bateu suas grandes asas, enchendo o ar de estrondosa melodia.
Joaninha acordou, ainda meio sonolenta, pensando
que o galo podia estar enganado sobre as horas.
Até que não seria mal dormir só mais alguns minutos, pensou:
Bateu os olhos sobre o relógio que descansava em
um pequeno tijolo de pedra ao lado de sua caminha e resmungou:
Não! o galo nunca se enganava. - Hora de levantar! exclamou:
exagerando no tom de voz.
Jogou os lençóis no assoalho, num ímpeto de fúria incontida, vociferou
algumas palavras, sem sentido, antes mesmo de por os pés ao chão.
Colocou os chinelos e saiu, cambaleante, arrastando seus
pezinhos. Abriu a porta do quarto, desapontada, com o
bafo gelado que vinha da janela da sala que ela esquecera aberta no
dia anterior.
Voltou para o quarto, apanhando um robe surrado que estava
dependurado em um cabideiro ao lado da cama. Estava um tanto desbotado, mas
era bem mais quente que o pijaminha com o qual dormira.
Sentiu-se bem mais animada, quando o tecido, flanelado, tocou,
levemente, em seu corpo.
A vida lá fora já estava em festa.
Mas, ainda não estava preparada para se alegrar.
Tinha muitas tarefas para realizar e não sentia nenhuma disposição.
Acendeu o fogo. bem devagar, tossindo com tanta fumaça.
Joaninha acordou, ainda meio sonolenta, pensando
que o galo podia estar enganado sobre as horas.
Até que não seria mal dormir só mais alguns minutos, pensou:
Bateu os olhos sobre o relógio que descansava em
um pequeno tijolo de pedra ao lado de sua caminha e resmungou:
Não! o galo nunca se enganava. - Hora de levantar! exclamou:
exagerando no tom de voz.
Jogou os lençóis no assoalho, num ímpeto de fúria incontida, vociferou
algumas palavras, sem sentido, antes mesmo de por os pés ao chão.
Colocou os chinelos e saiu, cambaleante, arrastando seus
pezinhos. Abriu a porta do quarto, desapontada, com o
bafo gelado que vinha da janela da sala que ela esquecera aberta no
dia anterior.
Voltou para o quarto, apanhando um robe surrado que estava
dependurado em um cabideiro ao lado da cama. Estava um tanto desbotado, mas
era bem mais quente que o pijaminha com o qual dormira.
Sentiu-se bem mais animada, quando o tecido, flanelado, tocou,
levemente, em seu corpo.
A vida lá fora já estava em festa.
Mas, ainda não estava preparada para se alegrar.
Tinha muitas tarefas para realizar e não sentia nenhuma disposição.
Acendeu o fogo. bem devagar, tossindo com tanta fumaça.
Demorou para lembrar que a chaminé estava entupida. Era mais uma coisa para se preocupar.
Colocou água na chaleira, dispondo-a sobre a chapa, enquanto a fumaça já
tomava todos os espaços da cozinha. Só então, lembrou que deveria abrir
a porta, antes que morresse sufocada.
Abriu a porta e a fumaceira se dissipou um pouco com o vento,
que, furiosamente, soprou para dentro da casa. Agora a casa toda fora tomada
pela fumaça. Tossia feito louca!
Limpar a chaminé tornara-se uma questão de sobrevida.
Sabia, fazia tempo, que isso teria de ser feito, mas, foi deixando para depois, agora,
não dava mais para adiar.
Abriu a porta do porão, estava escuro, não dava para ver nem o primeiro degrau da escada, a fumaça descia lá para baixo, fazendo com que a visão ficasse cada vez mais limitada.
Começou a procurar por uma lamparina, a língua de fogo. como ela á chamava.
Mas, a língua de fogo se escondera, não estava em nenhum lugar, parecia brincar de esconde-esconde.
Lembrou-se de tê-la usado na noite passada, antes de ir para a cama, então, deveria estar no quarto.
Foi para lá, coçando os olhos, que ardiam muito, adentrou o aposento escuro, abriu um pouco a janela e o ar fresco a fez suspirar de prazer.
Mas a danada da fumaça também tomou o mesmo caminho, parecia sua sombra. Era só encontrar um pouco de ar puro que já vinha roubar-lhe o espaço.
Ajoelhou-se ao chão á olhar embaixo da cama com um olho só, E lá estava a a linguinha apagada. Tinha o hábito de colocá-la lá quando não mais precisava de luz.
tomava todos os espaços da cozinha. Só então, lembrou que deveria abrir
a porta, antes que morresse sufocada.
Abriu a porta e a fumaceira se dissipou um pouco com o vento,
que, furiosamente, soprou para dentro da casa. Agora a casa toda fora tomada
pela fumaça. Tossia feito louca!
Limpar a chaminé tornara-se uma questão de sobrevida.
Sabia, fazia tempo, que isso teria de ser feito, mas, foi deixando para depois, agora,
não dava mais para adiar.
Abriu a porta do porão, estava escuro, não dava para ver nem o primeiro degrau da escada, a fumaça descia lá para baixo, fazendo com que a visão ficasse cada vez mais limitada.
Começou a procurar por uma lamparina, a língua de fogo. como ela á chamava.
Mas, a língua de fogo se escondera, não estava em nenhum lugar, parecia brincar de esconde-esconde.
Lembrou-se de tê-la usado na noite passada, antes de ir para a cama, então, deveria estar no quarto.
Foi para lá, coçando os olhos, que ardiam muito, adentrou o aposento escuro, abriu um pouco a janela e o ar fresco a fez suspirar de prazer.
Mas a danada da fumaça também tomou o mesmo caminho, parecia sua sombra. Era só encontrar um pouco de ar puro que já vinha roubar-lhe o espaço.
Ajoelhou-se ao chão á olhar embaixo da cama com um olho só, E lá estava a a linguinha apagada. Tinha o hábito de colocá-la lá quando não mais precisava de luz.
Foi até a cozinha, acendeu uma lasca de palha seca, e com ela, botou fogo na língua da lamparina, sua chama começou a dançar entre as ondas de fumaça.
Ela sorriu, como se a lamparina pudesse sorrir com ela. Tomando-a com uma das mãos, pela alça, desceu as escadas do porão.
Embora, linguinha alumiasse um degrau de cada vez, conseguiu chegar lá embaixo.
Encontrou a velha escada, escorada na parede, colocou sobre os ombros, para que pudesse segurar linguinha de fogo com uma das mãos.
Subir uma escada com outra escada, nas costas, foi mais difícil que descer sem ela. Mas a dificuldade não podia fazer com que desistisse.
Foi batendo nas paredes: ora de um lado, ora de outro, até atingir seu objetivo. Quando se viu na cozinha, colocou a escada no chão para poder descansar.
Com apenas uma assoprada, apagou a chama de língua de fogo, colocando-a num lugar de destaque, nunca saberia a hora de precisar dela, então, queria vê-la sempre por perto.
Saiu para fora, colocando a escada em pé sobre a parede. O ultimo degrau da escada, quase encostou na chaminé
-Que alivio! exclamou baixinho:
Deu certo!. Agora só falta subir com a vara!
Debaixo de um pé de abacateiro, achou a vara que queria. Um pedaço bem grande de madeira fina, a mesma que á ajudava a colher os belos frutos.
Levou a vara até o pé da escada, com muito jeito á encostou bem ao lado dela.. Começou a subir. Sentindo um calafrio na espinha, tinha muito medo de altura, por isso é que adiara tanto a limpeza da chaminé.
Subiu até o ultimo degrau, pegou o pedaço de madeira e foi erguendo devagarinho. Era muito mais difícil do que qualquer trabalho que já fizera.
Não deu certo. não aguentara o peso. A vara tinha que ser empurrada meio deitada, só, que, deitada, não tinha forças suficiente para levantá-la e impulsioná-la na boca da chaminé.
Desistiu. Desceu da escada, sentou-se sobre seus próprios pés, colocando a cabeça pra funcionar.
-Arame! pensou:
-Onde eu posso encontrar um bom pedaço de arame?
Lembrou-se da cerca do vizinho. Já tinha visto um rolo de arame por lá.
levantou-se, esfregando uma mão na outra para esquentar. Estava frio e suas mãos já começara a formigar.
Caminhou até o cercado, rezando para que o rolo ainda estivesse por lá.
E encontrou, que alivio!
Deu certo!. Agora só falta subir com a vara!
Debaixo de um pé de abacateiro, achou a vara que queria. Um pedaço bem grande de madeira fina, a mesma que á ajudava a colher os belos frutos.
Levou a vara até o pé da escada, com muito jeito á encostou bem ao lado dela.. Começou a subir. Sentindo um calafrio na espinha, tinha muito medo de altura, por isso é que adiara tanto a limpeza da chaminé.
Subiu até o ultimo degrau, pegou o pedaço de madeira e foi erguendo devagarinho. Era muito mais difícil do que qualquer trabalho que já fizera.
Não deu certo. não aguentara o peso. A vara tinha que ser empurrada meio deitada, só, que, deitada, não tinha forças suficiente para levantá-la e impulsioná-la na boca da chaminé.
Desistiu. Desceu da escada, sentou-se sobre seus próprios pés, colocando a cabeça pra funcionar.
-Arame! pensou:
-Onde eu posso encontrar um bom pedaço de arame?
Lembrou-se da cerca do vizinho. Já tinha visto um rolo de arame por lá.
levantou-se, esfregando uma mão na outra para esquentar. Estava frio e suas mãos já começara a formigar.
Caminhou até o cercado, rezando para que o rolo ainda estivesse por lá.
E encontrou, que alivio!
Agora, era só uma questão de tempo.
Pegou um alicate, cortou vários pedaços de arame do mesmo tamanho, os enrolando entre si. Amarrou-os numa das extremidades do robe, subindo a escada devagar. O arame vinha se arrastando atrás dela.
Assim que atingiu o topo, ajoelhou-se no telhado, erguendo-se um pouco sobre os pés.
Desamarrou o arame e foi introduzindo-o dentro da boca da chaminé, torcendo-o, com movimentos de vai e vem.
De repente, como num passe de mágica, a fumaça surgiu.
Desamarrou o arame e foi introduzindo-o dentro da boca da chaminé, torcendo-o, com movimentos de vai e vem.
De repente, como num passe de mágica, a fumaça surgiu.
Agora, era só descer! Esperar esfriar o fogão, aspirando-o para livrar-se da fuligem.
-Ufa! resfolegou a gemer:
-Um trabalho a menos! balbuciou; - pensei que não ia conseguir!
Devolveu o restante do arame aonde estava, Voltou para casa assoviando.
Entrou pela porta da sala, estava toda iluminada e limpa, a cozinha, a mesma coisa, o quarto também.
Subiu num banquinho, abriu a porta do armário, erguendo-se nas pontas dos pés, procurando por alguma coisa que pudesse espantar o mau cheiro da fumaça que ficara impregnada em todos os cômodos da casa..
Encontrou um defumador inteirinho, acendeu-o, colocando-o sobre a mesa, um delicioso perfume de canela encheu o ar.
-Ufa! resfolegou a gemer:
-Um trabalho a menos! balbuciou; - pensei que não ia conseguir!
Devolveu o restante do arame aonde estava, Voltou para casa assoviando.
Entrou pela porta da sala, estava toda iluminada e limpa, a cozinha, a mesma coisa, o quarto também.
Subiu num banquinho, abriu a porta do armário, erguendo-se nas pontas dos pés, procurando por alguma coisa que pudesse espantar o mau cheiro da fumaça que ficara impregnada em todos os cômodos da casa..
Encontrou um defumador inteirinho, acendeu-o, colocando-o sobre a mesa, um delicioso perfume de canela encheu o ar.
Ela mesma fabricara aquele defumador.
Amaciando cascas de canela até que virassem pó. colocando-o dentro de um pedaço de cano fino, os compactou com um pouco de fluido retirado da casca de pinho. Deixou secando por longo tempo até que ficasse no formato de velinhas.
Amaciando cascas de canela até que virassem pó. colocando-o dentro de um pedaço de cano fino, os compactou com um pouco de fluido retirado da casca de pinho. Deixou secando por longo tempo até que ficasse no formato de velinhas.
Ficou com um perfume delicioso, Daquele tipo de fumaça, ela gostava.
De repente, uma cabeça apareceu na porta.
De repente, uma cabeça apareceu na porta.
Um chumaço de cabelos, cor de fogo, enfeitava um rostinho, enferrujado, cheio de sardas. A bochecha, cor de rosa, formava um quadro quase que surreal.
-Pitico? Joaninha gritou cheia de excitação: - É você?
Pitico sorriu, mostrando as carreirinhas de dentes podres, falando alegremente: - Quem mais poderia ser, senão eu?
Joaninha fez uma cara feia e foi logo respondendo, num tom um tanto mau educado:- E só agora aparece, seu danado?
Depois que eu quase morri em cima do telhado?
- Em cima do telhado? ele repetiu:- Não vá me dizer que limpou a chaminé sozinha?
Ela olhou-a meio de soslaio, franzindo a testa e balançando a cabeça para baixo e para cima, numa forma de lhe dizer que sim.
- E você... seu louco, por onde andou?
Ele coçou a cabeça, mexendo, quase que com desespero, a cabeleira loira, antes de responder;
- Nem te conto! tive uma noite péssima!
- O que aconteceu? Joaninha perguntou um tanto preocupada:
- Minha mãe voltou!
-Como? repita por favor, eu acho que não entendi!
- Minha mãe voltou, nesta madrugada, nos contando que foi raptada.
-Ahn? Tá brincando comigo, né?
- Não! não estou!
Então me conta mais, quero saber tudo!
-Minha mãe disse que estava na floresta no dia em que sumiu. Procurava por cogumelos, quando uma nave desceu, num descampado, perto de onde estava.
Ela mal percebeu , estava tão entretida embaixo das árvores.
Só percebeu algo, quando jogaram uma grande rede sobre a sua cabeça.
-Pitico? Joaninha gritou cheia de excitação: - É você?
Pitico sorriu, mostrando as carreirinhas de dentes podres, falando alegremente: - Quem mais poderia ser, senão eu?
Joaninha fez uma cara feia e foi logo respondendo, num tom um tanto mau educado:- E só agora aparece, seu danado?
Depois que eu quase morri em cima do telhado?
- Em cima do telhado? ele repetiu:- Não vá me dizer que limpou a chaminé sozinha?
Ela olhou-a meio de soslaio, franzindo a testa e balançando a cabeça para baixo e para cima, numa forma de lhe dizer que sim.
- E você... seu louco, por onde andou?
Ele coçou a cabeça, mexendo, quase que com desespero, a cabeleira loira, antes de responder;
- Nem te conto! tive uma noite péssima!
- O que aconteceu? Joaninha perguntou um tanto preocupada:
- Minha mãe voltou!
-Como? repita por favor, eu acho que não entendi!
- Minha mãe voltou, nesta madrugada, nos contando que foi raptada.
-Ahn? Tá brincando comigo, né?
- Não! não estou!
Então me conta mais, quero saber tudo!
-Minha mãe disse que estava na floresta no dia em que sumiu. Procurava por cogumelos, quando uma nave desceu, num descampado, perto de onde estava.
Ela mal percebeu , estava tão entretida embaixo das árvores.
Só percebeu algo, quando jogaram uma grande rede sobre a sua cabeça.
Apareceram dois homens. Assim, eles se revelaram depois. Vieram de um planeta chamado Núbia, Disseram que fica no lado sul de Tropicália. Já ouviu falar?
-Não! Ela respondeu com uma certa aflição na voz:- E ai, conta mais!
-Disse. também, que á colocaram numa gaiola grande, depois á levaram até o descampado, onde uma nave, tamanho pequeno. os esperava , com um outro tripulante a bordo. Ele abriu, a porta, e os dois entraram num compartimento pequeno, atrás da cabine. ficaram sentados ao lado da gaiola até atracarem num lugar misterioso. Nada disseram, até descerem e á entregarem a uma dama.
Quando perguntou o que queriam com ela, eles á olharam, de cima á baixo, como se estivessem medindo um pedaço de pão e nada falaram.
Depois, penduraram a gaiola, numa cela pequena, Dentro de um compartimento, que mais parecia um emaranhado de ferros distorcidos. num lugar muito bagunçado e sujo. E lá á deixaram, com comida e água, por um longo tempo, até aparecer uma mulher desconhecida.
A mulher estava vestida de preto, com um véu preto sobre a cabeça. Deu para notar que era baixinha e muito brava, á contar pelos gritos de raiva com que se dirigia aos homens que á acompanhava..
-Nossa! Estou arrepiada, disse Joaninha:
-Eu também fiquei arrepiado, mas, isso não é tudo.
Minha mãe disse, que, pensara em escapar, mas, não tinha como - exceto, se deixassem a gaiola aberta. Porque, bem perto, de onde á colocaram, havia um hangar onde guardavam suas belas máquinas de voar.
Depois de alguns dias passados, ainda não havia sido tirada de lá e se perguntava o por quê?
Tinha medo de estar entre canibais, mas, a primeira impressão que teve, não foi essa.
Embora, não conseguisse decifrar o que falavam, parecia-lhe que tinham errado de pessoa e não era ela que queriam.
- Então, quem seria? joaninha perguntou com certa agonia na voz:
- Ela não sabe, só teve essa nítida impressão quando a mulher vestida de preto abanou as mãos com uma certa contrariedade na voz parecendo estar indignada com o "erro"!
- E como ela saiu de lá? como conseguiu escapar?
- Minha mãe contou, que após alguns dias, de completa solidão, alguém veio limpar a gaiola, tirando-a de lá, amarrando-a á perna de uma cadeira. Depois de haver limpado e desinfetado tudo, ele a desamarrou, colocando-a de volta a jaula.
-Não! Ela respondeu com uma certa aflição na voz:- E ai, conta mais!
-Disse. também, que á colocaram numa gaiola grande, depois á levaram até o descampado, onde uma nave, tamanho pequeno. os esperava , com um outro tripulante a bordo. Ele abriu, a porta, e os dois entraram num compartimento pequeno, atrás da cabine. ficaram sentados ao lado da gaiola até atracarem num lugar misterioso. Nada disseram, até descerem e á entregarem a uma dama.
Quando perguntou o que queriam com ela, eles á olharam, de cima á baixo, como se estivessem medindo um pedaço de pão e nada falaram.
Depois, penduraram a gaiola, numa cela pequena, Dentro de um compartimento, que mais parecia um emaranhado de ferros distorcidos. num lugar muito bagunçado e sujo. E lá á deixaram, com comida e água, por um longo tempo, até aparecer uma mulher desconhecida.
A mulher estava vestida de preto, com um véu preto sobre a cabeça. Deu para notar que era baixinha e muito brava, á contar pelos gritos de raiva com que se dirigia aos homens que á acompanhava..
-Nossa! Estou arrepiada, disse Joaninha:
-Eu também fiquei arrepiado, mas, isso não é tudo.
Minha mãe disse, que, pensara em escapar, mas, não tinha como - exceto, se deixassem a gaiola aberta. Porque, bem perto, de onde á colocaram, havia um hangar onde guardavam suas belas máquinas de voar.
Depois de alguns dias passados, ainda não havia sido tirada de lá e se perguntava o por quê?
Tinha medo de estar entre canibais, mas, a primeira impressão que teve, não foi essa.
Embora, não conseguisse decifrar o que falavam, parecia-lhe que tinham errado de pessoa e não era ela que queriam.
- Então, quem seria? joaninha perguntou com certa agonia na voz:
- Ela não sabe, só teve essa nítida impressão quando a mulher vestida de preto abanou as mãos com uma certa contrariedade na voz parecendo estar indignada com o "erro"!
- E como ela saiu de lá? como conseguiu escapar?
- Minha mãe contou, que após alguns dias, de completa solidão, alguém veio limpar a gaiola, tirando-a de lá, amarrando-a á perna de uma cadeira. Depois de haver limpado e desinfetado tudo, ele a desamarrou, colocando-a de volta a jaula.
Assim que ela entrou, ele foi chamado com urgência por um outro indivíduo. Na pressa de atender o chamado ele a deixou no chão, esquecendo de fechar a porta.
Imediatamente, minha mãe percebeu o erro, mas, continuou quietinha, espremida num canto.
Quando os dois rapazes sumiram de sua vista, ela fugiu, conseguindo chegar, rapidamente, perto de uma das naves - a mesma, que a teria, trazido até lá.
Ao entrar na cabine, percebeu que a nave tinha uma rota e a rota parecia indicar o nosso planeta, então, como ela já havia pilotado uma nave, por várias vezes, sabia mais ou menos como fazê-la funcionar.
Ligou a nave e a pôs em movimento apenas com um toque, fazendo-a voar com tanta velocidade, que quase desmaiou.
Por conseguinte, a nave parecia saber a direção e a trouxe de volta, exatamente onde a pegaram.
- E onde está a nave agora?
Na floresta! mas, minha mãe está morrendo de medo que eles possam voltar.
Imediatamente, minha mãe percebeu o erro, mas, continuou quietinha, espremida num canto.
Quando os dois rapazes sumiram de sua vista, ela fugiu, conseguindo chegar, rapidamente, perto de uma das naves - a mesma, que a teria, trazido até lá.
Ao entrar na cabine, percebeu que a nave tinha uma rota e a rota parecia indicar o nosso planeta, então, como ela já havia pilotado uma nave, por várias vezes, sabia mais ou menos como fazê-la funcionar.
Ligou a nave e a pôs em movimento apenas com um toque, fazendo-a voar com tanta velocidade, que quase desmaiou.
Por conseguinte, a nave parecia saber a direção e a trouxe de volta, exatamente onde a pegaram.
- E onde está a nave agora?
Na floresta! mas, minha mãe está morrendo de medo que eles possam voltar.
Nem quis ficar em casa, foi para a casa de uma vizinha.
- Nossa! E como nós podemos ajudar?
- Eu não sei, mas, pediram para levar você até a vila! Querem falar com todos os conselheiros daqui para decidirem o que fazer no caso deles voltarem planejando um ataque.
Seu Eurico pensa em atravessar a montanha para se encontrar com o sábio. Só ele pode antever o que pode acontecer com nosso povo, caso os Nubianos, resolvam levar a minha mãe de volta, agora, vai ser mais difícil, porque já sabemos o ocorrido.
Joaninha pegou um casaco e jogou-o sobre os ombros, falando com muita apreensão na voz: - Vamos logo, Tiquinho, antes que seja tarde demais!
Tiquinho obedeceu e se pôs a andar, apressadamente, enquanto joaninha o acompanhava.
Ao chegar ao vilarejo, já havia uma grande concentração de gente na praça.
Todos, falando ao mesmo tempo, até ela chegar.
Foi ela pisar na praça e todos os olhos se voltarem para ela.
Sentiu-se tímida, sabia, que havia uma áurea, de segredos, rondando-a, mas, sempre que fazia alguma pergunta a respeito, ficava sem resposta.
Seria esse o momento da revelação do segredo?
Josué, o Ancião, á abraçou com os olhos lacrimejando e lhe disse: - Joaninha, a coisa tá ficando branca!
Chegou a hora de saber toda a verdade sobre você, mas, não sou eu quem vai contar.
Os burros já estão preparados, temos uma longa jornada pela frente.
Ela o olhou com um certo medo no olhar: sempre sentiu que havia, um certo mistério, rondando a vila e tudo tinha a ver com ela e seus pais.
Desde muito cedo, se viu sozinha, mas nem tanto, sentia, que a cidade inteira, estava de olho nela. Sabia, que a ida de Tiquinho, todos os dias, em sua casa, não passava de vigília.
Desde que sua mãe e pai sumiram, ela ficou na casa do ancião, mas, tão logo crescera, tão logo a colocaram para morar sozinha. Ela não viu nenhuma dificuldade, pois, nunca deixaram que nada lhe faltasse.
Aprendeu a ser só e até gostava da reclusão, sentia que seria. tão necessário, quanto o ar que respirava.
Ela tinha apenas cinco anos de idade quando seus pais foram levados. Não se sabia aonde. Só tinha uma leve desconfiança, que em algum momento da historia, viriam atrás dela também.
-Para onde vamos? ela perguntou ao ancião:
- Para a floresta! ele respondeu: - O sábio lhe contará toda a verdade!
- Que verdade, ela se perguntou: - O que podia ser revelado, agora, depois de dezoito anos passados?
Depois de conversarem entre si, os homens trouxeram os burros. Eram cinco animais vigorosos. Os mais valentes do grupo foram subindo no lombo dos animais, colocaram-na sentada em cima dos mantimentos que um dos burros carregava.
Ainda era dia claro quando entraram na mata, mas, parecia noite, havia pouca claridade entre as frondosas árvores que se agrupavam, fazendo com que houvesse necessidade de contorná-las com um certo cuidado.
Embora fossem conversando entre si: sobre as condições de clima, ou até mesmo sobre algo que aconteceu recentemente, a tensão era visível.
Quando a noite começou a cair, eles desceram dos animais, acenderam o fogo, estenderam panos de saco sobre a relva.
Os barulhos noturnos ficaram mais intensos. mas, por incrível que pudesse parecer, ela não sentia medo. Era como sempre! sentia a magia da coragem correndo em suas veias.
Ajudou um dos homens a preparar algo para comer e juntos fizeram uma rápida refeição.
Depois se juntaram ao redor do fogo para dormir.
De manhã, antes mesmo que o sol nascesse, já estavam prontos para partir. Assim se sucedeu por cinco dias consecutivos.
Foram subidas e descidas entre caminhos largos e pequenos trilhos feitos por animais até alcançarem uma clareira.
Se abriu de repente com uma linda visão. Montanhas e mais montanhas sobrepunham umas as outras. entre um azul intenso de neblina.
Flores exóticas enfeitavam o sopé do morro mais alto e uma casinha de madeira se via ao longe.
Quase possível tocá-la com o coração, tanta magia descia de lá.
Desceram dos animais e os amarraram para que não fugissem. O ancião tocou de leve em seus ombros, fazendo uma mesura e falando a seguir: - Parabéns princesa!
Nunca lhe chamaram de princesa mas ela levou aquilo como um elogio, afinal, não é qualquer mulher jovem que conseguiria cavalgar entre a mata por cinco dias sem murmurações, totalmente privada de conforto.
Um dos homens pediu que ela ficasse um tanto afastada da montanha, ele se dirigiu até lá sozinho, puxando um cipó com rispidez, por várias vezes, balançado de lá para cá.
Até que uma porta se abriu e dentro dela saiu um velho homem de barbas e cabelos brancos aparentando uns cem anos de idade!
Ao olhar para baixo fez um sinal para que subissem.
Levou uns trinta minutos para escalarem a montanha, era muito difícil chegar lá em cima.
Joaninha sentia a palma das mãos arderem ao contato com as rochas. Embora houvesse buracos para colocar mãos e pés, a subida era muito íngreme. Precisava estar muito bem preparada para carregar o próprio corpo até quase o cume.
Ela estava atrás do grande mestre, o ancião parecia muito vigoroso apesar da idade, outros vinham atrás dela, sem dar um pio, todos concentrados no que faziam.
Quando colocaram os pés no patamar, sentiram-se aliviados. Uma mistura de prazer e alegria tomou conta do grupo. A vista era maravilhosa: podiam ver uma grande parte da floresta se estendendo até um riacho. Depois se perdia em cores que se mesclavam.
Lá em cima a imagem não era diferente. Uma grande concentração de pedras levava-os até a entrada da porta. Um paredão de granito parecia alcançar o céu.
O velho homem á abraçou, num ímpeto, com grande ternura e emoção na voz, lhe confidenciou: - seja bem vinda minha neta!
Depois do abraço apertado, ela o olhou nos olhos, parecia conhecê-lo, sentiu o cheiro de carinho no ar.
Como não desconfiara. Ali estava a sua família. Algo que ela desconhecia.
- Vovô? - ela se viu a pronunciar: - Sim, o homem respondeu:- Eu mesmo! Como você cresceu?
- Por que mora aqui? por que não me procurou?
- O velho lhe concedeu um sorriso, uma lágrimas teimosa desceu de seus olhos fazendo com que o sorriso morresse em seus lábios. E só então, depois de enxugar os olhos com as costas das mãos foi que lhe respondeu: - Uma pergunta de cada vez, mocinha!
-Depois que seus pais foram embora eu me vi na obrigação de me recolher para que você não corresse nenhum perigo.
Não poderia trazer você comigo, porque a reclusão não lhe faria nenhum bem . Também não poderia visitá-la, já que ninguém, ou quase ninguém, sabe quem você é.
- Ela o olhou com curiosidade no olhar e quase sem pensar o interrompeu com uma pergunta: - E quem eu sou?
- Já vou te contar toda a história.
Quer um suco?
-Por favor, muito obrigado!
O ancião encheu um copo com suco de framboesa e sentou-se num banquinho ao lado de Joaninha, que sorvendo aos goles o liquido doce, cruzou as pernas, pondo-se á escutar o avô.
- Então, ouça com atenção, minha neta: - Logo que sua mãe se casou com seu pai as coisas começaram a fazer sentido. Eu, no começo, não entendia bem como duas pessoas tão diferente, puderam se apaixonar.
Seu pai era tão retrospectivo e sua mãe uma mulher de fibra, faladeira e cheia de vigor em suas própria ideias.
Depois de algum tempo de casados começaram a desenvolver seus dons.
Certo dia, receberam a visita dos pais de Arão, seus avós paternos.
Tinham vindo de um outro planeta, tão antigo quanto o nosso sistema. Pareciam divindade e o eram, depois nos contaram.
Seu pai Arão, filho de Crem, Filho de Sé, deus do ar e da inteligência.
Em seu planeta eram a lei e a ordem. Depois que o pai foi morto por inimigos do bem, Arão tornou-se seu sucessor.
Os Nubianos não gostam de ordem, eles se mantém em caos numa cidade dominada por todo tipo de criminosos dispostos a matarem uns aos outros por qualquer motivo.
Esses criminosos tentaram invadir Estrape porque queriam abdicar do poder do bem para levarem a ordem até eles. Já que seu planeta não consegue se desenvolver por causa da violência excessiva e descontrolada que o rei Islo impõe aos seus súditos.
A inteligência de Crem não deu conta de tanta fúria, porque eles matam sem piedade. E num ímpeto de misericórdia jogada ao pé de um dos guardas de Islo, deixou aberta uma brecha para que uma espada do mal fosse lançada contra seu avô, que sucumbiu após dois anos em coma.
Apesar disso, o bem venceu, os inúmeros guardiões de Estrape conseguiram combater os Islos. Alguns deles conseguiram fugir e nunca mais voltaram.
Diz a lenda que a cada geração, os Crens, ficam mais fracos por se casarem com pessoas comuns. Então, em cada geração os Islos voltam para medirem forças..
Logo que você nasceu seus pais saíram para fazer uma viagem e nunca mais voltaram.
Todos os habitantes de Estrape e descendentes de Creem desconfiam que foram levados para Nubia. Desde então, de quando em quando, voltam para sondar nosso planeta à fim de sequestrarem todos, que estão, de alguma forma, ligados a inteligência e a ordem.
Acreditamos que a mãe de Tiquinho foi levada por engano. quando perceberam, fizeram-na voltar para causar pânico entre nós..
Eles sabem que temos aqui uma guardiã. Só não sabem quem é.
Nós não criamos você por causa dessa marca.
Você foi levada para a cidade, criada sozinha desde os seus seis anos de idade. Ninguém sabe quem você é, exceto, os anciões de Estrape.
Só resolvemos te contar porque corre grande perigo. Esse seus cabelos cor de fogo te trai.
Vou escrevendo pouco a pouco....
É uma historia difícil, consome muita energia....
Herta Fischer
Continuação 09/04/2019
-Porque meu cabelo é cor de fogo? Joaninha perguntou: - E porque
ele me trai?
- A cor de seu cabelo é a marca da divindade. Todos os que nasceram
com um propósito grande, como o seu, nasceram com a mesma cor de cabelo.
Foi por isso que te escondemos nas colinas e não deixamos que você ande por ai,
Os Nubianos estão doidos para colocar as mãos em você!
E o que mais me difere dos demais?
O avô deu uma olhada para o ancião que a trouxe fazendo um sinal com a cabeça.
O ancião, imediatamente, deu um empurrão em Joaninha que despencou muralha abaixo,
Tão de surpresa, quanto o empurrão, dois pares de asas rasgaram a sua carne. E o voo
a levou até a superfície do morro. deixando os guardas de boca aberta.
- Como... Uau! Como você fez isso? perguntou um deles:
Joaninha abriu a boca e não saiu nenhum som. fez um movimento com as mãos para
que esperassem um pouco.
Resfolegou até o coração se acalmar para depois responder: _ E não sei!
Suas asas se recolheram, sozinhas, sem ser preciso usar nenhum mecanismo.. Pensou consigo mesma: - E eu com tanto medo de altura! E sorriu por dentro...
Voltou para cima, do modo convencional, usando as mãos e os pés sobre os degraus de pedra. Não saberia usar as asas e ninguém poderia empurrá-la para cima.
O avô e o ancião estavam esperando por ela, sentados num banquinho de madeira entalhada, conversando animadamente. Até que perceberam uns dedinhos apontando na ultima saliência da escada.
O som carregado de cansaço chegava até eles, que olhando um para o outro, sorriam. O Ancião balbuciou: - que menina danada!
O avô orgulhoso respondeu com satisfação:- Esta é a neta que eu apresentarei ao nosso mundo!
Joaninha ficou entusiasmada com tanta coisa que aprendera sobre ela mesma, muita coisa estranha agora ficara claro.
Dormiram na casa do avô e pela manhã, já sem nenhuma necessidade de ficarem por lá, cavalgaram de volta para a cidadela.
Estrape é uma cidade tranquila, todos os habitantes são leais uns aos outros, nada foge do convencional. Tudo gira em torno da honra e do prazer de servir.
O Centro dessa união sempre foi Joaninha, mesmo sem ela saber.
Ela é a deusa da fertilidade dos bons princípios.
A terra onde ela pisa é abençoada, Os homens que moram perto de sua casa
só pensam no bem. Não há perigo naquela cidadela, exceto, se os Islos voltarem a rondar o planetinha. E isto já vem acontecendo..
Ao chegarem na cidadela, havia muita gente esperando por ela, sentados na praça. Muitos curiosos, a cercaram, querendo saber mais sobre a viagem;
Ela se retraiu um pouco não querendo se expor demais.
Um dia vocês saberão, ela disse:
Não tendo mais nada para falar, se dirigiu para casa, deixando as pessoas tão mais curiosas do que enquanto á esperavam. Havendo muito mais buchicho entre eles.
Ao adentrar em sua pequena casinha ela resfolegou sentindo-se um tanto nervosa. sempre acreditara que estava lá por alguma razão, que todos cuidavam dela, porque estava sozinha, jamais passou pela sua cabeça, que cuidavam dela por vê-la como uma salvadora, ou algo desse tipo.
Sorriu por dentro. sentindo-se um pouco mais aliviada ao constatar que precisavam dela e não ela deles.
A casa estava fria, muito fria naquele momento e o ar que vinha de fora parecia congelá-la. Apressou-se em acender o fogo. Percebeu que a limpeza da chaminé fez toda diferença. o fogo mostrou sua língua labareda sem nenhum sinal de fumaça. Logo aquecendo os cômodos da casa. Ao sentir-se mais quente, seu coração começou a bater mais devagar e uma sensação de alivio tomou posse de seu corpo.
Tentou se lembrar de seus pais, mas, por mais que se esforçasse, não conseguia formar nenhuma forma de rosto, á não ser o rosto de seu avô. Sentindo-se um tanto frustrada, pensou em tomar um banho quente, mas, para isso, teria que por água no fogo.
E foi o que ela fez em seguida, Havia pouco menos que duas canecas de água no pote, despejou tudo na chaleira. Enquanto a água fervia, ela foi até o córrego para buscar um pouco mais.
Lá fora, estava muito frio, uma garoa fininha caia de mansinho sobre a relva.
Queria fazer tudo o mais rápido possível, seus pés ligeiros quase a faziam tropeçar. Pensou em usar as asas desta vez, mas, uma vozinha dentro dela a fez mudar de ideia, Não deveria usar seus dons. ainda. embora, precisasse praticar. lembrou-se dos conselhos do avô: Não use suas asas enquanto não se fizer extremamente necessário, ninguém deve saber que você é a princesa, seria muito perigoso, para você e para a nossa cidade.
Depois que encheu os baldes, demorou muito para chegar em casa, teve que trocar de mãos umas duas vezes. Só não sentou para descansar porque estava muito frio. Ao entrar na cozinha, a água já borbulhava na chaleira. Foi para o quarto, pegou a bacia que se encontrava pendurada na parede, colocando-a ao chão. Procurou por seu pijama surrado e colocou-o em cima da cama, juntamente com a toalha. Voltou para a cozinha, temperando a água até que estivesse morna, e só então, despejou-a na bacia. Tirou a roupa, deitando dentro da bacia, sentindo a água morna sobre a carne macia, deliciou-se com o toque quente até que a envolvesse por completo.
Entrou em transe por alguns segundos deixando todo pensamento fugir para fora dela, Não queria pensar em nada nem se preocupar com seu destino.
Depois do banho. sentiu-se revigorada, uma força imensa se apoderou dela, como se outra pessoa tivesse tomado o lugar daquela menininha medrosa.
Preparou o jantar cantando, e se pôs a comer com voracidade. Só depois é que foi cuidar dos estábulos e dos animais.
Tiquinho fizera um bom trabalho em sua ausência. E não precisou de muito esforço para tratar dos animais.
Voltou para casa. colocou um disco na vitrola, deitando sobre a cama, logo pegou no sono.
Foi uma noite sem sonhos. O descanso fora completo.
No dia seguinte acordou com umas batidinhas na porta. levantou-se apressada, jogou uma coberta nas costas e rumou até a porta. deu de cara com Tiquinho, que com a s bochechas rosadas pelo frio, foi logo empurrando-a para dentro.
-Vamos conversar lá dentro, falava, enquanto a empurrava:
- Aconteceu alguma coisa? ela perguntou:
- Não! nenhuma novidade de minha parte. Mas, quero saber de você!
- De mim? O que quer saber? perguntou com uma voz meio sonolenta:
- Como foi a viagem?
- Boa, ela respondeu sem vontade alguma de falar sobre o assunto:
- Como assim? fez uma viagem de cinco dias, á cavalo, e me diz apenas que foi boa?
- Ah! Tiquinho. Eu até poderia descrever a você todas as nossas paradas, de como foi difícil dormir no relento, da fome que me assolou por várias vezes, mas, eu acho que você sabe disso melhor do que eu. Quantas aventuras você já viveu. Para mim, tudo foi novidade, mas, não saberia falar delas!
A única coisa que posso lhe falar, com sinceridade, é da emoção que senti em conhecer alguém da família!
- Seu avô?
- Sim, meu querido avô, que eu nem sabia que existia. Saber um pouco sobre meus pais, sobre mim, e sobre um pouco do que sempre procurei entender!
Sabia, ou melhor, sentia que havia uma áurea de mistério me rondando, a ponto, de, as vezes, me tirar o sono. Meu avô me contou alguma parte da historia, foi difícil para mim, saber que meus pais ainda podem estar em algum lugar, perdidos nesse imenso universo, E, eu, aqui, sem poder fazer nada!
Uma lágrima teimosa rolou abaixo de seus olhos de cor amendoada, fazia tempo que não chorava, nem sabia, ao certo, como controlar a emoção que dela tomava conta.
Tiquinho condoeu-se com sua dor, a encostou em seu ombro, falando com voz carinhosa: Chora, minha amiga, deixe fluir essa emoção sem se envergonhar, afinal, já era tempo de despertar essa mulher dentro de você, E com asas fica melhor ainda.
Ela levantou-se, de supetão, encarando-o, falando tão alto que se assustou com a sua própria voz:
- Como?
O menino ficou vermelho, mais vermelho que de costume, E meio sem graça, respondeu: - Desculpe-me, saiu sem querer, Eu já sei de tudo, sempre soube!
- E por que não me contou?
- Não podia, não antes de sua viagem, combinamos que seria assim!
- Combinamos, quem?
- Todos nós: eu, meus pais, os anciões, seu avô!
- Então, todos sabiam quem eu era?
-Sim, não é por acaso que a chamamos de Joaninha! quando na verdade seu verdadeiro nome é Kirk.
- Kirk? que nome esquisito, prefiro Joaninha!
Tiquinho, você se importa de me deixar sozinha, eu preciso pensar, tentar absorver tudo o que fiquei sabendo nestes últimos dias. Vá até a cidade e tente saber mais sobre os tais caras que levaram meus pais.
Tiquinho se despediu rumando apressadamente para a cidade enquanto joaninha tomava um banho quente.
A cidade ainda estava em polvorosa, muitos colonos vieram até a sede dos anciões para tentar saber mais sobre os ataques, que, por certo, viriam a acontecer. Onde há fumaça há fogo, dizia um dos homens, e como vamos nos preparar?
Um dos anciões que tinha por nome Cornelho, tentou desviar a conversa, falando sobre outros assuntos mais amenos: - Não há o que temer, Joaninha ainda está entre nós. Se formos atacados, nada de mal nos acontecerá. O problema seria se a levassem.
-Mas, e os ataques, o outro insistia:
-Não há ataques, o ancião gritou:
- Como não? Então o por que de tantos guardas ao redor da cidade?
- Só por precaução! - o ancião quase enfartava, tamanha era o medo do povo, todos sabiam que os nubianos, não pouparia, nenhum deles, só para ter o prazer de levar a ultima descendente da ordem para seu distrito.
Foi muito trabalhoso fazer com que o povo se acalmasse, só depois de muita conversa, eles, finalmente, saíram para a rua, rumando cada um para a sua casa.
Tiquinho apenas observou de longe, não queria falar com mais ninguém a respeito, estava tremendamente assustado, mas, ao mesmo tempo, cheio de esperança.
Naquela noite, especialmente, Estrape ficou diferente.
Já não era mais uma cidade tranquila, parecia esquecer seus próprios princípios, Havia gente em todos os lugares, e a fofoca rolava a solta, todas, voltadas para uma tal princesa que morava a alguns quilômetros dos seres comuns.
Já amanhecia, e como acordava cedo, Joaninha acordou ainda meio sonolenta, a noite mal dormida a deixou meio mole, no entanto, mesmo que quisesse, não conseguiria continuar na cama.
Saltou, rapidamente, sentindo uma leve tontura, voltou a sentar na borda, resfolegando mais devagar.
-Tenho que me controlar! - falava para ela mesma:
Respirou fundo e se levantou, desta vez. com mais controle sobre seu corpo.
Foi direto para a cozinha, acendendo o fogo, preparou um café e fez seu desjejum.
Este, definitivamente, não seria um bom dia. Logo que abriu a porta, percebeu que havia muita gente em sua porta. Era uma falação sem igual. Acostumada com o silêncio, sua cabeça não conseguia sequer assimilar o que cada um perguntava.
- Você vai para Nubia, enfrentar os Islos?
- O que vai acontecer conosco daqui para a frente?
- Vai tentar salvar seus pais?
Eram muitas vozes, todos perguntando ao mesmo tempo.
Até que ela fechou a porta, tentando ignorar aquela gente, mas, eles continuaram lá, até, que, depois de alguns instantes, já mais calma, ela resolveu sair.
Não deixou ninguém abrir a boca e já foi dizendo:
- Meus queridos espartanos, assim como vocês, ainda não sei o que fazer, acabei de saber quem eu sou, Nem sei usar minhas asas, nem como despertá-la. Só sei que preciso de tempo, até que entenda bem qual é o meu papel, Vão para casa e assim que eu puder, ou tiver algo, já pré-definido, prometo que os chamarei para uma reunião, por enquanto, só peço paciência!
Todos os olhares se viraram para a estrada, sem uma palavra sequer, foram tomando o rumo de casa.
Joaninha sorriu satisfeita, já começava a entender seu dom. As pessoas não só ouviam a sua voz, mas, também respeitavam seu falar.
Só duas semanas depois do ocorrido é que joaninha resolve testar seus dons. Foi para a floresta, desprovida de qualquer duvida, subiu numa árvore bem alta, olhou lá de cima. Sentiu um calafrio por dentro, suas pernas começaram a tremer, pensou:- Como posso voar se tenho tanto medo de altura?
Fechou os olhos e se jogou lá de cima. Agora, era funcionar ou morrer, pensou agoniada:
E de repente se viu voando, por alguns instantes, entre as árvores, contornando-as bem devagar, depois de algum tempo, já mais confiante, subiu mais um pouco, até onde podia ver, de longe, a sua cidade.
Era magnifica, pequenos pontos dos telhados iguais se desenhavam ao longe, e mais perto, estava sua casinha, que parecia um ponto minúsculo entre uma vegetação rasteira.
Lindo, ela balbuciou sorrindo:
Bateu com força seu par de asas e foi subindo, cortando os ares, ouvindo o barulho do deslocamento do ar, enquanto suas asas se fortaleciam mais e mais.
Foi perdendo o medo, aos poucos, um prazer enorme, de poder, subiu-lhe pelas ventas, parecia que tinha nascido fazendo aquilo.
Voou por muito tempo até ver um planetinha á sua frente, parecia suspenso no ar, um pequeno modelo de sua cidade natal, telhas pontiagudas subiam quase a tocar o céu, paredes brancas escorriam até o chão e muitos pontinhos negros dançando entre os prédios.
Resolveu explorar aquele lugar, desceu devagar numa pequena clareira, ao tocar o chão, sentiu um pouco de tontura,
Sentou-se num barranco esculpido, recolheu suas asas, como passe de mágica, esticou os braços, alongando-os preguiçosamente, o mesmo fez com as pernas.
E saiu andando, desbravando aquele lugar, nunca sentira-se tão viva.
Andou por algumas horas entre uma vegetação cerrada, abrindo com as mãos, até se ver em uma pracinha.
Era apenas um pedacinho de chão plano, com muitas florezinhas a desabrochar entre pedras circulares, alguns banquinhos espalhados em lugares aleatórios, e um riacho de águas límpidas a completar a maravilhosa visão.
Ouviu vozes e se virou, um rapaz e uma moça caminhavam de mãos dadas, vindo em sua direção, conversando alegremente.
Eram bem parecidos com ela, constatou para si mesma: Exceto pela cor de cabelo.
Eles se aproximaram mais. cheios de curiosidade, puxando conversa: - Você não é daqui?
- Como sabem? - ela se ouviu a perguntar:
- Seus cabelos são da cor de fogo, nunca visto por aqui!
- É mesmo? por que será?
- Dizem que só uma princesa nasce com essa cor de cabelo, Será mesmo? a moça perguntou:
- Vai saber não é?
O casal sorriu meio sem jeito e o rapaz perguntou de onde ela veio.
Ela pensou antes de responder, não deveria falar a verdade, ou deveria?
- Eu, balbuciou bem baixinho e depois completou: - Venho de um planeta muito próximo, Estrape, já ouviram falar?
- Nossa! E como nós podemos ajudar?
- Eu não sei, mas, pediram para levar você até a vila! Querem falar com todos os conselheiros daqui para decidirem o que fazer no caso deles voltarem planejando um ataque.
Seu Eurico pensa em atravessar a montanha para se encontrar com o sábio. Só ele pode antever o que pode acontecer com nosso povo, caso os Nubianos, resolvam levar a minha mãe de volta, agora, vai ser mais difícil, porque já sabemos o ocorrido.
Joaninha pegou um casaco e jogou-o sobre os ombros, falando com muita apreensão na voz: - Vamos logo, Tiquinho, antes que seja tarde demais!
Tiquinho obedeceu e se pôs a andar, apressadamente, enquanto joaninha o acompanhava.
Ao chegar ao vilarejo, já havia uma grande concentração de gente na praça.
Todos, falando ao mesmo tempo, até ela chegar.
Foi ela pisar na praça e todos os olhos se voltarem para ela.
Sentiu-se tímida, sabia, que havia uma áurea, de segredos, rondando-a, mas, sempre que fazia alguma pergunta a respeito, ficava sem resposta.
Seria esse o momento da revelação do segredo?
Josué, o Ancião, á abraçou com os olhos lacrimejando e lhe disse: - Joaninha, a coisa tá ficando branca!
Chegou a hora de saber toda a verdade sobre você, mas, não sou eu quem vai contar.
Os burros já estão preparados, temos uma longa jornada pela frente.
Ela o olhou com um certo medo no olhar: sempre sentiu que havia, um certo mistério, rondando a vila e tudo tinha a ver com ela e seus pais.
Desde muito cedo, se viu sozinha, mas nem tanto, sentia, que a cidade inteira, estava de olho nela. Sabia, que a ida de Tiquinho, todos os dias, em sua casa, não passava de vigília.
Desde que sua mãe e pai sumiram, ela ficou na casa do ancião, mas, tão logo crescera, tão logo a colocaram para morar sozinha. Ela não viu nenhuma dificuldade, pois, nunca deixaram que nada lhe faltasse.
Aprendeu a ser só e até gostava da reclusão, sentia que seria. tão necessário, quanto o ar que respirava.
Ela tinha apenas cinco anos de idade quando seus pais foram levados. Não se sabia aonde. Só tinha uma leve desconfiança, que em algum momento da historia, viriam atrás dela também.
-Para onde vamos? ela perguntou ao ancião:
- Para a floresta! ele respondeu: - O sábio lhe contará toda a verdade!
- Que verdade, ela se perguntou: - O que podia ser revelado, agora, depois de dezoito anos passados?
Depois de conversarem entre si, os homens trouxeram os burros. Eram cinco animais vigorosos. Os mais valentes do grupo foram subindo no lombo dos animais, colocaram-na sentada em cima dos mantimentos que um dos burros carregava.
Ainda era dia claro quando entraram na mata, mas, parecia noite, havia pouca claridade entre as frondosas árvores que se agrupavam, fazendo com que houvesse necessidade de contorná-las com um certo cuidado.
Embora fossem conversando entre si: sobre as condições de clima, ou até mesmo sobre algo que aconteceu recentemente, a tensão era visível.
Quando a noite começou a cair, eles desceram dos animais, acenderam o fogo, estenderam panos de saco sobre a relva.
Os barulhos noturnos ficaram mais intensos. mas, por incrível que pudesse parecer, ela não sentia medo. Era como sempre! sentia a magia da coragem correndo em suas veias.
Ajudou um dos homens a preparar algo para comer e juntos fizeram uma rápida refeição.
Depois se juntaram ao redor do fogo para dormir.
De manhã, antes mesmo que o sol nascesse, já estavam prontos para partir. Assim se sucedeu por cinco dias consecutivos.
Foram subidas e descidas entre caminhos largos e pequenos trilhos feitos por animais até alcançarem uma clareira.
Se abriu de repente com uma linda visão. Montanhas e mais montanhas sobrepunham umas as outras. entre um azul intenso de neblina.
Flores exóticas enfeitavam o sopé do morro mais alto e uma casinha de madeira se via ao longe.
Quase possível tocá-la com o coração, tanta magia descia de lá.
Desceram dos animais e os amarraram para que não fugissem. O ancião tocou de leve em seus ombros, fazendo uma mesura e falando a seguir: - Parabéns princesa!
Nunca lhe chamaram de princesa mas ela levou aquilo como um elogio, afinal, não é qualquer mulher jovem que conseguiria cavalgar entre a mata por cinco dias sem murmurações, totalmente privada de conforto.
Um dos homens pediu que ela ficasse um tanto afastada da montanha, ele se dirigiu até lá sozinho, puxando um cipó com rispidez, por várias vezes, balançado de lá para cá.
Até que uma porta se abriu e dentro dela saiu um velho homem de barbas e cabelos brancos aparentando uns cem anos de idade!
Ao olhar para baixo fez um sinal para que subissem.
Levou uns trinta minutos para escalarem a montanha, era muito difícil chegar lá em cima.
Joaninha sentia a palma das mãos arderem ao contato com as rochas. Embora houvesse buracos para colocar mãos e pés, a subida era muito íngreme. Precisava estar muito bem preparada para carregar o próprio corpo até quase o cume.
Ela estava atrás do grande mestre, o ancião parecia muito vigoroso apesar da idade, outros vinham atrás dela, sem dar um pio, todos concentrados no que faziam.
Quando colocaram os pés no patamar, sentiram-se aliviados. Uma mistura de prazer e alegria tomou conta do grupo. A vista era maravilhosa: podiam ver uma grande parte da floresta se estendendo até um riacho. Depois se perdia em cores que se mesclavam.
Lá em cima a imagem não era diferente. Uma grande concentração de pedras levava-os até a entrada da porta. Um paredão de granito parecia alcançar o céu.
O velho homem á abraçou, num ímpeto, com grande ternura e emoção na voz, lhe confidenciou: - seja bem vinda minha neta!
Depois do abraço apertado, ela o olhou nos olhos, parecia conhecê-lo, sentiu o cheiro de carinho no ar.
Como não desconfiara. Ali estava a sua família. Algo que ela desconhecia.
- Vovô? - ela se viu a pronunciar: - Sim, o homem respondeu:- Eu mesmo! Como você cresceu?
- Por que mora aqui? por que não me procurou?
- O velho lhe concedeu um sorriso, uma lágrimas teimosa desceu de seus olhos fazendo com que o sorriso morresse em seus lábios. E só então, depois de enxugar os olhos com as costas das mãos foi que lhe respondeu: - Uma pergunta de cada vez, mocinha!
-Depois que seus pais foram embora eu me vi na obrigação de me recolher para que você não corresse nenhum perigo.
Não poderia trazer você comigo, porque a reclusão não lhe faria nenhum bem . Também não poderia visitá-la, já que ninguém, ou quase ninguém, sabe quem você é.
- Ela o olhou com curiosidade no olhar e quase sem pensar o interrompeu com uma pergunta: - E quem eu sou?
- Já vou te contar toda a história.
Quer um suco?
-Por favor, muito obrigado!
O ancião encheu um copo com suco de framboesa e sentou-se num banquinho ao lado de Joaninha, que sorvendo aos goles o liquido doce, cruzou as pernas, pondo-se á escutar o avô.
- Então, ouça com atenção, minha neta: - Logo que sua mãe se casou com seu pai as coisas começaram a fazer sentido. Eu, no começo, não entendia bem como duas pessoas tão diferente, puderam se apaixonar.
Seu pai era tão retrospectivo e sua mãe uma mulher de fibra, faladeira e cheia de vigor em suas própria ideias.
Depois de algum tempo de casados começaram a desenvolver seus dons.
Certo dia, receberam a visita dos pais de Arão, seus avós paternos.
Tinham vindo de um outro planeta, tão antigo quanto o nosso sistema. Pareciam divindade e o eram, depois nos contaram.
Seu pai Arão, filho de Crem, Filho de Sé, deus do ar e da inteligência.
Em seu planeta eram a lei e a ordem. Depois que o pai foi morto por inimigos do bem, Arão tornou-se seu sucessor.
Os Nubianos não gostam de ordem, eles se mantém em caos numa cidade dominada por todo tipo de criminosos dispostos a matarem uns aos outros por qualquer motivo.
Esses criminosos tentaram invadir Estrape porque queriam abdicar do poder do bem para levarem a ordem até eles. Já que seu planeta não consegue se desenvolver por causa da violência excessiva e descontrolada que o rei Islo impõe aos seus súditos.
A inteligência de Crem não deu conta de tanta fúria, porque eles matam sem piedade. E num ímpeto de misericórdia jogada ao pé de um dos guardas de Islo, deixou aberta uma brecha para que uma espada do mal fosse lançada contra seu avô, que sucumbiu após dois anos em coma.
Apesar disso, o bem venceu, os inúmeros guardiões de Estrape conseguiram combater os Islos. Alguns deles conseguiram fugir e nunca mais voltaram.
Diz a lenda que a cada geração, os Crens, ficam mais fracos por se casarem com pessoas comuns. Então, em cada geração os Islos voltam para medirem forças..
Logo que você nasceu seus pais saíram para fazer uma viagem e nunca mais voltaram.
Todos os habitantes de Estrape e descendentes de Creem desconfiam que foram levados para Nubia. Desde então, de quando em quando, voltam para sondar nosso planeta à fim de sequestrarem todos, que estão, de alguma forma, ligados a inteligência e a ordem.
Acreditamos que a mãe de Tiquinho foi levada por engano. quando perceberam, fizeram-na voltar para causar pânico entre nós..
Eles sabem que temos aqui uma guardiã. Só não sabem quem é.
Nós não criamos você por causa dessa marca.
Você foi levada para a cidade, criada sozinha desde os seus seis anos de idade. Ninguém sabe quem você é, exceto, os anciões de Estrape.
Só resolvemos te contar porque corre grande perigo. Esse seus cabelos cor de fogo te trai.
Vou escrevendo pouco a pouco....
É uma historia difícil, consome muita energia....
Herta Fischer
Continuação 09/04/2019
-Porque meu cabelo é cor de fogo? Joaninha perguntou: - E porque
ele me trai?
- A cor de seu cabelo é a marca da divindade. Todos os que nasceram
com um propósito grande, como o seu, nasceram com a mesma cor de cabelo.
Foi por isso que te escondemos nas colinas e não deixamos que você ande por ai,
Os Nubianos estão doidos para colocar as mãos em você!
E o que mais me difere dos demais?
O avô deu uma olhada para o ancião que a trouxe fazendo um sinal com a cabeça.
O ancião, imediatamente, deu um empurrão em Joaninha que despencou muralha abaixo,
Tão de surpresa, quanto o empurrão, dois pares de asas rasgaram a sua carne. E o voo
a levou até a superfície do morro. deixando os guardas de boca aberta.
- Como... Uau! Como você fez isso? perguntou um deles:
Joaninha abriu a boca e não saiu nenhum som. fez um movimento com as mãos para
que esperassem um pouco.
Resfolegou até o coração se acalmar para depois responder: _ E não sei!
Suas asas se recolheram, sozinhas, sem ser preciso usar nenhum mecanismo.. Pensou consigo mesma: - E eu com tanto medo de altura! E sorriu por dentro...
Voltou para cima, do modo convencional, usando as mãos e os pés sobre os degraus de pedra. Não saberia usar as asas e ninguém poderia empurrá-la para cima.
O avô e o ancião estavam esperando por ela, sentados num banquinho de madeira entalhada, conversando animadamente. Até que perceberam uns dedinhos apontando na ultima saliência da escada.
O som carregado de cansaço chegava até eles, que olhando um para o outro, sorriam. O Ancião balbuciou: - que menina danada!
O avô orgulhoso respondeu com satisfação:- Esta é a neta que eu apresentarei ao nosso mundo!
Joaninha ficou entusiasmada com tanta coisa que aprendera sobre ela mesma, muita coisa estranha agora ficara claro.
Dormiram na casa do avô e pela manhã, já sem nenhuma necessidade de ficarem por lá, cavalgaram de volta para a cidadela.
Estrape é uma cidade tranquila, todos os habitantes são leais uns aos outros, nada foge do convencional. Tudo gira em torno da honra e do prazer de servir.
O Centro dessa união sempre foi Joaninha, mesmo sem ela saber.
Ela é a deusa da fertilidade dos bons princípios.
A terra onde ela pisa é abençoada, Os homens que moram perto de sua casa
só pensam no bem. Não há perigo naquela cidadela, exceto, se os Islos voltarem a rondar o planetinha. E isto já vem acontecendo..
Ao chegarem na cidadela, havia muita gente esperando por ela, sentados na praça. Muitos curiosos, a cercaram, querendo saber mais sobre a viagem;
Ela se retraiu um pouco não querendo se expor demais.
Um dia vocês saberão, ela disse:
Não tendo mais nada para falar, se dirigiu para casa, deixando as pessoas tão mais curiosas do que enquanto á esperavam. Havendo muito mais buchicho entre eles.
Ao adentrar em sua pequena casinha ela resfolegou sentindo-se um tanto nervosa. sempre acreditara que estava lá por alguma razão, que todos cuidavam dela, porque estava sozinha, jamais passou pela sua cabeça, que cuidavam dela por vê-la como uma salvadora, ou algo desse tipo.
Sorriu por dentro. sentindo-se um pouco mais aliviada ao constatar que precisavam dela e não ela deles.
A casa estava fria, muito fria naquele momento e o ar que vinha de fora parecia congelá-la. Apressou-se em acender o fogo. Percebeu que a limpeza da chaminé fez toda diferença. o fogo mostrou sua língua labareda sem nenhum sinal de fumaça. Logo aquecendo os cômodos da casa. Ao sentir-se mais quente, seu coração começou a bater mais devagar e uma sensação de alivio tomou posse de seu corpo.
Tentou se lembrar de seus pais, mas, por mais que se esforçasse, não conseguia formar nenhuma forma de rosto, á não ser o rosto de seu avô. Sentindo-se um tanto frustrada, pensou em tomar um banho quente, mas, para isso, teria que por água no fogo.
E foi o que ela fez em seguida, Havia pouco menos que duas canecas de água no pote, despejou tudo na chaleira. Enquanto a água fervia, ela foi até o córrego para buscar um pouco mais.
Lá fora, estava muito frio, uma garoa fininha caia de mansinho sobre a relva.
Queria fazer tudo o mais rápido possível, seus pés ligeiros quase a faziam tropeçar. Pensou em usar as asas desta vez, mas, uma vozinha dentro dela a fez mudar de ideia, Não deveria usar seus dons. ainda. embora, precisasse praticar. lembrou-se dos conselhos do avô: Não use suas asas enquanto não se fizer extremamente necessário, ninguém deve saber que você é a princesa, seria muito perigoso, para você e para a nossa cidade.
Depois que encheu os baldes, demorou muito para chegar em casa, teve que trocar de mãos umas duas vezes. Só não sentou para descansar porque estava muito frio. Ao entrar na cozinha, a água já borbulhava na chaleira. Foi para o quarto, pegou a bacia que se encontrava pendurada na parede, colocando-a ao chão. Procurou por seu pijama surrado e colocou-o em cima da cama, juntamente com a toalha. Voltou para a cozinha, temperando a água até que estivesse morna, e só então, despejou-a na bacia. Tirou a roupa, deitando dentro da bacia, sentindo a água morna sobre a carne macia, deliciou-se com o toque quente até que a envolvesse por completo.
Entrou em transe por alguns segundos deixando todo pensamento fugir para fora dela, Não queria pensar em nada nem se preocupar com seu destino.
Depois do banho. sentiu-se revigorada, uma força imensa se apoderou dela, como se outra pessoa tivesse tomado o lugar daquela menininha medrosa.
Preparou o jantar cantando, e se pôs a comer com voracidade. Só depois é que foi cuidar dos estábulos e dos animais.
Tiquinho fizera um bom trabalho em sua ausência. E não precisou de muito esforço para tratar dos animais.
Voltou para casa. colocou um disco na vitrola, deitando sobre a cama, logo pegou no sono.
Foi uma noite sem sonhos. O descanso fora completo.
No dia seguinte acordou com umas batidinhas na porta. levantou-se apressada, jogou uma coberta nas costas e rumou até a porta. deu de cara com Tiquinho, que com a s bochechas rosadas pelo frio, foi logo empurrando-a para dentro.
-Vamos conversar lá dentro, falava, enquanto a empurrava:
- Aconteceu alguma coisa? ela perguntou:
- Não! nenhuma novidade de minha parte. Mas, quero saber de você!
- De mim? O que quer saber? perguntou com uma voz meio sonolenta:
- Como foi a viagem?
- Boa, ela respondeu sem vontade alguma de falar sobre o assunto:
- Como assim? fez uma viagem de cinco dias, á cavalo, e me diz apenas que foi boa?
- Ah! Tiquinho. Eu até poderia descrever a você todas as nossas paradas, de como foi difícil dormir no relento, da fome que me assolou por várias vezes, mas, eu acho que você sabe disso melhor do que eu. Quantas aventuras você já viveu. Para mim, tudo foi novidade, mas, não saberia falar delas!
A única coisa que posso lhe falar, com sinceridade, é da emoção que senti em conhecer alguém da família!
- Seu avô?
- Sim, meu querido avô, que eu nem sabia que existia. Saber um pouco sobre meus pais, sobre mim, e sobre um pouco do que sempre procurei entender!
Sabia, ou melhor, sentia que havia uma áurea de mistério me rondando, a ponto, de, as vezes, me tirar o sono. Meu avô me contou alguma parte da historia, foi difícil para mim, saber que meus pais ainda podem estar em algum lugar, perdidos nesse imenso universo, E, eu, aqui, sem poder fazer nada!
Uma lágrima teimosa rolou abaixo de seus olhos de cor amendoada, fazia tempo que não chorava, nem sabia, ao certo, como controlar a emoção que dela tomava conta.
Tiquinho condoeu-se com sua dor, a encostou em seu ombro, falando com voz carinhosa: Chora, minha amiga, deixe fluir essa emoção sem se envergonhar, afinal, já era tempo de despertar essa mulher dentro de você, E com asas fica melhor ainda.
Ela levantou-se, de supetão, encarando-o, falando tão alto que se assustou com a sua própria voz:
- Como?
O menino ficou vermelho, mais vermelho que de costume, E meio sem graça, respondeu: - Desculpe-me, saiu sem querer, Eu já sei de tudo, sempre soube!
- E por que não me contou?
- Não podia, não antes de sua viagem, combinamos que seria assim!
- Combinamos, quem?
- Todos nós: eu, meus pais, os anciões, seu avô!
- Então, todos sabiam quem eu era?
-Sim, não é por acaso que a chamamos de Joaninha! quando na verdade seu verdadeiro nome é Kirk.
- Kirk? que nome esquisito, prefiro Joaninha!
Tiquinho, você se importa de me deixar sozinha, eu preciso pensar, tentar absorver tudo o que fiquei sabendo nestes últimos dias. Vá até a cidade e tente saber mais sobre os tais caras que levaram meus pais.
Tiquinho se despediu rumando apressadamente para a cidade enquanto joaninha tomava um banho quente.
A cidade ainda estava em polvorosa, muitos colonos vieram até a sede dos anciões para tentar saber mais sobre os ataques, que, por certo, viriam a acontecer. Onde há fumaça há fogo, dizia um dos homens, e como vamos nos preparar?
Um dos anciões que tinha por nome Cornelho, tentou desviar a conversa, falando sobre outros assuntos mais amenos: - Não há o que temer, Joaninha ainda está entre nós. Se formos atacados, nada de mal nos acontecerá. O problema seria se a levassem.
-Mas, e os ataques, o outro insistia:
-Não há ataques, o ancião gritou:
- Como não? Então o por que de tantos guardas ao redor da cidade?
- Só por precaução! - o ancião quase enfartava, tamanha era o medo do povo, todos sabiam que os nubianos, não pouparia, nenhum deles, só para ter o prazer de levar a ultima descendente da ordem para seu distrito.
Foi muito trabalhoso fazer com que o povo se acalmasse, só depois de muita conversa, eles, finalmente, saíram para a rua, rumando cada um para a sua casa.
Tiquinho apenas observou de longe, não queria falar com mais ninguém a respeito, estava tremendamente assustado, mas, ao mesmo tempo, cheio de esperança.
Naquela noite, especialmente, Estrape ficou diferente.
Já não era mais uma cidade tranquila, parecia esquecer seus próprios princípios, Havia gente em todos os lugares, e a fofoca rolava a solta, todas, voltadas para uma tal princesa que morava a alguns quilômetros dos seres comuns.
Já amanhecia, e como acordava cedo, Joaninha acordou ainda meio sonolenta, a noite mal dormida a deixou meio mole, no entanto, mesmo que quisesse, não conseguiria continuar na cama.
Saltou, rapidamente, sentindo uma leve tontura, voltou a sentar na borda, resfolegando mais devagar.
-Tenho que me controlar! - falava para ela mesma:
Respirou fundo e se levantou, desta vez. com mais controle sobre seu corpo.
Foi direto para a cozinha, acendendo o fogo, preparou um café e fez seu desjejum.
Este, definitivamente, não seria um bom dia. Logo que abriu a porta, percebeu que havia muita gente em sua porta. Era uma falação sem igual. Acostumada com o silêncio, sua cabeça não conseguia sequer assimilar o que cada um perguntava.
- Você vai para Nubia, enfrentar os Islos?
- O que vai acontecer conosco daqui para a frente?
- Vai tentar salvar seus pais?
Eram muitas vozes, todos perguntando ao mesmo tempo.
Até que ela fechou a porta, tentando ignorar aquela gente, mas, eles continuaram lá, até, que, depois de alguns instantes, já mais calma, ela resolveu sair.
Não deixou ninguém abrir a boca e já foi dizendo:
- Meus queridos espartanos, assim como vocês, ainda não sei o que fazer, acabei de saber quem eu sou, Nem sei usar minhas asas, nem como despertá-la. Só sei que preciso de tempo, até que entenda bem qual é o meu papel, Vão para casa e assim que eu puder, ou tiver algo, já pré-definido, prometo que os chamarei para uma reunião, por enquanto, só peço paciência!
Todos os olhares se viraram para a estrada, sem uma palavra sequer, foram tomando o rumo de casa.
Joaninha sorriu satisfeita, já começava a entender seu dom. As pessoas não só ouviam a sua voz, mas, também respeitavam seu falar.
Só duas semanas depois do ocorrido é que joaninha resolve testar seus dons. Foi para a floresta, desprovida de qualquer duvida, subiu numa árvore bem alta, olhou lá de cima. Sentiu um calafrio por dentro, suas pernas começaram a tremer, pensou:- Como posso voar se tenho tanto medo de altura?
Fechou os olhos e se jogou lá de cima. Agora, era funcionar ou morrer, pensou agoniada:
E de repente se viu voando, por alguns instantes, entre as árvores, contornando-as bem devagar, depois de algum tempo, já mais confiante, subiu mais um pouco, até onde podia ver, de longe, a sua cidade.
Era magnifica, pequenos pontos dos telhados iguais se desenhavam ao longe, e mais perto, estava sua casinha, que parecia um ponto minúsculo entre uma vegetação rasteira.
Lindo, ela balbuciou sorrindo:
Bateu com força seu par de asas e foi subindo, cortando os ares, ouvindo o barulho do deslocamento do ar, enquanto suas asas se fortaleciam mais e mais.
Foi perdendo o medo, aos poucos, um prazer enorme, de poder, subiu-lhe pelas ventas, parecia que tinha nascido fazendo aquilo.
Voou por muito tempo até ver um planetinha á sua frente, parecia suspenso no ar, um pequeno modelo de sua cidade natal, telhas pontiagudas subiam quase a tocar o céu, paredes brancas escorriam até o chão e muitos pontinhos negros dançando entre os prédios.
Resolveu explorar aquele lugar, desceu devagar numa pequena clareira, ao tocar o chão, sentiu um pouco de tontura,
Sentou-se num barranco esculpido, recolheu suas asas, como passe de mágica, esticou os braços, alongando-os preguiçosamente, o mesmo fez com as pernas.
E saiu andando, desbravando aquele lugar, nunca sentira-se tão viva.
Andou por algumas horas entre uma vegetação cerrada, abrindo com as mãos, até se ver em uma pracinha.
Era apenas um pedacinho de chão plano, com muitas florezinhas a desabrochar entre pedras circulares, alguns banquinhos espalhados em lugares aleatórios, e um riacho de águas límpidas a completar a maravilhosa visão.
Ouviu vozes e se virou, um rapaz e uma moça caminhavam de mãos dadas, vindo em sua direção, conversando alegremente.
Eram bem parecidos com ela, constatou para si mesma: Exceto pela cor de cabelo.
Eles se aproximaram mais. cheios de curiosidade, puxando conversa: - Você não é daqui?
- Como sabem? - ela se ouviu a perguntar:
- Seus cabelos são da cor de fogo, nunca visto por aqui!
- É mesmo? por que será?
- Dizem que só uma princesa nasce com essa cor de cabelo, Será mesmo? a moça perguntou:
- Vai saber não é?
O casal sorriu meio sem jeito e o rapaz perguntou de onde ela veio.
Ela pensou antes de responder, não deveria falar a verdade, ou deveria?
- Eu, balbuciou bem baixinho e depois completou: - Venho de um planeta muito próximo, Estrape, já ouviram falar?
Os dois olharam um para o outro, depois se viraram para ela, perguntando: E a sua nave, não ouvimos barulho nenhum.
- Ela não respondeu a pergunta e novamente repetiu:- Vocês conhecem Estrape?
- Sim, respondeu a moça:- Nós conhecemos, de ouvir falar.
Parecia que desviara a atenção deles, não fizeram mais nenhuma pergunta sobre a nave.
Ficaram conversando por longo tempo, até se despedirem e irem embora.
Joaninha novamente ficou só, sentindo um pouco de medo ao lembrar do que seu avô disse: - A cor do seu cabelo te denuncia.
Passou por uma loja e comprou um casaquinho vermelho com capuz, vestindo-o ali mesmo. Não se sentia bem com aquela cabeleireira dançando ao vento, sentiu-se mais segura escondendo-o sobre o casaco.
Enquanto isso em Estrape uma onda de terror invadia a cidade inteira. Tiquinho chegara, sem folego, avisando que joaninha sumira, de repente, como um passo de mágica, evaporara enquanto dormiam. Pra onde ela foi? eles se questionavam:
O caos já começava a se instalar por lá. Ninguém mais se entendia, todos achavam uma forma de tornar tudo mais rubro, alguns até comentavam sobre uma nave que descera na floresta.
A guerra está próxima, o jornaleiro comentava:- Fiquem em casa, deixem suas armas a vista!
- Que armas? os transeuntes se perguntavam: -Nunca precisamos disso, o que está acontecendo?
- A princesa sumiu,! de hora em hora a noticia circulava pela vila.
E joaninha estava a descobrir sobre sua pessoa, estava bem interessada em saber quem realmente era. Nem passava pela sua cabeça o quanto significava para uma sociedade inteira.
Descobriu que estava numa cidade bem próxima de Islo, aliás, é um território de Islos, foi conquistada, dominada e governada pelo Major Nubiano, Sir Nóbis e sua mulher Buria.
Que após um ano de guerra conseguiu dominar totalmente as regiões pertencentes a Runia, e lá construiu seus fortes. Guardas Islanos estão por toda parte, de norte a sul, mas, não afetam a vida das pessoas daquele lugar, por que em meio ao caos existe um lugar onde vive um príncipe e uma princesa, guardiã da paz e da ordem.
Joaninha ficou muito interessada em saber mais sobre o assunto. Andou até o centro distrital de Runia, a procurar pelo guardião do lugar e deu de cara com um homenzinho irritante, cheio de si, que mal respondeu a suas perguntas.
O individuo cheirava a álcool. parecia dormir sobre uma tina de mosto de cana. aliás, não era só ele que cheirava mal, o aposento inteiro exalava um cheiro esquisito, parecia que ela se adentrara em um canavial morto.
Tampou as narinas para não ficar bêbada com aquele cheiro horrível. Interpelou a pessoa sobre o
que sabia, dizendo que estava interessada em saber mais sobre a cidade.
O homenzinho só conseguia ficar mais irritado com as suas perguntas e conforme o tempo foi passando, viu que não ia conseguir nada.
Deixou-o caído sobre a poltrona de ferro fundido, com os braços largados no encosto.
O ar da rua estava bem mais prazeroso, um ventinho suave soprava do sul, ela encheu os pulmões com aquele ar puro e rumou para uma pracinha onde crianças brincavam.
Olhou de soslaio para verificar se não havia ninguém a rondar-lhe, e se aproximou.
Uma menina aparentando uns treze anos de idade, brincava sozinha, um pouco distante das demais, um par de olhos tristonhos rondava um buraquinho na terra de onde saiam milhares de formiguinhas, Com uma varinha em umas das mãos enfiadas no buraco, esperava que as formiguinhas subissem, para depois colocá-las dentro de um vidro.
Ela se aproximou, devagar, resfolegou bem de mansinho e perguntou:- O que está fazendo?
A menina ergueu a cabeça, um par de olhos esverdeados encontrou-se com os seus.
Primeiro, só olhou, sem nenhuma surpresa no olhar, depois, sorriu meio sem jeito, ficou a fitar-lhe por alguns segundos, para depois responder:- Gosto de brincar com os seres vivos. As formigas são as favoritas. Olhe bem para dentro do pote.
Ela olhou e viu um montinho agrupado bem no meio. -Sim, estou vendo!
- Percebe que elas não se largam?
- Sim!
- São inteligentes demais para entender, que sozinhas, elas não são nada, quando estão em perigo, chamam umas as outras para unirem forças. Tá vendo? apontou com o dedinho:
- Ela não respondeu a pergunta e novamente repetiu:- Vocês conhecem Estrape?
- Sim, respondeu a moça:- Nós conhecemos, de ouvir falar.
Parecia que desviara a atenção deles, não fizeram mais nenhuma pergunta sobre a nave.
Ficaram conversando por longo tempo, até se despedirem e irem embora.
Joaninha novamente ficou só, sentindo um pouco de medo ao lembrar do que seu avô disse: - A cor do seu cabelo te denuncia.
Passou por uma loja e comprou um casaquinho vermelho com capuz, vestindo-o ali mesmo. Não se sentia bem com aquela cabeleireira dançando ao vento, sentiu-se mais segura escondendo-o sobre o casaco.
Enquanto isso em Estrape uma onda de terror invadia a cidade inteira. Tiquinho chegara, sem folego, avisando que joaninha sumira, de repente, como um passo de mágica, evaporara enquanto dormiam. Pra onde ela foi? eles se questionavam:
O caos já começava a se instalar por lá. Ninguém mais se entendia, todos achavam uma forma de tornar tudo mais rubro, alguns até comentavam sobre uma nave que descera na floresta.
A guerra está próxima, o jornaleiro comentava:- Fiquem em casa, deixem suas armas a vista!
- Que armas? os transeuntes se perguntavam: -Nunca precisamos disso, o que está acontecendo?
- A princesa sumiu,! de hora em hora a noticia circulava pela vila.
E joaninha estava a descobrir sobre sua pessoa, estava bem interessada em saber quem realmente era. Nem passava pela sua cabeça o quanto significava para uma sociedade inteira.
Descobriu que estava numa cidade bem próxima de Islo, aliás, é um território de Islos, foi conquistada, dominada e governada pelo Major Nubiano, Sir Nóbis e sua mulher Buria.
Que após um ano de guerra conseguiu dominar totalmente as regiões pertencentes a Runia, e lá construiu seus fortes. Guardas Islanos estão por toda parte, de norte a sul, mas, não afetam a vida das pessoas daquele lugar, por que em meio ao caos existe um lugar onde vive um príncipe e uma princesa, guardiã da paz e da ordem.
Joaninha ficou muito interessada em saber mais sobre o assunto. Andou até o centro distrital de Runia, a procurar pelo guardião do lugar e deu de cara com um homenzinho irritante, cheio de si, que mal respondeu a suas perguntas.
O individuo cheirava a álcool. parecia dormir sobre uma tina de mosto de cana. aliás, não era só ele que cheirava mal, o aposento inteiro exalava um cheiro esquisito, parecia que ela se adentrara em um canavial morto.
Tampou as narinas para não ficar bêbada com aquele cheiro horrível. Interpelou a pessoa sobre o
que sabia, dizendo que estava interessada em saber mais sobre a cidade.
O homenzinho só conseguia ficar mais irritado com as suas perguntas e conforme o tempo foi passando, viu que não ia conseguir nada.
Deixou-o caído sobre a poltrona de ferro fundido, com os braços largados no encosto.
O ar da rua estava bem mais prazeroso, um ventinho suave soprava do sul, ela encheu os pulmões com aquele ar puro e rumou para uma pracinha onde crianças brincavam.
Olhou de soslaio para verificar se não havia ninguém a rondar-lhe, e se aproximou.
Uma menina aparentando uns treze anos de idade, brincava sozinha, um pouco distante das demais, um par de olhos tristonhos rondava um buraquinho na terra de onde saiam milhares de formiguinhas, Com uma varinha em umas das mãos enfiadas no buraco, esperava que as formiguinhas subissem, para depois colocá-las dentro de um vidro.
Ela se aproximou, devagar, resfolegou bem de mansinho e perguntou:- O que está fazendo?
A menina ergueu a cabeça, um par de olhos esverdeados encontrou-se com os seus.
Primeiro, só olhou, sem nenhuma surpresa no olhar, depois, sorriu meio sem jeito, ficou a fitar-lhe por alguns segundos, para depois responder:- Gosto de brincar com os seres vivos. As formigas são as favoritas. Olhe bem para dentro do pote.
Ela olhou e viu um montinho agrupado bem no meio. -Sim, estou vendo!
- Percebe que elas não se largam?
- Sim!
- São inteligentes demais para entender, que sozinhas, elas não são nada, quando estão em perigo, chamam umas as outras para unirem forças. Tá vendo? apontou com o dedinho:
- Ela olhou e entendeu o recado das formigas, percebeu que estava lidando com um ser iluminado, gostando de descobrir por si mesma, e tão logo perguntou: - Escuta, você, por acaso, não ouviu falar de algum casal que mora na floresta?
- A menina deixou de prestar atenção no frasco e olhando para ela de uma forma diferente, balbuciou, como se falasse com ela mesma:- Sim! meu pai sempre conta essa historia. Um príncipe e uma princesa estão acorrentados a uma árvore desde sempre!
Eles não podem se soltar e ninguém pode soltá-los, para que a ruína não venha nos rondar. Somos um povo abençoado, e essa benção só será possível se mantermos esse casal, lá, onde eles se encontram. Ninguém pode ajudá-los, nem se aproximarem daquele lugar para que não seja morto e não traga a morte para nosso povo.
- E o que mais? perguntou: sentindo-se bem interessada.
- Nada, a menina respondeu: só isso!
- Mas você sabe onde fica essa floresta?
- Lá longe! ela apontou com o dedinho - lá ! olha!
Dentro da mata erguia-se um topo coberto por uma vegetação alta, parecia bem longe, quase a sumir no céu.
Joaninha se despediu da menina, andou até a cabeceira de um riacho, longe dos olhos humanos e levantou voo, sobrevoou entre as árvores, não queria ser notada. Adentrou mata afora sem fazer ruído, vasculhou todos os montes. Depois de algumas horas, encontrou uma grande rocha cercada por uma ramada densa, olhando para cima, deparou com o monstro. Um pico que quase encostava nas nuvens.
Alcançou o chão com seus pés, recolheu suas asas, começando a retirar as ramagens com as mãos. Era um emaranhado de folhas e espinhos, até que encontrou a entrada.
Uma pequena gruta se abriu de repente, estreita, quase que precisou engatinhar para poder entrar.
Estava muito escuro, não dava para ver um metro a sua frente, sentiu medo. Sabia que podia voar até o topo, por fora, mas acreditava ser perda de tempo, se havia algum segredo naquele lugar, com toda certeza, a resposta estaria lá dentro.
Sentiu vontade de voltar, se arrependeu de não ter trazido seu amigo Tiquinho, que saberia o que fazer.
Precisaria de luz, e como faria se estava sem nada. Pensou! pensou e pensou!
Saiu da caverna e decidiu voltar a cidade. Parou outro pouco para pensar:
Não tinha dinheiro e nada para trocar por fogo, de nada adiantaria voltar.
Foi então que uma luz se acendeu em sua memória. Enquanto vinha para a mata, avistara um carvoeiro aceso, não se encontrava muito longe dali, se fosse contar com suas asas.
Pegou um pedaço de madeira seca, enrolando uma quantidade grande de musgo em sua ponta, Depois fez a coleta de resina de pinheiro, que foi enfiando dentro do chumaço.
Sorriu satisfeita.
Levantou voo, tomando muito cuidado ao passar entre as árvores. Não queria correr o risco de acabar caindo dos ares.
Logo que avistou a carvoaria, deu umas voltas em torno do forno, para verificar se não havia gente por perto. Pura sorte, falou para si mesma: Não havia viva alma no lugar.
Desceu, tirou alguns tijolos da boca do forno coma ajuda de um pedaço de metal que estava jogado ao lado. enfiando a ponta de sua luminária que logo se acendeu. colocou o tijolo de volta, queimando um pouco a ponta dos dedos. resfolegou, abanando as mãos.
Satisfeita e com um pouco de dor, abriu as asas, colocando a tocha nas costas, rumando, imediatamente, para a boca da caverna.
Agora, sim, pensou: lembrando-se de Tiquinho, provavelmente, ficaria orgulhoso dela.
Entrando na caverna, notou que havia movimentação dentro dela; rastros de gente aparecia em vários lugares e um caminho batido levava para a esquerda.
Resolveu então seguir por ele e foi adentrando, com muito cuidado, com ouvidos e olhos atentos a qualquer ruído.
Andou por entre os tuneis, por horas, até encontrar uma sala. Estava bem mais limpa do que todas as outras pela qual passara. Uma vara longa estava fincada num canto. Olhou para cima e viu uma gaiola grande. No primeiro momento parecia vazia.
-Ei! começou a gritar: - Tem alguém ai?
Nada! nenhuma resposta.
Gritou mais alto: - Tem alguém ai?
Foi então que uma cabeça apareceu entre as grades.
- Sim, estamos aqui! apareceu mais uma cabeça.
Parecia duas mulheres de cabelos longos, mas, tão logo se levantaram, ela percebeu se tratar de um casal.
- Quem é você? - uma voz feminina lhe perguntou:
- Veio trazer comida, estamos com fome!
Ela se arrepiou ao som daquela voz, não sabia por que, mas tinha a nítida impressão que era conhecida.
- Quem são vocês? ela balbuciou emocionada:
- Lhe interessa? dessa vez foi o homem a perguntar:
- Sim! me interessa e muito! Talvez eu seja a filha de vocês!
- Quatro par de olhos arregalados olharam para baixo, medindo-a.
- Tire o capuz! disse a mulher:
Ela tirou o capuz e sua cabeleira vermelha desceu até a cintura.
- Kirk?
- Me chamam de Joaninha! mas sei que sou Kirk, meu nome de batismo.
Filha! ouviu, entre gritos de emoção e lágrimas que chocavam-se nas paredes da rocha.
-Não é possível que seja você! como nos encontrou?
- Agora não! primeiro preciso saber como abrir essa gaiola!
- Não será nada fácil! é feita de ferro fundido e cerrada com cadeado!
Ela ficou quieta, por alguns instantes, á pensar no que fazer.
- Me dê uma luz! me dê uma luz! falava em seu íntimo:
Foi então, que olhando, mais demoradamente, para as paredes, viu uma chave pendurada em
uma espécie de cabide.
Pegou-a e levantou voo.
Sobre olhares de surpresa, enfiou a chave no cadeado que se abriu instantaneamente.
Se abraçaram em três, não dava, sequer, para esperar o abraço de um ou outro.
- Ainda sufocada pelo abraço de tanta saudade, ela se soltou, falando rapidamente: - Não temos tempo para isso, vocês também voam?
- Não! o pai respondeu com uma certa tristeza na voz:- Não voamos!
- Então, me esperem! Descerei até embaixo para acionar a descida!
E foi o que ela fez. Ao se encontrarem já com a chama quase se apagando, não havia mais tempo para explicações, então, saíram rapidamente da caverna.
Precisariam de uma nave, antes do sol se pôr. porque, esta seria a hora de perceberem a fuga, quando viriam alimentá-los.
Andaram por alguns metros e Joaninha falou com voz preocupada: - Fiquem aqui, vou ver se encontro uma nave!
- E como você fará isso? - o pai perguntou num tom muito preocupado:
Ela apenas sorriu, fazendo uma careta engraçada, depois falou com uma voz melodiosa:- Não se preocupe, papai, ainda não conhece a sua filha! E abrindo as suas graciosas asas, levantou voo e sumiu entre as árvores.
Já se acostumara a se divertir navegando com muito tato entre um arbusto e outro. Ao chegar perto de um galpão, desceu e recolheu as asas. Viu dois rapazes conversando alegremente, se aproximou.
-Por favor, quem é o responsável pelas naves?
-Todos nós, um deles falou, somos mecânicos e as naves não são de nossa propriedade.
- Estou com problemas, preciso urgentemente de uma. É questão de vida ou morte.
- Não vendemos nave, como já dissemos, somos apenas consertadores.
- Eu sei! já me disseram! só que eu preciso de uma, não quero comprar, e sim, emprestar, será que não podem fazer isso para uma dama?
Os dois rapazes caíram na gargalhada e responderam ao mesmo tempo: - Emprestar? E por que faríamos isso para uma desconhecida?
Ela pensou antes de responder; soltou a cabeleira que tinha prendido dentro do capuz, deu uma leve balançada nos cabelos soltos, deu um sorriso que deixaria qualquer rapaz de queixo caído.
- Olhou bem dentro dos olhos do rapaz que parecia bem mais velho do que o outro, falou:- Olha, eu preciso mesmo de uma nave e só você pode me ajudar. Prometo que a devolverei ainda hoje, Dou esse bracelete de ouro em troca, poderá ficar com ele, mesmo quando eu devolver a nave.
- O homem á olhou com surpresa, antes de responder: - deve significar muito para você, senão, não nos ofereceria uma joia dessas!
Tá Bom! pode levar a minha! mas á quero de volta logo, vou precisar voltar para casa!
Falando isso, entregou-lhe as chaves, não sem antes, quase arrancar o bracelete de suas mãos.
Ela pulou dentro da nave com medo de que o homem se arrependesse, colocou a chave na ignição, um ronco medonho tomou conta do espaço. Estavam num lugar fechado, levantando uma fumaça escura que chegou até o telhado. Pisou no acelerador, a nave saiu de ímpeto, levantando o ar, quase derrubando um dos homens, que gritou: - Vai devagar! Não quero que danifique a nave!
Mas ela nem escutou, acelerou mais ainda até se perder de vista.
- A menina deixou de prestar atenção no frasco e olhando para ela de uma forma diferente, balbuciou, como se falasse com ela mesma:- Sim! meu pai sempre conta essa historia. Um príncipe e uma princesa estão acorrentados a uma árvore desde sempre!
Eles não podem se soltar e ninguém pode soltá-los, para que a ruína não venha nos rondar. Somos um povo abençoado, e essa benção só será possível se mantermos esse casal, lá, onde eles se encontram. Ninguém pode ajudá-los, nem se aproximarem daquele lugar para que não seja morto e não traga a morte para nosso povo.
- E o que mais? perguntou: sentindo-se bem interessada.
- Nada, a menina respondeu: só isso!
- Mas você sabe onde fica essa floresta?
- Lá longe! ela apontou com o dedinho - lá ! olha!
Dentro da mata erguia-se um topo coberto por uma vegetação alta, parecia bem longe, quase a sumir no céu.
Joaninha se despediu da menina, andou até a cabeceira de um riacho, longe dos olhos humanos e levantou voo, sobrevoou entre as árvores, não queria ser notada. Adentrou mata afora sem fazer ruído, vasculhou todos os montes. Depois de algumas horas, encontrou uma grande rocha cercada por uma ramada densa, olhando para cima, deparou com o monstro. Um pico que quase encostava nas nuvens.
Alcançou o chão com seus pés, recolheu suas asas, começando a retirar as ramagens com as mãos. Era um emaranhado de folhas e espinhos, até que encontrou a entrada.
Uma pequena gruta se abriu de repente, estreita, quase que precisou engatinhar para poder entrar.
Estava muito escuro, não dava para ver um metro a sua frente, sentiu medo. Sabia que podia voar até o topo, por fora, mas acreditava ser perda de tempo, se havia algum segredo naquele lugar, com toda certeza, a resposta estaria lá dentro.
Sentiu vontade de voltar, se arrependeu de não ter trazido seu amigo Tiquinho, que saberia o que fazer.
Precisaria de luz, e como faria se estava sem nada. Pensou! pensou e pensou!
Saiu da caverna e decidiu voltar a cidade. Parou outro pouco para pensar:
Não tinha dinheiro e nada para trocar por fogo, de nada adiantaria voltar.
Foi então que uma luz se acendeu em sua memória. Enquanto vinha para a mata, avistara um carvoeiro aceso, não se encontrava muito longe dali, se fosse contar com suas asas.
Pegou um pedaço de madeira seca, enrolando uma quantidade grande de musgo em sua ponta, Depois fez a coleta de resina de pinheiro, que foi enfiando dentro do chumaço.
Sorriu satisfeita.
Levantou voo, tomando muito cuidado ao passar entre as árvores. Não queria correr o risco de acabar caindo dos ares.
Logo que avistou a carvoaria, deu umas voltas em torno do forno, para verificar se não havia gente por perto. Pura sorte, falou para si mesma: Não havia viva alma no lugar.
Desceu, tirou alguns tijolos da boca do forno coma ajuda de um pedaço de metal que estava jogado ao lado. enfiando a ponta de sua luminária que logo se acendeu. colocou o tijolo de volta, queimando um pouco a ponta dos dedos. resfolegou, abanando as mãos.
Satisfeita e com um pouco de dor, abriu as asas, colocando a tocha nas costas, rumando, imediatamente, para a boca da caverna.
Agora, sim, pensou: lembrando-se de Tiquinho, provavelmente, ficaria orgulhoso dela.
Entrando na caverna, notou que havia movimentação dentro dela; rastros de gente aparecia em vários lugares e um caminho batido levava para a esquerda.
Resolveu então seguir por ele e foi adentrando, com muito cuidado, com ouvidos e olhos atentos a qualquer ruído.
Andou por entre os tuneis, por horas, até encontrar uma sala. Estava bem mais limpa do que todas as outras pela qual passara. Uma vara longa estava fincada num canto. Olhou para cima e viu uma gaiola grande. No primeiro momento parecia vazia.
-Ei! começou a gritar: - Tem alguém ai?
Nada! nenhuma resposta.
Gritou mais alto: - Tem alguém ai?
Foi então que uma cabeça apareceu entre as grades.
- Sim, estamos aqui! apareceu mais uma cabeça.
Parecia duas mulheres de cabelos longos, mas, tão logo se levantaram, ela percebeu se tratar de um casal.
- Quem é você? - uma voz feminina lhe perguntou:
- Veio trazer comida, estamos com fome!
Ela se arrepiou ao som daquela voz, não sabia por que, mas tinha a nítida impressão que era conhecida.
- Quem são vocês? ela balbuciou emocionada:
- Lhe interessa? dessa vez foi o homem a perguntar:
- Sim! me interessa e muito! Talvez eu seja a filha de vocês!
- Quatro par de olhos arregalados olharam para baixo, medindo-a.
- Tire o capuz! disse a mulher:
Ela tirou o capuz e sua cabeleira vermelha desceu até a cintura.
- Kirk?
- Me chamam de Joaninha! mas sei que sou Kirk, meu nome de batismo.
Filha! ouviu, entre gritos de emoção e lágrimas que chocavam-se nas paredes da rocha.
-Não é possível que seja você! como nos encontrou?
- Agora não! primeiro preciso saber como abrir essa gaiola!
- Não será nada fácil! é feita de ferro fundido e cerrada com cadeado!
Ela ficou quieta, por alguns instantes, á pensar no que fazer.
- Me dê uma luz! me dê uma luz! falava em seu íntimo:
Foi então, que olhando, mais demoradamente, para as paredes, viu uma chave pendurada em
uma espécie de cabide.
Pegou-a e levantou voo.
Sobre olhares de surpresa, enfiou a chave no cadeado que se abriu instantaneamente.
Se abraçaram em três, não dava, sequer, para esperar o abraço de um ou outro.
- Ainda sufocada pelo abraço de tanta saudade, ela se soltou, falando rapidamente: - Não temos tempo para isso, vocês também voam?
- Não! o pai respondeu com uma certa tristeza na voz:- Não voamos!
- Então, me esperem! Descerei até embaixo para acionar a descida!
E foi o que ela fez. Ao se encontrarem já com a chama quase se apagando, não havia mais tempo para explicações, então, saíram rapidamente da caverna.
Precisariam de uma nave, antes do sol se pôr. porque, esta seria a hora de perceberem a fuga, quando viriam alimentá-los.
Andaram por alguns metros e Joaninha falou com voz preocupada: - Fiquem aqui, vou ver se encontro uma nave!
- E como você fará isso? - o pai perguntou num tom muito preocupado:
Ela apenas sorriu, fazendo uma careta engraçada, depois falou com uma voz melodiosa:- Não se preocupe, papai, ainda não conhece a sua filha! E abrindo as suas graciosas asas, levantou voo e sumiu entre as árvores.
Já se acostumara a se divertir navegando com muito tato entre um arbusto e outro. Ao chegar perto de um galpão, desceu e recolheu as asas. Viu dois rapazes conversando alegremente, se aproximou.
-Por favor, quem é o responsável pelas naves?
-Todos nós, um deles falou, somos mecânicos e as naves não são de nossa propriedade.
- Estou com problemas, preciso urgentemente de uma. É questão de vida ou morte.
- Não vendemos nave, como já dissemos, somos apenas consertadores.
- Eu sei! já me disseram! só que eu preciso de uma, não quero comprar, e sim, emprestar, será que não podem fazer isso para uma dama?
Os dois rapazes caíram na gargalhada e responderam ao mesmo tempo: - Emprestar? E por que faríamos isso para uma desconhecida?
Ela pensou antes de responder; soltou a cabeleira que tinha prendido dentro do capuz, deu uma leve balançada nos cabelos soltos, deu um sorriso que deixaria qualquer rapaz de queixo caído.
- Olhou bem dentro dos olhos do rapaz que parecia bem mais velho do que o outro, falou:- Olha, eu preciso mesmo de uma nave e só você pode me ajudar. Prometo que a devolverei ainda hoje, Dou esse bracelete de ouro em troca, poderá ficar com ele, mesmo quando eu devolver a nave.
- O homem á olhou com surpresa, antes de responder: - deve significar muito para você, senão, não nos ofereceria uma joia dessas!
Tá Bom! pode levar a minha! mas á quero de volta logo, vou precisar voltar para casa!
Falando isso, entregou-lhe as chaves, não sem antes, quase arrancar o bracelete de suas mãos.
Ela pulou dentro da nave com medo de que o homem se arrependesse, colocou a chave na ignição, um ronco medonho tomou conta do espaço. Estavam num lugar fechado, levantando uma fumaça escura que chegou até o telhado. Pisou no acelerador, a nave saiu de ímpeto, levantando o ar, quase derrubando um dos homens, que gritou: - Vai devagar! Não quero que danifique a nave!
Mas ela nem escutou, acelerou mais ainda até se perder de vista.
A tentativa de fuga
Joaninha sobrevoou o lugar, estava meio perdida, muito emocionada com tudo o que acontecia. Com muito tato, achou o lugar onde escondera seu pai e sua mãe. Pousou com delicadeza.
Joaninha sobrevoou o lugar, estava meio perdida, muito emocionada com tudo o que acontecia. Com muito tato, achou o lugar onde escondera seu pai e sua mãe. Pousou com delicadeza.
Desceu da nave, andou sobre a relva macia, até encontrar a abertura da gruta, assim que avistou duas figuras sentadas sobre uma pedra, os chamou para fora.
Sem balbuciar nenhuma palavra, rumaram até a nave.
Já instalados, dentro do veículo, o pai lhe perguntou:- Como sabe pilotar essa geringonça?
Ela olhou para ele como se não tivesse entendido a pergunta em questão, seus olhinhos amendoados quase se tornaram violeta, tanto a aflição.
Só então se deu conta de que nunca aprendera.
Decidiu, por bem, não fazer nenhuma declaração a respeito, apenas sacudiu os ombros, apontando para o planeta de perigo e ligou a nave.
Um portal cor de rosa se abriu imediatamente, apontando-lhe a direção a seguir.
Meia hora depois, estava pronta para aterrissar bem próximo á sua pequena casinha. Ao descerem sem maiores sustos, deixou os seus pais esperando por ela, colocando a nave em movimento novamente, desta vez para escondê-la na floresta.
Voltou voando, encontrou seus pais no mesmo lugar onde deixara..
Rumaram para casa, em silencio. Só depois de se verem a salvo, já com as portas fechadas, começaram a conversar.
Foi sua mãe quem quebrou o silencio, dizendo-lhe do quanto se orgulhava dela.
- Sua casa é bem simpática, filha! balbuciou: - Como consegue manter tudo funcionando?
Ela sorriu, se aproximou, colocando um dos braços a rodear o pescoço da mãe e em tom carinhoso falou: - Seria bem mais fácil se estivessem aqui comigo, mas, como não estavam, eu tive que me virar.
O pai á olhou com tristeza, quase sentindo culpa por tudo que a filha teve que passar em sua ausência.
Com uma emoção incontida disse: - Roubaram-nos!
A filha não entendeu ,de imediato, estava muito cansada, devido a adrenalina das ultimas horas, olhou para o pai como a interrogar-lhe com os olhos e ele completou:
- Roubaram a possibilidade de vê-la crescer, cuidar de você, assim como qualquer pai e mãe sonhariam.
Nós... fez uma pausa: - Eu e sua mãe sofremos todos esses anos pensando em como estaria, se teria sobrevivido, ou se á tinham sequestrado também, embora, tenhamos feito de tudo para que não soubessem de sua existência.
Acho que os nossos conterrâneos fizeram um bom trabalho e você se tornou essa criatura maravilhosa, que, embora, tenha nascido como uma princesa, soube se virar como qualquer um.
Nós não tivemos escolha. Ou entravamos em guerra, botando toda a sociedade em risco, ou nos entregávamos as correntes. E as correntes nos pareceram bem mais atrativas do que sacrificar todos vocês.
A filha se soltou da mãe, com um resfolegar profundo, se enchendo de carinho por aquele homem a sua frente, embora lhe parecesse desconhecido, se jogou em seus braços, balbuciando baixinho em seus ouvidos: - você não tem culpa papai, aliás, ninguém tem culpa, a não ser os Islos!
E é com grande veracidade, que, agora, juntos, vamos combatê-los, um a um.
Por hora, vamos descansar, vou preparar um banho quente e algo para comermos.
Enquanto seus pais se banhavam, ela foi verificar seus animais. Depois de alimentá-los, voltou, encontrando sua mãe a preparar o jantar.
Falaram ainda sobre alguns assuntos antes de se recolherem para o quarto.
Logo que o galo cantou, pela manhã, Joaninha despertou com um belo sorriso nos lábios ao se lembrar do dia anterior, olhou para a porta do quarto, ao lado, não pode deixar de dar uns pulinhos de alegria. Não estava mais só! Apenas uma porta á separava das pessoas mais importantes de sua vida.
Foi para a cozinha, preparou o desjejum, colocou tudo a mesa, sentando e saboreando tudo com muito mais gosto que de costume.
Enquanto ainda desfrutava do café, ouviu uma conhecida batidinha na porta. Levantou de um salto e quase que a correr, abriu a porta se jogando nos braços de Tiquinho, que surpreso, quase teve um enfarto.
- Como sabia que era eu? falou com um ar de zombaria:
- Como não saber? Ela retrucou, puxando-o para dentro.
Senta ai e toma café comigo, tenho um montão de historia para te contar!
Tiquinho fazia uma cara feia e ela logo notou.
- O que esta acontecendo?
- O que esta acontecendo, ele a imitou:- Onde você se meteu? Isto eu quero saber, porque nos deixou em pânico. E se apresse, porque, a cidade inteira estará aqui, tão logo acordem.
Joaninha arregalou os olhos se fazendo de desentendida, o que ela menos queria, naquele momento, era Tiquinho lhe dando uma lição de moral.
- Tive meus motivos, se viu a falar: - E quando você souber qual é, tenho certeza, que toda essa braveza passa!
Nesse momento, a porta do quarto se abriu e por ela saiu um casal de mãos dadas. surpreendendo o visitante que tão logo balbuciou: Quem são?
Joaninha foi abrir os lábios e ouviu o som de uma outra voz respondendo por ela: - Somos os pais de Kirk!
Desta vez foi Tiquinho que quase caiu da cadeira resmungando entre dentes: - Como é possível?
Vocês não estavam mortos? Ops! Os Islos não os mataram?
Joaninha resolveu contar toda a história de uma vez, para não restar nenhum espaço para mais perguntas.
Tiquinho ficou boquiaberta com as façanhas da amiga, sabia de sua força, sabia de sua divindade, mas não acreditava em tamanha coragem.
Logo após o café, recheado com novidades, o povo de Estrape começou a chegar, assim como Tiquinho havia mencionado.
Acenderam fogueira, assaram muita carne em comemoração ao regresso de seus reis. A festa varou o dia e se estendeu por grande parte da noite.
Os pais de Kirk eram o centro das atenções. Todos queriam saber sobre tudo pelo qual passaram por todos aqueles anos em que estiveram desaparecidos.
No dia seguinte, um tanto cansados, mas, bem dispostos, concordaram em fazer uma visita ao ancião, pai de sua mãe e sogro de seu pai.
Porém, foram dissuadidos pelos sábios da comunidade, que, com muito tato, lhes convenceram de que não deveriam deixar a cidade. Os conselheiros chegaram a conclusão de que seria muito perigoso.
Estavam com razão, porque, o planeta Núbia estava em polvorosa, numa matança repentina e assombrosa, inclusive a região onde o Sr Nóbis e sua mulher governavam, que agora sofria as consequências de tê-los deixado fugir.
Os Islos culpavam todas as sociedades ao redor, por todos aqueles infortúnios, dizendo que aquela violência toda estaria ligada aquele trágico evento.
Os guardas Islanos foram mortos, antes mesmo de contarem o que aconteceu, logo que souberam da fuga, avisaram os governantes de Rúbia, que não quiseram nem saber de qualquer desculpas da parte deles, os executaram antes mesmo de apresentarem qualquer defesa.
O caos viera com tudo, e tão logo se preparavam para a guerra.
Enquanto isso, em Estrape, os anciãos já providenciavam uma assembleia, chamando todos os poderosos para traçar um plano.
Agora tinham todo o poder do lado deles: O rei, a rainha e sua amada princesinha.
Urania, sua mãe, não se cansava de dizer, que ela tinha um poder inigualável, como nenhum outro naquela região, que ultrapassava até o poder de seu pai Arão, Mas, Joaninha ainda precisaria descobrir sozinha o seu potencial.
A tarde ia chegando de mansinho, já dando sinais de que em breve a luz viajaria para outros mundos, quando ela contou aos pais que levaria a nave emprestada de volta, como prometera.
Seu pai pediu para que esperasse até a manhã seguinte, mas, Joaninha o convenceu dos perigos. Aquela seria a melhor hora para viajar.
Não podia levar nenhuma companhia, porque teria de voltar com suas asas. Não queria que nenhuma nave despertasse a atenção dos Islos.
E foi assim que Joaninha voltou, sozinha, para a cidade onde seus pais estavam dominados e entregues a própria sorte, antes de resgatá-los.
Fez como da outra vez, aterrissou a nave bem longe da cidade, entre as árvores frondosas da floresta. Precisava sondar a região, antes de levar a nave de volta aos seus donos.
Escondeu a máquina com alguns arbustos, abriu suas asas com facilidade, diferentemente de outras vezes, esta lhe obedeceu imediatamente. -A pratica leva a perfeição, pensou:
Quando já estava preparada para descer, ouviu um barulho estranho atrás de si, se encolheu um pouquinho, escondendo-se atrás de um poste, Uma nave de tamanho médio passou a alguns metros de si, quase a arrancando com o vento.
Pensou consigo mesma, que corria perigo, pelo burburinho que se via de longe, tudo levava a crer que já tinham descoberto a fuga.
Então, resolveu que não compensava tamanho risco de sua parte. Desceu, indo até a oficina, onde encontrou-se com o rapaz que lhe emprestara a nave. E lhe contou onde estava, dizendo que a máquina estava com problemas, que ele fosse buscá-la com algumas ferramentas. O homem engoliu a sua desculpa e ela pode voltar para casa em segurança, não sem antes, se inteirar dos acontecimentos atuais daquela cidade.
Ficou sabendo dos horrores e de que já falavam em guerra.
Voltou para Esparta as pressas, precisava avisar seus súditos, para que tomassem as devidas precauções.
Chegando em sua casa, notou que estava vazia, rumou para a cidade, onde estavam reunidos em assembleia, incluindo seu avô, seus pais, Tiquinho e família.
Lá em cima podiam ver um clarão, parecia que o mundo pós eles estava pegando fogo.
Sentou-se na única cadeira disponível, entre os anciões, sentindo-se muito á vontade perto deles. Agora, tinha uma certa experiência sobre a vida daquela cidade, na qual ela se destacava, não por vontade própria, mas, pela força de um destino, agora, completamente nu, diante dela.
Tomou a palavra, antes mesmo que chegassem a pedir e foi logo falando:- Meu amado povo, antes os Islos queriam a menina, agora, eles querem a família toda. Senti que chegou a hora de forjar as armas, Já há um certo burburinho sobre invasão.
Por dezoito anos vivemos alienados a mesma historia, não nos preocupamos tanto, porque sabíamos que, apesar de procurarem por mim, eles estavam com uma parcela da ordem com eles, agora, estão sem nada. E não vão cruzar os braços a este fato, eles podem vir com tudo.
Enquanto isso, os Nubianos enfrentavam a fúria de seus governantes, principalmente a cidade onde guardavam a gaiola que prendia seus pais.
Dizia a guardiã: - Não demos ordens para que vocês guardassem a entrada da gruta? Ah, mas, vocês não seguem regras não é? Deixaram tudo nas mãos de dois guardas bêbados e continuaram a fazer o que gostam de fazer.
Sofrerão as consequências, podem apostar!
A nave de Gowsnia já esta a caminho!
Todos se encolheram ao ouvir esse nome terrível, bem sabiam de quem se tratava e de como era parecido com o próprio caos.
Preparem as máquinas, as armas e a coragem, que, assim que ela pousar, vamos ter que correr atrás do prejuízo, antes que não sobre mais nada na cidade, a não ser destruição.
Logo que a grande e sofisticada nave pousou na praça da cidade, a Dama de preto saltou com fúria na voz: - Queríamos a menina e vocês estragaram tudo, permitindo que os veteranos fugissem, como foi isso?
Um dos governantes da cidade contou-lhe tudo o que sabia, quase nada, apenas que, sumiram sem deixar vestígios e que os guardas já tiveram punição que mereciam.
Naquele momento o caos voltava a assolar a cidade, ninguém se entendia, brigavam uns com os outros sem real motivo e se estapeavam falando palavrões e mais palavrões. Ferros distorcidos se encontravam por toda parte, metade das casas da cidade estava no chão.
Um dos governantes se viu falando sem querer:- Não posso acreditar que tudo isso foi controlado por aquele casal que mantínhamos em grades, sempre achei que era pura invenção dos poderosos para fazer com que agíssemos com mais consciência, agora vejo que estava errado. Mal souberam da fuga e já estão agindo como cães ferozes.
Enquanto isso, em Estrape, já se anunciava um grande terror, embora, alguns confiassem plenamente em seus guardiões.
Joaninha foi a primeira a sair da reunião, seguida por Tiquinho, logo que alcançaram a rua, ela olhou para ele com um olhar enigmático. Tiquinho, por sua vez, fez de tudo para compreender aquele olhar que o deixava sem jeito e reagiu perguntando: - O que passa nessa sua cabeça?
Joaninha pensou antes de responder: - Você nunca parou para pensar o por que deste seu cabelo cor de fogo?
- Não, isso nunca me passou pela cabeça!
- Já na minha, sim! Afinal, me disseram que todos os que tem cabelos vermelhos são especiais. Então, você também deve ser um dos nossos.
-Eu? Não tenho nada de especial, eu acho!
- Não sei, reagiu ela: - mas vou descobrir.
Deixaram a cidade e rumaram para a casa de Joaninha conversando animadamente.
Joaninha precisava descobrir qual era o seu papel dentro do universo, ela sentia que
suas asas não nasciam por acaso, havia um propósito que ela precisava descobrir,
foi então que se lembrou do portal, ainda estava aberto. Se abriu quando levaram seus pais e
continuava aberto, porque foi por lá que saíram do planeta dos Islos!
Resolveu tocar no assunto com seu amigo: - Tiquinho, ela começou a falar: - veja bem, nós precisamos nos apressar, antes que as naves inimigas consigam chegar a cidade.
- Nos apressarmos como? Tiquinho perguntou:
_Me dê a sua mão!
-Quer segurar a minha mão, por quê?
- Apenas segure na minha, ela respondeu:
E assim que Tiquinho tocou em seus dedos, ela tomou o restante, num ímpeto, segurando com muita força, se lançou no ar, levando Tiquinho a sair voando como um passarinho desengonçado, chutando e se retorcendo entre o deslocamento do ar.
- O que você está fazendo? ele conseguiu gritar:
Mas Joaninha não respondia, apenas acreditava que tudo daria certo.
Entre a neblina espessa abriu-se um caminho, e logo, entre as nuvens, se via a passagem.
Não havia nada por lá, apenas silêncio, foi quando Joaninha soltou-se das mãos de Tiquinho.
Tiquinho soltou um gemido sofrido, pensando consigo mesmo: - Agora é que morro mesmo, quem precisa de guerra?
E foi descendo, parecendo um pedaço de papel entre as nuvens.
Nem reparou que joaninha o observava de perto.
Tiquinho pensava consigo mesmo: - Nunca pensei que Joaninha fosse tão má, jamais, nem em um milhão de anos, pensaria que quereria me matar!
Faltando apenas uns 300 metros para estatelar no chão, ele clamou em voz alta: - Não me deixe morrer! Não me deixe morrer!
Foi então que viu Joaninha passar por ele, plainando como uma águia.
Num desconforto tremendo e morrendo de medo com aquela triste situação, ele fechou os olhos, e, imediatamente, um par de asas se abriu de repente, continuando os movimentos que já fazia com suas mãos. Não acreditou no que viu, Estava voando!
- Huhuuu! se viu gritando: - Você tinha razão! Estou voando, assim como você!
Joaninha se aproximou um pouquinho mais, com grande júbilo na voz, gritou: - Não falei, bem que comecei a desconfiar!
- Desconfiou como, sua doida? Sua voz saia meio descontrolada pela emoção: - E se você estivesse enganada? E se.... Joaninha o cortou de imediato: - Nunca te poria em perigo, eu estaria lá embaixo, caso alguma coisa desse errado, Desculpe-me! mas precisava tentar!
- Tudo bem! Tiquinho a confortou: - Mas deveria ter me contado antes!
- Se eu contasse, a sua expectativa não o deixaria sentir medo, foi o medo que o fez voar, fizeram isso comigo antes e deu certo!
- Tudo bem, Tiquinho exclamou: - E qual será o próximo passo?
- Voltar para cima!
- Voltar para cima, por quê?
- Temos de ficar de tocaia, não podemos permitir que os Nubianos possam nos atacar de surpresa!
E assim, voltaram para cima e ficaram sentadinhos numa nuvem espessa, perto da entrada, até tarde da noite.
Não demorou muito para que avistassem uma pequena luz vindo em grande velocidade em sua direção. Tiquinho gritou: - Toma cuidado, eles vem vindo. E o que faremos agora?
Nem bem terminou a frase e a luz já ia se aproximando, levantou as palmas das mãos em desespero, e a nave fez um rodopio sobre elas, tombando como um feixe de lenha. Vieram outra e mais outra e todas sucumbiram ante o levantar de suas mãos.
Joaninha estava perplexa, descobrira que seu parceiro tinha mais poder do que imaginava, ela ficara apenas assistindo, enquanto Tiquinho trabalhava por ela.
Foram uma sucessão de estrondo sonoro, que, quase os ensurdeceu. Depois tudo ficou em silêncio.
Tiquinho estava tão surpreso quanto Joaninha, Olhou para as suas surradas mãos e depois para seu corpo inteiro, dizendo para a companheira: - Estou vivo?
- Estamos, disse a moça sorrindo:
-E o portal continua aberto, Tiquinho concluiu:
- Sim! constatou Joaninha: - Precisamos saber como fechá-lo!
Foi então que Joaninha teve uma ideia: - vamos estender nossas mãos juntas.
E assim se fez, o portal se fechou, silenciosamente, apenas nuvens povoavam uma grande extensão, rodeando toda a cidade.
- Não entendo, joaninha balbuciou entre dentes: - como esse portal se abriu antes, quando os Nubianos entraram para levar minha mãe e meu pai?
Tiquinho balançou a cabeça e disse: - Nunca saberemos se eles não nos contarem!
Resolveram dar uns rasantes sobre a cidade, antes de descerem para a terra. A noite estava tranquila, as luzes estavam acesas em alguns lugares, deixando tudo muito mais excitante.
Depois, já cansados, chegaram a pequena casinha no vale.
Os pais de Joaninha estavam aflitos, assim como a metade dos moradores. Todos os anciões queriam respostas sobre o que acontecera lá em cima, Não puderam ver nada, mas escutaram muito barulho. Como já era tarde, resolveram deixar as explicações para o dia seguinte.
Tiquinho acabou desabando no sofá da sala, enquanto joaninha ainda aproveitou para tomar um banho e também foi se deitar.
Não, sem antes, alertar seus pais de que o grande perigo passara.
No dia seguinte, como fazia todo dia, levantou cedo para alimentar seus animais. Quando se preparava para encher os coxos, viu Tiquinho indo em direção a ela.
Quero te ajudar, disse ele, pegando um balde com farelo e despejando no coxo das ovelhas.- Quero te perguntar uma coisa, disse, se aproximando mais dela:- Se eu tenho cabelo vermelho, igual ao seu, se também tenho poderes iguais ao seus, quem sou eu?
Joaninha parou de fazer o que estava fazendo e deu um tapinha nos ombros do amigo, dizendo-lhe carinhosamente:- Já vamos descobrir! Terminemos de assistir os animais, depois acordaremos meus pais e teremos uma longa conversa!
Subiram de volta para casa, tomaram um desjejum delicioso que ela mesma preparou, Ovos mexidos com pães caseiro. - Que delicia! Tiquinho falou enquanto lambia os lábios satisfeito:
Ouviram um barulho que vinha do outro quarto e ambos se olharam nos olhos, agora não dava mais para esperar. Quando seu pai surgiu na porta, houve uma grande enxurrada de perguntas tipo: - Não tem nada para nos contar? O que houve realmente com vocês? Meus pais também são reis? porque não nos contam a historia verdadeira?
E as perguntas ficaram no ar, seu pai apenas olhou para os dois com uma certa indiferença, para depois, erguer as mãos balançando-as no ar dizendo: - Ainda não! Vou tomar um banho, depois o café e só depois... falou um depois com muito ênfase, fazendo com que Joaninha e Tiquinho ficassem muito mais curiosos de como seria esse depois. E o pai ainda concluiu:- Vamos a cidade, encontrar com seu avô e os demais, e lhes contamos toda a verdade.
Os dois não aguentavam mais tanta expetativa, rumaram para a cidade, sendo os primeiros a chegarem na sala de reuniões que não passava de alguns bancos na praça. Ficaram por horas esperando os anciões chegarem.
Quando todos se reuniram, começaram a explicar, que, todos, ou quase todos, cidadãos de Esparta, estavam enganados sobre muitas coisas.
O suposto pai de Joaninha segurava com força as mãos de sua senhora, quando começou a explicar: - Sinto muito! dizia ele: - Quando os Islos guerreavam com os Espartanos, tínhamos uma grande família, Mas a família, que se destacava entre nós, eram os pais de Tiquinho, que, na verdade, são os verdadeiros donos da ordem, Eles tiveram dois filhos, Joaninha e Tiquinho. tendo por nome de batismo; Kirk e Korb, duas crianças belas e fortes, Entre nós vivia os Crens, uma raça quase extinta, que detinham o poder da sabedoria e da ordem. Depois que os Islos mataram o Rei Astor, pai de Ripias e sogros de Dona, reuniram os guardas que não foram abatidos, rumando para a província de Núbia, não, sem antes, fazerem uma promessa de que voltariam para matar seus descendentes.
Ripias resolveu criar uma espécie de nuvem, que, na verdade, nada mais é que um campo de força rodeando a nossa cidade, para proteger, não só a família real, quanto todos os moradores comum desta cidade. Entre os poderosos havia uma deusa, irmã de Ripias, que acabou se apaixonando por um dos poderosos Islos de Nubia.
Ela ficou furiosa, quando deportaram a base da força, o seu amor. E numa tentativa desesperada de seguir com ele, ela venceu as barreiras da nuvem poderosa e fugiu para Nubia, deixando um portal aberto sem que pudéssemos saber, Achávamos que ela pudesse ter morrido em algum campo de batalha, embora nunca tivéssemos encontrado seu corpo.
Quando Dona foi sequestrada na floresta é que percebemos a falha. mas, não podíamos fazer nada a respeito, não podíamos, simplesmente, fechar o portal, selando seu triste destino.
Joaninha olhava para Tiquinho e Tiquinho enfrentava aquele olhar de surpresa, com muita surpresa também. Como podia ser isso: Uma raça que se dizia tão poderosa enlameada com tanta mentira.
- Somos irmãos! ele falou com uma voz embargada: - Agora está explicado o por que da nossa ligação tão espontânea!
- Joaninha engoliu em seco, a garganta apertava as palavras que queria pronunciar. Não conseguiu pronunciar um som sequer, apenas balançou a cabeça devagar, e acenou para que Tiquinho também se calasse, ainda faltava muito para entender.
Os anciões da cidade tiveram que traçar um plano secreto para que os dois meninos não sofressem ataques enquanto cresciam, para dificultar a tarefa dos Islos, resolveram separar a família, Deram uma peruca morena para Dona e outra vermelha para Eufrásia, Os maridos de ambas também pintaram os cabelos.
Tiquinho e Joaninha ficaram com seus pais verdadeiros até os sete anos de idade, depois também foram separados, Fizeram uma pequena casinha no vale, onde Tiquinho, seu irmão, tornara seu guardião.
Esse casal que foi resgatado, são os verdadeiros heróis, que, tão bravamente, resistiram por anos a fio, presos inocentemente.
Joaninha se recompôs e fez ouvir o som de sua voz num tom grave e rouco, fazendo uma pergunta que não podia esperar: - Como pode? resfolegou e continuou: - Disseram que a cidade onde os dois se encontravam, presos em gaiola, vivia um estado de profunda gloria, respirando ordem! Se eram uma farsa, não deviam ter esse poder?
Desta vez foi a vez de Ripia falar, coisa que ele não fazia a muito tempo, porque, para todos os Espartanos, até aquele momento, ele não passava de uma pessoa comum.
-Filhos! Ele começou dizendo: - Espero que os dois me perdoem! Agora, eu preciso explicar, que, na verdade, não somos nós a ordem, isso quer dizer que temos dons especiais, mas, que, a ordem, na totalidade da palavra, não tem a ver com milagre, tem mais a ver com ideias.
Meu pai, um homem com muita sabedoria, explicou aos mais velhos, que a ordem dependeria de nós, na união de pensamentos e atos.
Somos apenas guardiões desse conceito. E a estadia de dois estranhos adentrando uma sociedade, mesmo não sendo o que eles queriam, se tornou extremamente proveitoso para os que acreditaram na historia.
- O que você viu quando entrou na cidade? perguntou a Joaninha:
Joaninha respondeu de imediato: - Vi uma casal de namorado passeando na praça, uma menininha linda brincando com formigas, e dois rapazes que foram muito prestativos ao me emprestar uma de suas naves. A cidade estava calma e funcionando normalmente!
Então? Ripia retomou: - E alguém, em sã consciência, acharia que toda essa paz dependeria de dois seres presos numa gaiola?
Todos ficaram em silencio, entranhados em seus pensamentos.
Ripia continuou, voltando ao assunto pendente: - Não contamos nada para não atrapalhar a ordem das coisas, só quando fomos surpreendidos pelo sequestro de minha mulher é que começamos a nos preocupar. Assim, enviamos joaninha até seu avô, para que se preparasse, caso houvesse necessidade de uma intervenção.
E agora, nos conte como conseguiram fechar o portal e de quando desconfiaram de que Tiquinho era parte do poder?
Joaninha os pôs a par de tudo.
- E o que faremos, agora? ela acrescentou:
- Primeiro, me dê um abraço!
Ela se jogou em seus braços, sentindo, pela primeira vez, o que significava o aconchego de uma família, logo após, Dona aproximou-se, estendendo seus braços para que Joaninha se aninhasse, falando em seu ouvido:- Desculpe-me filha!
- Povo de Esparta, espero que agora tenhamos paz, disse Ripia:
As pessoas foram se despedindo, cada uma tomava o rumo de suas casas, Apenas Ripia, Joaninha, Tuinho, Dona e seu pai ficaram.
O pai de Dona, que até agora ficara em silêncio, resolveu fazer seu discurso: - Meus queridos netos, venham até aqui, também quero lhes dar um abraço!
Depois de abraçados e felizes ele tomou novamente a palavra dizendo:- Não podemos cruzar os braços. muita historia inda está por vir!
- O que quer dizer com isso, papai, Dona perguntou:
- Quero dizer, que, embora o portal esteja fechado, as coisas precisam voltar a ser como era antes, nosso disfarce ainda não pode ser descoberto. Lembrem-se de que ainda não estamos seguros, um dos nossos ainda vive em Nubia, e a qualquer hora, poderá abrir o portal.
- Quem é ela, Tiquinho perguntou:
- Gowsnia, o nome dela é Gowsnia, uma mulher perigosa agora, pois faz tempo que vive no meio do caos!
Aquele dia terminou e a noite já chegara com seu manto escuro á cobrir todo o vale, Joaninha foi a pé até sua casinha, sem mais delongas, se jogou na caminha de capim, esgotada com tanta informação que recebera mais cedo. Tiquinho, sua mãe e pai, também voltaram para casa, banharam-se, e cada um foi para seus respectivos quartos.
Tiquinho não conseguia dormir, ficou por horas a fio, remoendo dentro dele os fatos revelados. Foi então, que resolveu voar até o vale.
Ao chegar perto da casa de Joaninha, já um tanto aborrecido com ele mesmo, por tanta indelicadeza que faria ao ter que acordá-la. Mas a teimosia que era a sua marca não o deixou voltar atrás.
Achou Joaninha acordada, sentada em um banquinho disposto em um canto da varanda. Ao perceber a chegada do irmão, seus olhos desanuviaram de imediato, um brilho de luar encantou seu olhar.
- Tiquinho! sua voz agora se tornara melodiosa. Que bom que veio, eu não conseguia dormir.
-Eu também não! Resolvi dar umas voltas por ai, em meio a escuridão da noite e acabei por parar por aqui, ele disse entre sorrisos:
- Sei! ela disse também com um sorriso no rosto:
- Pode parecer mentira, mas, já esperava por isso!
- Sério!
-Sim, seríssimo!
-Somos meio que parecidos, não sei por quê? uma gargalhada se fez ouvir na escuridão assustando uma coruja levada que levantou voo imediatamente.
- Que susto, ela balbuciou: - tudo me assusta de algumas horas para cá.
- Temos que resolver isso, né maninha?
- Sim! Não podemos conviver com esse medo para sempre!
- Tenho certeza que a cidade inteira espera que façamos alguma coisa.
- E vamos fazer, concorda?
Ficaram fazendo planos e mais planos até que o cansaço tomou conta e ambos se despediram, prometendo um ao outro, se encontrarem assim que pudessem
Na semana seguinte, os pais de tiquinho programavam uma longa viagem, Iriam passar alguns dias na casa de seu avô, na floresta. Seria cinco dias de viagem no lombo dos cavalos, mais dez dias de descanso, e mais cinco dias para voltarem a cidade.
Vinte dias longe da cidade deixavam seus pais nervosos, mas Tiquinho e Joaninha os deixaram tranquilos, dizendo que cuidariam de tudo, até eles voltarem.
Quando já se preparavam para deixar a cidade, Joaninha apareceu para lhes desejar uma ótima viagem.
Esparta estava tranquila e serena, como sempre, com uma cara de cidade ordenada, onde tudo funcionava da melhor forma possível, até os guerreiros estavam todos ocupados em suas funções, mesmo que nunca precisassem, eles continuavam treinando.
Tiquinho voltou com Joaninha para casa, desta vez ele ficaria mais perto, não permitindo que nada de mal acontecesse a menina.
Então, os Espartanos nem se deram conta de quando eles partiram.
Subiram até a grande nuvem, sem fazer muito ruído, com ambas as mãos, abriram o portal, adentrando a cidade proibida.
Runia parecia uma cidade fantasma, seus moradores estavam todos dormindo, foi muito fácil sobrevoar a cidade e seguir rumo a Nubia, a cidade onde queriam invadir.
Subiram e subiram, até se cansarem de tanto bater suas asas, descansando de quando em quando em algum banco de nuvem espessa que iam encontrando pelo ar.
Já amanhecia, quando adentraram o planeta, O sol já despontava no horizonte, os Nubianos estavam despertando, tiveram que fazer alguns malabarismos para que não fossem vistos.
- Estamos fazendo o que é certo? Não! Tiquinho expressou:
- Sim, claro! você não quer retroceder, não é? retrucou Joaninha:
- Não, não é isso, maninha, é que, detesto fazer coisas as escondidas. É a primeira vez que minto para nossos pais!
- Você não mentiu, disse Joaninha muito séria: - Só ocultou nosso plano. É diferente! E eles demoram para voltar. Nenhum espartano vai dar conta de nossa ausência!
- Tomara! senão vamos sofrer graves consequências!
- Já notou que somos adultos? ela perguntou num tom zombeteiro:
Um sorrisinho sem graça surgiu em sua face rosada, entre dentes, ele respondeu:
- As vezes me esqueço disso!
- Mas não devia! Lembre-se de que Estrape depende dessa nossa viagem!
_ Tá bom! Já entendi! vamos lá! Qual é o plano agora?
- Chegar até o palacete central!
- E onde fica?
- Eu sei lá, vamos continuar procurando, provavelmente será o maior prédio por aqui!
- E o menos detonado, Tiquinho completou sorrindo:
Pelo menos aquele caos ajudava a mantê-los encobertos e vivos.
Não sabiam, ao certo, o quanto plainaram sobre os escombros, até que, num determinado momento, avistaram um prédio quase escondido entre uma floresta.
Um labirinto de palmeiras e ramagens escondia uma grande garagem, onde muitos homens já estavam fazendo suas rondas, andando, de um lado á outro, com suas armas em punho.
- Nossa! Tiquinho ronronou baixinho: - A coisa está muito dura por aqui. Será medo dos pacíficos Espartanos, ou de algo mais grave que desconhecemos?
- Quieto Irmão, eles podem nos ouvir, e seja lá o que for que esperam, podem bem atirar em qualquer coisa que se mova!
Passaram desapercebidamente entre os guardas, pelas laterais, entre um emaranhado de ferros distorcidos, exatamente como sua mãe lhes contara!
Numa sala bem próxima, encontraram uma porta aberta, estava vazia, nenhum guarda a vista. Já se preparavam para seguir para outro cômodo adiante, quando ouviram murmúrios.
Se esconderam atrás de uma escrivaninha velha que compunha um ambiente também cercado de antiguidades, que mais parecia um museu.
Tiquinho precisou fechar o nariz para não espirrar, falando em um tom um tanto fanhoso:- Quanta velharia!
- Fique quieto!
Uma senhora ultrapassou a porta que ligava a sala a outro cômodo da casa. Tinha um véu preto sobre a cabeça, Roupas bem largas, também da cor preta, mais parecia uma ave de mau agouro. Nem tanto pela cor fúnebre, mas pela aura que daquela figura emanava.
Então, para surpresa de Tiquinho, sua irmã saiu do esconderijo, falando em alta voz: Gowsnia?
A mulher se surpreendeu, deu um pulinho para trás e se manifestou meio que resfolegando: - Quem é você? E antes que Joaninha pudesse se identificar, a mulher complementou: Sei quem é você, Filha do reino da ordem!
Andei tanto atrás de você, sabia que á esconderam em algum lugar, mas, não podia procurá-la pessoalmente, mandei vários guardas á sua procura e nunca lhe encontraram, agora, você aparece, o que pretende?
E ficou mais surpresa ainda quando outra cabeleira vermelha saiu detrás do móvel.
- Olha só! falou quase que gritando: -São dois!
- Guardas! ela gritou sonoramente:
Mas Joaninha interpelou-a com gravidade na voz: - Não precisa nos prender, nós estamos aqui por vontade própria, ninguém nos seguiu, então, não tem por que temer a presença de dois jovens sem armas
A mulher emudeceu por alguns instantes, perguntando com uma certa suavidade na voz: Tem certeza de que não tem medo? Eu conheço os segredos dos Crens, afinal, sou um deles. Vi o que você não viu, sei o que você ainda não sabe, vivi o que você ainda não viveu. Nasci e morei entre um de vocês, Não existe segredo entre vocês que eu não saiba!
Joaninha ficou meio sem jeito e respondeu de imediato: - Será? Então, porque não está entre nós, o que a fez sair de nosso meio?
A mulher retirou o manto negro que cobria sua cabeça e uma cachoeira de cabelos vermelhos se deitaram sobre suas costas. Tiquinho e Joaninha ficaram deslumbrados e meio sem graça Joaninha se viu a falar:- Nossa! não é que os seus cabelos se parecem com os meus! Dizem que essa cor de cabelo nos trai, e porque não á traiu? O que a fez virar as costas para seu povo?
- Uma paixão, ela disse: paixão essa que me reverteu, dessas que nos faz mudar de ideia, a ponto de trair!
- Trair? - Como trair, então, confessa ser uma traidora?
- Sim! trai meus pais, meus irmãos, meus antepassados e até as pessoas que, deveras, vieram após, assim como você e seu irmão!
Esse amor que pregam, um amor capaz de ir além de nossa própria luz, capaz de enfrentar até o mais tenebroso abismo!
- E com quem se casou, Joaninha perguntou:
A mulher fez uma careta, antes de responder, como se só agora, apercebesse do que havia feito: - Com o chefe!
- O chefe!? joaninha concluiu como se fizesse uma pergunta da qual a mulher fez questão de responder: - Sim, o chefe dos Islos, o grande mestre do caos, aquele que assassinou meu pai!
O culpado por tantos planetas viverem em guerra permanente, sem nenhuma chance de se tornarem ordeiros!
- assas... assassinou seu pai? joaninha gaguejou:
- Sou sua tia, ela respondeu: - irmã de seu pai, filha do ancião que foi abatido!
Logo que os Islos mataram seu avô paterno, meu pai! Eu fiquei transtornada! Chorei, até que minhas lágrimas secassem. até que um jovem veio em minha direção, oferecendo seu ombro amigo. Fiz de tudo para não cair em sua lábia, mas, a carência me fez patinar, e tudo que aprendi com minha gente, eu desaprendi em seus braços. Coloquei a minha emoção bem adiante de meus valores,
Quando percebi, já me encontrava num planeta desconhecido, sem nenhum pudor, eu me concentrei no poder que me davam.
Esse poder que agora tenho, o de fazer o que quiser, até mesmo de sacrificar meu próprio nome, de prender todos, que, de uma forma, ou outra, seja pelo motivo que for, vier se intrometer em nossos negócios!
Meu marido está sempre em transito, quase nunca está por aqui, e sempre me deixa livre para decidir sobre quem entra ou sai desta cidade!
Confia em mim, porque sempre dei prova da minha fidelidade!
Me confiou a tarefa de sequestrar a deusa da ordem, só que sequestraram uma mulher qualquer, que, nem de longe, tinha qualquer traço de divindade!
Tiquinho deu uma olhadela para Joaninha com o rabo dos olhos, ensaiando um rápido sorriso, que, Joaninha disfarçou quase que imediatamente, perguntando:
-Mas, você nunca se arrependeu de ter traído, não só ao nosso povo, mas, a todos os seus ancestrais?
A mulher deu uma risada estrondosa e nervosa antes de responder com ousadia: - Nunca! nem posso, sempre me colocaram em último lugar por ser mulher!
Agora não tenho mais que obedecer, sou livre, como uma raposa em um ninho de ovos.
Só o poder nos dá essa garantia de posse, mas, em contrapartida, estou enclausurada dentro de uma redoma, cujo Senhor me toma todas as noites, para acariciar seus desejos descomunais.´
É bom, por uma lado, mas, péssimo, do outro, porque é uma liberdade falsa. Melhor quando ainda podia ser eu, mesmo que pensasse ser péssimo.
Gowsnia deu um profundo suspiro antes de completar: Nem sei porque estou falando isso para vocês, talvez seja porque faz anos não consigo desabafar, Tenho que parecer corajosa o tempo todo e mostrar uma felicidade que não consigo sentir.
Joaninha fez uma carinha triste, jamais poderia, sequer pensar, que entre os poderosos Islos, poderia existir uma pessoa tão poderosa e ao mesmo tempo, tão sentimental. E ainda mais, saber que tinha um parentesco tão próximo com ela.
Nesse momento entrou um guarda na sala, Gowsnia o chamou para o lado, cochichando em seu ouvido: - Coloque os guardas em alerta. Se alguém tentar fugir, recolha-o!
Tiquinho já estava em pânico, sabia que jamais os deixariam ir, cutucava a perna de Joaninha por baixo da mesa, mas, Joaninha se fazia de desentendida, E olhava para o irmão com ar de reprovação.
Enquanto isso, seus pais verdadeiros estavam tendo uma difícil conversa com seu avô.
-Pai, dizia Dona: Precisa vir conosco para a cidade, não dá mais para o Senhor ficar aqui. É muito custoso para um homem de sua idade, ter que subir e descer por estas cordas.
Até agora, não teve escolha, mas, agora, tem. Não há mais nenhum empecilho em vir morar com a gente.
Mas o ancião não arredava pé. e com uma cara amarrada respondeu:- Filha, eu ainda tenho muita força nos braços, sou eu que caço para minha sobrevivência; sou eu que busco água na fonte para matar minha sede; estou bem de saúde; e tenho aversão por barulho.
- O Senhor se acostuma, nós...completou: - queremos o Senhor mais perto. Eu e Ripia já resolvemos tudo, trouxemos até um cavalo a mais conosco.
Não seria justo abandonarmos o Senhor á sua própria sorte, já não faz mais nenhum sentido, também precisaremos dos teus conselhos. Daqui para a frente, nada será mais o mesmo. Tiquinho e Joaninha cresceram e precisam de todo o nosso apoio.
O ancião ficou quieto por alguns segundos, respirou fundo antes de responder com uma certa tristeza na voz: -Está bem! Eu vou! Mas é só pelo meus netos!
E naquela tarde, teceram todos os preparativos para voltarem para casa.
Na cidade de Esparta tudo continuava na mesma. Muito trabalho e gente sossegada. Um ar de paz e união sempre deixava as pessoas mais felizes.
A noite, quando já estavam em casa: banhados e satisfeitos, se encontravam na praça para um bom papo, para onde se olhasse, viam-se aglomerados de pessoas.
Mulheres homens e crianças, numa barulheira gostosa; de vozes, risos e conversas.
Mal sabiam que aquela paz toda logo seria posto a prova.
Gowsnia já se preparava para dar um bote. Levou Tiquinho e Joaninha até um grande salão, deu-lhes algo para comer e os levou de volta até a sala, conversaram mais algum tempo, e quando os dois visitantes já se sentiam em casa, ela chamou o guarda,
-Levem-nos. exclamou:
-Levar-nos? Pra onde? Tiquinho se manifestou:
- Para seus currais, a madame disse entre sorrisos: - Vocês não acharam, que, depois de tantos anos de incansável procura, vocês batem em minha porta como um presente dos deuses, e eu, vou recebê-los e deixá-los livres a circular por ai? Meu marido me mataria, caso fizesse isso!
- Só então, a voz de Joaninha soou, meio que gritante: - Como assim! Vai nos prender? Não precisa fazer isso. Nós lhes ensinaremos a paz e a ordem.
Gowsnia deu uma risada estridente antes de pronunciar com ar de vitória: - Esqueceu de que eu sei bem como isso funciona? Não é a paz que queremos e nem a ordem. Isso nos faria um bando de fracassados. Como faríamos sem o caos, como reinaríamos entre seres que nunca discordam?
Nunca houve reinos em períodos pacíficos. Seres organizados apenas trabalham, sem nunca conhecer o poder.
Nós gostamos de desordem. Entre a desordem, as pessoas pensam que podem, enquanto isso, nós os manipulamos, dando a eles a falsa sensação de que também se tornam poderosos em nos servir.
No caos e na pobreza de cultura, qualquer faísca que cai de nossa mesa, parecerá um banquete!
Os guardas apareceram na porta e sem mais nenhuma conversa, os levaram para fora, os empurrando para as gaiolas. Colocando uma ao lado da outra.
Estavam muito cansados para brigar, então, sem uma única palavra, se conformaram com seus destinos.
Já escurecia quando foram deixados á sós e só então, tiquinho falou meio desconsertado com a situação: - Joaninha, ele chamou!
- Fala Tiquinho, não estou muito a fim de conversa!
- Nos preparamos tanto para esse encontro, você me disse que não haveria perigo algum, porque eles pensavam que traríamos a ordem até eles!
- E trouxemos, ela respondeu de imediato: Nós somos a ordem!
- Tá, ele falou com uma voz tímida: - Nós somos! E daí?
- Dai que, eu já esperava por isso!
- Esperava? Então você me enganou?
- Um pouquinho, ela sorriu entre dentes: - Só a parte de que acabaríamos dentro de uma gaiola!
Gowsnia pediu para seu assistente preparar uma nave, não poderia perder mais tempo, precisava sobrevoar algumas cidades antes de dormir, também precisava contar ao marido o que acabara de conseguir.
Não queria que ele soubesse por outras pessoas, também precisavam atacar Estrape com urgência, antes, que, notassem a ausência dos dois invasores e acabassem por fazerem uma surpresa desagradável.
Foi até Nugole, um planeta bem desenvolvido, na região de Nobe, onde faziam compras de armas e mantimentos.
Ao descer da nave, alguns homens se aproximaram saudando-a com maus modos. Ela gostava disso, sinal, de que, ela estava no lugar certo. Levaram-na até uma sede de governo, onde havia uma reunião em andamento. Quando ela entrou, a surpresa foi geral.
Um homem grandalhão se levantou sem cerimônias. Seu porte grande e imponente quase tirava o ar de quem respirava. Suas vestes surradas e pretas o faziam parecer mais opressivo.
Levantou-se empurrando sua cadeira com força, parecendo um tanto aborrecido com a presença de sua mulher. Sem nenhum resquício de carinho na voz ele foi logo perguntando: - O que faz aqui mulher?
A mulher se recolheu por um momento, parecendo amedrontada e foi logo respondendo: - Os Espartanos!
Novamente aquele vozeirão encheu o ar: - Não me diga que invadiram nosso planeta?
- Não! Não! eu os raptei!
- Como raptou? quem? a cidade inteira? explique mulher!
Os homens sentados á mesa os olhava com curiosidade.
- Os meninos de Ripia!
- Tá brincando?
- Não viajaria até aqui para mentir!
-Ora, ora! até que enfim, poderemos submeter os Espartanos ao caos!
Enquanto isso, os dois jovens estavam desenrolando uma triste conversa.
Tiquinho não se conformava com o fato de estar preso numa gaiola, Deveria ter tido mais cuidado com a conversa da irmã.
Entristecido demais com a situação começou a descarregar sua frustração: - Eu acho que sempre nos enganaram, começou a falar:- Primeiro foi a historia do pai e mãe que não eram, depois foi a historia de reis e rainhas que detinham o poder da ordem que não existe, o que mais falta para descobrir?
- Mas, agora sabemos que podemos voar!
- É! E para que elas servem dentro de uma gaiola?
Joaninha se compadeceu da desesperança de seu irmão, mas, ela também não tinha resposta.
Se eles soubessem o que ainda haveria de vir, estariam dez vezes mais preocupados.
Dias depois, a caravana dos pais dos meninos entrava na cidade. Para surpresa de todos, tudo havia mudado. Havia, a postos, tremendas máquinas destruindo casas, e várias pessoas desconhecidas andando por todos os lados, Ao chegarem em casa, o palácio estava cercado por inúmeras naves. Quiseram voltar atrás, mas, foram capturados por guardas ferozes que os levaram até a presença de Gutengard....
Gutengard, o terrível saqueador, um dos descendentes de Islos, os recebeu com um ar de ironia; - Até que enfim! Esperei muito tempo por esse encontro!
Ripia o reconheceu de imediato, era nada mais nada menos que o sujeito asqueroso que roubara sua irmã!
- O que vocês fazem aqui? Ripia Perguntou:
- O que você acha? respondeu o grandalhão: - passeando um pouco!
O pai de Dona perguntou a seguir: -Por onde vocês entraram?
- Pela porta! seus meninos facilitaram!
- Como assim? desta vez foi Dona a perguntar com lágrimas nos olhos:- Onde eles estão?
- Em Nubia, com a titia!
Os três se olharam com muita dor nos olhos, sabiam da maldade que rondava aquela mulher.
- Como eles foram parar lá? desta vez foi o avô quem fez a pergunta:
- Foram com suas próprias pernas. ainda não sabemos com que veículo, porque não quiseram nos contar, mas, foram sozinhos, deixando o caminho livre e o portal aberto!
E chega de dar explicações! chamou um dos guardas para levá-los á prisão!
Não sem antes pronunciar sem piedade:-Agora vocês vão aprender o que significa o caos!
Ainda nas mãos de um guarda, o Ancião fez uma pergunta:- O que os Islos ganham com isso?
- Mais poder! O grandalhão respondeu: É no caos que as pessoas se realizam! Eles pensam que felicidade é isso! Todas as normas estabelecidas vão por água abaixo, tudo as claras, disciplina esquecida, tudo que os anciãos demoraram para ensinar, nós desmoralizamos num segundo. Não viu como as pessoas desse lugar trabalham para nós, sem nenhuma reclamação, estão todos do mesmo lado, agora. Muito mais fácil manipular pessoas perdidas.
E agora chega de conversa, tenho muito a fazer ainda, até que, todos, sem perceberem, estejam comendo em minhas mãos!
E os guardas os empurraram para a prisão!
A cidade de Esparta já estava em confusão, alguns, que ainda resistiam, eram levados para a masmorra, só ficavam aqueles que, por medo, não se revoltavam.
Enquanto isso, Tiquinho se espremia na gaiola, Mas, Joaninha parecia não se importar, cantarolava como um canarinho conformado.
- Por que está tão feliz? Tiquinho rosnava: - Não te entendo! De que lado você está?
- Do seu lado! Joaninha respondeu: - Eu sei o que estou fazendo!
- E pode me contar? Ou vai esconder, como já é costume dos Espartanos?
- Tiquinho! Tiquinho! Você ainda não percebeu o poder que tem?
-Que poder? ele se desespera: - O de voar? Que me importa, se estou entre grade!
- Não é só voar que você sabe! Você pertence a ordem. E a Ordem jamais perderá os seus, pode apostar!
- Que ordem? Se nos disseram que ela só existe nos ideais, E Como idealizar algo sem liberdade?
_ Logo, logo estaremos livres, de fato. sem aquele medo que pairava no ar, desde que nos conhecemos por gente!
- Quem disse isso? ele perguntou surpreso: - Um passarinho que te visitou á noite?
Me conta, vai! Eu sou seu amigo, sempre fui, mesmo não sabendo que éramos irmãos!
- Tá bom, vou contar: -Lembra quando fui visitar meu avô pela primeira vez!
- Sim! me lembro! O que é que tem?
- Então! fez uma pausa, depois continuou: - Entre as árvores do bosque há uma passagem para outro mundo. Tem uma legião que faz parte da Ordem, eles vivem reclusos da sociedade por uma razão, não querem colocar em risco, os bons princípios e os valores que tanto nos agraciaram por muito tempo.
Essa Ordem já preparou, de antemão, muitas escritas, narrando a historia de vários povos que prosperaram em muitos lugares. Porém, deles saiu um invejoso, que colocou na cabeça, que estavam errados, E assim, foi expulso dentre nossos antepassados. porque o que ele queria, era o poder, e para ter esse poder, precisava desvirtuar todos os povos nos arredores. Assim, plantou o caos, para que, não mais houvesse decência no mundo.
Não havendo decência, também não poderia haver castigos, porque ele acha que se o castigo continuasse existindo, ele também, um dia, seria castigado pelas suas maldades!
Existe uma linha tênue entre o bem e o mal. Tudo depende de interpretação.
Se com o bem se ganha alguma coisa, com o mal se ganha muito mais. Porque o mal, vem contrapor todos os sentimentos e ações que o bem distribui, e o faz acreditar que é mal, Uma inversão total, que leva a acreditar que ser bom é ruim.
Porque o bom castiga, porque o bom esta sempre preocupado com os efeitos, porque o bom afasta os que querem destruir, enfim:
- Tá! eu entendi, disse Tiquinho: - Mas, o que isso tem a ver com a nossa situação, e como eles poderão nos ajudar?
Eles pediram para que a gente entrasse na deles, nos entregando á seus caprichos, e logo, logo, vão perceber, por eles mesmos, o quanto essa "liberdade" será nociva! Porque, se insistirmos em guerrear, dai, sim, damos margem para mais caos.
- Então, vamos ficar presos até quando?
- Não por muito tempo! Já mandei uma mensagem á Ordem!
- Como? Tiquinho perguntou:
- Tenho poderes, esqueceu?
E naquela noite mesmo, as gaiolas foram abertas, por outro ser alado.
Desceram sobre as nuvens, devagarinho, plainando com o vento, rumo a floresta onde seu Avô se escondera por décadas!
A casinha de seu avô, se desenhou, lá em cima do penhasco, perdida e solitária.
Desceram na porta de entrada, entrando na casa, agora vazia. A chave estava debaixo de um tapete velho, abriram a porta e adentraram o aposento. Tomaram um pouco de água, enquanto Joaninha preparava uma carne seca para degustarem.
O Ser alado estava sentado numa poltrona velha, Tiquinho o observava, tinha muitas perguntas entaladas na garganta.
- Como foi que você nos descobriu? ele perguntou com um certo acanhamento:
- Kirk nos chamou por telepatia, o jovem respondeu:
-Tele.. tele o quê?
- Telepatia, um som a distância!
- Como assim? novamente interpelou:
- Temos, em nosso meio, uma maneira de nos comunicar. Vocês não são os únicos seres que vivem aqui!
- Onde?
- E como Kirk,... quer dizer: - Joaninha, saberia!
- Ela não sabia, mas seu pedido de socorro chegou, de alguma forma, até nós!
E nós fizemos o resto, entrando em contato com ela para saber em que região esse pedido vinha!
Tiquinho sorriu, deixando a carreirinha de dentes podres a mostra. resmungando baixinho: - Ainda bem que isso foi possível, senão, ainda estaríamos presos naquele planeta fétido!
Nesse momento Joaninha apareceu com uma bandeja de carne seca, serviu Tiquinho e seu companheiro, depois serviu-se também, sentando ao lado de Tiquinho.
- De onde você veio? tiquinho não tinha esquecido da pergunta que fizera anteriormente:
- Dentro desta floresta tem um vale, dentro desse vale tem uma caverna, dentro da caverna um caminho bem longo nos leva até uma cidade, nessa cidade, vive todos os seus descendentes, os que sobraram de nosso povo. Poucos sabem que vivemos lá. Quando seu pai se casou com sua mãe, uma pessoa completamente diferente de todos nós, deixamos que pensassem que a nossa geração estivesse extinta, porque se homens comuns chegassem até nós, poderia acabar com tudo o que construímos, colocando em risco o nosso modo de vida.
Então, seu pai e sua mãe fizeram da cidade de Esparta o seu lar. Os Islos jamais nos deixariam em paz, caso soubessem, da existência de outra civilização.
Quando mataram seu avô paterno, nós intercedemos pela sua família, enviando alguns de nossos guerreiros para auxiliá-los, eles fizeram a promessa de jamais falarem sobre nós.
Só agora, depois de muitos anos é que recebemos esse pedido de socorro, e descobrimos que, vocês dois fazem parte de nós!
Tiquinho arregalou os olhos, nem sabia bem o que aquilo significava: fazer parte de nós?
- Se fazemos parte de algo, queremos conhecer esse algo, será que podemos conhecer o nosso clã?
Olhou para sua irmã com um olhar de cumplicidade, agora, podiam, finalmente, conhecer toda a verdade, que, por anos, foram escondidos dos dois.
Enquanto isso em Núbia, as coisas esquentavam.
Gowsnia estava furiosa com seus guardiões, gritava sem parar:
- Onde estão aqueles danadinhos, procurem, não devem estar longe!
Como vocês os deixaram escapar seus incompetentes!
O chefe dos guardas gaguejava sem parar:
- Não estão em lugar nenhum, já procuramos em cada canto da cidade, eles já devem estar longe!
Gowsnia esmurrava um monte de ferro enquanto vociferava:- E como escaparam sem que vocês vissem?
- Não sabemos! a única resposta que podemos dar, é que evaporaram, assim como chegaram, eles sumiram!
- Vou ter que avisar o patrão, e vocês já sabem como o patrão é mau! Podem apostar! sangue vai correr!
E voltou quase a correr para seus aposentos, não sem antes, dar ordens para seu mensageiro levar ao patrão a triste situação em que se encontravam.
Os Islos ficaram apavorados ante a fúria da primeira dama, mas, não podiam fazer nada.
Quando Gutengard ficou sabendo do ocorrido ficou tão furioso que prometeu vingar-se, não se conformava ter perdido para dois adolescentes!
Mas ainda não podia voltar, estava ocupado demais em fazer seus negócios escusos com seus aliados.
Enquanto isso, no topo do morro, os dois adolescentes se preparavam para conhecer a terra de seus ancestrais. Não viam a hora do sol nascer, para que, pudessem, enfim, ter um pouco de conhecimento sobre de onde vieram.
Tão logo o sol brotou entre as montanhas já estavam em pé. Tiquinho preparou um farto café da manhã, deixando sua irmã orgulhosa com seus préstimos.
Anã, o homem que os libertou também participou da refeição.
Depois se prepararam para viajar.
Os três abriram as respectivas asas ao mesmo tempo, lançaram-se num voo frenético, repleto de emoção. Anã ia na frente, enquanto Tiquinho seguia ao lado da irmã. Tinham em seus olhos o brilho do sol que orbitava lá em cima, lançando seus raios sobre seus corpos como um fiel guardião.
Assim que entraram na floresta, entre as copas das árvores que desmaiavam uma em cima das outras, logo alcançaram um vale, foi quando Anã foi pousando acompanhado por eles.
-Aqui começa nossa aventura, falou com voz melodiosa:
Entre arbustos havia uma pequena entrada, tiveram que esticar-se para abrir passagem, mas, logo o ambiente se alargou, de tal forma que dava até para correr dentro do labirinto.- Fiquem comigo, disse o homem: - senão vão se perder!
A escuridão começou a irromper, não dava para enxergar mais nada, apenas ouviam a voz de Anã, pedindo para que o seguissem. A viajem demorou cerca de meia hora, foi quando já se podia ver um pequeno raio de luz entre as pedras.
- Já chegamos? Tiquinho perguntou:
- Só mais alguns passos! O homem respondeu:
E foi então, que o ambiente se abriu, e uma paisagem de tirar o folego foi se desenhando aos poucos.
Sentiram o ar revigorante entrar pelas narinas, e se lançaram em voo novamente.
Tiquinho ficou embaixo, enquanto Joaninha fazia sinal para que também voasse.
- Venha logo, acompanhe-nos! ela fazia pequenos gestos com as mãos:
Porém Tiquinho continuava estático, de boca aberta, tentando absorver tudo á sua volta.
Joaninha precisou descer e convencê-lo a subir:- lá de cima se vê melhor, seu bobo!
Enquanto sobrevoavam o longo caminho, eles puderam observar a imensidão de terra á sua frente.
Riachos, pedras, cachoeiras, flores enfeitando cada porção.
Muitos animais correndo pelos campos, Joaninha e Tiquinho jamais tiveram ideia de que poderiam ter uma visão assim, tão espetacular. Tinham seus animais, presos em seus currais, e, as vezes, até, soltos, mas, nunca nessa proporção.
Depois de alguns rasantes, enfim, puderam ver uma pequena aldeia lá embaixo, e só então, Anã fez um gesto para descerem.
Desceram numa pracinha, onde crianças brincavam alegremente, correndo de lá para cá.
Logo que foram avistados, elas pararam para vê-los descer. e foram acompanhando-os até um pequeno chalé.
- Voltem a brincar! Anã falou com as crianças num tom de autoridade: E elas voltaram felizes e saltitantes para o lugar onde estavam.
Adentraram o ambiente com uma certa expectativa. Havia uma saleta, quase igual a que tinham em Esparta, a que servia para suas assembleias.
Uma escrivaninha de madeira ocupava uma grande área da sala, algumas cadeiras ao lado, e uma poltrona do lado oposto, a esperar pelo seus ocupantes.
Anã pediu para que sentassem em duas delas, deixando uma vazia, para que ele pudesse ocupar, assim, que voltasse.
Ao ficarem sozinhos, puseram a conversar animados.
- Não vejo a hora de por meus olhos no ancião, disse Joaninha:
- Nem me fale, também estou ansioso!
Que viagem hein? Nunca pensei que algum dia pudesse participar de toda essa trama. Fui seu guardião, por muito tempo, até tinha me conformado com a minha sina, jamais pensei ser seu irmão e que, um dia, estaria na posição que hoje estou!
- Não esta feliz irmãozinho?
- Estou mais que feliz!
Nesse momento uma grande porta de carvalho fora aberta. E por ela, entrou um homem de idade avançada, escorado por uma bengala, cuja voz grave parecia de trovão: - Sejam bem vindos! E sentou-se na poltrona do outro lado da mesa.
Joaninha estendeu suas mãos para cumprimentá-lo, seguido por seu irmão.
- Vieram de tão longe, o ancião começou a falar: - E são tão lindos!
- Muito obrigado, queremos saber seu nome! Tiquinho retrucou:- Podem me chamar de Juim!
Senhor Juim, estamos muito felizes por estarmos aqui, viemos pedir socorro para a Cidade de Esparta que se encontra sobre o domínio dos Islos, também queremos saber um pouco sobre a historia da ordem, já que somos os futuros guardiões de Esparta!
- Os Islos, aqueles desgraçados anarquistas, não dão tréguas mesmo. Ficamos em paz por alguns anos e eles não nos esqueceram, não é?
- Não! Estivemos... joaninha começou: Estivemos reclusos até agora, mas, já faz algum tempo que eles nos perseguem, sequestram e tentam nos molestar, mantemos o portal fechado por algum tempo, mas, agora, nos descobriram e adentraram nossa cidadela, Eu e Tiquinho fomos até a cidade de Nubia, assim que descobrimos que podíamos voar, tentamos, inutilmente, dissuadi-los de seus intentos, mas, foi tudo em vão. Os Nubianos enviaram seus guardas e subjugaram nosso povo, e devem ter nossos pais como reféns. Não voltamos para lá quando Anã nos resgatou, preferimos não entrar em confronto com eles antes de saber mais sobre nós e do que somos capazes!
Pode nos falar mais sobre os Espartanos e o por que da ordem. Que vem a ser? E como podemos ajudar?
- Então... o ancião Juim começou a contar:- Somos descendentes de deuses, temos em nosso poder o fato de podermos voar, entrar em contato um com os outros, através de pensamento, quando estamos em real perigo, o nosso subconsciente entra em contato uns com os outros enviando uma mensagem e uma rota para se chegar em qualquer local onde isso ocorra!
A ordem, na verdade, somos cada um de nós e nossas obrigações, não só de um para outro, mas, também, de proteger o lugar que nos acolhe.
Antes, vivíamos protegidos, porque casávamos com pessoas da localidade, até que seu avô paterno teve que sair com seu pai e sua irmã, para conter os Islos em Esparta, foi quando seu pai conheceu sua mãe e se apaixonou por ela.
Seu avô se deixou morrer, para que não fossemos descobertos. E o resto da estória vocês já sabem.
Esparta acabou aceitando seu pai e sua mãe como parte da família. Nós tocamos a nossa vida aqui em nosso planeta. Os Islos foram para outras localidades onde havia vulnerabilidade para governarem e submeter o povo aos seus caprichos.
Agora, chega de história, vamos dar uma volta, para que entenda o nosso modo de vida.
O Ancião se levantou e começou a empurrá-la para fora, colocando as mãos carinhosamente em seus ombros. Joaninha se deixou levar, sentindo uma paz imensa invadi-la. Fazia muito tempo que não sentia assim.
Lá fora, a vida pulsava em todos os cantos, pequenos pássaros voavam baixinho, parecendo não sentir medo dos humanos, sentavam à degustar os diversos frutos que se multiplicavam pelos caminhos.
De repente, ouviram uma voz agoniada vindo da porta. Uma cabeleira loira esvoaçando com o vento que, naquela hora, batia. Joaninha e o anfitrião se viraram um pouco assustados com tamanha gritaria: - Onde pensam que vão sem me convidarem?
Joaninha deu uma sonora gargalhada antes de perguntar alegremente:- Onde se enfiou?
- Eu estava tomando um suco de framboesa com uma das cozinheiras, estava morrendo de fome, mas, foi só virar as costas, que já quer fugir, não é?
- Não estou fugindo, só fui convidada para conhecer o lugar. E agarrando a mão de Tiquinho, puxou-o
para que os acompanhasse.
Foram absorvendo tudo. Enquanto andavam, quase não falavam, pois a beleza da composição daquele planeta era de tirar o fôlego.
Da casa até o descampado, havia um corredor, belas árvores cresciam de ambos os lados. Andavam sobre um tapete de folhas coloridas, O ar fresquinho da manhã parecia vir dos deuses, tantos aromas suaves trazidos pelo vento, enchia as narinas de felicidade.
As mãos de Tiquinho foram se tranquilizando, devagar, até soltar-se das mãos da irmã. Começou a ir mais rápido, como se tivesse asas nos pés. Foi preciso que a irmã o interpelasse, repreendendo-o suavemente: - Tiquinho, não tenha pressa! Estamos passeando, controle-se!
E Tiquinho diminuiu os passos, mostrando-se um tanto frustrado.
O ancião os levou até o bosque, depois de terem seguido por uma pequena estradinha de terra, que mais parecia ter saído de um conto.
O bosque era composto por belas e exóticas flores, algumas frondosas árvores fornecia alguns pontos de sombra, embaixo, bancos feitos de pedra, parecendo que já tinham nascido ali.
Sentaram á sombra de um imenso carvalho, e começaram a conversar alegremente.
Primeiro foi Tiquinho á perguntar:- Até onde se estende esse planeta, parece que não tem fim?
O ancião tocou em seu ombro e apontou o horizonte com o dedo indicador, respondendo a sua pergunta: - Olhe bem para aquele lado!
Tiquinho estendeu o olhar imediatamente.
Uma linha amarela se desenhava de uma ponta a outra do céu.
-O sol já está nascendo, disse o ancião: - Agora, olhe para trás!
Uma linha azulada e escura se encontrava com a amarelada.
- Como pode isso? Tiquinho perguntou num tom de surpresa:-Deste lado o sol nasce e do outro lado
parece que anoitece! Assim, tudo ao mesmo tempo?
- Pois é! respondeu o ancião: - Nosso planeta é minúsculo.
O sol, nasce e morre, quase que ao mesmo tempo. Nosso dia dura menos que duas horas.
A nossa sorte é que a lua, que já está a se despedir, lá atrás, ilumina tanto quanto o sol.
- Como pode? exclamou Tiquinho:
-Não sei! Só sei que os Islos desejam muito estas terras, elas são muito férteis, Tem estações
bem definidas. Sabemos e temos tempo para plantar e colher. Além, do fato, de que, nada, neste lugar,
esta fora de ordem.
Tudo segue um ritmo harmônico, como as notas musicais. Foi um lugar preparado pelos deuses, para que os deuses habitassem nele. E que, agora, se não nos apressarmos, poderemos perder tudo, inclusive, a nossa razão.
Porque os Islos são demoníacos e loucos, se adentrarem essa região, a paz e a ordem some, e o mundo, assim como conhecemos, se acabará.
Joaninha se fechou em si mesma, naquele momento, pensando em como seria seu mundo, caso, tudo o que ela conhecia, acabasse em caos.
Voltaram para o palácio em silencio.
O jantar já estava preparado, e a mesa posta.
Depois de degustarem uma gostosa costela de Alce assada na brasa, com cogumelos e arroz, foram levados, cada um em um quarto, para descansarem.
Duas horas de sono era pouco, mas, foi assim que aconteceu, O sol batia forte entre as cortinas, quando foram chamados para uma reunião. Tiquinho levantou um tanto sonolento e mau humorado, pois, lhe parecia que nem dormira ainda.
Logo que se levantou, tomou um banho rápido. A água estava morna. E ele se perguntava: Como?
Tão logo adentrou o grande aposento das reuniões, ele foi logo perguntando: - Como pode a água amornar-se sem fogo?
O ancião que se acomodava do outro lado da mesa, se pôs a sorrir antes de responder:- Água de fonte térmica. temos em abundância por aqui. Tudo canalizado e bem distribuído em todos os banheiros da casa. Vai me dizer que os espartanos não tem esse tipo de conforto?
Tiquinho coçou a cabeça, formando um ninho avermelhado, ao amassar a cabeleira. E retrucou com seu costumeiro mau humor:- Nem de longe! Riu, meio sem graça, ao perceber que sua irmã lhe olhava com cara feia.
Pigarreou, antes de completar:- Quer dizer. Nem de longe eu poderia imaginar que existia fontes térmicas em algum lugar. Sempre me ensinaram que, água quente, só se obtém com fogo aceso. Por isso, em Esparta, usamos lenha e bacias de cobre.
O que vem a ser mesmo essa tal de fonte térmica?
O ancião se colocou a disposição para explicar com toda paciência:- Significa, que, por aqui, há vulcões, São pequenas bocas abertas no seio da terra, que trazem calor até o rio, tornando suas águas quentes.
- Como assim? Tiquinho retrucou: - Que boca? nem sabia que a terra tinha boca, nunca ouvi falar!
Muito menos que há fogo dentro da terra. E quem acende? Não vá me dizer que algum deus mora lá embaixo. E de quanta lenha se precisa para esquentar toda água de um rio?
Todos se puseram a rir, menos Joaninha, que também se encontrava curiosa, mas, não queria expor a ignorância.
O ancião começou a contar mais sobre aquele planeta, e de como funcionava aquela porção de terra onde vivia, embora, não fosse tão distante dos outros planetas, eles tinham muito mais conhecimento sobre como tudo funcionava. A terra não era diferente em muitas outras regiões. Só, que, enquanto, havia sábios tentando desenvolver bem estar aos moradores, outros, só pensavam em guerras e de como se precaver e subsistir.
Depois das explicações, começaram a fazer planos para salvar Esparta da tirania. Desta vez, eles não podiam falhar. Teriam que libertá-los , ou submeter-se a viverem amedrontados para sempre.
Me contem! o ancião começou a falar:- O quanto vocês se conhecem?
Joaninha respondeu com toda a sinceridade que lhe era peculiar: - Quase nada!
Fomos descobrindo nossos dons, aos poucos, também, aos poucos, vamos conhecendo nossa história.
O que o senhor pode nos revelar que ainda não sabemos?
Aquela pergunta ficou no ar, porque nem o Ancião sabia do que eles seriam capazes. Ele apenas abaixou a cabeça, resmungando: - Terão que descobrir por si mesmos!
Outro dia já desabrochava no horizonte, Joaninha acordou e ainda meio sonolenta, se aprontou, para mais um encontro. Desta vez, nada poderia detê-la, Já sabia bem o que queria - e mesmo que ninguém lhe ajudasse, ela iria sozinha, trazer liberdade á sua gente.
Se a ordem não existia, ela iria impor a sua, mesmo que isto lhe custasse a própria asa.
Foi andando lentamente até o andar superior, onde, uma mesa farta á aguardava: Logo que sentou numa cadeira, se colocou novamente em pé, para saudar o ancião que adentrava o aposento.
Saudou-o com todo respeito, ele respondeu com um sonar bom dia!
Ambos sentaram um ao lado do outro. Logo depois, uma cabeleira vermelha e espalhafatosa foi chegando, e como sempre, a curiosidade não lhe deixava quieto, por isso foi logo perguntando:
-E ai? até quando vamos ficar enfiados nesse planeta?
-Bom dia pra você também, Joaninha falou em tom de brincadeira: - Cadê a delicadeza, irmão?
- Desculpe! ele balbuciou, um tanto envergonhado: - Bom dia irmã, bom dia ancião!
Joaninha olhou com ternura para Tiquinho, que mais parecia ter saído de dentro de uma fornalha, tanto maior se tornou a vermelhidão de sua bela bochecha.
Começaram a servir-se, e só depois, iniciaram a conversa.
-Bom, o ancião começou a falar primeiro: - Ontem a noite, enquanto descansavam, entrei em contato com nossos melhores guerreiros, e elaboramos um plano para tomar Esparta de volta. Porém, não queremos causar pânico na cidade, lembrando que os Islos não tem nenhuma decência. Eles querem o poder á qualquer custo, espalham o caos em quase todos os territórios. Para eles, o que conta é fazer de conta que se importam, pregam que a ordem é maléfica, falam em liberdade, apenas para que acreditem e se coloquem do lado deles. Ai, eles tiram proveito para eles mesmos.
Vamos por etapa, sem precipitação, a ordem é isso, Se entramos no jogo deles, teremos que jogar como eles. E o que eles querem é isso mesmo: desmoralizar o bem para implantar uma nova ordem, que é o caos.
-É isso mesmo! Tiquinho concordou: Dizem que querem levar a ordem para eles, quando sequestram um de nós. mas, a verdade é que eles querem prender a ordem para poderem implantar o caos sem serem importunados.
Dois dias depois, já prontos para a batalha, seguiram andando até o final da caverna, para depois seguirem voando até Esparta. Não levavam nenhuma arma, á não ser própria inteligência, a única arma que conheciam.
Logo que chegaram a cidade, desceram discretamente em cima de um grande pico que se desenhava acima da cidade, De lá podiam ver a movimentação lá embaixo, para poderem pensar em uma estratégia, que assegurasse a segurança de todos os Espartanos.
Viram o caos de perto, Joaninha e Tiquinho jamais poderiam imaginar que tudo aquilo fosse possível, tão acostumados a ordem e disciplina, quase vomitaram ao constatar tamanha desordem.
A cidade, antes tão bonita, agora, com o ar infestado de fumaça, quase a afogar toda aquela beleza.
Um cheiro forte de querosene subiu até eles, fazendo-os tossir sem parar. Foi preciso que o ancião lhes desse uma bebida preparada com gengibre.
-É disso que falo, o ancião se pôs a falar:- É esse tipo de vida que os Islos querem. Chamam isso de ciência e desenvolvimento, no entanto, essas majestosas máquinas só vomitam veneno.
E pode apostar que o nosso povo, agora, estão confinados em algum edifício fedorento, fabricando armas, sem consciência de que porão toda a sociedade em risco, inclusive á eles mesmos.
Havia guardas por todo lado, Joaninha não sabia por ronde começar.
Os guerreiros que trouxeram, com eles, só aguardavam a hora da chamada. Estavam ansiosos para começar a colocar a ordem de volta.
De repente, joaninha teve uma ideia, precisava falar com seu pai. saber ao certo, o que, realmente, estava acontecendo na cidade.
Pediu que á esperasse até que voltasse, Pulou do penhasco, um par de asas se abriram, ela, então se pôs a rondar o espaço entre a fumaça.
Viu sua pequena casinha quase a sumir entre os arvoredos. Os animais não estavam mais lá, tudo o que construíra ao longo dos anos, desaparecera por completo. Os currais pareciam apodrecidos, os caminhos estavam enlameados e cercados por vegetação densa.
Ao olhar mais de perto, notou que algumas máquinas estavam estacionadas bem em cima de seu jardim.
Uma tristeza imensa tomou conta de todo o seu ser, grossas lágrimas teimavam em descer sobre seu rosto.
-Não posso ficar tão emocionada, murmurou baixinho: - Tenho que me concentrar em meu objetivo.
Batendo as asas com mais força, logo alcançou a cidadela, o vento naquela hora, soprava á seu favor. Suspirou fundo, e soltou as suas asas devagar, foi aos poucos, deixando de lado a força. Flutuava como uma águia no céu. Deus alguns impulsos e deixou o vento á levar. Respirava com uma certa dificuldade, devido o cheiro forte que o vento trazia.
Puxou a cabeleira para trás, amarrando-o com os próprios fios. deixando seus olhos livres para observar.
Ao deparar com a casinha de seus pais, ela desceu alguns metros. Não havia ninguém ao redor, deu algumas voltas em torno da propriedade e tudo estava quieto.
Desceu devagar, quando seus pés alcançaram o chão, ela recolheu suas asas com muito cuidado. A porta estava trancada, resolveu dar umas batidinhas na porta, sempre alerta, caso, aparecessem alguns sujeitos indesejáveis. Ainda não saberia o que fazer. Não tinha armas, nem qualquer estratégia de fuga. Se a pegassem, seria o fim.
A porta se abriu e um homem de aparência cansada surgiu na porta, ao deparar com aquela figurinha tão preciosa, ele, rapidamente, a puxou para dentro, fechando a porta. Só então, se abraçaram, aquela troca de energia foi o suficiente para que ambos sentissem novo vigor.
Sua mãe também á abraçou, embora, ainda estivesse um pouco distante dos pais, devido a mentira que vivera por anos, ela os amava. E só percebeu, quando sentiu aquele imenso amor que estavam revelando naquele momento.
Conversaram um pouco sobre sua fuga, do porque fugira com Tiquinho, e de onde estavam por todo esse tempo.
O pai se emocionou ao saber que estiveram com sua amada irmã, ao mesmo tempo que se entristecia por saber que ainda estava sobre o poder dos Islos.
- Fizeram uma lavagem cerebral, ele dizia:
- Não queira se enganar, meu pai, sua irmã escolheu o que achava que era melhor para ela. Sempre escondida num só lugar, com a mesma gente de sempre, tudo organizado e sóbrio, Ela almejou uma outra situação que não fosse aquela.
Acredito, que, esteja sofrendo onde está, .porque não senti que está bem. Vi o medo nos olhos dela.
Bom, vamos ao que interessa, não temos tempo a perder!
Ripia enxugou as lágrimas com a palma das mãos, e tão logo se recompôs.
Passaram a conversar sobre os Islos. De como poderiam vencê-los.
Estamos encurralados, disse ele com uma certa agonia na voz. Estamos livres, ou melhor, parece que estamos, porque, depois que voltamos para casa, depois de servi-los, eles nos deixam em paz.
Talvez estejam nos testando, sei lá!
- Como, testando? Joaninha perguntou:
-Não sei! Parece que, estão a espera de algo, ou não acreditam mais em nosso poder!
- Será que não estão esperando por nós? - Quero dizer: Pelos deuses de Esparta?
Talvez estejam almejando tomar a cidade da ordem também!
- Pode ser! pois me parece tudo muito confuso ainda!
- E o que podemos fazer a respeito e como expulsá-los, sem que os espartanos sofram?
- Acho melhor bater de porta em porta, enquanto estão dormindo. Tirar eles e suas crianças de casa, levá-los para um lugar seguro, e só então, entrar em guerra.
- Boa ideia, papai, mas, não posso fazer isso sozinha, vou mandar uma mensagem telepática para Tiquinho e mais dois alados, e faremos a ação juntos.
- Ótimo, Assim que Tiquinho chegar entraremos em ação!
- Não, minha filha, vou começar agora, você, fique aqui e explique tudo direitinho para seu irmão e os outros.
-Sabe aquela loja abandonada do outro lado da colina?
-Sim, o que é que tem?
- É para lá que vamos levá-los. Sua mãe já esta arrumando as coisas para ir para lá o quanto antes possível!
- Tá bem!
Alguns minutos depois, os seres alados chegaram junto com Tiquinho, que após saber do plano, entraram também em ação.
Foi fácil convencer a população, afinal, eles também pertenciam a ordem.
A migração durou até a madrugada, Todos os espartanos foram retirados de suas casas e levados ao esconderijo. Graças as asas dos alados, nenhum inimigo percebeu.
Logo que a luz solar voltou, os Islos ficaram furiosos.
Joaninha os observou lá de cima, estavam espumando de tanta raiva. Não tinha mais ninguém para obedecer suas ordens. Sentiram que chegava a hora de atacar.
Tiquinho ficou um tanto amuado num canto, quase não falou desde que chegaram, então Joaninha o interpelou: - Por que não fala nada irmão?
Ele olhou-á com uma certa agonia nos olhos, respondendo: - Estou com vontade de vomitar!
-Por quê?
- Com muito medo de enfrentar os Islos!
- Mas, você também ajudou-nos nesta madrugada, e não senti que estava com medo!
- Sim, e não estava mesmo, só que agora, eles estão acordados!
- Não podíamos acabar com eles enquanto dormiam, isso seria imoral!
-Eu sei! Só que, seria bem melhor que se ter moral!
Joaninha deu uma gostosa gargalhada, dando um tapinha nas costas do irmão e balbuciando bem baixinho em seu ouvido: - Amo esse seu senso de humor!
Logo ela se voltou para o ancião da guerra perguntando:- Como faremos?
O ancião respondeu com uma voz enigmática: - Logo saberemos!
Foi então que se ouviu a voz trêmula de Tiquinho: - Não sei como vamos nos defender sem armas?
O ancião olhou para o montinho de gente que eles tinham. Realmente, olhando assim, não dava para acreditar que poriam os Islos para correr. Mas eles tinham um triunfo, pensou:
- Sei que estão meio perdidos ainda, mas, creiam-me, Na hora, vocês saberão o que fazer!
E levantaram voo quase que em sintonia, á não ser o atrasadinho do Tiquinho, que mais uma vez, pareceu grudado ao chão.
Joaninha precisou abortar o voo e voltar para quase arrastar Tiquinho pelas asas, e falou meio rispidamente: - Vamos! chega de covardia, somos ou não somos uma dupla do barulho?
E saíram a bater suas asas.
Ao chegarem ao chão, foram aparecendo devagar, quase a contar os passos. Foi quando se depararam com dois dos guardas Islanos.
Joaninha se apavorou, encolheu-se um pouco atrás de Tiquinho, que logo se pôs a se esconder atrás dela. O homem que estava a frente, empunhou uma arma de fogo, mirando-á nos olhos, ela colocou as duas mãos na frente, como se, assim, pudesse se defender. Fechou os olhos, logo ela ouviu um pequeno estrondo, que mais se parecia com uma baleia á explodir, sentiu uma mão em seu ombro, pensou ter morrido, e qual não foi a surpresa ao deparar-se com uma mancha negra na terra batida. Olhou para a palma de suas mãos, elas estavam um tanto chamuscadas, mas, estavam inteiras. Viu o outro homem correndo como se tivesse visto algo estarrecedor. Não entendeu direito o que se passava, foi só quando ouviu a voz do irmão, que pareceu voltar a realidade. Tiquinho quase gritava: - Você viu o que fez?
Nunca pensei que pudesse ver isso algum dia!
- O que foi que fiz, ela perguntou, assustada: - Você encostou seus dedos na arma do atirador, quando eu pensei que seu cérebro ia explodir, Foi a arma que explodiu e detonou o homem, que virou pó.
O outro guarda ficou tão assustado, que saiu correndo, largando sua arma no chão.
Joaninha olhou para as mãos, novamente, como se, assim, pudesse entender o que se passara.
Pisou em cima da marca preta que se desenhara no chão, não havia nada, só um punhado de carvão.
Agora podia entender as palavras do ancião: Ao primeiro sinal de perigo, você saberá o que fazer!
- Minhas mãos, ela gaguejou: - O que mais descobrirei sobre mim?
Tiquinho ainda estava boquiaberto, pensando consigo mesmo: - Será que também tenho esse dom?
Tirou a mão dos ombros da irmã, quase que imediatamente, balançando-ás ligeiramente, para evitar acontecer o mesmo com ela.
Joaninha deu um sorrisinho amarelo, falando logo a seguir: - Seu bobo, acha mesmo que as nossas mãos queimam? Já toquei em muita gente e nada aconteceu!
- Vai saber né? Tiquinho respondeu: - Não sei mais quem sou e nem o que se esconde dentro dessa manga!
O ancião ouvindo a conversa sorriu divertindo-se com a situação, falando a seguir:- Muitas coisas ainda estão encobertas, não podemos saber qual é a missão de cada um, nem seus propósitos, nem quais os dons. Por isso é que as pessoas falam em missão. Lembram-se das pessoas que Joaninha salvou la em Núbia? Pois é! Nem eram deuses, mas, havia, uma historia contada ha muito tempo, sobre um casal, cujo propósito, era mesmo, o de tomar o lugar dos seus pais por algum tempo. Os deuses nascem e demoram para entender que seus passos já estão estabelecidos antes mesmo que nasçam.
Na história dos Espartanos conta-se o seguinte: uma menina nasceria para libertar seu povo da tirania de Islos, Estaria sozinha, por longo tempo, até atingir a flor da idade. Aprenderia, desde cedo, á ter uma certa independência, supervisionada por terceiros, que, sem saber, eram membros da mesma familia. Quando esta, despertasse para a maturidade, entenderia que as peças pareceriam todas espalhadas e sem sentido, Porém, tão logo descobrisse quem era, a vida lhe faria uma surpresa.
- Qual surpresa? ela perguntou:
E foi Tiquinho quem respondeu: - Eu, sua boba!
E ambos caíram na gargalhada!
- E é mesmo tiquinho, o ancião falou: - Ela saberia que tinha um irmão com os mesmos dons que ela, e juntos, formariam uma dupla indestrutível!
Agora, resta pensar sobre qual será o passo seguinte, antes que os Islos possam chegar em Núbia!
- Acredito que já chegaram, Joaninha comentou:- seria uma ótima hora para dar um basta nessa historia, de uma vez por todas, eu amava a forma de vida de antes, não vejo a hora de voltar a ser uma pessoa normal.
O ancião concordou com Joaninha e declarou que precisavam voar até o planeta Nubia.
E foi o que fizeram a seguir.
A viagem foi meio desgastante para a caravana alada. Teria sido bem mais fácil se tivessem uma nave.
O silencio era ameaçador, só se ouviam o bater das asas dentro de um tremendo vazio sem fim. Tiquinho e Joaninha já tinham feito isso antes, mas, agora lhes parecia bem mais angustiante, porque seria uma grande batalha.
Talvez a maior batalha de suas vidas.
Ao adentrarem a cidade, eles se separaram. uma ave solitária não despertaria interesse, mas, um bando, faria, com que, as pessoas ficassem espantadas e procurariam saber se eram mesmo aves.
Joaninha foi a primeira a chegar nas ruínas, ela desceu devagar sobre um rochedo ao lado do palácio central. Chamavam-no de palácio, mas, na verdade, mais se parecia com um lugar tenebroso e úmido.
Entre arvoredos que cresciam desproporcionadamente, havia flores brancas e desbotadas, disputando entre elas alguns raios de sol.
Tudo cheirava mal, ferros retorcidos, pneus, veículos enferrujados, entre outras ferragens, fazendo parte de uma paisagem de caos.
Nem precisaria contar que aquele lugar era, de fato, um lugar amaldiçoado pelo mal.
Havia um caminhinho que se estendia até a grande porta de ferro, que até pareceria simpático, não fosse a bagunça em sua volta.
Um hangar do lado esquerdo, exalando um forte odor de óleo e querosene, parafusos enormes jogados ao redor, entre emaranhados de fios e arame.
Até o telhado estava lotado de tralhas.
Não havia muros, apenas pedras amontoadas, repletas de musgos e folhagens impactantes de urtigas e espinhos.
A coloração do imponente prédio estava tão decadente, parecendo abandonado há muito tempo. E os guardas que ali permaneciam, estavam maltrapilhos e doentes por causa do grande consumo de álcool.
Uma grande pilha de latas e garrafas de vidro quase adentrava a casa.
Joaninha não entendia como essa gente vivia. O que eles tanto faziam, se não tinham tempo nem para organizar o próprio quintal.
Da ultima vez em que estivera ali, não tivera muito tempo para perceber tamanho desleixo. E era tão notável como o sol do meio dia.
Tomando muito cuidado, desceu do rochedo onde se encontrava, é pé ante pé, foi, desviando dos muitos obstáculos que havia em todos os lugares. Várias aves de rapina sobrevoavam o lugar, procurando por carne decomposta. Ela não queria voar entre elas.
Devagar, quase sem fazer ruído, ela alcançou um pequeno vale, que se encontrava, miraculosamente limpo, despertando nela um certo interesse.
Havia alguns banquinhos de madeira entre algumas árvores frutíferas, o único lugar que cheirava um tanto melhor. Foi quando uma mão pesada lhe tocou os ombros. e lhe falou com uma voz carinhosa: -- -Minha sobrinha, como você chegou aqui, novamente?
Ela se virou encontrando uma mulher diferente daquela que conhecera. Estava magra e maltrapilha, mais parecendo uma bruxa dos contos de fada. Vestia-se de preto, um vestido longo a cobria até os pés. um manto estava jogado nos ombros e uma renda cobria-lhe a cabeça.
Densas rugas acentuava-se em um semblante sofrido, sem nenhuma cor, olhos vermelhos e inchados compunha a criatura.
- Titia, ela falou num fio de voz:- O que aconteceu com a senhora?
- Tudo! ela respondeu:- Depois que os Islos foram expulsos novamente de Esparta, sendo enganados por vocês, A ira do meu marido se voltou contra mim. Ele me culpa pelos seus infortúnios, Diz que, se não fosse por mim, nada disso teria acontecido, que o mal que se abalou até nós, é culpa da minha presença nesse planeta. Que vocês estão se vingando de mim, por ser tão burra a ponto de negligenciar meu próprio povo.
Me sinto culpada, as vezes, mas eu bem que queria voltar para casa, mas não posso, vocês jamais me aceitariam de volta, depois de ter cometido o pecado de abandoná-los e seguir junto do assassino de meu pai.
- Tia, você está enganada, Nós, digo, sua família, até o dia de hoje, não se conforma com a sua partida. Todos se entristecem ao saber que preferiu o caos ao invés da ordem. e todos se perguntam por quê?
- Minha filha, ela começou a falar: - Eu era muito jovem, e como todos os jovens fui tremendamente imprudente, Achei.. parou de falar por alguns instantes, suspirando, para depois continuar: - Achei mesmo que ninguém se importava comigo, todos os meus irmãos eram homens, e os homens sempre se destacavam em tudo. A ordem nos ensinava que as mulheres sempre estariam de lado, só observando o que seus homens faziam. Lavando, limpando, cuidando da casa e dos filhos. Eu queria mais do que isto. Eu queria ter poder, e achava que uma mulher também poderia comandar e ser tão habilidosa quanto qualquer macho.
Foi então, que conheci Gutengard, ele tinha mel nos lábios, me dizia, sempre, do quanto era importante e bonita, também me incentivou a esquecer os bons modos. Me enlouqueceu com seus elogios. Me ofereceu o céu que buscava, o poder que nunca me deram.
Me convenceu de que seria o caos a desenvolver o mundo, que a ordem só servia para quem se servia dela.
Ao deparar com a morte de meu pai, tudo me soava melhor. Estava livre, e poderia fazer o que bem entendesse dessa liberdade. Foi então, que desapareci, sai do radar, ninguém mais me faria de boba.
- E porque agora, me diz estar arrependida?
- Porque os anos passaram, e com os anos veio a idade, com a idade vem um relacionamento com a gente mesmo, e começamos a refletir sobre nossas escolhas. E nos deparamos com a realidade.
- De que realidade fala, minha tia?
-Da minha, da nossa, de todos! - Olho para tudo que me rodeia e me pergunto: Era isso mesmo que queria? E me vem uma voz que me diz: Não! Esperava muito mais!
E esperava mesmo, hoje eu só vejo ruínas e revolta. Um povo massacrado e sem direção. Um único homem querendo controlar todos, e não é um controle por respeito, mas, pela força do dinheiro e armas.
Tem um exercito inteiro para cumprir suas ordens, homens que lambem suas botas, que são bem pagos para o assistirem, que sobrepujam os inocentes, que tiram da mesa do pai, o almoço dos filhos. Eles comem do melhor, enquanto o pior é posto no cocho.
Todos sem defesa e eles com os melhores guardas armados. Sem ordem e sem merecimento, apenas homens sem valor.
- Espanca-me agora, como se não significasse mais nada para ele. Todo aquele amor despareceu. Põe seus guardas para vigiar-me. Sou apenas uma sombra que o apavora.
- Nossa? E o que pretende fazer?
- Se pudesse iria embora, mas com quem, e para onde?
De repente um barulho de passos vinha da estrada, Goswnia empurrou Joaninha atrás de si, falando para que ficasse quieta.
Um guarda seguiu até ela e tomando-a pelo braço, puxou-a com força, Joaninha deslizou sobre as pernas da mulher e se viu deitada sobre a relva, completamente vulnerável. O guarda olhou para Goswnia com surpresa, falando rispidamente a seguir: - O que significa isso? Quem é ela?
Goswnia arregalou os olhos e sem ter mais o que esconder respondeu: - Não faça nenhum mal á ela, é minha sobrinha!
- Sua sobrinha, como assim?
- Minha sobrinha! só isso, falou:
O guarda pegou Gowsnia com uma das mãos e segurou Joaninha com a outra, as empurrando para a estrada que os levaria a casa. Os dois lados do caminho estavam repletos de lixo, e o fedor era insuportável, Joaninha se perguntava como alguém poderia viver nesse caos e ainda achar que estaria tudo certo.
Ao adentrarem a casa, passaram por duas salas amplas, As paredes estavam sujas e os moveis poeirentos se aglomeravam como se ali fossem jogados sem nenhum cuidado.
Da ultima vez que estivera ali, não tinha percebido o quanto o lugar parecia triste.
Ao chegarem numa espécie de escritório, alguém estava sentado numa grande poltrona disposta atrás de uma mesa de madeira grosseira. O ambiente parecia tão grosseiro quanto o homem que estava sentado.
Ele se levantou, rapidamente, e com um vozeirão de causar medo, foi logo despejando seu mau humor: - O que fazem aqui? nem permitiu que os dois produzissem nenhum som:- Já disse que não quero que me incomodem quando estou ocupado, o que foi desta vez?
Só então reparou na menina, que assustada demais, se encurralou atrás do guarda.
- Quem é? perguntou:
Só então goswnia conseguiu responder:- esta é a minha sobrinha, aquela que lhe falei!
- Ah! a princesinha de merda, que pensa ser alguma coisa e acha que vai vencer á mim?
- Já matei um dos Creens que se achava invencível. Por muito tempo pensei em invadir seus territórios para matar todos os descendentes, mas não contava com a aureola que se formou em torno de seus planetas, eu sabia que se trouxesse um dos seus, um dia, alguém viria, por conta própria, tentar libertá-la, só não pensei que demoraria tanto. E nem tão pouco imaginei que seria uma pirralha de cabelos cor de fogo!
Goswnia olhou para o marido com lágrimas nos olhos, sentiu náuseas por saber, tardiamente, que, para ele, ela não passava de isca.
No entanto, não podia fazer nada naquele momento, seria como se entregar a morte. Ficou quieta, ensaiando um sorrisinho como se concordasse com ele, mas, por dentro já tinha tomado sua decisão.
Enquanto isso, lá no morro, os Creens estavam de olho, ainda não era a hora de descerem, não queriam ser capturados, apenas tiquinho mordia os lábios de tanta aflição. Sempre fora o guardião de Joaninha, nunca pensou em ficar parado, quando á via em perigo.
O sábio ancião o alertava para não fazer nenhuma besteira, só entrariam em ação, caso recebessem o aviso, e ainda não havia nada para se preocuparem, ele sentia a respiração ofegante de Joaninha e sabia que seria só a adrenalina que corria em suas veias.
Gutengard espumava pelos cantos da boca, pediu que amarrassem as mãos de Joaninha, sabia que se ela conseguisse usá-las, seria seu fim, Levaram-na até o final da ante sala e a colocaram num quarto escuro, precisou tatear até encontrar uma cama, sentou-se!
A porta foi fechada e ela ficou ali, completamente sozinha, na escuridão total, o cômodo cheirava a mofo. precisou tampar o nariz e usar apenas a boca para respirar, e mesmo assim, parecia que respirava pó.
Alguns segundos depois, a porta novamente se abriu, uma luz fraca se acendeu acima dela, ofuscando lhe a visão. Aquela voz temida se fez ouvir novamente. O grandalhão puxou um velho banquinho, arrastando até a borda da cama, sentando-se em seguida.
-Quero conversar um pouco com você, começou a falar: - Diga-me! Você realmente acredita que é uma deusa?
Ela olhou-o nos olhos por alguns instantes, encarando-o com uma coragem imensa estampada nos olhos, antes de responder-lhe com segurança na voz: - Não! Não acho que sou uma deusa, apenas sou o que sou. Uma mulher que nasceu com dons. Talvez, entre vocês, também pode haver muitos homens e mulheres com algum dom especial, Mas, esse poder que alguns determinam para si mesmos, não os deixam ver.
O homenzarrão á olhou um tanto surpreso, esperava ouvir uma resposta orgulhosa da parte dela.
- Então, você se sente uma mulher comum?
A menina sentiu que o chefe á estava provocando para distrair sua atenção e tentar arrancar dela algum fato novo.
Ela abaixou a cabeça, numa postura quase que submissa e respondeu com segurança na voz: - Olha! eu sei bem para que caminho quer levar essa conversa! O que realmente quer saber?
O homem se levantou de repente, começou a se mover de um lado para o outro, parecendo desconfortável em sua presença.
- Eu, na verdade, queria realmente descobrir o por que de seu povo ser tão alienado!
- Alienado? Não! Não somos nada disso, ela falou em alto e bom som: - Aprendi desde cedo, que a disciplina evita mau comportamento, A ordem é que nos faz um povo livre!
O homem deu uma risada nervosa antes de cortar sua narrativa: - Liberdade! De que liberdade você fala! Liberdade, para mim, é o poder! É ser quem eu quiser, usar a força de outros em meu beneficio. Dar um tanto para receber os tantos!
Pode notar, sou dono de quase tudo por essas bandas. Todos esses planetas habitados tremem só de ouvir falar meu nome!
- E o que ganha com isso? perguntou:
- Tudo! Meus negócios prosperam, posso ir e vir para onde eu queira, sem que ninguém dirija meus passos! Só falta o seu povo se unir a mim, o único desejo que ainda não consegui satisfazer! E me pergunto como?
- Meu povo está seguro, enquanto ainda houver algum ancião a nos ensinar o dever e a ordem. De quando em quando, nasce alguém com o dom de hierarquia. Não se sabe como, mas, os espartanos, embora sejam de uma origem Creeniana, tem hábitos e crenças próprias. Nascem para a liberdade, sem usar a liberdade como desculpa para lesar ou represar ninguém. Todos trabalham, constroem seus lares, e se ajudam mutuamente.
Respeitam os mais velhos. ouvem as histórias de conquistas e se baseiam nelas para construir a paz.
Os mais jovens estão de ouvidos e olhos abertos, aprendendo algum oficio que mais lhes agrade. Temos tudo: Lealdade, afetividade e principalmente, respeito para com aqueles que são os guardiões da ordem.
Não somos alienados! Apenas não concordamos com o crescimento desordenado, com a produção a qualquer preço. Nos contentamos com o que temos, tomando o devido cuidado, para que, no futuro, nossos filhos possam encontrar um bom lugar para viver.
- Sem riquezas? duvido!
- Depende do que entende por riqueza! ela respondeu: - Se realmente, acredita em seu modo de viver, então, porque quer entrar em nosso mundo?
O que pretende! acabar com o que resta de floresta, acabar com o que resta de precioso na terra? E depois que tudo estiver esgotado, o que o seu povo terá para sobreviver?
- Encontraremos outros planetas para explorar, outros povos para escravizar. Isso é viver!
Ela ficou quieta, percebendo que de nada adiantaria ficar horas debatendo com ele, seu ponto de vista estava equivocado e seu gosto por poder o havia dominado por completo.
Quando Gutengard percebeu que falaria sozinho, seguiu em direção a porta, batendo-a com força ao sair.
Joaninha estava aflita, não sabia como sairia dessa. Estava com vontade de chamar seus amigos, mas, achava que ainda não era a hora certa para desencadear uma guerra. Preferia ficar ali, quieta, a fazer seus planos. Não queria matar, só dar um basta naquela perseguição.
Enquanto isso, Esparta voltava a sua vida normal.
E acima, Tiquinho e seus amigos guerreiros, estavam aflitos para encarar os Islos., porém, conhecendo a lenda referente a princesa, teriam que ter paciência e equilíbrio para esperar.
E o tempo passou, chegando a noite, todos se amontoaram embaixo de uma grande figueira, estava frio, mas, não podiam sequer acender uma fogueira,
Já era muito tarde, Joaninha ainda estava desperta, quando ouviu a porta de sua cela ranger, alguém estava entrado. ela fingiu dormir, percebendo que alguém se aproximava.
Sentiu uma mão tampar a sua boca, abriu os olhos e se viu diante de sua tia, que, pedia silêncio.
-Quero conversar! sua tia pronunciou baixinho:
-Conversar sobre o quê? Joaninha perguntou:
- Quero tirá-la daqui, mas, antes, preciso saber, se posso ir com você!
-Ir comigo? Para onde?
-Esparta, ela disse quase aos sussurros: - Depois, talvez, se me perdoarem, quero seguir até a terra dos Creens.
-As terras dos Creens?, Joaninha perguntou em tom de surpresa: -Você está brincando comigo, ou é sério, por que, até onde sei, é aliada dos Íslos!
-Sim! Sou, ou melhor, era! Há algum tempo, venho pensando sobre isso, do quanto fui ingrata com meu povo. Penso em meu pai todos os dias, e sofro muito quando penso que o perdi!
Quero entrar na cidade de cabeça erguida, e com sinceridade de coração, pedir perdão a todos!
-E só agora? penso que esta querendo me enganar!
-Tem todo direito de duvidar de mim, pois, fui cruel em me casar com um de seus inimigos!
-Só isso? Foi muito mais cruel, ainda, ao me colocar, junto com meu irmão, presos numa gaiola de ferro, e ter nos largados lá para morrer!
-Sinto muito! ela disse com sinceridade:- Ontem, depois que Gutengard saiu daqui, ele me encostou na parede. Disse que estou protegendo meu povo, e que, depois que dominar as terras de Esparta, ele quer entrar em nosso mundo secreto. Tomar toda a riqueza do lugar, e se tornar o rei de todos os planetas.
Disse também, que me matará e se casará com você.
-Casar-se comigo? Joaninha não pode conter um sorriso.
Quem ele pensa que é?
- Ele é poderoso, você já deveria saber disso?
-Eu sei, mas, nós somos inteligentes!
-Inteligência não pode concorrer com força, a tia respondeu com aflição na voz:
- Todos os planetas ao arredores de Esparta, de norte a sul, estão dominado pelo caos. E você não tem ideia do que isto significa!
-Tenho sim! Não sou mais criança, sei perfeitamente o que isto significa, sei também , que não estamos na mesma frequência. somos incapazes de produzir males a quem quer que seja!
E os Islos, ao contrario, são capazes de destruir todos os mundos em busca de riqueza e poder.
Só não sei onde isso vai chegar. A destruição dos valores morais e éticos, podem se agravar com o tempo e ninguém escapará do terror.
Até mesmo os Islos podem sofrer as consequências, mas, de nada adianta alertar, porque estão cegos e surdos, se fazendo de bonzinhos, enquanto banqueteiam-se as custas dos outros.
-Preciso pensar bem no que fazer, para não causar mais pânico por estas bandas. Ainda resta um pouco de dignidade entre as pessoas deste lugar e arredores!
- Como sabe? Goswnia perguntou:
-Já andei em algumas cidadelas, conversando com alguns moradores. Tudo o que eles querem é se verem livres dos impostos absurdos que os Islos os obrigam a pagarem. Não aguentam mais tanta anarquia.
Goswnia olhou para a sobrinha um tanto temerosa. Pensava consigo mesma:- Como uma menina tão frágil poderia combater pessoas tão inescrupulosas?
Não queria causar pânico na menina, mas, conhecia bem o marido e seus aliados, sabia bem do que eram capazes. Tocariam fogo até mesmo na mãe para conseguirem o que queriam.
-Escute bem, Goswnia falou num tom de voz cauteloso: - Eu tiro você daqui, Sairemos juntas, Sei de um caminho onde os guardas não tem acesso. Pegamos sua nave, rumaremos para Runia, depois para Esparta, fecharemos o portal e nunca mais falaremos sobre o assunto, Será melhor para todo mundo!
-Será melhor para você, ela respondeu: - Porque eu vim, para cá, a fim de resolver o problema de uma vez. Não quero que meu povo viva na insegurança, quero meu povo livre e também quero livrar todos os povos dos planetas existentes. Para que nunca mais nos sintamos encurralados por esse tipo de poder maligno.
- E como você fará isso?
- Ainda não sei!
- Se não sabe, porque não saímos daqui para você se preparar?
-Porque não estou sozinha e também não tenho uma nave!
-Como não tem nave? E como chegou até aqui?
- Não importa!
- Como não importa, Só quero ajudar!
- É melhor que ainda não saiba!
- Não quer fugir enquanto ainda é tempo, tem certeza?
- Sim! tenho! Agora te peço que saia, volte a fingir que está tudo bem, assim que resolva o que fazer, você saberá, e acredite, nenhum mal vai lhe acontecer. Quando tudo tiver terminado, levaremos você de volta, Tá bem assim?
- Confio em você! mas não me decepcione por favor!
- Nunca farei isso, Sou a... ia falar princesa da ordem! porém resolveu se calar. Ao invés disso, falou: Sou descendente dos Creens, esqueceu?
- Não! não esqueci, mas, eu também era! Franziu a testa e saiu pela mesma porta em que entrara!
Assim que sua tia fechou a porta, esperou alguns minutos e saiu também, atravessou a casa bem de mansinho, e assim que alcançou o patamar, abriu suas asas e voou até o morro onde seus nervosos amigos a esperavam. Assim que a viram pousar, ouve murmúrios de grande alivio por parte de todos. Foi Tiquinho o primeiro a perguntar: - Por que demorou tanto, estávamos aflitos para saber qual seria o grande plano?
Joaninha sorriu, olhando Tiquinho nos olhos ao responder: - Primeiro dá-me um abraço! Jogou-se na frente dele, enquanto o irmão a envolvia pela cintura, ela quase o enforcou, pela força da saudade!
Depois cumprimentou os outros.
Sentindo a tensão da curiosidade aumentando entre eles se pôs a contar seus planos: - Pensei muito nesses dias de reclusão, Gutengard sairá para uma reunião com seus aliados, amanhã de manhã, isso ele mesmo me contou. Não adiantaria nada atacá-lo agora, já que seus comparsas também precisam ser eliminados. Senão, acabaríamos por ter duas guerras sem necessidade. Já conversei com minha tia Gowsnia, embora não tenha lhe contado sobre meus planos, ela diz-se arrependida por ter apunhalado sua família pelas costas, mas, ainda é preciso provar sua lealdade, não sei até que ponto podemos confiar nela.
Gutengard nem desconfia que eu possa sair da cela, ele pensa que estou em seu poder. E precisamos que pense assim até o momento certo.
Tiquinho coçava a cabeça sem entender nada. Esperava que a irmã fosse um pouco mais direta. Hesitou um pouco antes de falar com aspereza na voz: - E o que espera de nós? Queremos que vá direto ao ponto, antes que as coisas piorem em nosso planeta. Se deixarmos o tempo passar, poderá ser tarde, se os Islos tomarem nossa cidadela, nunca mais deixaremos de ser escravos.
Joaninha olhou para o irmão com um olhar de tristeza antes de pronunciar essas palavras: - Olha, meu irmão, sei que você esteve, por muito tempo, encarando uma mentira, trabalhou incansavelmente para me sentir confortável, sem saber que também era um príncipe. Talvez, eu não sei direito, mas, acredito que você é bem mais corajoso e inteligente do que pensa. Essa sua mania de querer tudo para ontem, seja apenas a vontade de colocar seus dons em pratica, porém, sabe muito bem, que um plano tem de ser muito bem elaborado, para que não ajam falhas na execução, que pode, facilmente, acabar em tragédia.
Desculpem-me se os deixei esperando aqui em cima, sem fogo e sem teto, mas, era necessário que descobrisse os planos diabólicos de nosso inimigo, antes de eliminá-lo.
Todos ficaram calados enquanto Joaninha falava, até mesmo seu mais fiel ancião á ouvia atentamente, orgulhoso de sua mais nova aluna.
-Voltarei para minha cela, e vocês dormirão mais uma noite aqui em cima, sobre a luz do luar, aproveitem! por que amanhã terão que usar suas armas.
Se despediu dos seus amigos e voltou sem fazer nenhum ruído. A noite foi longa, pois não conseguiu pregar os olhos ante a ansiedade pelo dia seguinte.
Pela manhã, alguém colocou um pouco de café com leite e algumas bolachas pelo vão da porta. Ela se alimentou, enquanto ouvia os burburinhos vindo de fora. Lá pelas oito da manhã, ouviu o ronco do motor de uma nave que imediatamente lançou-se nos ares.
Não precisou abrir a porta, atravessou a parede de concreto como se ali não houvesse nada, aprendera muito sobre si mesma naqueles dias de reclusão. Tinha poderes da qual ela mesma duvidava.
Voou o mais alto que pode, o vento estava soprando contra, mas, isso não impediu que ela chegasse até o topo do morro, onde seus amigos á esperavam cheios de expectativas. Nunca sabiam o que viria na hora seguinte, mas, se encontravam preparados para tudo.
Conversaram por alguns segundos, traçando um breve plano, antes de rumarem para a cidade.
Rúnia parecia deserta naquela hora, poucos transeunte seguiam rumo ao trabalho. Até mesmo as horas sofriam um certo atraso naquela cidade de caos.
Logo avistaram a pomposa sede governamental, que se assentava no mais alto. Algumas naves descansavam sobre a pista que se alongava até o portão.
Ficaram parados a uma certa distancia até que não houvesse mais nenhuma nave a descer.
Só então, se prepararam para atacar.
De imediato os guardas iam sendo vencidos um a um, sem muito esforço. Bastava que levantassem as mãos para que suas armas não funcionasse, tornando a missão meio que sem graça, afirmou Tiquinho em mais um de seus resmungos:
Porém, a parte mais difícil daquela guerra ainda estaria por vir. Vencer os Islos não seria uma coisa tão simples. Eles eram poderosos, não mediriam esforços para derrotá-los, sempre tinham alguma carta na manga. Por isso é que decidiram atacá-los de surpresa.
Quando conseguiram entrar no aposento, notaram, que, todos estavam tão absortos em ouvir o comandante, que nem notaram a guerra silenciosa que se desenvolveu lá fora. Também não notaram quando adentraram a sala. Pararam um pouco atrás do povo que estava aglomerado diante dos vários tronos que se encontrava no piso superior, um tanto mais alto de onde os ouvintes se assentavam. Alguns homens vestidos de preto, tinham uma estatura amedrontadora, pareciam que tinham saído das páginas de um livro de gigantes.
A figura do comandante nem era assim tão ameaçadora pelo porte, mas destilava fel por todos os poros, e suas palavras eram cortantes como navalha.
Assim dizia: - Precisamos ampliar o caos, só assim, sobreviveremos.
A ordem espartana nos ameaça, agora, com mais filiados que antes.
Como realizaremos nossos desejos se nos colocarem para trabalhar em prol uns dos outros?
Se é através da ruína que conseguimos chegar até aqui.
Quanto mais escravos, menos gastos. Quanto mais corruptos somos, mais e mais ganhamos sem derramar suores.
A educação só nos atrasa, a bondade só nos consome.
Precisamos que o caos seja uma constante, senão, padeceremos nas mãos daqueles que nos querem converter.
Dizem as más línguas que essa cidade vive o seu melhor momento, por causa daqueles dois espartanos que viviam na gaiola da árvore,
Que por causa deles a cidade vive em paz, mas, não é verdade,
Vejam bem que não sejam enganados, porque, já faz um bom tempo em que deixaram que fossem arrebatados e mesmo assim, nós os defendemos e tudo permanece igual.
Tá certo que houve alguma prosperidade por essas bandas, Só que não foi por causa da ordem, e sim, pelo caos, que vem investindo muito na ampliação comercial por aqui.
Hoje, quero deixar bem claro nessa reunião: quem não está com a gente, está contra nós, e será punido como contraventor.
Queremos unir forças para acabar, de vez, com todos os Espartanos. Queremos dominar o mundo todo.
E para que isso se torne realidade, precisamos desconstruir mitos e lendas, que, por ventura, quererem nos derrubar, para construir o seu império dominador e conservador. Nós lhe oferecemos a liberdade plena - podem fazer o que quiserem, desde que estejamos falando a mesma língua. Vocês terão de tudo: casa, alimento, de graça ou quase, desde que nos ajudem em nossa missão de derrubar a ordem. Tudo o que conquistarmos vocês também serão donos, poderão viajar de lá para cá, de uma parte a outra de qualquer planeta, sem nenhuma restrição, só precisarão obedecer a mim. Nós construiremos vários hangares, com naves cada vez mais potentes, Cobraremos passagens com preços acessíveis e os levaremos ao futuro, desbravando outros planetas, inclusive aquele que está escondido com os Espartanos, que seguram a melhor região, sem permissão de exploração. Um planeta virgem, repleto de pedras preciosas, com as melhores terras.
Uma salva de palmas acabou com o silencio do salão, pessoas assobiavam e falavam uns com os outros, tudo ao mesmo tempo, enquanto o orgulhoso Gutengard estufava o peito com seu inflado ego.
De repente se ouviu uma voz rouca, que em alto e bom som perguntava: - E como conseguiremos quebrar a barragem que nos impedem de entrar no mundo da Ordem?
Gutngard tomou novamente a palavra:
- Caros nubianos, já tenho alguns em minhas mãos, só me resta saber em que momento devo usá-los. Não posso lutar com eles sozinho, preciso dos meus conterrâneos, de todos os que moram ao arredores,
O planeta Estrape já esteve sobre meu domínio. Eles mataram alguns dos nossos, pondo outros para correr, Ainda resta alguns infiltrados, que, insistem em ficar por lá. Saibam, todos vocês, que não será fácil,
Eles tem raça, São diferente de nós. Há entre eles, alguns defensores com poderes extraordinário. Precisamos combater uma lenda.
Tiquinho que já não aguentava mais tanta arrogância, tocou de leve as mãos de Joaninha, que olhou para ele com cara de preocupação.
Deus um sinal para que saíssem, a reunião logo se encerraria e ela não queria que fossem descobertos antes do tempo.
Tiquinho saiu meio decepcionado com a irmã. Perguntou-lhe assim que se distanciaram do barracão: -- -Não vamos atacar?
-Ainda não! Ela respondeu com uma certa apreensão na voz: - Vamos voltar para casa!
Todos aqueles que estavam com ela ficaram estarrecidos com tal decisão e a confrontaram de imediato: - Viemos de tão longe apenas para assistir a reunião dos Islos com os Núbios, É isso mesmo?
Tiquinho aproveitou a onda de insatisfação para também retrucar: - Não viemos aqui para a guerra, ou vamos esperar que ataquem primeiro?
Joaninha respirou fundo antes de responder, afastou uma pequena mecha de cabelos que caia sobre o rosto: - Olha, eu sei que pode parecer estranho para cada um de vocês, mas, é exatamente isso que vamos fazer. Esperar!
Não somos como os Islos, Gutngard tem razão quando fala que somos de raça e que temos um poder extraordinário. Nunca atacaremos apenas por atacar, assim como eles fazem covardemente. Voltaremos para casa, tocaremos a nossa vida para frente e defenderemos nosso povo. Se um dia eles nos colocarem em perigo, dai, sim! mostraremos nossa força. Espero, que, assim que colocarmos nossos pés em terras Espartanas, vocês possam pesquisar um pouco mais sobre o nosso povo, que, de maneira alguma fere quem quer que seja, pelas costas.
Todos olharam para a menina com admiração, concluindo que estava certa e que sempre seriam fiéis a ela.
Deram meia volta, abrindo suas asas quase que em sintonia, adentrando os ares, rumo ao portal. Estava escancarado, como se esperasse por eles. Sabiam que o deixariam aberto, ainda, que, por pouco tempo, até que se realizassem em seus intentos, como reis e rainhas que sempre seriam.
Esparta estava quieta naquela hora. O sol ainda sonolento e desprovido de intensidade, apenas sondava atrás dos montes, alguns pontinhos de seres que despertavam para a labuta de mais um dia de trabalho e ordem.
Adentraram a cidade e pousaram, delicadamente, assim como uma águia pousa em um galho, depois de tantos esforços.
Não sabiam quando se veriam novamente. E foram se despedindo, para cada um voltar para sua suas respectivas casas.
Joaninha foi a pé até a sua pequena cabana, onde os animais, cheios de saudade, lhe saudaram com suas falas correspondentes.
O lugar estava limpo, mas, parecia abandonado.
Hugs, seu fiel escudeiro, havia trabalhado para que seus animais não sentissem tanto a sua ausência, e isto era bem visível, ao sentir a alegria da bicharada ao vê-la andar pelo vale.
Mas, a casinha, estava tão apagada, mais parecia um ranchinho que sofrera abandono e que chorara, por longo tempo, a ausência de cuidado e amor. As folhas se amontoavam na entrada, quase, que, parecendo um tapete vivo.
Abrindo a porta sentiu ainda mais o abandono, A porta rangeu em desespero. Precisou forçá-la para que se abrisse, ressecada de cuidado, desfalecia.
Ficou sentada no banco em frente ao fogão apagado, imersa em pensamento, quase tão frio quanto ele.
Sentiu-se revigorada após alguns momentos, até se lembrar que tinha muita coisa para fazer.
Levantou-se e deslocou-se devagar até o quarto escuro, abriu a janela e sentiu uma baforada de vento vindo de fora. O ar arejado adentrou o aposento, trazendo o perfume das flores até suas narinas, Sorriu feliz.
Tirou a roupa da cama, dispondo-a num cesto que tinha pego no banheiro, Tirou do armário roupas limpas e cheirosas, vestindo a cama, só então, sentiu-se em casa.
Saiu para fora, subindo uma pequena ladeira, procurando por algum graveto, precisava, urgentemente, acender o fogo. Foi até o galpão, pegou algumas peças de lenha e voltou satisfeita para casa.
Antes de acender o fogo, lembrou-se que tinha de buscar água no rio. - Eita! sussurrou baixinho:
Trocou de roupa, escolhendo um vestidinho surrado, de cor branco e florezinhas azuis, combinando perfeitamente com seus cabelos longos e avermelhados.
Voltou para a cozinha, pegou o balde vazio e novamente saiu para fora, desta vez, desceu a ribanceira até o rio, que estava bem cheio naquela época. Olhou para ele sem nenhum entusiasmo, estava desbarrancado, soltando água pelas margens. Suspirou aflita pensando: Ficar fora de casa por alguns dias não é bom. Parece que tudo se desmantelou por aqui!
Deu uma rápida arrumada na biquinha, que esparramava água por debaixo da calha, e novamente sentiu aquela onda de prazer ao ouvir o balde cantar quando a água fresquinha caia de mansinho dentro dele, até beijar seus últimos contornos e se derramar de ternura.
Pegou-o pela alça, desconectando-o daquele prelúdio.
Como gostava de caminhar, subiu pela escadinha, ao invés de sair voando.
Depois que acendera o fogo, encheu a chaleira com água, colocando-a sobre a chapa quente, imediatamente ouviu o chiado de que tanto gostava.
Tomou um banho quente, comeu algo para forrar o estômago, fez uma visitinha a cada um de seus animais, voltou para casa e dormiu como um anjo.
No dia seguinte, já recomposta e repleta de vigor, foi até a cidade.
Chegando lá, passou na casa dos pais que queriam saber o que ela faria quando os Islos descobrissem que ela havia fugido?
Tiquinho já havia lhes contado tudo a respeito de sua jornada. Ela, no entanto, fez uma carinha confusa, franzindo a testa, e respondeu com sinceridade: - Não sei! Aliás, nunca sei o que devo fazer!
Colocou-os a par dos acontecimentos que Tiquinho não lhes contara, e depois fez uma reunião com os moradores do vilarejo, deixando-os em alerta máximo, caso houvesse alguma novidade em relação a qualquer movimento suspeito, Só depois voltou para casa.
Enquanto isso Em Núbia as coisas não estavam tão bem
Lá pelas dez da manhã Gutngard chegou em casa, entrou pela porta um tanto desconfiado de que alguma coisa estava errada, Era um silêncio que doía seus ouvidos, já que se acostumara com o barulho sonoro do lugar. Seus guardas estavam a postos, quase sem movimento, como as estátuas que enfeitava seus jardins. Vociferou o nome da esposa, mas, não obteve resposta. Andou pela casa e tudo lhe parecia tremendamente estranho. Por alguns dias a casa não lhe parecia tão assustadora e tão desorganizada.
Joaninha, a deusa da ordem não permitia que a cidade ficasse tão escura. E muito menos a casa onde ficara, por tanto tempo, encurralada. Mas, ninguém se deu conta até aquele momento, quando tudo parecia ameaçador. Uma áurea de caos se instalava sutilmente entre as paredes da mansão. Notou que, tudo parecia muito igual de antes. Foi então que resolveu fazer uma inspeção no quarto onde a tinha sobre controle. Destrancou a porta com os dedos trêmulos, Já antevia os acontecimentos. E sem muita surpresa no olhar, soltou um palavrão ao perceber que estava vazio.
-Como essa pestinha saiu daqui? se perguntava:
Muito furioso pela falta de resposta, foi até a cozinha para ver se sua esposa estava por lá, e não estava. Foi passando de aposento em aposento, até alcançar a imensa varanda que torneava a casa, E lá de cima, soltou mais um palavrão, característica de quem está acostumado a perder o controle quando se vê perdido.
Logo um guarda amedrontado apareceu, perguntando o que estava acontecendo: - O que houve patrão, por que está berrando desse jeito? Tá passando mal?
O homem ficou tão furioso que só não deu um soco em seu subordinado por que não estava ao seu a alcance, com as mãos fechadas, vociferou:- É você que vai passar mal, caso não tenha alguma resposta para essa pergunta:
Onde foi parar aquela pestinha?
- Que pestinha que o Patrão se refere? A sobrinha de sua esposa? Só se passou voando por cima da gente, respondeu em tom de ironia:
O grandalhão voltou para dentro de casa bufando feito dragão, soltando fumaça pela boca. E abrindo novamente a porta do quartinho, encontrou a menina dormindo feito um anjo. Coçou os olhos como se não estivesse enxergando direito, Tocou o corpo da menina com uma certa insistência, até que esta abrisse os olhos. Fazendo uma careta de surpresa perguntou: - O que está acontecendo? A casa está pegando fogo?
- Não! ele vociferou: onde você se meteu? Está brincando de esconde-esconde com alguém?
- De esconde-esconde? Como assim?
- Você não estava aqui, pois não?
- Está enganado, disse em tom sério: - Como poderia sair daqui, se tranca a porta pelo lado de fora?
Sua arrogância não deixou margem para explicação, jamais diria que pensava estar louco, Deu as costas e saiu apressadamente dali. Batendo a porta com violência desmedida, trancando-a por fora.
Novamente sozinha em sua prisão, Joaninha soltou uma baforada de ar, aliviando a pressão que havia por dentro, sorrindo de um jeito malicioso.
Horas antes, quando ainda estava em seu planeta, ao acordar pela madrugada, pensou em como havia de agir. Achou melhor não provocar a ira de Gutngard novamente, sentindo que deveria agir com uma certa cautela, antes de, também, provocar o caos que ela tinha que evitar.
Enquanto isso em Esparta, a vida transcorria pacificamente como sempre.
Parecia conto de fada: uma paz invejada pairava em cada casa, a ordem, como sempre, estabelecia seus princípios e homens e mulheres desempenhavam alegremente seus papeis.
Quando, pela manhã, Tiquinho resolveu falar com a irmã, rumando até a fazendinha. Lá de cima do cume já sentiu que havia alguma coisa diferente - O lugar parecia esquecido - Nada de fumaça a beijar o ar, não havia animais a enfeitar a relva, nada.
Chegou mais perto para deparar com a porta fechada. - Eita! exclamou:
Procurou a chave embaixo de um vaso de flores e ela estava lá. Entrou na casa e tudo estava tremendamente frio. Foi então que encontrou um bilhete em cima do fogão que dizia:
Querido irmão, quando encontrar esse bilhete eu já estarei longe, voltei para Nubia, sei, que, esquentado, como você é, será uma noticia não muito agradável, mas, preciso encontrar um meio de salvar nosso povo, sem, no entanto, causar muitos estragos em outros lugares governados pelos Islos. Povo é povo em qualquer lugar, sempre me lembro da garotinha que encontrei pela primeira vez que estive nesse lugar. Ela vigiava um olheiro de formiga, e nem se ligava ao caos a sua volta. Quero ver se consigo mudar as coisas sem ser preciso ferir pessoas. É claro que vai afetá-las de alguma maneira, mas, quero causar menos dano possível. No mais, espero que tenha paciência. Conto com você para acalmar a cidade de Esparta. Beijo!
Tiquinho sentiu um nó no estômago, mas, procurou se acalmar, sentindo que Joaninha era bem mais esperta que ele e poderia confiar que tudo acabaria bem. No entanto, precisaria encontrar muita coragem para tocar a fazendinha de sua amada irmã, como sempre fizera por anos a fio.
Seguiu rumo a pequena cabana onde Joaninha costumava guardar mantimentos. Lá encontrou todos os elementos para alimentar os animais.
Foi buscar água fresca no rio, enchendo todos os cochos, antes de voltar para a cidade.
Seus pais estavam aflitos por alguma informação. Foi sua mãe a primeira a perguntar: - E ai? Cadê sua irmã?
Tiquinho fez uma carinha engraçada, abanando as duas mãos antes de responder: - Como já desconfiávamos, ela se foi. Deixou este bilhete! E entregou o pequeno pedaço de papel á mãe.
A mãe fez uma careta após ler as palavras da filha, logo a seguir falou com uma voz entristecida e fraca: - Vamos aguardar até que tenhamos alguma novidade! E seguiram rumo a porta de entrada da casa.
Lá em Runia, Joaninha estava solitária demais, porém, a solidão lhe trazia boas táticas de guerra.
Pensava em um jeito de sair da prisão. E num certo dia em que sua tia lhe trouxe o desjejum, ela pediu que a levasse até o jardim, alegando que se encontrava bastante dolorida e precisava se exercitar, Goswnia, por sua vez, não pode recusar, vendo que Joaninha mal ficava em pé.
Pegou joaninha pelas mãos e a abraçou, num ímpeto de carinho, levando a sobrinha a sentir-se inundada de emoção. Toma teu café! - falou: E depois sairemos para dar uma volta por ai!
Joaninha sorveu o café com um certo nervosismo, comeu o pão, recheado, com voracidade, enquanto sua tia permanecia um tanto pensativa.
Depois de algum tempo, as duas saíram do quarto, alcançando rapidamente a porta que levava ao pátio. Joaninha sentiu um frescor nas narinas, aspirou o ar devagarinho, soltando algumas baforadas junto com um sonoro gemido de prazer, que fez sua tia sorrir.
Tão logo alcançaram o jardim, sentaram em um pedaço de madeira que imitava um banco, Joaninha sentiu que podia conversar com sua tia de igual para igual, ela já se sentia a vontade para abordar qualquer assunto. Então, foi logo perguntando: - Tia! Ela começou:
Sua tia olhou-a meio encabulada, queria esconder a emoção, mas, foi em vão. Com uma lágrima escorrendo pelo seu rosto, apenas murmurou: - Fala sobrinha!
- Eu queria saber por que abandonou a sua terra, a sua gente, os seus costumes, os seus parentes, para acompanhar um homem tão sistemático e confuso, até essa terra sem lei? Foi mesmo por amor?
Sua tia fez uma carinha triste, pigarreou, limpando a garganta e depois respondeu: - Bem! olha só!
Na verdade, eu não queria vir, estava tão brava com as circunstâncias desse encontro com Gutngard. Afinal, foram eles que assassinaram meu pai. No entanto, pigarreou novamente antes de completar: - Eu ainda era uma criança, agora entendo! Nova demais para tomar uma decisão tão importante, capaz de mudar toda a minha vida. Papai era tudo que eu mais amava, Mamãe me dava atenção, mas, era papai que me ensinava a construir sonhos. Sempre me inteirava das coisas! Me dizia para não ter medo das decisões que precisaria tomar frente a qualquer situação. Então, quando papai foi ceifado, precisei criar coragem, para aceitar, que até mesmo reis e rainhas morrem. Percebi que meu pai não morreu por ser fraco, muito pelo contrário, ele deu a sua vida pelo seu povo. Então, depois de dias sitiados pelos Islos, vi que, seria muito difícil controlá-los. pois o homem ruim é capaz de qualquer ato para demonstrar poder, Já o homem bom tem que ser muito criativo para não fazer o contrario do que prega e pensa.
Éramos um povo pacifico, a ordem sempre predominou entre nós. Não por costume nem imposição, mas, por ensinamentos morais e éticos demonstrado em ações, para que o povo visse por meios próprios que a vida pode ser maravilhosa quando assim pensamos e agimos. Cada um cuidando de si, de sua família, e quando possível, dos outros, sem, no entanto, ultrapassar qualquer limite.
Foi então, que, pensando estar amando, me socorri nos braços do inimigo. Por um tempo continuei me enganando, pois o poder pode ser um fiel escudeiro de más intensões. E Gutngard me deu um poder que não tinha. Colocou-me além da cama. Na cama era uma amante especial e fora dela me sentia a rainha do lugar, onde me respeitavam e se aliavam a mim sem muitas delongas.
Até que, depois de certo tempo fui me certificando que não me respeitavam por eu mesma, pelo valor próprio, mas, por medo.
O caos me fascinava! Era bem divertido ver que as pessoas acostumadas com ela, pouco dão valor ao que acreditamos por certo. Tudo vem de forma mais fácil - Ódio, amor, segurança e superioridade, dependendo do lugar que ocupamos.
De repente, Gowsnia fez uma longa pausa. Seus olhos lacrimejaram, e Joaninha sentiu uma certa pena da tia. Ela também ficou pensativa por algum tempo, até que resolveu continuar a conversa.
-Tia!
Olha só. eu até te entendo, por que sei que tem alguns momentos na vida em que acabamos por querer um pouco mais. Não gostamos de ser sombra. Queremos tomar uma atitude que só depende de nós. E acabamos por tropeçar em nosso próprio desejo. Eu gostaria muito que escutasse o meu plano: Não quero provocar uma guerra, para não colocar pessoas em risco. No entanto, creio que não dá para resolver tudo sem causar nenhum dano.
Sei que se eu ficar aqui para sempre, haverá um dia em que sairão á minha procura. Se eu sair daqui sem que Gutngard ou a senhora não me libertem, causarei tanta revolta que serão capaz de atacar meu povo novamente. Naquele dia em que sai daqui sozinha e seu marido esteve me procurando e não me achou, se a senhora não tivesse mentido a respeito, dizendo que estava a passear lá fora em sua presença, ele teria me espancado, provocando assim, uma reação de minha parte, Sou capaz de aniquilá-lo só com um toque, mas não acho interessante acabar com ele, sem antes, me livrar dos outros membros.
Tenho que ter muita sabedoria para resolver essa situação, sem colocar muitas pessoas inocentes em risco. Preciso conquistar a confiança do povo ao redor, sem que o sistema saiba, Só assim, poderemos guerrear, se preciso, sem derramamento de sangue.
Além desse planeta, há uma pequena abertura que dá para um sistema novo, um tipo de buraco negro. Já passei por lá, algumas vezes, quando tentava conhecer essas bandas. Se conseguíssemos decifrar o fechamento, poderíamos traçar um plano que serviria de isca para toda a cúpula. E quando entrassem por ela, a gente fecharia o portal e eles nunca mais sairiam dela, então, você poderia governar este povo, ensinando a eles a gratificação da lei e da ordem. O que a senhora acha?
-Acho que será difícil enganá-lo, Meu marido é esperto demais para que acredite em qualquer pessoa. Ele só serve a ele mesmo!
-Não posso demorar muito para tomar uma decisão, senão vai parecer que falhei.
Joaninha não pregou o olho naquela noite, ficou remoendo dentro de si, as boas memórias que deixou para trás. lembrou-se de quando ainda era uma criança e nada lhe afligia: exceto não saber quem era.
Passou-se vários dias depois daquela conversa, e cada vez ficava mais difícil ficar trancafiada naquela estrutura velha.
Em uma noite de muitas nuvens, algo estava para acontecer, ela sentia no ar um peso que seus pulmões já não podiam aguentar.
Foi então, que, enquanto dormia, uma voz conhecida lhe sussurrou nos ouvidos: - Por que deixou isso acontecer?
Abriu os olhos e se deparou com dois olhinhos assustados encarando-a.
- O que aconteceu? ela perguntou apressadamente!
- Aconteceu o que já sabíamos que iria acontecer! - Você acha que seu.. ou melhor, que nosso oponente ficaria quietinho em seu canto, enquanto você fica nesse quarto, tentando fazer mudanças por aqui?
No dia de ontem, começaram a chegar alguns olheiros em nossa cidade, eles cruzam com nosso povo e fazem perguntas sobre a nossa cultura. Parece que tecem um plano para cercar-nos!
Não pude fechar o portal por sua causa, não quero que fique presa nesse sistema. Embora seja a princesa com muitos poderes, não se esqueça que o portal pode ser aberto e fechado a qualquer hora por um de nós. Mas, se os nubianos decifrarem o enigma e destruírem os códigos, Nós ficaremos completamente vulneráveis a qualquer ataque. E sua tia poderá entregar a nossa gente para ganhar prestigio e confiança de seu marido. Ela conhece todos os caminhos, inclusive o da cidade dos ancestrais.
Posso parecer bobo e desengonçado, mas, não sou maluco, e vim aqui para lhe dizer: - Se você não fizer nada, eu faço!
Joaninha ficou meio tonta com a disparada de informação e mais ainda com a franqueza com que seu irmão a interpelou e um tanto zangada respondeu: - Que petulância hein! Até alguns meses você nem sabia de sua origem e agora aparece e me confronta assim, sem mais nem menos, como se pudesse agir sozinho?
- Eu posso, ele disse com veemência. Tenho uma legião de alados comigo, todos dispostos a me ajudar, caso necessário.
- Eu sei, falou! Só que você se esquece de um detalhe muito importante: -Eu sou a pessoa que vai salvar o nosso planeta, fui destinada para esse fim!
- Já me disseram, só que você é que esqueceu de um detalhe também importante:- Nosso povo precisa de você lá e agora, e pelo que me consta, prefere fazer de conta que esta presa nessa pocilga, ao invés de enfrentar sua sina!
- joaninha lançou um olhar furioso para seu irmão e quase chorando de frustração lhe fez uma pergunta: - Não confia mais em mim?
- Tiquinho ficou entusiasmado com a reação da irmã, ele sabia que ela adorava um bom desafio, foi então que completou: -Um pouco! Só me mostra que estou errado!
Joaninha levantou as mãos num gesto de deixa para lá e com a respiração um tanto ofegante pela insistência do irmão, respondeu: - Está bom, você venceu! Vamos dar um jeito nisso já!
Levantou-se e deu um beijo na face do irmão para ver se assim se acalmava; - Bom dia pra você também! Sorriu! - O que você sugere?
Sugiro que façamos algo ou vai ficar presa para sempre, sugerindo que a paz reine por aqui? Já estamos fartos de saber que isso só funciona para aqueles que acreditam que pertencemos a ordem, mas, para os poderosos, de nada vale. Eles amam o pior. Quanto pior, melhor. Devem estar arquitetando alguma solução para acabar com os Espartas. Chegou a hora de acabar com a festa!
Joaninha relutou muito antes de sair da cama. Pediu um tempinho ao irmão: - Será que não pode me esperar lá fora?
Tiquinho atravessou a parede e Joaninha se arrumou apressadamente, antes de também atravessar a grossa camada de concreto como se nem existisse.
Tiquinho, mais uma vez a interpelou, dizendo: - Melhor voltar e sair pela porta! senão vai parecer que você atravessa parede. Deu uma risadinha debochada.
Ela também sorriu, e voltando para dentro, apontou o dedo anelar e o trinco pulou para o chão, fazendo barulho.: Psiu, ela disse baixinho! Saíram para fora, sem que encontrassem nenhum vigia.
Em uma hora de voo, os dois chegaram em cima do portal. sentaram numa nuvem de poeira, e, repetidamente, fizeram alguns contatos com Esparta. Logo se via uma legião de alados a adentrar o lado Islan.
Seguiram um pouco para o lado norte, uma área um tanto neutra do sistema, onde havia muito pouca concentração de gente. Joaninha descreveu o ataque, desenhando os limites de cada centro governamental, deixando apenas o castelo forte de Gowsnia e Gutngard, para ela e Tiquinho.
Se separaram coordenadamente.
Ao adentar o trecho mais contorcido da cidadela, foram estendendo as mãos, lançando os foguetes, primeiro para as naves estacionadas, e depois para os guardas que acabaram percebendo sua presença.
Os foguetes imaginários que saiam de seus frágeis dedinhos, fulminavam os inimigos rapidamente.
Tiquinho vinha um pouco atrás e se deliciava com seu novo brinquedinho, também conseguia fulminar os adversários com suas mãos.
Logo a cidadela estava vazia de guardas. Nem precisaram atacar os civis, que, tão logo perceberam o ataque, se enfiaram dentro de suas respectivas casas, apagando as luzes e fechando a porta.
Gutngard ficou furioso quando percebeu que seu troféu havia fugido. Saiu gritando para fora e deu de cara com os corpos de seus guardas, intactos e sem respiração. Chacoalhava os corpos e os chutava sem nenhuma piedade, querendo impor vida. Porém sem respostas. Voltou para dentro esbravejando e gritando feito maluco: - Como ousa? Adentrou a cozinha e achou sua esposa a fazer o jantar. Ela o olhou com uma certa surpresa, já que viu em seus olhos, a raiva lhe consumindo.
- O que houve? perguntou:
Ele respondeu com um empurrão e com os punhos fechados, vociferou: - E você não sabe?
-Sabe o que? Ela respondeu perguntando:
- Foi você que a soltou, não foi?
- Soltou quem, criatura?
- Sua sobrinha!
- Ela não está na jaula?
- Não! E se não foi você, quem abriu a porta?
- Não sei! Pode ser os que vieram salvá-la. Só sei que não fui eu!
- Como ninguém viu? - Os guardas estão mortos lá fora. Incrível que estão sem nenhum arranhão. Não é possível que tenham morrido de medo.
- Você não conhece meu povo! Ela disse um tanto amedrontada:
- Seu povo, Ah! Agora é seu povo!
- Não foi você mesma quem os traiu!
- Sim! Eu os trai, mas, de maneira alguma, trairia você!
-Tenho que fazer alguma coisa, antes que, acabem comigo e com você!
- E o que pretende, já que está sozinho!
-Eu não pretendo nada, ele disse quase aos gritos: - Você é que vai intermediar!
- Eu? Mas, de que maneira!
- Da maneira que só você sabe!
Pegue uma nave e vá ter com ela. Diga que eu quero uma trégua, enquanto você conversa com essa princesinha de merda, eu saio pelos fundos e vou ter com os militares de Rúnia.
Não vou permitir que se apossem de tudo que conquistei. Esses são meus planetas. A ordem jamais se apoderara deles.
Goswnia saiu para fora e não viu ninguém, exceto a escuridão da noite que já se fazia presente naquela hora.
Gutngard foi até sua nave que estava escondida em sua garagem e deu de cara com nada menos que um caos. Estava retorcida, como tudo que ele gostava de ver.
Esmurrou o ar, como se com isso pudesse aliviar todo o ódio que estava sentindo.
Lá fora, os alados já se posicionavam.
Quando Gutangard saiu da garagem, Joaninha desceu á sua frente. Ele deu um passo para trás como se sua fúria tivesse se transformado em medo.
- Como foi isso? - Ele perguntou:
- Isso o quê, ela perguntou um tanto atrevidamente: - Sou a apavorante lenda!
- Lenda? Não me diga que é você a princesa prometida. Aquela que salvaria o seu povo de mim?
- A própria, ela sussurrou, ronronando como uma gatinha:
- Ah, não! Como posso acreditar nisso! Você ficou trancafiada naquele quarto, por longos meses e nem se deu ao trabalho de me enfrentar. Agora, quer me fazer crer, que, você, sozinha, aniquilou meus melhores homens?
Quero ver essa sua força quando eu fizer uso de minha arma?
Depois de dito isso, foi deslizando sua mão para o bolso de traz da calça. Ao levantar a túnica longa, ouviu uma voz grave: - Não se atreva! Estou bem atrás de você!
Acha mesmo que matará mais algum de nós, assim como fez com nosso avô?
- Nosso avô? Mas, quem é você? pronunciou essa palavra ainda estando de frente. Não se atreveu a dar as costas para Joaninha.
- Eu sou aquele que vai acabar com você!
Joaninha colocou as mãos na cabeça. olhando para o irmão com uma certa surpresa e pensou:- Agora a coisa vai ficar embolada!
O Homenzarrão ameaçou tirar a arma rapidamente. Ao se virar, percebeu uma mão de ferro a segurar seu punho.
- Não será desta vez, ouviu:
A maldade ainda estava presente na língua daquele homem e ele rapidamente vociferou: - Tem mais gente que fará pedacinho de vocês, assim que souberem de minha morte!
- E quem disse que vai morrer?
De repente, o homem se viu a balançar no ar, como se fosse uma mosca.
Com apenas uma das mãos Tiquinho o arrancou do chão, clamando que Joaninha o seguisse, balbuciou: - Venha maninha!
E Joaninha, mais do que depressa, segurou a mão esquerda do oponente, e ambos o levaram como uma sacola balançando no ar.
O homem já sem forças. parou de se balançar. Era covarde demais para arriscar cair de tal altura.
-Onde vão me levar? o som cortou o ar:
-Ver o que aconteceu com tais homens que pensam como você! Tiquinho respondeu:
Foram em direção a cidade de Rúnia.
Logo que chegaram, pousaram devagar sem soltar as mãos do homem, recolheram suas asas, e seguiram um pouco a pé, para que os que estavam lá não se surpreendessem tanto.
Havia uma grande concentração de pessoas num lugar parecido com uma praça. Um circulo grande de alados cercavam alguns homens. De fora não dava para ver o que estava realmente acontecendo.
Quando se aproximaram, viram, que, no centro, havia alguns homens bem vestidos. E ao redor, os homens guerreiros de Esparta, com armas em punho, já dominavam a área.
Gutngard espumou pela boca, ao perceber, que todos os seus camaradas estavam de mãos atadas. Ele sentiu muito mais raiva que de costume. Sabia que estava perdido.
Joaninha e Tiquinho foram abrindo passagem, até colocarem Gutngard entre aqueles homens ásperos e arrogantes. Ainda teve uma tentativa de bate boca, que logo cessou, por causa da triste condição em que estavam.
Alguém levantou a mão, perguntando em seguida: - O que vão fazer com eles?
- Um dos alados respondeu num tom bem alto: - O mesmo que eles estão acostumados a fazer! Isto é, acrescentou: - Vão ser engaiolados!
O povo de Rúnia gritaram em coro: Huhuhuhu!
Rumaram para dentro da floresta, até encontrarem a grande montanha, a mesma que manteve o casal de Espartanos enjaulados por anos. A entrada estava meio escondida entre a vegetação que crescera através dos anos. Tiquinho foi abrindo caminho, e os outros empurravam os poderosos detidos.
Muitas gaiolas continuava a balançar, agora, já um tanto enferrujadas pelo tempo. Rangeram um pouco enquanto iam sendo abertas. Nesse momento a expectativa era grande. Tiquinho ainda não acreditava que pudesse ser tão fácil assim.
Coçou a cabeça um tanto confuso e foi andando até chegar bem perto da irmã, Afastou-a um pouco dos demais e cochichou em seu ouvido: - Está fazendo a coisa certa?
- A irmã olhou meio que desolada antes de responder: - Não sei! Só sei que não queria derramamento de sangue!
- As mulheres, ele ouviu o som da própria voz, e completou: São tão suscetíveis as emoções! Não seria melhor resolver os assuntos da melhor forma, ao invés de empurrar com a barriga?
- E Joaninha respondeu de pronto: - E o que seria melhor?
- Uma guerra e vencedores!
- Somos vencedores, ela disse quase que a repreendê-lo pelo comentário.
- Onde? ele pergunta: - Prendendo quatro deles? E o restante não se rebelarão?
Enquanto discutiam, ouvem um som estridente vindo de fora.
- O que foi isso? falaram ao mesmo tempo:
Tiquinho ficou amedrontado e disse: Não falei! Lá vem a guerra que você não queria!
Diante da infeliz circunstância, eles ficaram de prontidão para ver de perto o que estava acontecendo, enquanto alguns alados desceram para desvendar a confusão.
Depois de algum tempo, os vigias voltaram dizendo que tinha uma legião de Islos tentando subir até eles. Foi então, que Joaninha, recolheu os seus. - Venham! ela gritava: Vamos embora! Não podemos lutar agora. Seria muito imprudente começar uma guerra nestas condições e neste lugar.!
Abriram as asas e se mandaram por uma saída que estava acima deles.
Já na cidade de Nubia, pararam para fazer um balanço sobre o acontecido. Estavam em vinte pessoas, contando com ela e o irmão. Todos sentaram ao redor dela, que, estava com a carinha amarrada, ante o fracasso da missão e foi Tiquinho a quebrar o silêncio: - Irmãzinha, irmãzinha. Precisa se acalmar!
- Me acalmar como? Ela vociferou, espantada com ela mesma: - alguém nos traiu! mas, quem?
Tiquinho deu uma leve gargalhada e completou: - Tem certeza que você não sabe? Gowsnia! completou:
Ela olhou com uma carinha de surpresa e o repreendeu:- Você está errado Nunca! Ela jamais faria isso! Vou conversar com ela agora mesmo!
- Não! ele gritou : Ela já deve estar com seu grupo, armado, pronto para derrubar qualquer um que passe nessa área. Nos derrubaria feito gansos, um a um. Você acha que eles mantiveram você no cativeiro a toa. Só por que gostaram de você, sua bobinha. Eles queriam informações e você deu todas as dicas para ela.
Nós não temos armas, e ela sabe disso. Conhece todas as nossas fraquezas. Você não quer derramamento de sangue, mas, eles, querem o nosso sangue escorrendo nas terras deles.
É a guerra do bem e do mal. Da ordem e do caos.
Joaninha suspirou antes de dizer: - Detesto admitir que você está com a razão. E o que faremos?
Tiquinho sorriu meio nervoso. apostaria que a irmã não iria gostar do seu plano, Ela parecia romantizar o perigo que era eminente. E falou com voz mansa: - Olha! Nós temos a vantagem das asas e do segredo do portal. Temos de achar um jeito de levar sua tia para longe daqui, ou descobrir um meio de mudar esse segredo, senão, o portal estará sempre aberto para os Islos.
Depois, veremos qual será o melhor método de destrui-los para sempre!
Agora que está livre, vamos voltar para Esparta, ainda hoje, e tentar traçar um plano com nosso pai. Ele saberá o que fazer.
Isso se os Islos não resolverem nos atacar antes!
- Você acha isso possível? Joaninha perguntou com os olhos esbugalhados:
- Sim! respondeu Tiquinho:
Um outro alado que estava ouvindo a conversa toda ergueu a mão, solicitando permissão para falar.
Tiquinho assentiu com um movimento de cabeça.
- Vocês dois tem grande poder, mas, ainda são um tanto imaturos e ingênuos, E essa ingenuidade ainda vai trazer muitos sofrimentos para o nosso povo. Estão brincando de rei e rainha sem pensar nas consequências de seus atos. Peço desculpas por me intrometer, mas, vocês precisam dos pés no chão, mesmo tendo asas. Essa gente não tem piedade de ninguém.
Joaninha olhou para o irmão antes de responder: - Tem razão! pensando bem, eles não estão de brincadeira, estão se preparando para dar o bote! Desta vez, acredito, que, não querem acabar só com alguns, eles querem acabar de vez com todos que pertencem a ordem!
- Sim, Tiquinho respondeu de pronto:
Joaninha se levantou do chão, tão repentinamente, deixando os parceiros surpresos. E num relance, se puseram a acompanha-la. Rumaram para casa, mesmo sabendo que o serviço ficara pela metade.
Chegaram em Esparta no final de tarde, quando o sol já sumia no horizonte.
Tiquinho foi logo para casa, tão em silêncio, quanto voara.
Joaninha se despediu dos demais e também se recolheu em sua casinha deserta. Já não se ouvia o som de nenhum animal. Apenas algumas corujas se preparavam para mais uma noitada de caça. Foi então, que Joaninha percebera o quanto fora ingênua. Abandonou tudo em nome da ordem que ela mesma estava destruindo.
Testaria sua resistência naquela mesma noite, pensava:
E foi assim que surgiu a princesa verdadeira, aquela que nunca fugia de suas responsabilidades.
Dormiu tão bem que acordou antes que o galo cantasse pela primeira vez.
Colocou uma calça de couro, uma bota de cowboy, um pouco surrada, E combinou com uma camisa xadrez que á muito não usava. Saiu de mansinho, antes que o capataz se levantasse para tratar dos animais.
Não usaria suas asas daquela vez, queria suar um pouco, talvez a caminhada lhe acendesse a luz que precisava.
Tiquinho nem pregara os olhos, estava tão obcecado em defender seu povo, que, ao invés, de dormir, passou a noite a fazer planos.
Fizeram uma pequena reunião com os anciãos.
Os mais velhos sempre tinham muita coisa á ensinar aos mais novos.
Foi então que resolveram entrar em guerra com os Islos.
Desta vez não havia margens para erro, mesmo por que o tempo já havia se esgotado. Lá de baixo, já se ouvia o barulho de máquinas vindo em direção a cidade.
-Temos que nos apressar gritava Tiquinho:
Os alados já se dispunham em filas com seus coquetéis de fúria em punho. Não precisavam de armas visíveis, só de uma boa condição de equilíbrio nas mãos e pés.
E foi então que a guerra começou.
Tinham que sambar diante de tantos homens dispostos a acabarem com eles. E foi assim que a princesa e seu irmão usaram todos os dons que lhe foi conferido. Saia fogo pelos olhos, facas sobre os dedos, e vento pelos poros.
Foram caindo um a um, até não restarem mais nenhum.
A cidade estava em pânico. Homens comuns, crianças e mulheres, ficaram trancafiados em suas residências, até que o silêncio predominou
Também em silêncio, subiram até o portal, passando para outro lado, e o fecharam, impossibilitando qualquer um de passar.
Rumaram para Tropicália, passando por Rúnia até chegarem em Núbia onde teriam que lutar com o homem mais poderoso e mau que a história já viu.
Apenas Tiquinho e a irmã entraram na residência. Gutngard já se preparava para se levantar quando foi atacado. Primeiro veio a surpresa, depois a raiva e por ultimo, o ataque.
A luta, a primeira vista, até pareceria desleal, Gutnberg deu uma gargalhada, rindo da situação, como se percebesse que os dois não seriam páreo para ele. No entanto, depois de alguns minutos de luta, o grandalhão já se encontrava no chão, espumando de raiva, ainda encontrava força para ameaça-los.
Disse com uma voz meio rouca e cansada: - Vou acabar com vocês!
-Tiquinho respondeu: - Há, mais não vai mesmo! E completou com um soco certeiro.
O inimigo jazia no chão, como um leão que ruge ante a morte. E aos poucos foi fechando os olhos até que a vida lhe fugiu dos olhos.
Ao olharem para o lado, viram a dama de ferro com os olhos esbugalhados assistindo a tudo.
Ela chegou bem mansinho e tocou no corpo já sem vida do marido, sem derramar nenhuma lágrima, como se estivesse aliviada por sua morte.
E como uma mulher esperta, olhou para os sobrinhos com aflição, quase sussurrando ao perguntar: E o que vão fazer comigo?
- Nada! Joaninha respondeu:
Mas, Tiquinho a corrigiu:
- Como, nada? É claro que ela vai ter que pagar o preço da covardia. E com uma braçada a fez debruçar em cima do marido.
Acabou! agora já podemos nos sentir seguros.
Joaninha mais uma vez o confrontou: - Por que fez isso?
- Ora! ora, irmãzinha. Não nasci por acaso. Sei exatamente o que teria que fazer, caso a sua emoção a fizesse fracassar. Essa mulher não só traiu nosso avô, como traiu todos nós que pertencemos a ordem, e pelo visto, sem arrependimentos.
E agora vamos sair para fora e apresentar ao povo daqui e dos arredores, que deveriam selecionar um cidadão de bem para dirigir a cidade. Chega de caos.
Joaninha se aquietou de repente, como se também tivesse sido traída pelo irmão que acabara de conhecer. O tinha apenas como guardião, agora, além do sangue, ainda tinha que lidar com a concorrência.
Tiquinho logo percebeu a aflição nos olhos da irmã e foi logo dizendo: - Não faça isso Joaninha. Não se iguale a nossa tia. Eu não vou estar com vocês por muito tempo. Vou me alistar para ser o governador desse povo, Tem muito ferro retorcido por aqui, literalmente, Tenho que trazer a paz e a ordem para este lugar, antes que algum aloprado tome o lugar de Gutnberg. Você continuará cuidando de sua fazenda, da ordem para o nosso povo, e também dos nossos pais. Espero que se case e tenha muitos filhos.
Quando voltar, feche o portal.
Só nós dois temos a chave.
Joaninha soluçou antes de responder: - Não sou eu a princesa dos cabelos cor de fogo, irmãozinho?
- Sim! É você! E foi você que estimulou essa graça em mim. Isto é! Eu também tenho cabelos cor de fogo e me tornei um príncipe.
A lenda diz: Haverá uma princesa que brotará da terra e que despertará alguém com poder. Esses serão os salvadores de Esparta e seguirão caminhos opostos, até que se juntem novamente em uma nova terra, onde a ordem predominará, Lembra-se?
- Sim! agora me lembrei! E o tempo todo era você! Aquele que me guardaria até que tudo se cumprisse!
Em que momento você soube?
- Quando você voltou para Núbia e foi capturada, eu fui até nosso avô, e ele me contou tudo que sei. Acreditei nele, por sua causa, Foi você que despertou minhas asas, lembra-se!
-Sim claro!
Você vai ficar por aqui e eu vou embora, certo?
- Sim, mas vou ficar com meia dúzia de alados, o restante, pode mandar de volta para seus lares.
E se despediram com grande pesar.
- Venha me visitar quando quiser, Joaninha lhe falou com esperança na voz: Vou sentir sua falta!
- Você também pode vir quando quiser, e se precisar de ajuda mando mensagens via mente!
-Está bom, Sucesso em sua empreitada irmão!
E levantou voo junto com seus alados, voltando para Esparta como verdadeira princesa que sempre seria, sendo recebida com festa.
Hertinha Fischer
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