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Luz azul

  Quando olhava o que ele fazia, ficava extasiada. Era capaz de fazer qualquer coisa andar, especialmente, quando manejava seu tempo. Era me...

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Dona de mim (capítulo 1)

Cheguei e me recolhi em um canto choroso, tudo as escuras,
o sol apenas me sondava furtivamente entre as paisagens
distantes do meu desconforto.
Em ruínas estava o meu mundo, desabado e inacabado acima
das minhas lágrimas de cristal.
Achava que podia mudá-lo, achava mesmo. Poderia colocá-lo
no paraíso dos meus sonhos, mas ele estava tão distante, tanto
quanto meu sonho descabido.
Subi para  o meu quarto, também estava escuro, escondido entre quatro paredes
e uma porta de esperança, que também se encontrava fechada.  Dei meia volta,
não queria tirar seu sossego, e fui para a sala sombria.
Liguei um radiosinho de pilha que no canto fazia silencio, sintonizei
virando o botão vagarosamente,
 logo uma melodia encheu de encanto o ar, e tudo ficou mais viçoso.
Tinha nas mãos uma tela, a espreita estavam os pincéis e as tintas, que
se logravam cada um de seu intento.
Pequei-os, meio tímida e confusa. De que me adiantava ter todos
loucos para trabalharem, quando que minha vontade e habilidade
não estavam lá.
Ha muito perdi minha vontade, eu as tinha, mas se perderam
na fumaça do descaso que nunca me incentivava.
Era eu e minha luz, era eu e minha certeza, que se amavam até
se perderem em tristezas,
Tudo aconteceu tão de repente, quando ainda havia sol nos meus dias,
e a alegria não fazia de conta: existia, assim como dia e noite.
Era sol e dia claro, sorriso de mãe  e de pai constantes me empurraram
para a vida. quando, tão cedo, se apagou embaixo de uma lápide qualquer.
Tentei seguir, tentei não olhar para trás, fiz meu olhar olhar para a frente,
só para a frente, onde meu futuro se fazia.
Mas esse futuro não tinha lugar, era errante assim como eu.  Não conhecia
caminho, não se lhe abriam estradas, apenas o desconforto de ter que seguir.
Minha sina se pôs de frente, como um tenebroso inverno, que na secura
se faz, e sobre o gelo vive. A dor da perda me levou a lugares selvagens, quando
tudo que se ouvia eram uivos, e a escuridão melindrosa me roubava toda luz.
Andei em lugares sombrios, tateando como cego a procurar por nada, E os
lobos continuavam a espreita, guerreando contra a inocência.
Quero seguir, preciso. Mas não tenho mais pés que se alegram em me levar, não
tenho mais coragem que me acompanhe, não tenho mais nada, a não ser
os dias que ainda insistem em nascer.
Dizem que filosofar é viver, mas para mim, filosofar é para quem já cansou de viver,
de esperar por dias melhores, quando tudo que se enxerga são densas nuvens se abrigar
no peito, enchendo o coração da visão de que não tem mais jeito.
A primavera nos alegra com flores, para depois, nos lançar na penúria do inverno, fazendo
os sonhos transformar-se em pó.
Eu já fiz muito, já fiz de tudo, já tive e perdi. mas também já cansei de me doar na
escuridão, quando ninguém me vê.
Não que eu queira ser vista por aquilo que faço, ou falo, mas que seja reconhecida por aquilo que sou.
Por ser alguém que galga o bem.
A vontade que eu tinha em estar já se perdeu pelos anos, se foi como a areia que o mar leva, sem nunca mais voltar a terra.
A alegria me visitou na juventude como quem visita um irmão, era tão macia e ativa como a lã de um carneiro, tão amorosa e atenciosa como uma mãe é com seu bebe. Com o passar dos anos, foi indo-se, afastando-se até não encontrar mais o seu lugar.
Ela se foi, dando lugar a rebeldia, a solidão, ao descaso, e amargou a fonte que antes jorrava abundante,
Desci das minhas certezas, subi pelas ruas tristes, encontrei-me no vazio.
Agora, enquanto ainda tenho folego, eu quero seguir, eu preciso sair de mim, para poder novamente encontrar um pouco do que já fui.
Quem sabe, ainda exista uma rua de sonhos, por onde passe gente como eu, que ainda se importe com o outro,  que possa  trazer-me de volta a confiança perdida.
Já se fez noite em meu caminho, e novamente a luz se foi, como quem tem medo, como
quem precisa se ausentar assim como se ausentou meus melhores anos.
Talvez  o próximo bonde de nome dia, nem me encontre mais, talvez eu já tenha criado asas e subido para outro lugar que me aceite
como este mundo nunca me aceitou, simplesmente, por eu ser assim, tão dona de mim.
Herta Fischer (hertinha)














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