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Luz azul

  Quando olhava o que ele fazia, ficava extasiada. Era capaz de fazer qualquer coisa andar, especialmente, quando manejava seu tempo. Era me...

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Puro êxtase

Estava frio, pelo
menos eu sentia a brisa
gelada penetrar em meus
pés e percorrer em meu corpo.
Já era tarde, eu precisava sair,
Entrei no carro, do lado, o motorista
rezava seus créditos, em um silencio
avassalador.
Onde me levava - a distancia percorria
meus ossos, com um alavancar tremulo de ousadia.
Fui olhando as paisagens que por mim passavam, abusadas
e melindrosas, caçoavam do meu jeito
de apreciá-las, quase que com saudade.
Não queria ir, mas precisava me ausentar
daquilo que chamava de vida.
O eterno levantar e sentar, como
se o preço
de viver fosse aquela misera
tarefa.
Ouvia nitidamente o som
do ar que saia das narinas do motorista,
que dirigia como
se fosse dono do espaço. as mãos cuidadosamente
apegadas ao voltante,  fazendo as curvas
milimetricamente estudadas.
Eu bem que queria tomar a direção, mas, tinha medo
de tudo.
Silencio total, nenhuma conversa, nada. Só o pensamento
aliviava um pouco a tensão.
Os pneus raspavam o asfalto, comiam-no como
quem come pão, o barulho do motor atiçavam as folhas dos
arredores, que, emblematicamente, dançavam a deriva.
As horas passavam, os metros de terrenos ficavam para
trás, e a velocidade não diminuía.,
O meu ser se arrepiava por dentro como
ouriços do mar, que se envolve em suas pedras,
para fugir de seus algozes.
Também fugia, não de gente, nem de lugar, fugia
da mesmice, Do levantar e deitar-me no mesmo lugar.
Queria estar num lugar diferente;: outros sons, outros sabores,
outros cheiros, que não fosse os mesmos de sempre!
O motorista trocou de marcha após uma curva acentuada,
a placa marcava um lugar onde a velocidade tinha
que ser reduzida, e o meu semblante desanuviou,
e o medo deu uma trégua.
O vento soprava quase que quente, cheio de suavidade
e odor. Um perfume delicado chegou-me
as narinas, e eu me transportei em seu navegar.
As coisas iam desaparecendo como
trigo a moer no moinho, outros prazeres, pouco a pouco,
enchiam meus olhos.
Cheguei ao meu destino, desci de meus devaneios, e novamente
me pus a pensar: - Quanta coisa existe além da minha toca!
Ouvi canto de pássaros que desciam para comer abacates
caídos ao chão, e as maritacas enchiam os ares com seus
gritos enfadonhos.
Um tucano de belas cores sentava em um galho a sondar
seus conterrâneos, Tão belo e tão arisco.
Ao ouvir o som dos meus passos, bateu asas e voou, passando
tão perto que me deu vontade de tocá-lo.
Fiquei abobada por alguns instantes, Tão bom estar ali,
entre as árvores frutíferas, cheia de vida e sustentação.
Lembrei-me então, do motivo de estar ali, fiquei um tanto
tristonha, quase a chorar.
Tudo a minha volta era vida, e toda vida fazia sua tarefa, só
eu me sentia inútil.
O dia se desfez como gelo no calor, e a noite se preparava para
acordar. A lua que dormia, despertou mais cedo que de costume,
mal  se aguentava por esperar sua vez.
E como um arco enfeitando a cabeça da noite, se aprontou e
saiu a passear.
Peguei um banquinho de madeira, o encostei na parede, sentei-me
como uma rainha em seu trono, espiando ao redor como avidez.
La ao longe o dia já acenava com um braço de cores maravilhosas,
e foi se despedindo aos poucos sem nenhum resquício de remorso,
Eu ali fiquei a conversar com os anjos, sem dizer uma só palavra.
No silencio da oração não falada, meu coração se aconchegou
nos braços da noite que chegava,
Os pontinhos brilhantes resplandeciam no céu, enfeitando aquele
momento sublime de puro êxtase. Entre o gramado já se podia
ver as pequenas e charmosas gotícula de sereno, que como
cristais vivos piscavam seus olhinhos ativos.
Tudo as escuras, só o céu fazia festa, Na mata, já se podia sentir
a confusão que se formava, quando os animais noturnos saiam para
caçar.
Olhei para o céu e pude observar as inúmeras fileiras das estrelas, algumas
em forma de cruz, entre outros aglomerados pontinhos, formando figuras,
 as vezes estranhas, noutras, compreensíveis.
Eu fazendo parte, como Adão em seu paraíso, sentado na relva a espiar
aquele espetáculo.
Se podia sentir a presença de Deus, a passear pelos pomares, com
suas mãos poderosas, incitando a vida, fazendo-á pulsar.
Estava um frio de congelar, talvez, por isso, a noite estava tão linda,
como uma figura encantada, sofisticada, vestida de luz.
Por alguns momentos eu fiquei muda por dentro, os pensamentos
se puseram a distancia. Era como se de nada mais precisasse, o mundo
estava perfeito.
Meu corpo ficou letárgico, as mãos formigavam, hora de me recolher.
Subi os degraus devagarinho, ainda sem acender as luzes, não queria
 ofuscar tanta beleza.
Abri a porta meio sem vontade, meu coração queria ficar, mas, meu corpo
reclamava por seu descanso.
Entrei debaixo da coberta macia, que me acolheu em seu calor, as pupilas
guardavam ainda em seu seio, aquele esplendor vivido, mas, cansada demais
para agir, fechou-se como uma flor dorminhoca.
Tão logo adormeci, para sonhar com as estrelas numa outra noite
de luar, num lugar tão mais remoto, longe de
tudo o que me dera até então.

Hertinha



















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