo resolvido, ele satisfeito com o desenho e eu curiosa  para saber que negócio era aquele de domesticar uma lágrima. Desta vez ele tinha que me explicar:
- Como conseguiu domesticar uma lágrima?
-Já falei do mesmo jeito que os homens domam um cavalo!
-Cavalos, sim, mas uma lágrima? Nunca ouvi falar.
- Eu sei que sabes usar a imaginação, com a imaginação não existe nada impossível.
Um dia uma pequena e única lágrima chegou a meu planeta, não era uma lágrima comum, esta era muito especial. Tinha jeito de criança, agia como uma criança, não parava de brincar. Eu fiquei parado, olhando para ela sem dizer nada.
Ela corria de lá para cá, feliz como aqueles seres únicos que conhecem o verdadeiro amor, sorria, cantava, dançava, e quando eu tentava chegar perto para participar de sua alegria contagiante, ela simplesmente saía correndo como se estivesse brincando de pega-pega.
Num dado momento, pulei em seu lombo, então saracoteou e me derrubou. Eu gostei do desafio, nunca gostei de nada muito fácil, e tentei novamente. Diante da minha insistência, ela aos poucos foi cedendo e finalmente me aceitou como amigo.
Nunca tinha experimentado nada igual, meu planeta tão minúsculo repentinamente ficou imenso, tanto prazer me deu cavalgar no lombo daquela lágrima tão divertida.
Minha roseira batia palmas, as rosas sorriam felizes, os vulcões dançavam e até meu carneiro sempre tão sério começou a dançar.
Foi então que quebrei a magia daquele momento, pois não aguentava mais de tanta curiosidade, então lhe perguntei:
- De onde vens?
- Da terra! Ela me respondeu:
-Eu estive na terra há muito tempo atrás, atendendo ao pedido de um viajante que estava sozinho no deserto.
Fiz-lhe companhia e nos tornamos bons amigos.
- Se você quiser... Eu posso te levar de volta a terra.
-Podes mesmo? Eu preciso de um desenho, que só alguns dos humanos podem fazer, não é um desenho qualquer, é um desenho de quem acredita em algo superior que está além da compreensão humana. Conheces alguém com estas características?
-Conheço! Responde ela: - Alguém que me deu liberdade para estar aqui!
-Como assim?
- Eu venho de um coração cujo poder ela mesma desconhece. Nem imagina o quanto uma lágrima de emoção pode ser tão abençoada. Libertou-me num momento especial, enquanto lia um livro.
-E essa emoção além de me libertar, mostrou-me o caminho que me trouxe até você.
Agora que já consegues cavalgar em meu lombo sem cair, podemos viajar pelo espaço.
- E assim, despedindo-me de minhas rosas, dando instruções para o cuidador, nos preparamos para nossa longa jornada até a terra.
Passamos por diversos planetas saudando o bêbado, o vaidoso, o acendedor, o empresário, tudo rapidamente, pois a lágrima tinha muita pressa de voltar para a terra,
Por último, encontramos um planeta novo, desconhecido, onde um homem me saudou como se já houvesse me conhecido.
- Você não é o pequeno príncipe do planetinha B-316?
-Sou eu mesmo! Você me conhece?
-Esqueceu-se de mim?
-Seu rosto está muito brilhante, mas suas feições me lembram alguém. De onde me conheces?
-Da terra, mais especificamente da África.
-Você é o homem do avião?
- Você não sabe o quanto me preocupei com sua rosa, esqueci-me de dar-lhe a correia de couro para prender o seu carneiro, temi que ele pudesse aproveitar de uma distração, enquanto pastava podia comer sua rosa.
Eu expliquei- lhe tudo o que ocorrera em meu planeta desde que voltara para lá. Ele pareceu muito satisfeito, me abraçou dizendo:
- Eu me libertei de minha concha e conheci o caminho das estrelas. Todos os seres que deixam de existir na terra, passam a existir no céu. Agora compreendo o significado da vida e da morte. A morte é só uma passagem para esse paraíso, onde não existe mais limites entre o que é real e o que é fictício, não existe diferença entre o pobre e o rico. Todos nós vivemos na mesma dimensão, entre as estrelas e os planetas. Vivendo, amando e aprendendo.
Depois dessa conversa eu me despedi, prometendo que voltaria logo que fosse possível, pois os amigos de verdade nunca caem no esquecimento, mesmo que estejam longe um do outro.
Logo após a lágrima me trouxe até você, deixou-me aqui e foi dar umas voltas pelos campos do Brasil.
Nesse instante eu e o pequeno príncipe já havíamos cativado um ao outro completamente, e eu temi pela hora da despedida.
Tão logo a madrugada anunciou a chegada do sol, ele me disse que teria que partir.
-Preciso ir! Ele me disse com tristeza:
Uma lágrima desceu pelo meu rosto e rapidamente ele a colheu com suas mãos, e como num passe de mágica eu o vi subir em seu lombo. Parecia-me estar dentro de um conto de fadas, era como se a lágrima tivesse transformado em um cavalo de cristal.
Saudando-me sacudiu suas patas dianteiras, saiu voando sobre as árvores deixando em seu rastro formas de coração.
Uma alegria imensa tomou conta daquele lugar.
Os passarinhos saíram de seus esconderijos cantando sem parar, as árvores batiam palmas, a luminária do poste acendeu-se tão vibrante, iluminando tudo, parecendo que havia despertado de um longo sono. E eu... Estava tão maravilhada com o que via que nem consegui acenar-lhe com as mãos. Apenas meu coração dizia-lhe adeus e agradecia pela lembrança que por certo nunca mais se apagaria.
E ele se foi!
Olhei para o céu, estava iluminado por tantas estrelas viajantes como nunca havia visto, acredito que todas elas acompanhariam o pequeno príncipe até chegar são e salvo em seu planeta dos sonhos.
E fiquei ali deitada olhando para o céu até que a última estrela fosse apagada pela borracha da luz do dia. Depois caí num sono profundo e sonhei com o planetinha todo coberto pela fumaça do vulcão que desenhei.
E nunca seria descoberto por nenhum homem mau, estaria para sempre seguro.
Voltei para casa renovada, lembrando das palavras de meu pequenino príncipe que dizia:
Nenhuma tarefa é insignificante por menor que ela seja, desde que a executemos com fidelidade e amor.
Eu nunca fui boa humorista, por isso tornei-me apenas mãe, esposa e dona de casa.

Autora: Herta fischer

Um comentário:

  1. Nossssaaaaaaaaaa....... isso foi real???? Se foi.. queria muito uma experiência dessas... até eu viajei agora.... lindo, muito lindoooo... e naum esquece: "Nenhuma tarefa é insignificante por menor que ela seja, desde qua a executemos com fidelidade e amor"... eu acredito nisso!!!!

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