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Eu dando vida as coisas

  E o caminho era suave - sem obstáculos na pronúncia das flores. Um perfumado sonar de cores e risos, que se estendiam na passagem dos ol...

quarta-feira, 9 de abril de 2025

O espelho que não me reflete

 Só temo me perder de mim mesma.

Temo acordar de manhã e não me identificar, não me reconhecer
e não mais poder ser útil a ninguém.
Posso ser esquecida pelos outros, mas, não quero esquecer que
sou uma peça importante para a vida.
Não preciso ser vista, elogiada, aplaudida, só quero poder andar e
sentir cada pedaço, de chão, como meu. Sentir, pela manhã, o cheiro gostoso de mais um dia. Os caminhos flutuando além do meu olhar, a relva a sondar meus passos, a debandada dos pássaros a se lançarem em seus magníficos voos, quase a me contar de seus medos.
Me reconhecendo em tudo - em cada flor, nos caminhantes que sequer me percebem, mas, não ocupam o meu espaço,
por que nele, só eu me caibo.
Na novidade de cada etapa, onde eu me sustento. Pouco importa se me compreendem, ou não. Se me querem bem ou não. Se sou importante ou não. O que me importa mesmo, é que me identifico como um ser. Estou vivendo no meio, com muito pouca significância, mas, sou.
E celebro como quem celebra as bodas. Encantada com os arranjos que o dia me oferece em cada passagem - seja de pedra ou de carne, seja de flor ou descampado, secas ou úmidas.
Tenho consciência de tudo, tenho eu em tudo que me rodeia, Tudo pertence aos meus olhos, aos meus ouvidos e ao meu coração.
Embora não possa me ver sem que seja através do espelho, sinto a minha presença, isto me faz pensar que existo, que amo existir, sem me preocupar com a aparência, já que meus olhos nunca me contemplará. Os olhos dos outros não me incomodam.
Hertinha Fischer.

terça-feira, 8 de abril de 2025

Seios dos tolos

 Abra a janela e olhe lá fora, perceba

que silêncio de

gente anda nela.
O antes de agora.
Alegria murchou, só se vê
olhar estranho.
Hoje até uma criança rosnou pra mim,
será o amor animal que todos almejam?
Os frutos gerados, na liberdade, se jogam
dos pés ainda verdes.
Enfeitam o chão de podridão.
Que pena. Será que posso falar assim,
ou ainda é cedo?
Ofusca-me a beleza falsa e a "beleza"
que ainda se guarda no bolso,
anda mais enfraquecida,
Seria só para comprar
um pouco mais de falsidade?
Já se utilizam de mais terra para adornar
túmulos que não são mais caiados,
se exibem com pedras de mármore,
Seria o infinito, a soberba dos homens,
que se conformam em ter uma vida
rasa, mesmo sabendo
que o fim é profundo?
Se houver um amanhã,
provavelmente, saberá onde ir,
e se não houver, para onde irá?

Hertinha Fischer.


sábado, 5 de abril de 2025

Minhas lembranças

 Há!! O que antes eu tinha,

com que delicadeza o sol

se estendia.

O abraçar da estrada á minha casa,

com braços compridos e comprimidos

ladeados por arbustos rasteiros.

As flores, que, de certo, se abriam

em sorrisos primaveris, a festejar

as passagens.

A estampa de terra batida, a envolver, com 

delicadeza, o ladear do nicho sagrado.

As vozes que preenchiam o silêncio,

como quem precisa de canto.

Arvoredos chamando as folhas 

para dançarem na seresta do vento.

A menininha sentada no alpendre da vida,

a sonhar com os anjos.

O senhor e a senhora atiçando a força e a lei,

que eles mesmos resolviam e acertavam

O riacho á descobrir o caminho das águas,

o balde a suportar o peso da mesma.

Aliança sem dedo. Casamento sem clausulas

União de tudo com todos, lei sublinhada

na razão do sacrifício.

O complemento da necessidade e causa,

Alinhamento do útil e agradável,

Na delicia de se construir, na simplicidade,

um lar de respeito e amor.


Hertinha Fischer

lar 






Subidas, descidas e coordenação

 Me envolvi com o tempo. Nunca quis esquecer.

Cada milímetro de estadia, deixava marcas

Fui superando os medos, embora,

 fossem donos dos meus instantes.

Queria andar, me faltavam pés

Passei a usar o tempo á meu favor.

Suava minhas mãos despreparadas,

brotava sorrisos meio tosco

e palavras tremiam em minha boca

Fui, como quem desbrava a si próprio

Protegida pelas escamas do seguir

Cada dia me provava, e cada prova me

aprendia.

Tive alguns encontros bruscos,

que não me derrubaram, apenas me 

impulsionou a andar mais cautelosa

Não sou contra nem a favor de ninguém,

Sou a favor da vida que me contém.


Hertinha Fischer.





sexta-feira, 4 de abril de 2025

Filiação

 Talvez o digno seja um passageiro,

cujas mãos balançam o céu.

Tinha uma foice nas mãos,

e uma infinidade de força nos

cortes.

O fogo preparado para um lugar,

quase sempre em acero

Nunca sobrepunha o que lhe

pertencia.

Mesmo entre as torres de babel,

simplicidade era papel.

Não tumultuava o natural,

certo de que teria, a presa solta

em seu quintal.

Assim vivia, ouvia e transmitia,

nada que era alto lhe cabia.

O que fazer fazia se saber.

O redor do mundo lhe interessava,

como lição se desenhava, mas, não o

incomodava.

Se foi nos anos como caminho

que já nasceu pronto, absorvendo suas pisaduras

que se fizeram as ruas.

Viera de outros lugares, e o lugar

já era dele,

E ele pertencia a todo

lugar que via.

Se fez na miudeza, lavrou a tristeza,

sobrou proeza e se casou com

a  amada Tereza.

Construindo a partir do nada,

uma estrada de felicidade

para a posteridade.


Hertinha Fischer




quinta-feira, 3 de abril de 2025

Memória de escultor

 Guardo na minha quietude tantos rostos, na memória, tantos momentos. Ainda há encontros quando a distância os torna impossível. Tenho as minhas estradinhas invisíveis, por onde ainda andam tantas promessas, sorrisos, passeios, palavras, que o passado não conseguiu enterrar. Muitas vezes, quando me entristeço, gosto de chamar a noite, a penumbra me trás lembranças e enumero um a um. Posso estar esquecida, mas, nunca me esqueço. Tenho memória de escultor.

Hertinha Fischer.

Chama das pegadas ( caminho dos pés)

 Ainda que amanhã seja apenas,

apenas penas a voar

Sei ter chegado lá

Neste acaso que as horas me chegam,

aos olhos de relógio que recebo

Um arco que se demora,

um ponto que não me atrevo

De lá que ainda venho,

pra lá que sequer andei

Depressa me absorveu

os sonhos que sequer sonhei.

Foi-se um a um, em dia ainda claro

Como terra que virou barro

Os amores  que dediquei,

nos afetos que mendiguei.

Sou como onda de calor

que frente fria abordou

Nuvens negras enfrentou

chuva forte me lavou,

em pedra de gelo, transformou

Ainda cega eu vejo

Com pouca luz, ilumino

Se pouco transmiti,

esse era meu destino.

 Hertinha Fischer