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Sorte ou destino

Tereza sentia a necessidade de aprender pelo olhar, a única maneira que conhecia, sua única escola. Seu pai, vindo da simplicidade, não sabi...

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Duas paralelas - um só caminho

Vejo pessoas perdendo a verdadeira felicidade, observando e se lamentando pelo que está distante, esquecendo de apreciar o perfume do que está ao alcance. Aqui, na longínqua terra das maracutaias, onde o sol brilha à noite e o dia se esconde na escuridão. As falácias são suaves como algodão, mas a verdade é áspera como lixa – a razão beira a loucura. Os meios tontos e os tontos no meio, tropeçam nas mentiras e aplaudem os que sem vergonha envergonham. Seria isso efeito da mistura ou sinal da decadência da sociedade?


Se somos irmãos pela aparência – imagem e semelhança, por que há tanta crueldade e guerra? Quem separou e designou uns e outros para a disputa? De quem é a terra? O futuro e o passado caminham lado a lado, e o que construímos hoje se reflete no amanhã.


Meu passado ronda meus pensamentos, com uma esperança ainda jovem de que ele possa reverter o futuro, tornando-o tão bom quanto já foi. Que a sorte venha como o som de velhas portas sem trincos ou fechaduras. Que o tempo nos devolva as enxadas e foices, e que a humanidade volte a saborear as plantações, sem que as sementes sofram transformações que as deformem. Que as mãos reencontrem o caminho da arte, e os homens recuperem tudo o que perderam para as máquinas.



Hertinha Fischer














sábado, 13 de setembro de 2025

Transferência de um bem

Quis apenas ser eu, esquecendo que outros também querem o mesmo...


Marchei como se fosse plena, como se ninguém me bastasse, como se o mundo fosse posse minha. Mas me deparei com a ignorância de mim mesma. Agora, no enfado, construo meus dias e, em lamentos, faço minha cama todos os dias. Só há espinhos nela, mas ainda assim construo esperanças sobre eles.


O sol me expulsa da cama pela manhã, enquanto a lua me traz de volta ao descanso. Um descanso sonoro, repleto de boas recordações de um futuro que já entra em mim, como letras memorizadas e melodias já compostas. Talvez eu estivesse mais satisfeita se soubesse qual dever me bastaria.


Minha mãe sempre me alertava quando um homem passava em nossa porta para mendigar pão: "Este homem não tem nome, nem residência, nem família!" dizia ela. Não sei por que me vem à memória, nem por que o chamava de Lazírio, talvez por ser um pequeno Lázaro, aquele que mendigava à porta dos grandes e recebia as migalhas que sobravam. Poderia nos parecer ninguém, mas Deus estava com ele em sua renúncia.


Então, lembro de quando subia nas árvores para brincar de gente grande. Não havia nada lá, nem um pote de mel, mas eu me sentia como um urso lambuzado de doces.


O ser que se desprende, assim como a borboleta deixa seu casulo e ganha asas para voar, morre ao despertar sua prole. É assim que me sinto agora. Quanto mais invisível sou aqui, mais viva e visível me sinto para mim mesma.


Doar-se não é sacrifício, é mágico e sagrado. O próprio viver é uma doação. Se sou, vivo! Se vivo, sou! E se sou e vivo, de que me adianta se não doar um pouco de mim? Me bastar, o que me basta?


A pior doença do ser é estar envolto em si mesmo, como se o universo não existisse e de nada precisasse. Existem outros tipos de prazeres que podem trazer satisfações para a vida toda. No entanto, insistimos em buscar prazeres momentâneos, mesmo que nos custem lágrimas e sofrimentos. Precisamos aprender a ler os rótulos antes de nos medicarmos.

Hertinha Fischer