Já andei metade do tempo desfrutando
das minhas vaidades.
No meio do caminho iniciou-se
um querer que escravizava minha visão.
Procurava nas esquinas dos sonhos algo
ou alguém que me valorizasse, que pudesse
me querer com avidez.
Necessitava de carinho? Talvez!
Mas não seria só isso.
Eu precisava ser lembrada, ter alguém próximo
que sentisse de mim, saudade.
Que se alegrasse com a minha presença,
que pudesse alimentar a alegria que em mim faltava.
Foi num desses momentos que optei por ler romances,
eu me satisfazia nos contos de amor, como se fosse eu a vivê-lo.
Cada historia, cada choro, cada tormento que nas páginas se desenrolava,
era como se estivesse dentro, e a fantasia foi a companheira fatal.
Dormia em sonhos, acordava e andava sonhando, e nada acontecia
para mim.
Acabei por ficar mais só.
Nos dias, livros tornaram-se amores, e nas noites,tristeza e dor por
vê--los indo embora.
No final de cada romance, sentia a satisfação momentânea de quem vence,
e no momento seguinte, ao iniciar outro, a mesma enrolação de sempre. Renúncia
de mim mesma, enfadonha arte de conquistar.
Assim se passaram anos, nessa fábrica ilusória. a inflar meu ego de
mentiras.
Do trabalho para casa. E tudo se encontrava vazio: irmãs, irmãos, pai, mãe e
amigos em folhas de papel.
Tudo porque não encontrava amor.
Eu não queria a sexualidade, não queria usar o meu corpo,
nem viver em lascívia. Só queria e precisava de atenção.
Saia com alguns rapazes, até me apaixonei por várias vezes, mas a ilusão
desse querer que me aprisionava, de longe seria o que me ofertavam.
Não sei bem a diferença, só sei que havia diferença em tudo á minha volta.
gente que se satisfazia com pouco, eu desejava a impossibilidade: um amor
amor somente!
Lógico que encontrei um rapaz em minha rua, dotado de beleza, que me chamou a atenção,
e me fez feliz por me aceitar: no inicio, igual aos outros.
Não era amor, era desejo, e foi muito difícil para mim, aceitar aquela forma de querer.
Estou no mundo:- pensava eu: e como o mundo só oferece isso, então,
isto serei.
E no decorrer do tempo, como um romance de papel, as coisas foram se encaixando.
Agora, neste exato momento, quando olho para as páginas já viradas e lidas. vejo
que o amor nasceu, entre espinheiros e abrolhos, que foi necessário passar
pelo precipício para alcançar as flores.
Hertinha Fischer
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quarta-feira, 4 de outubro de 2017
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