Só temo me perder de mim mesma.
Temo acordar de manhã e não me identificar, não me reconhecere não mais poder ser útil a ninguém.
Posso ser esquecida pelos outros, mas, não quero esquecer que
sou uma peça importante para a vida.
Não preciso ser vista, elogiada, aplaudida, só quero poder andar e
sentir cada pedaço, de chão, como meu. Sentir, pela manhã, o cheiro gostoso de mais um dia. Os caminhos flutuando além do meu olhar, a relva a sondar meus passos, a debandada dos pássaros a se lançarem em seus magníficos voos, quase a me contar de seus medos.
Me reconhecendo em tudo - em cada flor, nos caminhantes que sequer me percebem, mas, não ocupam o meu espaço,
por que nele, só eu me caibo.
Na novidade de cada etapa, onde eu me sustento. Pouco importa se me compreendem, ou não. Se me querem bem ou não. Se sou importante ou não. O que me importa mesmo, é que me identifico como um ser. Estou vivendo no meio, com muito pouca significância, mas, sou.
E celebro como quem celebra as bodas. Encantada com os arranjos que o dia me oferece em cada passagem - seja de pedra ou de carne, seja de flor ou descampado, secas ou úmidas.
Tenho consciência de tudo, tenho eu em tudo que me rodeia, Tudo pertence aos meus olhos, aos meus ouvidos e ao meu coração.
Embora não possa me ver sem que seja através do espelho, sinto a minha presença, isto me faz pensar que existo, que amo existir, sem me preocupar com a aparência, já que meus olhos nunca me contemplará. Os olhos dos outros não me incomodam.
Hertinha Fischer.