Talvez esse seja um bilhete de despedida, sei lá. Vivemos sempre nos despedindo de algo ou alguém e, mesmo assim, o dia se encarrega de se derramar sobre nós como um regador com água fria, molhando-nos como quem mata a sede. O anoitecer me traz delírios nostálgicos, e passo a ver estrelas que brilham apenas por dentro, num céu que inventei só para mim. Caminhei tanto pelas minhas estradinhas espelhadas, onde andorinhas pousavam do outro lado; podia vê-las em segredo, mas nunca tocá-las. Criei um mundinho pequeno e tranquilo, como se meu reinado fosse eterno, e até imaginei um par de asas para dançar com o vento. A música começa e danço com meu parceiro em um ritmo mágico, pelo reino das minhas andanças. Ouço então uma voz suave, vinda de não sei onde, que pulsa nos meus ouvidos dizendo: “A dança é bela, mas o baile não durará para sempre! Construa, através dela, o poder da inspiração e criatividade, como quem tem alma de poeta.” Quando a dança acabar, ainda estarei por aí, moldando montanhas, passando entre galhos, folhas e flores. Nossa realidade se unirá e poderemos dançar juntos enquanto houver brilho nos teus olhos. Desperto e percebo que a vida é sonho, e que por um tempo rodopiarei pelo salão dançando só, mas nunca esquecerei que tenho um vento mágico para embalar-me quando sentir que minhas asas já não me sustentam.
Herta Fischer
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