Sempre estive oculta por dentro, nunca deixando transparecer a obsessão da minha alma, que, herege, flutuava dentro de mim como um pássaro sedento à procura de água, mesmo estando próximo de um rio. Precisava descobrir, sozinha, o ocultismo das mentes solitárias, que se embrenhavam em pensamentos, por vezes sombrios, sem deixar sinais visíveis.
Todos temos um cantinho secreto, um paraíso ou um inferno interior, algo inexplicável que nos impulsiona para o abismo da ansiedade. No início, há uma comodidade interna, como um despreparo psíquico, sem sentimentos claros. Com os anos, a mente desperta um desejo enorme de ser como os outros, e é nesse instante que nos perdemos de nós mesmos.
Temos fala, movimentos, cheiro, paladar, audição, visão ocular, objetos que aprendemos a manusear, mas não sabemos ler nosso livro interno. Assim, nunca aprenderemos a lidar com o desconhecido do sentir. É como tentar andar na Lua sem nenhum equipamento que engane a gravidade. Temos leis, mas não as interpretamos, desconhecendo-as totalmente, assim como quem acredita em Deus, mas não no invisível.
Manusear com as mãos é fácil, mas lidar com os sentidos exige muita prática e envolve emoções. E como controlar as emoções sem perder o controle sobre nós mesmos? Como entender o que nos causa dor? Como compreender as diferenças nos resultados individuais nos campos afetivos e financeiros, quando ganhos e perdas afetam áreas que nunca aprendemos a operar?
Nesse contexto, talvez fosse melhor não ter consciência de nada. Ou melhor: consciência, todos temos, até os animais, mas seria bom ter uma consciência curta. Que não fôssemos donos do amor, mas que o amor fosse dono de nós. Que a vida nos levasse ao ponto onde viver fosse necessário e nos trouxesse de volta quando fosse preciso.
Hertinha Fischer