Amizade, não existe só no encontro, nem no companheirismo, ou no pensar igualmente.
Amizade se tem no coração que liberta, que se preocupa, que não invade.
Que não faz diferença do desconhecido, que se esforça na bondade, nas palavras e no fazer.
Que alcança o infinito, pois o infinito são insondáveis, que na crença se finaliza , no sentimento, não na causa.
Não tem rosto, não se importa com aparência, pois é forma de coração, não de consciência.
Resplandece na harmonia e como o vento sopra brisa fria, alivia toda dor na ignomínia.
Quando o bem que te alcança, daquele que nunca vê, é de onde sai a amizade, de quem não quer remuneração, pois faz o bem, sem olhar a quem.
A amizade é uma fonte onde quem tem sede vem beber, de águas vivas e revigorantes, a alma se renova e se consola na ternura do poço da bondade.
A amizade não é vista com os olhos, pois se encontra além dele, é fagulha de fogo que não queima, é sabedoria que a própria luz esconde.
Esta além da compreensão, além da imaginação, pois não é vista, mas é sempre benquista quando caídos na ilusão.
Uma mão pra levantar, dois braços a abraçar, uma palavra de conforto, uma lágrima no olhar.
Um sorriso sem malicia, o compreender uma dor, o respeitar seu autor, sem nada lhe perguntar.
É olhar pra um desconhecido, como se já o conhecesse, é sentir que somos iguais, perante os homens e perante Deus.
Que não fazemos menos que nada no ato de ajudar, pois consolo na angustia todos buscam em alguém!
Autora: Herta Fischer Direitos reservados
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Chegamos ou voltamos?
Só tenho a mim como resposta, e às vezes a pergunta nem é feita. Ando sem rumo mesmo quando acredito estar no caminho certo. É cansativo dem...
sábado, 31 de março de 2012
quinta-feira, 15 de março de 2012
Poesia
Poesia está na alma..em tudo que vivemos, aprendemos e executamos.
Poesia se vê no que vê, e no que não se vê.
Poesia é algo que se passa na mente e que por razões desconhecidas se transforma, unifica pensamentos reações e reflexões.
Poesia é dialética da alma com o ser existente, conversa íntima, incoerência coerente.
Poesia é coração, é letras que se fazem canções, é sonho, é magia, é confronto com o desconhecido.
Poesia é voz de vento, é farfalhar de folhas, é dança de asas, é beleza de nuvens, é melodia de borboletas.
Poesia é mente, corpo e alma.
Alma que se cola na energia, corpo que se pinta de alegrias, mente que se esvazia na beleza da poesia.
Poesia é fuga, é o encontrar-se nessa fuga, é embalar-se no tempo e correr como vento, é trabalho e passa-tempo.
Poesia é falar com a divindade, é poder e felicidade, é comprometer-se consigo mesmo, no silencio da vaidade.
Poesia sou eu, é você. Onde tudo se torna novo, mais bonito e mais saudável, é o bem que tudo vê, é a delicia de esconder entre a lua e sua luz.
Poesia é mar que conhece seus limites, é onda que beija mansamente sua brisa, é esconderijo dos amantes, é maré que leva saudades.
Poesia é letra, é leitura, é beleza, é feiura, é água mansa, rio bravo, é liberdade e escravo.
Poesia é tudo que tem sentido, que ao mesmo tempo é difícil de ser entendido, compreendido, ou sem nenhum significado.
Poesia é sentimento, é palavra, é revolta, é sorriso, é a volta, o começo e o terminar.
É tudo que encanta, no cansado e no que descansa, no trabalho do que se deita e do que se levanta.
Na ideologia da movimentação, na vontade de mudar, na ânsia que se tem de amar, na necessidade de se tocar.
Poesia é consolação, é exortação, é conexão, é inspiração.
Autoria de: Herta Fischer Direitos reservados
Poesia se vê no que vê, e no que não se vê.
Poesia é algo que se passa na mente e que por razões desconhecidas se transforma, unifica pensamentos reações e reflexões.
Poesia é dialética da alma com o ser existente, conversa íntima, incoerência coerente.
Poesia é coração, é letras que se fazem canções, é sonho, é magia, é confronto com o desconhecido.
Poesia é voz de vento, é farfalhar de folhas, é dança de asas, é beleza de nuvens, é melodia de borboletas.
Poesia é mente, corpo e alma.
Alma que se cola na energia, corpo que se pinta de alegrias, mente que se esvazia na beleza da poesia.
Poesia é fuga, é o encontrar-se nessa fuga, é embalar-se no tempo e correr como vento, é trabalho e passa-tempo.
Poesia é falar com a divindade, é poder e felicidade, é comprometer-se consigo mesmo, no silencio da vaidade.
Poesia sou eu, é você. Onde tudo se torna novo, mais bonito e mais saudável, é o bem que tudo vê, é a delicia de esconder entre a lua e sua luz.
Poesia é mar que conhece seus limites, é onda que beija mansamente sua brisa, é esconderijo dos amantes, é maré que leva saudades.
Poesia é letra, é leitura, é beleza, é feiura, é água mansa, rio bravo, é liberdade e escravo.
Poesia é tudo que tem sentido, que ao mesmo tempo é difícil de ser entendido, compreendido, ou sem nenhum significado.
Poesia é sentimento, é palavra, é revolta, é sorriso, é a volta, o começo e o terminar.
É tudo que encanta, no cansado e no que descansa, no trabalho do que se deita e do que se levanta.
Na ideologia da movimentação, na vontade de mudar, na ânsia que se tem de amar, na necessidade de se tocar.
Poesia é consolação, é exortação, é conexão, é inspiração.
Autoria de: Herta Fischer Direitos reservados
sábado, 3 de março de 2012
Aprendendo com seu mestre
Certa vez um homem de Deus chamou o seu discípulo para fazer uma viajem num lugar bem distante.
Viajaram durante semanas passando por vários lugares, e o discípulo aprendeu muito com seu mestre.
Até que numa tarde calorosa chegaram no topo de um monte..Lá de cima dava para ver um vale que se estendia. No vale uma pequena casinha muito pobre e duas crianças maltrapilhas brincando ao pé do morro.
Ao descer avistaram uma vaquinha que pastava ao redor do precipício.
Ao chegarem na casinha o morador e sua esposa os receberam com alegria, e ali eles pernoitaram.
Enquanto conversavam durante a noite, antes de dormirem, o discípulo fez várias perguntas ao homem da casa.
Ele lhe perguntou como sobreviviam naquele lugar esquecido por Deus, e o homem lhe explicou que tinham uma vaquinha e que todos os dias tiravam o leite e vendiam para o vendeiro dali de perto... e com isso eles compravam o que precisavam e eles iam vivendo.
Ao despertarem no outro dia, os dois se puseram a fazer o caminho de volta, se despediram de seus anfitriões e começaram a subir o morro. Lá no alto encontraram a vaquinha pastava tranquilamente..quando o mestre surpreendeu seu discípulo empurrando a vaquinha no precipício.
O discípulo ficou furioso com seu mestre, mas nada falou, apenas pensou em sua insensibilidade, pois matou a única fonte de renda daquela família tão pobre e necessitada...
Passaram-se muito tempo desde o ocorrido, mas o discípulo nunca esquecera o que seu mestre fez. Então quando foi convidado novamente para ir por aquelas bandas, de imediato o discípulo aceitou.
Novamente viajaram por vários dias, até que chegaram no topo daquele mesmo morro, mas quando olharam para o vale, não o reconheciam mais. No lugar daquela casinha tão pobre havia uma casa grande, imponente, cercada de um imenso jardim, ao lado dela, muitas cabeças de gado cercadas num imenso curral.
Ao descerem até a casa, o casal de meninos, antes maltrapilhos, brincavam alegremente, bem vestidos e bem tratados.
Quase não aguentou de tanta ansiedade para saber o motivo daquela transformação.
Logo que o dono da fazenda veio lhes receber, o discípulo lhe perguntou o que acontecera em sua ausência, e o homem sorridente lhe falou: Sabe, da última vez que estiveram por aqui, aconteceu uma tragédia, a nossa vaquinha caiu no precipício e morreu, e eu fiquei sem a única fonte de renda que tinha, então, tive que tomar uma atitude...Arrumar um outro modo de sobreviver e sustentar minha família.
Esse pequeno relato nos faz ver que na verdade o mestre viu que o morador daquela casa estava muito acomodado com sua situação.. acordava cedo, tirava leite da vaquinha, vendia pro vendeiro e...ficava satisfeito, Quando porém se viu sem alternativa, começou a pensar em outras soluções que não pensara antes, e assim com muito trabalho começou a ver a vida por outro prisma.
Naquele dia o discípulo aprendeu a lição: Muitas vezes nos acomodamos tanto com nosso dia a dia que deixamos passar despercebidos o mundo de possibilidades que estão a nossa frente..E acabamos morrendo na pobreza, só pelo medo de investir......
Fim
quinta-feira, 1 de março de 2012
Ao sabor da felicidade
Quando nasci, Deus me colocou num bercinho de palha, e uma casinha simples me acolheu com amor. Filha de pais analfabetos, a quarta entre cinco irmãos, carregava comigo uma história linda para contar. Apenas uma parede separava a cozinha do quarto, e dois cômodos guardavam toda nossa esperança. Uma prateleira com três divisões segurava algumas panelas queimadas, e no pequeno fogão a lenha, sempre num canto da cozinha, preparávamos nossas refeições. Duas cadeiras e um toco de pau eram o descanso ao fim de cada dia. Éramos muito felizes, sem nos preocupar em sonhar com mais nada. Nossa vizinha, dona Francisca, o senhor Dario e suas crianças eram parte das nossas brincadeiras. A mata ao redor escondia segredos que adorávamos descobrir, entre barbas-de-bode nas jabuticabeiras que desciam das cunheiras até o chão, nosso esconderijo, onde nossas gargalhadas nos entregavam. Um pequeno riacho entre galhos era onde minha mãe e dona Francisca lavavam roupas e buscavam água para cozinhar, carregando baldes na cabeça sobre rodilhas de pano — água limpinha e potável que hoje já não existe mais por lá. Com apenas dois anos, lembro-me de tantas coisas como se minha memória resistisse ao tempo. Coisas boas não se esquecem; a felicidade se cultiva na mente e nem o tempo apaga. Meu pai saía cedo para a roça, minha mãe ia ao rio lavar roupas, e eu e meus irmãos íamos brincar. Havia tempo de sobra, que só terminava quando dormíamos todos juntos na mesma cama. Era bonito de ver: meu pai no merecido descanso, minha mãe livre das preocupações, e nós, cheios de esperança de ver o sol nascer para inventar novas brincadeiras na mata além do quintal.
Brincávamos, brigávamos, mas estávamos sempre juntos, crescendo não só no tamanho, mas também na esperteza. Até que, num belo dia, sem sabermos o motivo, vimos meu pai colocando nossos pertences nas costas e dizendo que iríamos nos mudar para outro lugar. Quando somos pequenos, tanto faz para onde vamos, tudo é aventura. Assim, carregando algo nas mãos, partimos para conhecer a nova casa, palco de novas experiências que faziam o coração bater mais forte. Uma pequena fila se formou pelo trilho que atravessava a mata fechada, até que, do outro lado, encontramos uma casinha fechada. Eu, com meus olhinhos de criança, não me cansava de admirar aquele lugar encantador. Parecia ter saído de contos que eu ainda não tinha lido, mas que já vivia no meu inconsciente, pois era mágico. Uma casinha de barro, com duas portas e três janelas — até então, minha casa só tinha uma porta e nenhuma janela... agora eram duas portas e três janelas! Que paraíso! Saí de um para entrar em outro, ainda mais bonito e singelo, com tantas coisas que nem sei contar. Meus olhinhos de menina brilhavam de alegria, e meus pequeninos pés não se cansavam de explorar.
A casinha era cercada por bananeiras, coqueiros, pessegueiros, laranjeiras e outras árvores frutíferas, exatamente como eu queria. A cozinha, pequena, tinha uma porta e uma janela, além de um fogão a lenha feito à mão, imponente ao lado da porta, aguardando o fogo que logo daria vida à casa. Meu pai colocou uma mesinha embaixo da janela, e nossa prateleira ficou entre a mesa e o fogão. Do outro lado, um banquinho sustentava o balde onde guardávamos a água para beber e cozinhar. Só minha mãe não ficou muito contente, pois o rio era longe, e o sacrifício seria maior, já que não havia mais dona Francisca para cuidar de nós. Era preciso caminhar cerca de um quilômetro para lavar roupas ou para outras necessidades. Eu, porém, estava feliz observando meu pé de lima, onde as galinhas se empoleiravam ao anoitecer. Ainda mais animador era termos nosso próprio quarto, pois eram dois ao todo: um para meus pais e outro para nós cinco. Também havia uma sala, simples, com apenas uma mesa e quatro cadeiras, mas já era um avanço, pois na outra casa não tínhamos nenhuma. O quintal era grande; na frente, havia apenas um pequeno espaço entre a casa e o jardim, mas na lateral o terreno se estendia bastante, terminando num corredor ladeado por pés de bananeira que iam da entrada até a estradinha. Antes de chegar à estrada, havia um pequeno ranchinho, como nossa casa, coberto com telhas de barro. Ao lado dele ficava um pomar misturado com jardim, repleto de flores e frutos.
Assim que toda a vegetação se espalhava pela terra, era hora de colocar fogo para chamar quem a revolveria com um par de cavalos e um arado. Com a terra toda preparada, chegava o momento de plantar; então não havia mais tempo para brincadeiras, era hora de aprender a trabalhar. Apenas minha irmã mais nova não ia para a roça, pois tinha apenas três anos... Eu, com cinco, já ajudava como podia. Meu pai não nos obrigava a fazer trabalhos pesados, mas precisávamos contribuir de alguma forma. Às vezes, mal aguentava o peso da enxada e já estava arrancando o mato do meio do milharal. Não me incomodava, pois me divertia estar entre os adultos, fazendo trabalho de gente grande, e me esforçava para não fazer feio. Também brincava com bonecas feitas de espigas de milho, sonhando em um dia ter uma de verdade. Com trapos velhos, vestia as espigas e as embalava, enquanto fingia cozinhar num fogão improvisado com dois tijolos e latas vazias que minha mãe jogava no quintal. Sonhava em poder dizer que logo entraria no mundo dos adultos, pois queria muito aprender a ler e escrever, para mergulhar nos romances que minhas irmãs liam nas revistas. Eu só via as imagens, mas também queria entrar nas histórias. Até que, ao completar seis anos, chorava todos os dias pedindo para que meu pai me colocasse na escolinha perto de casa. Ele me levou até lá para falar com a professora, que, depois de tanta insistência e tocada pelas minhas lágrimas, aceitou me testar. Ao ver minha disposição e desempenho, não pôde recusar minha matrícula. Disse que, se o diretor aparecesse para visitar a escola, me esconderia embaixo da carteira, por eu ser tão pequena.
No primeiro dia de aula, senti-me a menina mais feliz do mundo, realizando meu primeiro sonho. Depois desse dia, me esforcei tanto que, no final do ano, só fiquei atrás, em resultado, da filha da professora. Entrei de vez no mundo das letras; já sabia escrever e dominava a escrita, podendo ler os romances das revistas de fotonovelas. Também passei a esconder as revistas emprestadas de colegas debaixo do colchão para que meu pai não brigasse comigo. Sempre que se aproximava a hora do almoço, minha ansiedade aumentava, pois mal podia esperar para voltar àquele mundo tão magnífico das letras e dos contos. O tempo passou rápido e minha sede de conhecimento crescia cada vez mais, mas, ao completar dez anos e concluir a quarta série, precisei parar de estudar. Foi então que entrei de fato no mundo adulto, ajudando nas tarefas como qualquer outro membro da família, tanto na roça quanto em casa. As brincadeiras só aconteciam à tarde ou à noite, quando meu pai se deitava sobre um saco de estopa no quintal e nós nos deitávamos ao seu lado para olhar as estrelas. Não havia televisão, apenas um rádio velho que tocava lindas canções sertanejas e nos fazia viajar na imaginação. Um dia, minha mãe voltou da cidade e foi até a roça nos levar o café da tarde, dizendo ter comprado duas bonecas: uma para minha irmã caçula e outra para mim. Quase morri de alegria. Pedi ao meu pai para buscar água e corri para realizar mais um sonho. Minha boneca era linda, de plástico, vestia um maiô verde também de plástico, e naquela noite dormi abraçada com ela.
Essas lembranças são as mais fortes na minha mente, pois marcaram profundamente a minha infância. Meu pai decidiu sair da nossa casinha, já que a terra onde morávamos era arrendada, e o dono iria construir outra casa ali perto. Nossa vida começou a melhorar: saímos de uma casa de barro para uma de madeira. Os cômodos eram tão pequenos quanto antes, mas a sala tinha o piso de tijolos; já a cozinha e os quartos continuavam com chão de terra batida. No mais, tudo ficou igual, exceto que meu único irmão passou a dormir na sala, pois meu pai comprou um sofá para ele, dando a nós quatro mulheres um pouco mais de privacidade. Nós dividíamos a mesma cama de casal em um quarto de quatro por quatro. O rio ficava mais perto, mas para chegar até ele era preciso descer uma ribanceira e depois subir carregando baldes cheios de água. Aos quatorze anos, meu pai deixou de plantar e nos mandou procurar trabalho em outro lugar. Como ele só nos dava comida, tivemos que nos virar para comprar roupas, trabalhando como empregados para diferentes pessoas. Ganhávamos tão pouco que mal dava para adquirir o básico na pequena feira da cidade. Ainda assim, eu não me importava, pois foi naquele cantinho escondido que conheci a felicidade de pertencer a uma família humilde, mas rica em valores. Aprendi que não é a casa ou as coisas que nos tornam importantes, mas sim o que aprendemos com nossos pais na infância. Essas bagagens que carregamos para sempre é que nos preparam para a vida.
Quando pequena, eu me sentia grande, pois meus sonhos eram maiores do que eu, e minhas realizações, embora vistas como pequenas, enchiam meu mundo de possibilidades. Meu crescimento espiritual se solidificava dia após dia, e o conhecimento aumentava à medida que eu crescia. As conquistas, a simplicidade de quem sabe manejar uma enxada, as conversas entre irmãos e os conselhos sábios dos meus pais construíram pilares de aço que formaram um caráter impossível de ser derrubado. Hoje, é com esses mesmos pilares que construo o alicerce da vida dos meus filhos, transmitindo tudo o que aprendi ao longo dos anos. Meus agradecimentos vão primeiramente a Deus, o oleiro da minha construção, e depois aos meus pais, que fizeram de mim uma herança para meus filhos, que, por sua vez, são a herança que deixo para Deus.
Autora: Herta Fischer Direitos reservados
Brincávamos, brigávamos, mas estávamos sempre juntos, crescendo não só no tamanho, mas também na esperteza. Até que, num belo dia, sem sabermos o motivo, vimos meu pai colocando nossos pertences nas costas e dizendo que iríamos nos mudar para outro lugar. Quando somos pequenos, tanto faz para onde vamos, tudo é aventura. Assim, carregando algo nas mãos, partimos para conhecer a nova casa, palco de novas experiências que faziam o coração bater mais forte. Uma pequena fila se formou pelo trilho que atravessava a mata fechada, até que, do outro lado, encontramos uma casinha fechada. Eu, com meus olhinhos de criança, não me cansava de admirar aquele lugar encantador. Parecia ter saído de contos que eu ainda não tinha lido, mas que já vivia no meu inconsciente, pois era mágico. Uma casinha de barro, com duas portas e três janelas — até então, minha casa só tinha uma porta e nenhuma janela... agora eram duas portas e três janelas! Que paraíso! Saí de um para entrar em outro, ainda mais bonito e singelo, com tantas coisas que nem sei contar. Meus olhinhos de menina brilhavam de alegria, e meus pequeninos pés não se cansavam de explorar.
A casinha era cercada por bananeiras, coqueiros, pessegueiros, laranjeiras e outras árvores frutíferas, exatamente como eu queria. A cozinha, pequena, tinha uma porta e uma janela, além de um fogão a lenha feito à mão, imponente ao lado da porta, aguardando o fogo que logo daria vida à casa. Meu pai colocou uma mesinha embaixo da janela, e nossa prateleira ficou entre a mesa e o fogão. Do outro lado, um banquinho sustentava o balde onde guardávamos a água para beber e cozinhar. Só minha mãe não ficou muito contente, pois o rio era longe, e o sacrifício seria maior, já que não havia mais dona Francisca para cuidar de nós. Era preciso caminhar cerca de um quilômetro para lavar roupas ou para outras necessidades. Eu, porém, estava feliz observando meu pé de lima, onde as galinhas se empoleiravam ao anoitecer. Ainda mais animador era termos nosso próprio quarto, pois eram dois ao todo: um para meus pais e outro para nós cinco. Também havia uma sala, simples, com apenas uma mesa e quatro cadeiras, mas já era um avanço, pois na outra casa não tínhamos nenhuma. O quintal era grande; na frente, havia apenas um pequeno espaço entre a casa e o jardim, mas na lateral o terreno se estendia bastante, terminando num corredor ladeado por pés de bananeira que iam da entrada até a estradinha. Antes de chegar à estrada, havia um pequeno ranchinho, como nossa casa, coberto com telhas de barro. Ao lado dele ficava um pomar misturado com jardim, repleto de flores e frutos.
Na primeira noite, a gente nem conseguiu dormir, tanto era a excitação, embora estivéssemos deitados sobre panos, pois precisávamos de uma cama, era uma delícia estar ali, naquele lugar misterioso, cheio de lugares para serem explorados.
Ao nascer do dia, logo que o galo cantou já estávamos acordando para saborear o mel de mais um dia de alegrias.
Meu pai se preparava para desbravar a terra que se estendia do outro lado da estrada, logo acima de nossa casa, com uma foice na mão, derrubava a densa mata e os capins se rendiam na força de seus braços fortes. Enquanto que nós rolávamos ribanceira abaixo, deitados sobre os capins macios de marmelada que cobria metade da vegetação nas laterais do plano que meu pai roçava. As gargalhadas se misturavam com o barulho da foice e dos cantos do passarinhos que pareciam se reunir na dança de nossa alegria.
Ao meio dia, meu pai olhava para o céu, dizendo que já era hora do almoço e nós em disparada rumávamos pra nossa meiga casinha. Não precisávamos de relógio, os ponteiros escondidos do sol nos mostravam as horas.
Minha mãe já estava com a comida pronta, fresquinha e fumegante; o arroz com feijão nos esperava sobre o fogãozinho a lenha. Sem geladeira, a comida precisava ser feita incansavelmente todos os dias, geralmente acompanhada de ovos, algum legume ou verduras. Depois do almoço, cada um se recolhia ao seu quarto para tirar uma soneca. Meu pai roncava, enquanto nós líamos revistas — ou melhor, eu apenas olhava as figuras, enquanto minhas irmãs se perdiam em algum romance. Foi então que minha imaginação de criança começou a desejar aprender as sagradas letras, para ser como minhas irmãs mais velhas, que nunca se cansavam de ler. Aos cinco anos, eu já pegava papel e lápis e tentava escrever alguma coisa; saíam apenas rabiscos, e eu não ficava nada satisfeita — eu queria aprender a ler. Depois da sesta, meu pai se levantava, batendo o tênis no chão para retirar a terra. Ao ouvir esse som, rapidamente escondíamos as revistas debaixo do colchão de palha que minha mãe teceu para nós. Se meu pai visse alguém lendo, ficava bravo, dizendo que a leitura nos deixava preguiçosos, sem vontade de trabalhar. Mesmo que fosse só para brincar, tínhamos que acompanhá-lo à roça.
Ao nascer do dia, logo que o galo cantou já estávamos acordando para saborear o mel de mais um dia de alegrias.
Meu pai se preparava para desbravar a terra que se estendia do outro lado da estrada, logo acima de nossa casa, com uma foice na mão, derrubava a densa mata e os capins se rendiam na força de seus braços fortes. Enquanto que nós rolávamos ribanceira abaixo, deitados sobre os capins macios de marmelada que cobria metade da vegetação nas laterais do plano que meu pai roçava. As gargalhadas se misturavam com o barulho da foice e dos cantos do passarinhos que pareciam se reunir na dança de nossa alegria.
Ao meio dia, meu pai olhava para o céu, dizendo que já era hora do almoço e nós em disparada rumávamos pra nossa meiga casinha. Não precisávamos de relógio, os ponteiros escondidos do sol nos mostravam as horas.
Minha mãe já estava com a comida pronta, fresquinha e fumegante; o arroz com feijão nos esperava sobre o fogãozinho a lenha. Sem geladeira, a comida precisava ser feita incansavelmente todos os dias, geralmente acompanhada de ovos, algum legume ou verduras. Depois do almoço, cada um se recolhia ao seu quarto para tirar uma soneca. Meu pai roncava, enquanto nós líamos revistas — ou melhor, eu apenas olhava as figuras, enquanto minhas irmãs se perdiam em algum romance. Foi então que minha imaginação de criança começou a desejar aprender as sagradas letras, para ser como minhas irmãs mais velhas, que nunca se cansavam de ler. Aos cinco anos, eu já pegava papel e lápis e tentava escrever alguma coisa; saíam apenas rabiscos, e eu não ficava nada satisfeita — eu queria aprender a ler. Depois da sesta, meu pai se levantava, batendo o tênis no chão para retirar a terra. Ao ouvir esse som, rapidamente escondíamos as revistas debaixo do colchão de palha que minha mãe teceu para nós. Se meu pai visse alguém lendo, ficava bravo, dizendo que a leitura nos deixava preguiçosos, sem vontade de trabalhar. Mesmo que fosse só para brincar, tínhamos que acompanhá-lo à roça.
Assim que toda a vegetação se espalhava pela terra, era hora de colocar fogo para chamar quem a revolveria com um par de cavalos e um arado. Com a terra toda preparada, chegava o momento de plantar; então não havia mais tempo para brincadeiras, era hora de aprender a trabalhar. Apenas minha irmã mais nova não ia para a roça, pois tinha apenas três anos... Eu, com cinco, já ajudava como podia. Meu pai não nos obrigava a fazer trabalhos pesados, mas precisávamos contribuir de alguma forma. Às vezes, mal aguentava o peso da enxada e já estava arrancando o mato do meio do milharal. Não me incomodava, pois me divertia estar entre os adultos, fazendo trabalho de gente grande, e me esforçava para não fazer feio. Também brincava com bonecas feitas de espigas de milho, sonhando em um dia ter uma de verdade. Com trapos velhos, vestia as espigas e as embalava, enquanto fingia cozinhar num fogão improvisado com dois tijolos e latas vazias que minha mãe jogava no quintal. Sonhava em poder dizer que logo entraria no mundo dos adultos, pois queria muito aprender a ler e escrever, para mergulhar nos romances que minhas irmãs liam nas revistas. Eu só via as imagens, mas também queria entrar nas histórias. Até que, ao completar seis anos, chorava todos os dias pedindo para que meu pai me colocasse na escolinha perto de casa. Ele me levou até lá para falar com a professora, que, depois de tanta insistência e tocada pelas minhas lágrimas, aceitou me testar. Ao ver minha disposição e desempenho, não pôde recusar minha matrícula. Disse que, se o diretor aparecesse para visitar a escola, me esconderia embaixo da carteira, por eu ser tão pequena.
No primeiro dia de aula, senti-me a menina mais feliz do mundo, realizando meu primeiro sonho. Depois desse dia, me esforcei tanto que, no final do ano, só fiquei atrás, em resultado, da filha da professora. Entrei de vez no mundo das letras; já sabia escrever e dominava a escrita, podendo ler os romances das revistas de fotonovelas. Também passei a esconder as revistas emprestadas de colegas debaixo do colchão para que meu pai não brigasse comigo. Sempre que se aproximava a hora do almoço, minha ansiedade aumentava, pois mal podia esperar para voltar àquele mundo tão magnífico das letras e dos contos. O tempo passou rápido e minha sede de conhecimento crescia cada vez mais, mas, ao completar dez anos e concluir a quarta série, precisei parar de estudar. Foi então que entrei de fato no mundo adulto, ajudando nas tarefas como qualquer outro membro da família, tanto na roça quanto em casa. As brincadeiras só aconteciam à tarde ou à noite, quando meu pai se deitava sobre um saco de estopa no quintal e nós nos deitávamos ao seu lado para olhar as estrelas. Não havia televisão, apenas um rádio velho que tocava lindas canções sertanejas e nos fazia viajar na imaginação. Um dia, minha mãe voltou da cidade e foi até a roça nos levar o café da tarde, dizendo ter comprado duas bonecas: uma para minha irmã caçula e outra para mim. Quase morri de alegria. Pedi ao meu pai para buscar água e corri para realizar mais um sonho. Minha boneca era linda, de plástico, vestia um maiô verde também de plástico, e naquela noite dormi abraçada com ela.
Essas lembranças são as mais fortes na minha mente, pois marcaram profundamente a minha infância. Meu pai decidiu sair da nossa casinha, já que a terra onde morávamos era arrendada, e o dono iria construir outra casa ali perto. Nossa vida começou a melhorar: saímos de uma casa de barro para uma de madeira. Os cômodos eram tão pequenos quanto antes, mas a sala tinha o piso de tijolos; já a cozinha e os quartos continuavam com chão de terra batida. No mais, tudo ficou igual, exceto que meu único irmão passou a dormir na sala, pois meu pai comprou um sofá para ele, dando a nós quatro mulheres um pouco mais de privacidade. Nós dividíamos a mesma cama de casal em um quarto de quatro por quatro. O rio ficava mais perto, mas para chegar até ele era preciso descer uma ribanceira e depois subir carregando baldes cheios de água. Aos quatorze anos, meu pai deixou de plantar e nos mandou procurar trabalho em outro lugar. Como ele só nos dava comida, tivemos que nos virar para comprar roupas, trabalhando como empregados para diferentes pessoas. Ganhávamos tão pouco que mal dava para adquirir o básico na pequena feira da cidade. Ainda assim, eu não me importava, pois foi naquele cantinho escondido que conheci a felicidade de pertencer a uma família humilde, mas rica em valores. Aprendi que não é a casa ou as coisas que nos tornam importantes, mas sim o que aprendemos com nossos pais na infância. Essas bagagens que carregamos para sempre é que nos preparam para a vida.
Quando pequena, eu me sentia grande, pois meus sonhos eram maiores do que eu, e minhas realizações, embora vistas como pequenas, enchiam meu mundo de possibilidades. Meu crescimento espiritual se solidificava dia após dia, e o conhecimento aumentava à medida que eu crescia. As conquistas, a simplicidade de quem sabe manejar uma enxada, as conversas entre irmãos e os conselhos sábios dos meus pais construíram pilares de aço que formaram um caráter impossível de ser derrubado. Hoje, é com esses mesmos pilares que construo o alicerce da vida dos meus filhos, transmitindo tudo o que aprendi ao longo dos anos. Meus agradecimentos vão primeiramente a Deus, o oleiro da minha construção, e depois aos meus pais, que fizeram de mim uma herança para meus filhos, que, por sua vez, são a herança que deixo para Deus.
Autora: Herta Fischer Direitos reservados
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