Tereza sentia a necessidade de aprender pelo olhar, a única maneira que conhecia, sua única escola. Seu pai, vindo da simplicidade, não sabia ler nem escrever, mas aprendeu observando. O mundo lhe oferecia, através do olhar, todas as ferramentas necessárias para o aprendizado. Suas mãos fortes apontavam direções, e a sola dos pés calejados mostrava o caminho.
Aos dezesseis anos, Tereza estava pronta para casar, mas ainda gostava de escalar os arvoredos ao redor de sua palhoça e brincar de boneca com espigas de milho verde. Não escolheu seu parceiro; ele a escolheu. Coube a ela aceitar e, de repente, se tornar mulher. Sentia-se adulta, mas a criança dentro dela ainda vivia, instigando e assumindo o controle.
No começo, era como brincar de dona de casa. Ela adorava acender o fogão a lenha pela manhã, mergulhar uma colher no pote de banha de porco, besuntar uma panelinha de alumínio e brincar de cozinhar. Mas o tempo foi exigindo mais dela. Sem saber números ou letras, precisava improvisar para medir porções. Muitas vezes chorava quando algo saía errado, e seu marido frequentemente perdia a paciência.
Por sorte ou destino, sua sogra veio morar perto e começou a ensiná-la o que sabia, ajudando-a a amadurecer. Na sua pobre casinha de solteira, não havia relógio, mas seu marido mantinha um de pulso pendurado na parede. Quando ele chegava para o almoço, ela olhava os ponteiros se juntando no topo. Assim, pela educação do olhar, Tereza foi aprendendo e, com o tempo, criou seus próprios códigos para cozinhar.
Certa manhã, começou a sentir calafrios pelo corpo e a boca cheia de água, o que a deixou muito mal. Correu até a casa da sogra, contou o que estava sentindo e descobriu que estava grávida. Ficou assustada. Enquanto a barriga crescia, crescia também o seu mundo, e o faz de conta tornou-se coisa séria.
Herta Fischer