Total de visualizações de página

Deleite com café

  A janela, onde o sol nasce, sobe as escadas das flores e ali permanece, sentado, até que a porta da poesia, se abra, lá pelas bandas das ...

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Palavra tem poder Capítulo 7

E a saga continua


Pela manhã. Anita acordou primeiro, Daniel ainda dormia com os braços em torno de seu corpo. Ela tirou-o de mansinho com toda delicadeza. Levantou-se colocando a roupa devagar. Foi para a cozinha preparar o café.
A chuva não parava. Espiando pela janela, ela podia ver a enxurrada deslizando para a estrada já encharcada.   Já ouvira falar desse fenômeno, mas,  não imaginava que seria tão intenso, provocando chuva forte e sem tréguas.
Não sabia onde Maqueda guardava as coisas, precisou abrir quase todas as portas dos armários disponíveis até encontrar tudo que precisava!
Depois de tudo pronto, colocou tudo numa bandeja, se preparando para levar o desjejum para o quarto. Mas, antes de dar um passo, Daniel entrou no aposento com uma cara bem alegre, falando com uma certa disposição na voz: - Oi amor, tudo bem?
- Sim! Anita respondeu com certa decepção, queria mesmo era fazer um agrado, servindo-o no quarto. - E você, dormiu bem?
- Sim, muito bem, obrigado!
Ela colocou a bandeja sobre a mesa, puxando uma cadeira para ele: - Sente-se!
- Não vai tomar café comigo? ele disse num tom quase que carinhoso.
- Bom! ela começou a falar. - Eu queria tomar café com você lá no quarto1
Ele mostrou seu melhor sorriso, e levantando-se, pegou a bandeja numa das mãos, segurando a sua em outra,  dizendo: - Vamos lá, então!
Subiram as escadas quase a correr. Ele na frente e ela atrás.
Ao chegarem no quarto, ele colocou a bandeja sobre o criado mudo, e jogou-á sobre a cama, puxando-á para si, beijando seus lábios rapidamente e com um efeito avassalador.
Ela gemeu de prazer, era tudo que queria!  Pensava:- Não poderia haver uma lua de mel, sem sexo pela manhã.
Depois de estarem plenamente satisfeitos, acomodaram-se diante da suculência dos pães amanteigado, regado á geleia de morango e  queijo fresco.
- Até quando? pensava ela:
Sempre quisera ter um homem só para ela, sem ninguém entre eles, nem meso uma empregada doméstica. Ela á preparar tudo e o amor unindo a cozinha com o quarto., num só prazer: o de comer e amar.
Depois de uma semana, já estava entediada, pensando no quanto perdia. Tudo se resumindo em sexo e prazer. Tinha necessidade de mudança, mesmo que isto lhe custasse algumas lágrimas. A vida não podia ter sentido maior, se as coisas e sensações  não fossem bem dosadas. Sentia saudade do trabalho, das conversas com a mãe, dos amigos, da correria que tornava tudo tão mais prazeroso. Porque os excessos só fazem com que o sabor diminua.
Começou a entender bem o que Daniel lhe falara a algum tempo atrás; As vezes, estamos tão obcecados por satisfações físicas, quando a alma está ansiosa por coisas que o momento não pode dar.
Tinha tudo: amor, alimento, carinho e solidariedade, Mas só podia haver um resumo, um triste resumo, onde o amor só cabe a uma pessoa. não pode avançar nem para a direita, nem para a esquerda. E agora, sentia na carne a necessidade de algo mais.
- Porque está triste? Daniel perguntou:
- Não estou! ela respondeu: -  só estou pensativa!
- Um dólar pelo conteúdo do que pensa! disse ele em tom de brincadeira:
- Nada de especial!  ela respondeu: - Lembrando do que me falou!
- E o que eu te falei?  que tira a alegria em teus olhos?
- Que não ficamos á pensar se valerá a pena caminhar, nem ficamos estáticos diante do caminho. Apenas usamos os pés e vamos em frente.
Que se a gente quer bem e tem essa consciência, a gente o faz por vontade própria, sem precisar ficar reafirmando e/ou declarando, assinando o nome do amado no braço só para se ter a sensação de ser proprietário um do outro.
Que poderíamos usar o telefone e ficar ligando de cinco em cinco minutos, achando, que, com isso, a gente consegue se ter o controle sobre a vida do outro, mas, isso só faz com que sintamos cada vez mais incompletos.
Eu sinto agora, a necessidade de outros. O seu amor me sublinha,; Acentuando, marcando, mas só pode subsistir quando podemos somar com os outros.
- Está reclamando da solidão a dois?
- Reclamando?  não!  è bom demais estar com você a sós. Estou pensando que a vida deve ser povoada com muitas réplicas. Não pode se resumir a um ato á  dois!
E por falar nisso, até quando ficaremos confinados nesse lugar?  Eu não estou presa! Estou?
- Você quer dizer: Sequestrada por mim?
- Sim! Estou?
- Não, não está!
- Então, porque não temos nenhum veículo?
- Só porque chove muito ainda. E Maqueda não pode sair de Kasane, senão já estaria aqui.
Além do mais, não temos sinal para  nos comunicarmos. Está um caos. Nada nesta região funciona enquanto durar esta tormenta!
- Tem razão! - concordou:
É que,  perdi a palestra da semana passada, eu me inscrevi e não compareci!
- Palestra? sobre o quê?  Daniel perguntou:
- Sobre atuação imobiliária local!
- Ah! Que bom! pensa em ficar por aqui?
- Talvez! E você , não?
- Eu! Ele gaguejou  um pouco:- Ainda não me decidi!
Embora estivesse louca para dar uma resposta, resolveu sorrir e dizer com toda a naturalidade do mundo:- Pois deveria!
O mundo vive lá fora, ha encantos a se descobrir, ha ensejos e desejos de crescimento. Nada foge do tempo!
_ Ah! agora é você?
- Eu? o que?
- Você que anseia por algo a mais!
- Sim! Valeu tanto essa nossa estadia aqui. Talvez, se eu não tivesse vivido essa reclusão de amor, eu ainda estaria pensando que amor é algo a se discutir, mas, não é!
Daniel sorriu, tocando de leve as suas mãos.
O dia terminou e como não havia muito o que fazer, foram  cedo para a cama . Anita dormiu profundamente até amanhecer. Quando acordou, notou estar sozinha na cama. Levantou-se  rapidamente, sem saber por que, algo lhe dizia que teria que enfrentar mais algumas pedras pelo caminho.
Entrou na cozinha e como seu íntimo avisara - No lugar de Daniel encontrou a amável Maqueda, tirando um pão fresquinho do forno.
Palavra tem poder!  Ela pensou: aquilo só poderia ser brincadeira.
Quando ela pensava estar tudo bem, lá vinha um balde de água fria.
Maqueda se limitou a saudá-la com um leve aceno de cabeça.
Estava bem vestida, coberta por uma manta de crochê jogada nas costas. E sobre a cabeça um turbante colorido.
Anita sentiu-se incomodada, mas teve que perguntar: - Seu patrão, onde está?
De antemão já sabia a resposta. mas, precisava de confirmação.
- Saiu logo cedo, pediu para não acordá-la.
- E disse quando volta?
- Não! E a conversa parou por ai.
Anita tomou o seu café e foi para o quarto, precisava pensar.
Desde que conhecera Daniel, a sua historia parecia um conto de briga entre gato e rato. Parecia não ter fim. Nada era previsível. Nem mesmo a paz era constante.
- Só que eu. Pensava ela: sou boa aluna, aprendo rápido, e não vai ser um gato que vai me colocar em cheque mate. Um rato esperto, aprende como se safar, usando as armas do próriio inimigo.
Pensando sobre isso, tomou um banho, trocou de roupa, arrumou sua mala, e partiu, sem que Maqueda sequer notasse sua saída.
Se viu a andar pela trilha lamacenta, não se importando com a quantidade de lama a grudar na sola da bota. Andava a passos largos, como se estivesse sonhando, ao invés de vivendo.
Depois de uma hora de caminhada, chegou a uma bifurcação;  um encontro de estradas turísticas. E teve a sorte de ouvir o barulho de um jeep vindo de uma delas.
Era raro encontrar uma mulher andando sozinha por aquelas bandas, mas, ninguém deixaria uma pessoa para trás, mesmo sendo alguém desconhecido. Disso, ela sabia. Não se abalou quando o carro parou e o motorista, abriu a porta, falando alegremente: -  Let's go!
- Thank you!
Ela entrou no carro e o motorista acelerou, nem perguntou para onde ia, pois a estrada os levaria direto para Kasane.
Ao adentar a cidade ela disse ao motorista que a deixasse próximo ao aeroporto, de onde esperava encontrar um voo para Luanda, ou qualquer outra parte que a colocasse o mais distante possível dali.
Parou diante de um hotel, onde turistas se aglomeravam, a chegar e partir.
Por sorte, logo encontrou um grupo que esperava por um avião de frete. Que fazia voos particulares, de Kasane a Luanda, na cidade de Cabo. Teria que pagar um pouco mais caro, mas, para quem estava fugindo, nada parecia tão ameaçador.
Duas horas depois já se dirigiam ao pequeno aeroporto, onde um avião de pequeno porte já os esperava.
Anita sentiu-se aliviada quando o avião saiu do chão.
Chegando na cidade de Cabo em Luanda, ela reservou passagem para São Paulo,   para dali a dois dias, Ficaria num hotel, bem perto do aeroporto. Não queria correr o risco de esbarrar com nenhum conhecido.
Logo que desembarcou no Brasil, sentindo o cheiro de casa, respirou aliviada.
Foi direto para casa da mãe.
Ficou la por dois dias seguidos sem falar nada sobre Daniel. Sua mãe sabia que algo não estava bem, mas, resolveu nada perguntar. apenas acolheu-a com amor.
Naquela semana, Anita optou por não falar nada sobre a viagem, nem sobre tudo que se passara, embora soubesse que nada fora  insuportável, muito pelo contrário, A viagem fora uma delicia, a sua estadia com Daniel, então, fora um tempo dos mais felizes. Tinha medo de contar para a mãe o quanto fora indelicada ao fugir. Com certeza, sua mãe não concordaria com tal atitude.
E o que ela esperava?
Talvez um conto de fadas, com o príncipe correndo atrás dela!

Por Herta Fischer   Palavras tem poder


























Nenhum comentário:

Postar um comentário