Eu gostaria de poder dizer que meus caminhos sempre estiveram abertos,
que alguém me incentivou a seguir. Mas, não!
Eu tive que abrir passagem. Eu tive que, as vezes, usar minhas mãos para cavar
ribanceiras até chegar ao mundo das palavras, Não foi fácil, tinha medo de errar, e assim,
fui deixando meus sonhos para trás.
Eu fui uma menina pobre, sem estrutura alguma, criança de mato. Só me foi possível seguir
em frente com muita luta. Luta para estudar, e luta contra eu mesma.
Meus pais eram analfabetos, mas deram um jeito de me colocar na escola, eu e meus irmãos.
Concluí a quarta série, na época. Mas depois tive que trabalhar, e assim, não pude fazer o que mais queria, que era prosseguir com os estudos.
Só depois de algum tempo, é que, novamente, vi uma nova janela de possibilidade se abrindo.
Já tinha vinte e cinco anos de idade, quando encontrei uma escola que me deu a oportunidade de fazer o curso fundamental na forma de supletivo.
Em dois anos eu concluí a oitava série, No entanto, por insegurança e falta de dinheiro, novamente tive que parar de estudar.
Só aos quarenta e cinco anos de idade que, por sorte, ou acaso, meu marido ficou sabendo que tinha aberto inscrições para o telecurso, na escola em que estudava meu filho mais velho.
E assim, com a cabeça cheia de preocupações com a casa, marido e filhos, eu regressei aos estudos que tanto amava.
Foi muito difícil ter que deixar minha família. A noite, tomava um ônibus junto com dezenas de jovens que faziam o curso normal na mesma escola, e numa classe cheia de alunos mais velhos, se adaptando novamente na aprendizagem.
Nesta época, as escolas já não tinham nenhuma organização, os professores eram arrogantes, e nos forçavam a aprender sozinhos. Fui vitima de várias situações desagradáveis de pessoas que não estavam la para estudar e ficavam, junto com os professores trocando receitinhas, e, ou, conversando sobre assuntos fora do currículo escolar.
Por várias vezes eu abandonei a classe para estudar sozinha no pátio.
Como tinha apostila, passei a estudar mais em casa do que em sala de aula, E nas provas tirava sempre boas notas, causando muita inveja para alguns alunos que só iam a escola para conversar.
Dois anos se passaram depressa, E só então, comecei a escrever.
No inicio foi frustrante, começava e no meio do caminho eu desanimava. Tinha vários papéis que iam se acumulando sem que eu conseguisse algo que realmente ficasse bom..
Foi então que aprendi a mexer no computador, e criei meu blog.
Nossa! Não dá para imaginar o quanto fiquei feliz, por, finalmente, conseguir realizar um sonho de menina, que sempre foi escrever.
Talvez, não signifique nada para muitos, mas, para mim, é gloria, é como andar descalça em nuvens de algodão, tanto é o prazer que sinto.
Desde então, eu faço questão de registrar meus pensamentos, simples, mas cheio de gratidão e amor.
por todas as vezes, que consigo com palavras, dizer o que sinto,
E também, pela magia de saber que posso, que apesar das circunstâncias pouco favoráveis, rasguei todo o preconceito que se tem sobre quem não estudou, e acreditar que o dom perfeito vem do alto, pois, muitos, que tiveram a possibilidade de estudar, nasceram em berço esplêndido, e não sentem o mesmo que eu sinto em relação a esse dom maravilhoso que é saber ler e escrever.
Herta Fischer
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Eu dando vida as coisas
E o caminho era suave - sem obstáculos na pronúncia das flores. Um perfumado sonar de cores e risos, que se estendiam na passagem dos ol...
sábado, 2 de abril de 2016
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